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Governo Temer: Mais um embate decisivo
Posted by Cottidianos
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00:32
Domingo, 09 de julho
Michel Temer e Rodrigo Maia |
Era 12h25, horário local em Hamburgo,
Alemanha — 7h25min no horário de Brasília, quando o presidente Michel Temer
deixou o encontro da cúpula do G20. O presidente saiu antes dos demais líderes
mundiais. Não acompanhou a última sessão, bem como não acompanhou o comunicado
conjunto, o documento conjunto divulgado, tradicionalmente, ao fim do encontro.
Por falar em Hamburgo, e em cúpula do
G20, a cidade alemã estava um inferno. Várias violentas manifestações de rua ocorreram
na cidade. Talvez tenha sido um dos encontros mais tensos realizados pelo G20.
Além disso, houve desencontros diplomáticos entre os líderes, e poucos acordos
foram assinados nas áreas de clima e comércio. O comunicado final confirmou a
saída dos Estados Unidos do acordo de Paris, enfraquecendo a luta pelos efeitos
devastadores do clima sobre o planeta. Entre carros queimados, policiais e
manifestantes feridos, muita confusão e desentendimento entre os líderes
mundiais nas questões de clima e comércio, pode-se dizer que a reunião da
cúpula do G20 deste 2017, foi mirrada, murcha, não correspondeu às
expectativas.
E por falar em manifestações de rua,
elas não acontecem quando as coisas estão se desenvolvendo em paz. Quando
pessoas da própria Alemanha, e de outros países saem às ruas para protestar é
sinal de que algo não está bem, ou muita coisa não anda bem, e não anda na
linha. Então quando as coisas não estão bem, as ruas se agitam, e gritam, e
choram... E pedem melhoras na situação.
No meio de todo esse caldeirão de ideias
ferventes na Alemanha, estava o nosso presidente, Michel Temer. Em entrevista
aos jornalistas, ele se comportou como quem não mora no Brasil, e, além disso,
não lê jornais, nem blogs, nem procura se inteirar do que acontece no país.
Era 6h da manhã de sexta-feira (7),
quando o presidente chegou ao Hotel Le Meridien, em Hamburgo, onde ficaria
hospedado nos dias em que estaria na cidade para participar do encontro com os
líderes mundiais. Os jornalistas que estavam de prontidão à sua espera, logo
posicionaram as câmeras e microfones e disparam suas perguntas. Um deles fez
uma pergunta pra lá de óbvia.
Os bons jornalistas são assim, sabem
fazer perguntas óbvias e perguntas complexas e, através delas, provocar o seu
entrevistado. Um deles, perguntou ao presidente se existia crise econômica no
Brasil. O presidente Michel Temer respondeu de forma enfática: “Não, não. Pode levantar os dados e você verá
que estamos crescendo no emprego, estamos crescendo na indústria, estamos
crescendo no agronegócio. Lá não existe crise econômica não.”
Quando já voltava às costas para se
dirigir para o interior do hotel, outro jornalista tocou em outro ponto deste
mesmo assunto ao perguntar se a crise política atrapalhava o bom andamento da
economia. O presidente virou o rosto para os jornalistas, e disse apenas,
“não”, reforçando esta negativa com os dedos.
Daí o brasileiro sai pelas ruas dos
grandes centros, antes movimentados centros das grandes capitais e vê lojas
comercias fechando, e, nas que estão abertas, pouco movimento de compradores.
Segundo dados do IBGE, as vendas despencaram no ano passado. A Confederação
Nacional de Comércio diz que essa é a pior crise dos últimos 15 anos, segundo a
confederação, o Brasil perdeu 13% do número de lojas. Em dados concretos,
pode-se dizer que 100 mil comerciantes fecharam as portas, como se diz no dito
popular, jogaram o tapete. Até o essencial entrou nessa dança: a venda no setor
de alimentos também caiu 2,5%. Foi a maior queda nas vendas do setor desde
2003.
