0
Avanços e Retrocessos
Posted by Cottidianos
on
01:13
Quinta-feira,
22 de setembro
Considero
o El País Brasil um excelente jornal,
como também considero Luís Ruffato, um dos seus colunistas, um excelente
jornalista, tendo compartilhado, por várias vezes aqui nesse blog, alguns dos
artigos que ele escreve naquele jornal. Hoje, entretanto, em vez de
compartilhar artigo dele, resolvi comentar um artigo escrito por ele,
intitulado, A Brincadeira, e
publicado no El País, no último 20 de setembro.
Ruffato
começa o segundo parágrafo do texto dizendo: “Após encenar um dos mais vergonhosos episódios da História nacional, a
farsa do impeachment da presidente Dilma Rousseff, levada a efeito por um
Congresso corrupto, instigado por um político medíocre, o vice-presidente
Michel Temer, agora intentamos outro golpe, desta vez contra o ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva”.
Vivemos
em um país democrático, e cada um pode ter e expressar a sua opinião como bem
entender, seja o pensamento alinhado ou não a algum grupo político, ou
simplesmente, apartidário. Entretanto, é, no mínimo exagerado, considerar o impeachment
da presidente um dos mais vergonhosos episódios da História nacional. Dilma foi
acusada de crime de responsabilidade, houve um processo político legal, que se
desenvolveu, como sabem vocês, em duas etapas: uma na Câmara dos Deputados, e
tendo como grande Tribunal Político com poder decisório, o Senado Federal. Os
Senadores a consideraram culpada pelo crime, e cassaram o mandato dela,
todavia, não se sabe por que cargas d’água resolveram dar-lhe um presente: a
conservação de seus direitos políticos. Com isso, Dilma pode até, em remota hipótese,
retornar a presidência nas próximas eleições presidenciais.
O
fato é que, implicitamente, Dilma também foi julgada pelo conjunto de sua obra,
e a do partido ao qual ela pertence. Desde que o PT assumiu o poder, o que se
tem visto é uma sucessão de graves escândalos de corrupção que afeta todos os
principais elementos do partido e do governo. Tesoureiros, ministros, secretários,
diretores de estatais, amigos próximos, familiares, todos envolvidos, direta ou
indiretamente em desvios de dinheiro. Apenas o PT fez isso? Não. No Brasil
sempre houve casos de corrupção. O PT apenas deu uma dimensão maior e mais
sofisticada ao institucionalizar a corrupção e fazer dela parte de um mesquinho
projeto de poder. Poderíamos dizer até, sic,
que o PT profissionalizou a corrupção. Se o impeachment de uma presidente cujo
partido desviou bilhões de reais dos cofres públicos é uma vergonha nacional, então
Fernando Collor, que sofreu impeachment por causa de Fiat Elba, seria o que
então?
Diz
o colunista do El País Brasil, que se intenta desta vez, um golpe contra Lula. Grande
e “inocente” estadista que, mesmo com todo lamaçal ao seu redor, e que envolvia
todos os seus assessores diretos ou indiretos, homens de confiança e amigos
próximos, mesmo assim, ele nunca soube de nada. Só podemos tirar daí duas conclusões:
a de que o ex-presidente é muito burro ou muito esperto. Supondo que a carreira
como sindicalista deve ter-lhe ensinado muitas artimanhas e meandros de conseguir
o que queria, mesmo que os métodos não fossem os mais santos, então fiquemos
com a segunda opção.
Falando
do golpe contra Lula, o jornalista quer dizer a denúncia que o Ministério
Público apresentou contra o ex-presidente. É certo que na denúncia não havia
elementos tão fortes que pudessem caracterizar provas, mas havia ali um
raciocínio claro, lógico, e racional de como se deram as coisas, e também
conteúdo substancial de corrupção. Apenas lembrando que O MP acusou Lula de ser
o chefe de todo esse esquema criminoso. Algum fundo de verdade deve haver na
denúncia do MP, pois, se Lula, como diz o ditado popular, “não dá ponto sem nó”,
o juiz Sérgio Moro também não. E Sérgio Moro aceitou a denúncia do MP contra o
ex-presidente e outras sete pessoas. É bom também que se saiba que a denuncia
não se fundamenta em ventos sem consequência, mas em contratos da empreiteira
OAS com a Petrobrás, e que esses contratos renderam ao ex-presidente, ilícitos
R$ 3,7 milhões.
Gosto
muito dos artigos de Luiz Ruffato, mas acho uma pena que ele tenha se deixado
emocionar pelas lágrimas de crocodilo derramadas por Lula.
O
jornalista diz ainda que a principal finalidade da denúncia apresentada pelo
procurador federal, Deltan Dallagnol, “é
tão e simplesmente inviabilizar a candidatura de Lula à Presidência da
República em 2018”. Ora, senhoras e senhores, isso é querer diminuir o
precioso e cuidadoso trabalho que não apenas o Ministério Público, mas também a
Polícia Federal tem feito no sentido de desvendar esses tenebrosos mistérios
que se escondem no fundo do mar de lama que no qual se tornou a Petrobrás. É relativizar
o esforço de combater a corrupção que não é apenas das duas instituições
citadas, mas de toda a sociedade brasileira.
Além
do mais, o retorno de Lula à presidência, seria para a sociedade brasileira,
referendar a corrupção como prática legitima de governança. É certo que temos
um Congresso corrupto, cujos líderes, partidos do governo, ou da base aliada,
estão compactuando desses detestáveis esquemas, mas a sociedade brasileira está
acordando de seu longo sono e de sua inércia e começa a perceber que, se
continuar fingindo que nada está acontecendo de prejudicial à nação, que
continua adotando a máxima de “todos roubam”, nunca chegaremos a lugar algum,
ao contrário, andaremos sempre para trás, como os caranguejos que vivem na lama
dos manguezais.
Ruffato
encerra seu artigo dizendo que “A questão
que fica é que o que poderá advir dessa severa desorganização política,
econômica e social? Talvez estejamos brincando com fogo e que ao fim do embate
entre o “Bem” e o “Mal” não reste nada para ser governado, pois a História,
como está escrito no começo desse artigo, não tolera brincadeiras”, e o
presente artigo lido por vocês neste blog, termina dizendo que algo de bom pode
advir de toda essa bagunça que se tornou o nosso Brasil atual. Estamos arrumando
a casa, estamos tentando limpá-la e reformá-la, e reformas, como todos sabem,
são incomodas, porém, necessárias. E é bom que saibam PT, PMDB, PSDB, PPS, PSOL
e demais partidos, que, se a história não tolera brincadeiras, o povo brasileiro
quer fazer história e não mais tolerar as brincadeiras maldosas e perversas dos
políticos que dão corpo a esses partidos.
Postar um comentário