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Escravos da igreja
Posted by Cottidianos
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23:52
Quarta-feira, 26 de julho
“Pois
aquele que, sendo escravo, foi chamado pelo Senhor, é liberto e pertence ao
Senhor; e da mesma forma, aquele que era livre quando foi chamado, agora é
escravo de Cristo”.
Assim está escrito na Primeira Carta aos
Coríntios, capítulo 7, versículo 22. Essa passagem com seu belo jogo de
palavras, nos fala de escravidão e liberdade de um modo que tem a simplicidade
das pombas e a majestade dos reis.
Está claro que a passagem acima se trata
da crença dos cristãos, e dos seguidores do homem de Nazaré. Segundo essa
crença, é uma honra ser escravo daquele que veio ao mundo para a salvação da
humanidade, a ponto do apostolo Paulo dizer que aquele que era escravo, pela fé
é liberto, ao mesmo tempo em que se torna escravo do mesmo Deus que alimenta
essa fé. Antítese das antíteses, contraste dos contrastes, são assim os
caminhos da fé. Prossigamos.
Quando se é escravo de Cristo, ou de
qualquer outro Deus altruísta, o prêmio é vida eterna, cheia de paz, esperança
e gozo, ainda que ainda aqui na terra o fiel tenha passado pelo inferno das
provações.
Ocorre que em outra passagem do mesmo
livro sagrado dos cristãos, em Mateus, capítulo 7, versículos de 15 a 20,
Cristo diz:
“Cuidado
com os falsos profetas. Eles vêm a vocês vestidos de peles de ovelhas, mas por
dentro são lobos devoradores. Vocês os reconhecerão por seus frutos. Pode
alguém colher uvas de um espinheiro ou figos de ervas daninhas?
Semelhantemente, toda árvore boa dá frutos bons, mas a árvore ruim dá frutos
ruins. A árvore boa não pode dar frutos ruins, nem a árvore ruim pode dar
frutos bons. Toda árvore que não produz bons frutos é cortada e lançada ao
fogo. Assim, pelos seus frutos vocês os reconhecereis!”
Vejam que, naquele tempo, já existiam os
aproveitadores da fé alheia. Aqueles que se faziam de bonzinhos para enganar os
tolos. Raposas em pele de cordeiro. Assim é a natureza do homem. Nele moram
Deus e o diabo, o bem e o mal. Deus também dá o livre arbítrio, a força, e o
discernimento para que o homem possa espantar os seus demônios, e afastar para
longe de seus corações os males, para que prevaleça o bem e a verdade, verdade
entendida aqui como as ações que edificam e que fazem o outro atingir, não a
perfeição, pois perfeição é plenitude — e no mundo em que vivemos hoje é querer
outro céu aqui na tera o querer conviver com seres perfeitos — mas, pelo menos,
um elevado grau de desenvolvimento humano, mental, e espiritual.
Se, naquele tempo, Jesus já alertava
para os falsos profetas, imagine hoje, no mudo consumista e materialista em que
vivemos. Mundo no qual o homem vale pelo que ele tem e não pelo que ele é. Hoje, mais do
que nunca, há um julgamento bem diferente do julgamento divino. Hoje, mais do
nunca, há um julgamento que se dá pela aparência. Se está bem vestido, bem
arrumado, e, principalmente com a carteira recheada de dinheiro, as portas do
mais benévolo e piedoso coração se abrem com sorrisos e graças, ainda que quem
esteja chegando com tanta pompa, seja um corrupto, um ladrão, às vezes até um
assassino, ou usurpador dos direitos humanos.
Portanto, muito cuidado fieis
fervorosos, cuidado com aqueles que batem no peito, e gritam, e choram,
dizendo: “Cristo é o Senhor”, pois a louvação deles pode estar apenas nos
lábios, enquanto o coração está a centenas de quilômetros de Deus. É provável que
nem Deus quisesse mesmo ser visitado por corações tão sujos e mentes tão
perversas.
Não entenda o leitor que ao dizer isso
se esteja tocando fogo na plantação inteira. Não. Pelo contrário. Há os que, ao
bater no peito implorando a misericórdia de Deus, estão sendo absolutamente
sinceros. É ainda como diz o evangelho, é preciso olhar os frutos, pois através
deles se conhece a árvore. Se os frutos são amargos, azedos, e murchos, não
toque no cesto, pois pode ter uma imensa dor de barriga, nem se aproxime da
árvore que deu estes mesmos frutos, pois ela pode estar em nível semelhante.
Lobos em pele de cordeiro também são os
pastores e dirigentes de uma igreja evangélica da Carolina do Norte, EUA. A igreja
estava levando brasileiros para a sede da igreja na Carolina do Norte, não para
ser escravos de Cristo como diz o evangelho, mas para ser escravos dos
pastores.
Os brasileiros eram levados para solo
estrangeiro com visto de turista, ou de estudante, pois segundo a legislação
americana, aqueles que chegam por lá na condição de estudantes podem
desempenhar algumas funções.
Para os brasileiros era uma chance de
desenvolver uma missão na sede da igreja, e ao mesmo tempo, cursar alguma
faculdade, melhorarem de vida, porque não? Os pastores incentivavam a ida dizendo
que os fieis aprenderiam inglês, cursariam faculdades, e conheceriam os Estados
Unidos.
Porém quando desembarcavam na Carolina
do Norte, a conversa dos líderes da igreja era outra. Nada de reino dos céus. Nem
de paraíso. Em vez de céu e paraíso os fieis caiam no inferno. Em vez de
escravos de Cristo, os brasileiros tornavam-se escravos dos pastores da igreja.
O fieis cumpriam uma jornada exaustiva
de 16 horas por dia, e o que é pior, nada recebiam pelos serviços prestados. As
mulheres, geralmente, trabalhavam como babás e os homens, em construções.
A Word of Faith Fellowship (Associação
Palavra da Fé), foi fundada em 1979, por Jane Whaley, uma ex-professora de
matemática. Sob o comando de Jane, a igreja prosperou e tem quase 750
seguidores na Carolina do Norte, e outros tantos espalhados pelo mundo.
Rebeca Melo, uma das jovens que viveu
esse pesadelo, conta que quando recebeu a proposta da igreja de embarcar para
os Estados Unidos, a felicidade foi grande, e ela logo pensou em que realizaria
seu sonho de infância que era se tornar enfermeira, após cursar alguma
faculdade norte-americana.
O passaporte de Rebeca, bem como o de
centenas de brasileiros, foi confiscado assim que pisou em solo americano. A partir
daí, o sonho foi se tornando pesadelo a cada dia.
Por anos a fio, foi agredida, e chamada
de prostitua. Era também forçada a viver em um galpão de armazenamento em
condições sub-humanas. Quando revelou o desejo de sair da congregação e
procurar novos caminhos foi agredida ainda mais duramente.
As famílias no Brasil não desconfiavam
de nada, pois cada passo dos escravizados era monitorado. Eles não podiam ligar
para a família no Brasil, por exemplo, para uma conversa em particular. Sempre era
exigido que, no momento da ligação telefônica, estivesse presente alguém que
também falasse português com o intuito de vigiar cada palavra.
Os brasileiros trabalhavam lado a lado
com os americanos. Apenas uma coisa os diferenciava: o salário. Os americanos
recebiam a paga por seu trabalho. Os brasileiros, não. Os americanos,
certamente, também não passavam pelas humilhações a que eram submetidos os
brasileiros.
E assim, em nome de Deus, a igreja Word
of Faith Fellowship, espanca, maltrata e escraviza, brasileiros. Lobos em pele
de cordeiro, ficai alerta a eles.
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