Dados recentes do IBGE, mais
precisamente de abril deste ano, mostram que no trimestre de janeiro a março, o
desemprego subiu para 13,7%. O país chegou ao primeiro trimestre deste ano com
um número recorde de 14, 2 milhões de desempregados.
Partindo para a indústria, muitas delas,
desde 2015, naufragaram em meio aos caos econômico, e foram a pique. Fecharam
as portas, vítimas do mau momento pelo qual atravessa a economia. Agora, a
economia parece dar sinais de recuperação, mas são sinais ainda fracos. É certo
que o setor do agronegócio apresentou bons resultados, mas está longe ainda de
dizer que o Brasil saiu da crise.
A realidade, a coisa do dia a dia,
escancara a crise e não deixa que ela se esconda. Os institutos econômicos a
revelam em números, daí vem o presidente da nação, e diz, em outro país, que
está tudo muito bom, que está tudo muito bem.
O brasileiro está cansado destes
políticos dementes, que fingem ignorar a realidade. Por exemplo, Lula não viu
corrupção em seu governo, e não a vê até hoje. Dilma não viu a iminente crise
que se aproximava e que empurrou o país para a beira do precipício. Michel
Temer parece seguir o mesmo caminho.
Realmente, para os políticos não existe
crise. Eles lucram e faturam milhões em cima do cidadão. Para começar, ganham
salários estratosféricos. Fora da realidade do país. Em segundo lugar, vêm os
inúmeros benefícios que lhes são dados à custa das duras cobranças de impostos
dos contribuintes. Esses dois aspectos já não soam muito bem quando se trata de
considerar uma sociedade que se pretende igualitária, e em se considerando a
situação social da imensa maioria dos brasileiros. Em terceiro lugar, vem, quem
sabe a maior parte de suas fortunas, o dinheiro advindo de seus acordos e
conchavos criminosos feitos com a iniciativa privada, a qual corrompem e são
corrompidos. Falta a eles compromisso e consciência política.
Assim como faltou compromisso e
consciência política a Rodrigo Maia, presidente da Câmara, e primeiro na linha
sucessória à cadeira presidencial em caso de queda de Temer. Em visita oficial
à Buenos Aires, o deputado foi perguntado por jornalistas argentinos sobre a
aceitação da denúncia contra Michel Temer e sobre o que pode ocorrer se a Câmara
der prosseguimento à denúncia, e se o Supremo condenar Temer. Maia disse que o
momento é de “responsabilidade com a democracia e com o futuro do Brasil.” E
acrescentou: “Eu aprendi em casa a ser leal, a ser correto, e serei com o
presidente Michel Temer sempre”.
Ora Sr. deputado, não era bem isso que
os brasileiros gostariam de ouvir de Vossa Excelência, que pode ser, dentro em
breve, o futuro presidente da nação. Os que os brasileiros e brasileiras
gostariam de ouvir era a seguinte declaração: “Eu aprendi em casa a ser leal, a
ser correto, e serei com a nação brasileira sempre”. Não é a um presidente às
voltas com denúncias de corrupção, e envolto em atitudes suspeitas e que não
condizem com quem ocupa o cargo de maior mandatário da nação, a quem o Sr. deve
os nobres atos de correção e lealdade. É aos eleitores que lhe colocaram nas
mãos um cargo público na Câmara dos Deputados. É a Câmara dos Deputados, a qual
o Sr. preside a que o Sr. deve ser correto e leal. E, principalmente, é a nação
brasileira a quem o Sr. deve observar estas nobres atitudes às quais se referiu
na Argentina.
Como é sabido por todos, o mandato de
Temer agoniza. Menos ele, é claro, pois antes de voltar ao Brasil, ainda na
Alemanha, os repórteres lhe perguntaram se ele estava tranquilo com o retorno
ao Brasil, e Temer lhes respondeu que estava “tranquilíssimo”. O presidente de
nossa nação pode até aparentar tranquilidade. Mas as coisas não são bem assim.
