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Preconceito, racismo, e violência: Um legado indesejável
Posted by Cottidianos
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13:52
Domingo 19 de novembro
“Ninguém
ouviu /Um soluçar de dor
No
canto do Brasil / Um lamento triste
Sempre
ecoou
Desde
que o índio guerreiro
Foi
pro cativeiro / E de lá cantou
Negro
entoou
Um
canto de revolta pelos ares
No
Quilombo dos Palmares
Onde
se refugiou”
(Canto
Das Três Raças: Composição: Mauro Duarte e
Paulo César Pinheiro / Interpretação: Clara
Nunes)
O
Jornal Nacional, edição deste sábado (18), mostrou o caso do jovem, negro,
ator, Diogo dos Reis Cintra.
Na
madrugada da quarta-feira (15), Diogo foi abordado por dois homens brancos no
Centro de São Paulo. Eles pediram o celular. Diogo hesitou... E fugiu correndo.
Pensava ele: Vou entrar no terminal de ônibus onde há muita gente, e
seguranças, pois lá encontrarei proteção.
Para
azar do jovem, os homens também correram na mesma direção. Chegando lá, os que
o perseguiam inverteram a situação. Disseram aos seguranças que Diogo era o
ladrão. Advinha em quem os homens acreditaram? Em Diogo, ou nos dois homens
brancos que o acusavam?
Acertou
se você optou pelos dois homens que perseguiam o jovem. Os seguranças colocaram
então todos para fora. Para Diogo, as coisas não pararam por aí. Ele levou
vários socos, chutes, e pauladas. Não bastasse isso, ele ainda foi mordido pelo
cachorro de outros dois homens que também participaram da agressão.
Debaixo
do sofrimento e agressões, Diogo viu a morte de perto. Teve medo... E, mais uma
vez, fugiu. Dessa vez não pediu proteção a mais ninguém. Vai que as coisas se
tornassem pior...
Se
fosse apenas Diogo a ser agredido pelo fato de ser negro, e se fosse apenas no
centro de São Paulo, as coisas ainda podiam tomar um rumo diferente, podia-se
corrigir a situação sem maiores problemas. Mas as coisas não são bem assim.
Ainda
na mesma reportagem, o JN trouxe dados de uma pesquisa que mostra que os
brasileiros negros são os que mais correm o risco de serem vítimas de agressão
e violência, e, até mesmo, de serem assassinados.
A
referida pesquisa foi elaborada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Ela
indica que os negros somam 54% da população, entretanto 71% deles são vítimas
de homicídio.
Ainda
segundo o Fórum, dados compreendidos entre 2005 e 2015, revelam que, dentre os
mortos em homicídios, o número de brancos caiu 12%, enquanto o número de negros
aumentou 18%.
Se
fosse apenas essa pesquisa feita pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública
ainda se poderia lançar uma sombra de dúvida sobre o resultado dela, porém,
qualquer estudo que se faça nessa área apontará sempre para o mesmo resultado:
os negros como as maiores vítimas da violência.
Por
exemplo, o Atlas da Violência 2017, um estudo feito pelo Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (Ipea) e o pelo Fórum Brasileiro de Segurança. O estudo
apresentado no dia 05 de junho deste ano mostra que homens, jovens, negros, e
de baixa escolaridade são as maiores vítimas de mortes violentas no país.
Segundo esse estudo, de cada 100 pessoas assassinadas no país, 71 são negras.
Isso
falando da violência que se vê, que se nota, que se contabiliza e que se faz estatística.
E o que dizer daquela violência praticada contra os negros de forma explícita,
ou disfarçada, quando ao fazer uma entrevista de emprego, o entrevistador não
olha a capacidade da pessoa que está na frente dele, mas olha para a cor da pele
do entrevistado e para o lugar onde ele mora.
Amanhã
se celebra em diversas cidades e municípios brasileiros, o Dia da Consciência
Negra. Um dia que vale como um grito contra a opressão sofrida pelo povo negro
e um grito de reivindicação por direitos iguais. Respeito.
Por
que os negros precisam de um dia para celebrar a Consciência Negra? Essa é uma
pergunta feita constantemente por brancos, nos ambientes universitários, onde
se pressupõe certa cultura, nos ambientes de trabalho, ou até mesmo nas rodas
de conversa.
Ora,
por que o povo negro precisa de um dia para celebrar o Dia da Consciência
Negra?
O
povo negro precisa de um dia no ano para celebrar a consciência negra para
lembrar a coletividade branca, e aos negros que não se assumem como tal, os 300
anos passados sobre o julgo da escravidão, tendo o coração cheio de liberdade,
de saudade da distante Mãe África, de onde foram arrancados, colocados em
navios e trazidos para terra distante.
A
comunidade negra precisa deste dia para, simbolicamente, livrar-se das
correntes pesadas que lhes atavam os pés e mãos. Para tirar do tronco os irmãos
que sofriam debaixo de chibatadas que dilaceravam-lhe o corpo, sobre cujas
feridas o remédio jogado era sal.
O
Brasil precisa de um dia da Consciência Negra para fazer reverencia aos heróis
e mártires que mesmo sob o julgo da escravidão, sempre acreditaram na
liberdade, e que era possível ousar viver em uma sociedade diferente, onde eles
não fossem tratados como bichos, animais, coisas.
Para
lembrar a sociedade que a Lei Áurea que os libertou não os redimiu. Ao
contrário, jogou-os na rua da miséria, sem que lhes acolhesse em seus direitos
básicos. E assim, sem direito à saúde, educação, e condições de vida digna,
foram os negros jogados pelos recantos mais desprezados pela população branca
que gozava das benesses do estado brasileiro.
A
você negro, a você negra, quando lhe perguntarem por que o povo negro precisa
de uma para a celebrar o Dia da Consciência Negra, não lhe diga apenas que
precisa desse dia porque seus antepassados apanharam amarrados a um tronco, sob
os estalos de um chicote de um feitor cruel.
Diga-lhe
que o povo negro precisa desse dia, pois ao povo negro foi deixado um legado de
preconceito, de discriminação, de violência, de descaso com a saúde, e com a
educação dessa parcela da população. Legado esse que ainda hoje, faz o povo
negro sofrer violência, preconceito e discriminação.
A
você negro, a você negra, quando lhe perguntarem: Porque o Dia da Consciência
Negra, diga-lhes que é um dia para reivindicar liberdade e direitos iguais. Um
dia para reivindicar respeito por todo um povo, por toda uma cultura, enfim,
pelos braços que ajudaram a construir o país em que você mora, e que é o país no
qual também mora quem lhe fez a pergunta.
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