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Brasil de luto
Posted by Cottidianos
on
00:47
Quinta-feira,
01 de dezembro
O Brasil
ainda continua de luto pela morte dos jogadores da equipe de futebol
catarinense, pelos dirigentes e convidados, e pelos jornalistas que os
acompanhavam. Homenagens diversas e sentidas foram feitas em todo o Brasil, e
pelo mundo afora. Este blog também se solidariza com as famílias dos jogadores
e com o mundo esportivo por esta grande perda.
Porém,
continua seu caminho chamando a atenção para as mazelas de nosso mundo político
e seus políticos, cujos conceitos de ética, moral, e decência, parecem ter sido
riscadas definitivamente dos seus dicionários. Sendo substituídas por outras que
parecem expressar melhor o caráter deles, quais sejam essas palavras;
desfaçatez, insensatez, falta de vergonha na cara, imorais, e traidores da
nação.
O
título da postagem de hoje faz referência ao trágico acidente de avião
acontecido na Colômbia, mas é também referência ao luto por este momento
político que atravessamos, e pela morte da decência, não a morte da decência de
nós, brasileiros honestos, mas a morte da decência de nossa classe política, à exceção
de alguns poucos, pouquíssimos.
Falo
da votação em plenário das 10 Medidas contra a Corrupção, uma aspiração que não
é do Ministério Público, nem dos magistrados, nem do juiz Sérgio Moro, mas de
toda a sociedade brasileira. E o que fizeram os “nobres” deputados nessa
votação? Simplesmente deram as costas para as 2,4 milhões de assinaturas de
brasileiros que clamam por uma sociedade mais justa.
Os
deputados, senhoras e senhores, aproveitaram-se deste momento de grande comoção
nacional para desvirtuarem por completo as medidas propostas e apresentadas a
eles pelo Ministério Público, e por toda a sociedade brasileira.
Enquanto
o Brasil e o mundo lamentavam a morte da equipe futebolista, em uma votação que
se estendeu durante toda a madrugada de terça-feira (29), eles praticaram a
covardia de votar as 10 medidas contra a corrupção, não do jeito que a
sociedade queria, mas do jeito que eles queriam. Das medidas inicialmente
apresentadas no pacote original, apenas duas foram mantidas integralmente. Uma foi
a que criminaliza a prática do caixa dois, porém, sem a anistia a quem já
responde pela prática desse crime. Essa anistia era coisa que eles muito
queriam.
Outra
proposta original que foi mantida é a torna a corrupção crime hediondo, quando
os desvios de dinheiro ultrapassarem o valor de dez mil salários mínimos, algo
em torno de 9 milhões de reais.
Uma
medida que foi aprovada por eles e que provocou grande indignação por parte do
judiciário, foi a que determina que juízes e promotores respondam pelo crime de
abuso de autoridade, quando a conduta dos mesmos não for compatível com o
cargo. 313 votos favoráveis, 132 contrários, e 5 abstenções, selaram o
resultado desastroso para a democracia. Vale apena destacar os quatro partidos
que se opuseram a esta medida que criminaliza o abuso de autoridade. Foram eles;
Psol, PV, PPS, e Rede.
Outra
entortada feia que eles deram no projeto foi a extinção do “reportante do bem”
que havia sido aprovado no relatório apresentado no parecer do deputado, Onix
Lorenzoni (DEM-RS). E, pasmem, os senhores e senhoras, também rejeitaram a criação
de crime de enriquecimento ilícito de servidores públicos.
Ao
final, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, disse à imprensa: “A votação foi nominal, tudo muito
transparente, eu acho que isso é o mais importante”. No último dia 24,
Rodrigo Maia havia afirmado em relação à questão da votação das 10 medidas “O nosso plenário tem independência para
votar todas as matéria, para aprovar ou rejeitar qualquer texto e ninguém pode
se sentir ofendido com essa decisão”.
Ao
final dessa vergonhosa votação no plenário da Câmara, voltou a afirmar: “A Câmara dos Deputados, ela rejeitou parte
da proposta. A Câmara dos Deputados incluiu uma emenda que de fato é polêmica,
mas ela teve 313/314 votos na Casa. Essa foi a decisão do plenário. É uma
decisão que precisa ser respeitada, pode ser criticada, eu não vejo nenhum
problema, porque, como eu disse, a harmonia é fundamental entre os poderes”.
Tudo
bem, Sr. Rodrigo Maia, o plenário é soberano, porém, o soberano por excelência,
é o povo brasileiro, a quem os Srs. deveriam servir. Povo este, a quem os
senhores deram às costas já por tantas vezes.
Nós, brasileiros e brasileiras, repudiamos a
sua declaração, e aplaudimos a fala do relator do projeto, Onix Lorenzoni: “Tinham medidas em que o Brasil avançaria no
mesmo patamar de países europeus, os países mais avançados no mundo de combate
a corrupção, e aí resolveram fazer picadinho disso e oferecer o quê? Oferecer
desesperança para o povo brasileiro”.
O procurador
do Ministério Público, Deltan Dallagnol afirmou: “Está sendo aprovada a lei da intimidação contra promotores, juízes e
grandes investigações”.
É de
comum acordo entre todos que ninguém está acima da lei, e que todos, sejam
cidadãos comuns, integrantes do judiciário, ou do legislativo devem ser punidos
quando desviarem-se de suas condutas. Mas, convenhamos, o que os deputados
querem mesmo é amordaçar o judiciário, para, com isso, se colocar acima da lei,
para que ninguém possa atingi-los, e eles continuem praticando os crimes que
sempre praticaram. E quem comete crimes, o que é, senhores e senhoras, senão,
bandidos?
Lamentável,
o que fez a Câmara dos Deputados, ao desvirtuar quase por completo, o projeto
inicial apresentado pelo Ministério Público, e endossado pela sociedade.
Para
terminar, as palavras de Rodrigo Janot, procurador-geral da República: “As 10 Medidas contra a corrupção não existem
mais. O Ministério Público brasileiro não apoia o texto que restou, uma pálida
sombra das propostas que nos aproximariam de boas práticas mundiais. O
Ministério Público seguirá sua trajetória de serviço ao povo brasileiro, na
perspectiva de luta contra o desvio de dinheiro público e o roubo das
esperanças de um país melhor para todos nós”.
Há,
porém, ainda uma chance: o Senado Federal, para onde o projeto segue na
tentativa de ser concretizado. O que resta agora a sociedade brasileira é fazer
pressão em cima dos senadores, e uma intensa pressão, se não quiser ver
enterrada a Operação Lava Jato, e os anseios de uma sociedade mais humana e mais
justa.
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