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Alice no pais do monstro da corrupção
Posted by Cottidianos
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Terça-feira, 07 de julho
“Vai, vai, vai
começar a brincadeira
Tem charanga
tocando a noite inteira
Vem, vem, vem
ver o circo de verdade
Tem, tem, tem
picadeiro e qualidade
Corre, corre,
minha gente que é preciso ser esperto
Quem quiser que
vá na frente,
vê melhor quem
vê de perto”
(O Circo - Sidney Miller)
Ah,
Alice, te trago à lembrança nesse texto. Tu e teu país das maravilhas! Quem bom
seria se o meu país também fosse o país dos encantos… Mas, que nada! De uns
tempos pra cá, meu torrão natal está mais para país dos escândalos, do que para
terra de enlevos... Que pena, que está assim tão relegado ao descaso, pois há
grandes belezas naturais. É um belo chão, um belo jardim. Pena que não temos
jardineiros competentes para fazê-lo florir, florescer, vicejar. Que adianta
ter um jardim tão belo, se não há funcionários competentes para cuidá-lo...
Conta-nos Lewi Carol que estavas, tu,
Alice, ao lado de tua irmã que lia um livro. Aborrecida por estares ali apenas
fazendo companhia para tua mana querida, esticavas os olhos, tentando mergulhar
também naquele mar de palavras. Tentavas te concentrar naquela viagem que só os
livros proporcionam... E nada. Aborrecias-te cada vez mais.
De repente, desviastes teu olhar para um
campo florido e correstes em busca de fazer um colar de flores. Quando corrias
para lá, passou por ti, um coelho apressado. Até aí tudo bem. Tudo normal. Então
o coelho tirou um relógio do bolso. Aí foi demais. Tirar um relógio do bolso,
um coelho? Por curiosidade, fostes atrás dele, caíste na toca dele, e daí para
um poço sem fundo, foi um passo. Nessa viagem maluca, fostes parar em uma terra
onde os bichos falavam. Com as rosas e outras formas inanimadas era possível
travar uma boa conversa. Travar uma batalha contra um castelo de cartas foi uma
batalha perigosa. Gatos alegres, chapeleiros malucos, tudo isso, te deixou um
pouco confusa, mas também te divertiu muito.
Enfim, voltastes ao mundo normal, real,
e viste que tudo não passara de um sonho... Mas que sonho maravilhoso!
Por cá, pelo Brasil também, às vezes, tudo é aborrecido. Abrimos o jornal, e lá estão casos de empresários corruptos,
policiais corruptos, empresários corruptos, médicos corruptos. Ligamos a televisão.
Idem.
Corremos para os campos de margaridas,
na esperança de que um coelho passe por nós tirando um relógio do bolso, para
que possamos segui-lo e daí por diante, mas não passa coelho nenhum. Onde será
que ele está escondido? Não duvido nada de que tenham roubado o relógio do
coitadinho. Ou será que eles lhe deram propinas e o tal coelho agora só
transporta malas cheias de dinheiro. Não, não pode ser. O coelhinho da historia
de Lewi não tinha essa índole má.
Pensando bem Alice, e deixando um pouco
de lado tuas histórias maravilhosas e fantasiosas, ficamos a pensar: onde e
quando será que nossa sociedade se corrompeu? Onde será que os governantes
falharam? Onde nós, enquanto sociedade, falhamos. Sim, porque em algum momento
perdemos as rédeas do cavalo. Ou será que fomos perdendo aos poucos, por achar
isso normal acabamos mergulhando num poço sem fundo que não nos levou a um país
onde a linguagem falada não era a dos contos de fada, mas a língua da propina?
Recentemente, algumas notícias nos
provocaram ainda mais. Por exemplo, a megaoperação montada pela polícia do Rio
de Janeiro. Uma operação da policia para prender policiais bandidos. E não era
um policial apenas, mas um batalhão inteiro, irmanados com bandidos da pior
espécie. É de arrepiar ver policiais, vestindo farda da policia, pagos pelo
Estado para defender o cidadão, vendendo drogas, dando ordens aos bandidos para
assaltarem aos cidadão de bem. Em outros momentos, alertando os traficantes
sobres as operações a serem feitas pelos próprios colegas de farda, a fim de
que os traficantes saíssem ilesos.
Diante disso, como fica o cidadão
carioca, ao se deparar com um policial. Que confusão não deve ficar na cabeça
desse cidadão, ao não saber se quem está diante dele, é um policial de verdade,
ou um bandido vestido de policial, um falsário?
Também é estarrecedor ver médicos
receitando remédios, instalando próteses em pacientes quando eles não precisam.