Para ele, o mar não está para peixe. A batata dele está assando em chapa muito quente.
A base aliada do governo desmorona, se esfacela a cada dia. Os mais afoitos,
afirmam publicamente, que a permanência de Temer no governo é uma questão de
dias. E talvez seja. Uns quinze dias, mais ou menos.
Dentro do próprio partido, a situação de
Temer não é das melhores. Há quem ponha o pé atrás quando o assunto se trata de
defender o presidente. A começar pelo relator escolhido para escrever o parecer
da denuncia contra Temer. O deputado Sergio Zveite — um peemedebista do Estado
do Estado do Rio de Janeiro é de uma ala independente do partido. Ele deve
apresentar o parecer a respeito da denúncia contra o presidente, na
segunda-feira (10), na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara (CCJ). A
expectativa sobre o que vai sair da cartola de Zveite é grande, em Brasília, e
em todo o país.
A base aliada do governo começa a
apresentar sinais evidentes de rachadura. O PSDB que estava tão apegado ao
governo, tardiamente, apresenta sinais de querer pular do barco. A um grupo de
investidores, o senador Cássio Cunha Lima, do PSDB da Paraíba, disse que a
depender do processo na Câmara “dentro de quinze dias o país terá um novo
presidente”. O presidente interino do partido, Tasso Jereissati, disse que o Rodrigo
Maia, tem condições de unir os partidos e garantir a estabilidade do país. Para
bom entendedor, meia palavra basta. O PSBD deu sinal verde para desembarcar do
governo, como já foi dito, tardiamente.
Junto com todo esse inferno astral
vivido por Temer, ainda paira a ameaça de que a tão temida delação premiada de
Eduardo Cunha se concretize. E, se de fato, ela se concretizar, o que é bem
provável que aconteça, então isso é mais lama no ventilador de Temer, pois a
metralhadora de Cunha pode apontar para a cabeça dos ministros governistas, Eliseu
Padilha, da Casa Civil, e Moreira Franco, da Secretaria-Geral. Isso sem contar
que a prisão do ex-ministro de Temer, Gedel Vieira Lima foi mais um complicador
na vida do governo.
A semana promete fortes emoções. Aliás,
fortes emoções tem sido abundantes na vida dos brasileiros. A cada semana temos
uma nova. O pior é que 99% delas nos causam enjoos e náuseas.
O anunciado era que as delações da
Odebrecht fossem as delações do fim do mundo, e que Marcelo Odebrecht era o
bicho papão. Depois, vimos que dinamite pura eram mesmo as delações da JBS.
Essas sim, abalaram o país e implodiram o governo. Temer foi pego na própria
arapuca, não na arapuca do Joesley. Joesley apenas usou um gravador, como um
pescador usa um anzol para pescar o peixe.
O pescador joga a isca na água e, com
paciência, espera pelo peixe que vem, ávido, mordê-la. No caso, de Temer, a
isca foi dinheiro sujo, ilícito. Por causa disso, recebeu, em sua residência
oficial, altas horas da noite, um empresário, ao qual ele sabia investigado
pela policia. Esse empresário lhe confessa crimes graves e o presidente acena
positivamente com a cabeça, e diz “tudo bem” vá em frente. Essas confissões
foram feitas não a um ignorante, mas ao mais alto mandatário da nação, e
especialista em direito constitucional.
O fato é que o barco Brasil é,
atualmente, um barco sem comandante. Pois mesmo ainda que a Câmara dos
Deputados conceda a Temer uma sobrevida, o governo ainda levará o resto de seus
dias a se defender das acusações contra o presidente, e contra seus ministros,
e usando a máquina estatal para esse objetivo, como fez recentemente, ao
convocar deputados para conversas na residência oficial, tentando comprá-los,
digo, convencê-los a barrar a denúncia contra ele. Talvez oferecendo cargos e
sabe se lá mais quais vantagens e benesses.
O Brasil precisa de soluções urgentes. A
nação não merece mais esse sofrimento.
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