Outros receitando remédios caros para os pacientes quando estes nem a própria
doença tinham, apenas para, nos dois casos, lucrarem com a vida humana. E olhem
que o médico faz um belo juramento quando do momento da formatura.
O que vale a vida humana para essas
pessoas?
E eu vos pergunto: policiais bandidos
existem apenas no Rio de Janeiro, naquele batalhão em São Gonçalo? Médicos
desonestos existem apenas naqueles hospitais onde houve denúncias de médicos
desonestos?
Que nada! Pelo Brasil inteiro, nas
corporações policiais, existem maus policiais, que não trabalham para o cidadão,
mas para o traficante, assaltante, bandido. Pelo Brasil afora, existem médicos enganando
pacientes, e se esquecendo completamente do juramento que fizeram de salvar
vidas.
Graças a Deus, esses bandidos e
enganadores nas instituições bancadas com o dinheiro público, são em minoria. Aqueles
que fazem um bom trabalho e se comprometem com o serviço que fazem, que vestem
e honram a camisa da instituição em que trabalham são a maioria.
Mas aí mora um perigo, uma armadilha. Se
não forem tomadas providencias no sentido de punir essas poucas maças podres,
elas contaminarão outras maçãs boas, e isso vira uma bola de neve, e quando quisermos
reverter a situação, será bem mais complicado.
Foi o que aconteceu nas décadas de 60 e
70, quando o tráfico no morro, e nas periferias eram apenas embriões e o Estado
fez vista grossa. Hoje em dia, aquele embrião virou um monstro voraz disposto a
engolir até mesmo a polícia.
Se o Estado tivesse agido rápido,
naquela ocasião. Se tivesse reprimido o tráfico, se tivesse levado melhores
condições de vida para o povo da periferia, nada disso que estamos vendo hoje
estaria acontecendo. Certamente, viveríamos em um país muito mais cheio de paz.
Também, se décadas atrás, o judiciário
não tivesse fechado os olhos para todos os acordos espúrios e conchavos que se
faziam nos bastidores da política, nada disso estaria acontecendo hoje. Se o
Estado tivesse agido quando a corrupção também era apenas um embrião, no máximo
um monstrinho teria sido mais fácil. Agora não, o bicho virou um Godzilla, um
não, vários Godzillas.
E eles são vorazes. Por onde passam
espalham morte e destruição. O monstro do crime organizado no tráfico de drogas
é perigoso, mas o monstro do crime organizado da corrupção é mais letal. O primeiro
devora um segmento da população: os viciados. O segundo destrói um país
inteiro.
Esse pessoal que está aí no governo é um
pessoal que se deve ter muito cuidado com eles. Pensávamos que os perigosos
estavam apenas no PT. Hoje vemos que não é bem assim. Já que estamos falando em
crime organizado, usemos aqui a palavra facção política, em vez de partidos
políticos.
As facções política em nosso país estão
muito bem estruturadas. E o que é pior se protegem umas às outras, pois sabem
que se uma cair, as outras caem juntas.
Até quando o presidente Temer fará o
Brasil sofrer e passar vergonha perante a comunidade internacional? Um governo
que o que apenas tem feito desde as delações da JBS, é apenas se defender das
acusações de corrupção. Também fica a pergunta, pode ser honesto um governo que
está rodeado de auxiliares de primeiro escalão, mergulhados com os dois pés no pântano
fétido da corrupção?
É tudo tão inverossímil, quanto
inverossímil foi a decisão do ministro Marco Aurélio Melo de derrubar a decisão
que tirou Aécio do Senado. O Senador voltou. A decisão do ministro foi um tanto
quanto irônica, principalmente quando ele diz que o senador tem uma carreira
política elogiável, e bla, blá, blá. O senador Aécio Neves é tão corrupto
quanto os outros políticos que estão sendo acusados de corrupção.
Se havia um acordo para salvar os
mandatos de Aécio e Temer, a primeira parte foi cumprida. Vamos então ver como
se encaminham as coisas na Câmara dos Deputados. Fiquemos atentos: eles estão
com pressa em votar a denúncia contra o presidente Temer. Será que eles também
vão referendar a corrupção? Será que vão assinar embaixo das ilicitudes
cometidas pelo presidente?
Às vezes, Alice, é tudo tão aborrecedor
que temos vontade de embarcar num sonho maravilhoso como o que tu tiveste. Mas precisamos
ficar acordados. Talvez já tenhamos dormido demais no passado. Talvez tenhamos
nos enganado pensando que vivíamos no país das maravilhas. Mas isso já passou. Dessa
vez, é hora de ficar acordado e encarar o monstro, ou os monstros.
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