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Céu de brigadeiro

Posted by Cottidianos on 00:14
Domingo, 05 de junho


Virá
Impávido que nem Muhammad Ali
Virá que eu vi
Apaixonadamente como Peri
Virá que eu vi
Tranquilo e infalível como Bruce Lee
Virá que eu vi
O axé do afoxé Filhos de Gandhi
Virá
E aquilo que nesse momento se revelará aos povos
Surpreenderá a todos não por ser exótico
Mas pelo fato de poder ter sempre estado oculto
Quando terá sido o óbvio
(Um Índio – Caetano Veloso)



Ò insensatos, que pensais vós estar fazendo com a nossa pátria amada Brasil? Que pensais ser o povo brasileiro? Por acaso, achais que os habitantes desta nação são palhaços? Ou sois vós, que sem a menor noção do que é ser político, estais levando nosso país ao ocaso de seu desenvolvimento?

A Câmara dos Deputados do Brasil, com 25 partidos políticos, e 513 deputados, eleitos por voto proporcional para um mandato de quatro anos, deveria ser o lugar por excelência da aprovação, alteração e revogação de leis. Mas o que temos visto naquela casa legislativa, localizada na Praça dos Três Poderes, em Brasília, está mais para picadeiro de circo, do que para uma casa legislativa séria, em um país sério. E os deputados estão mais para palhaços que para políticos.

Em postagem anterior, falei do aumento que a Câmara aprovou, com o consentimento do presidente interino, Michel Temer, do bilionário aumento do funcionalismo público estadual. Até aí tudo bem... Se o cenário econômico brasileiro estivesse na condição de um céu de brigadeiro, e os cofres do governo estivessem tão cheios quanto o cofre do Tio Patinhas.

Mas nem o céu da economia brasileira está para céu de brigadeiro — muito pelo contrário, o cenário econômico parece mais com que aqueles dias tempestuosos, cheios de chuva forte, acompanhada de raios e trovões — nem também, os cofres do governo estão cheios. Muito pelo contrário. Se o Tio Patinhas resolvesse mergulhar de cabeça nos cofres do governo — como faz em seu cofre repleto de moedas reluzentes — ele sofreria, no mínimo, fratura craniana. O próprio governo Temer reajustou o rombo das públicas para R$ 170 bilhões, rombo este, anteriormente previsto para R$ 96 bilhões pelo governo Dilma Rousseff.

Que faz um bom piloto quando o tempo está impróprio para voos? Espera o temporal passar para poder levantar voo. Ou se o avião já está em voo, o piloto procura conduzir o avião com ainda mais responsabilidade e prudência. Parece que os insensatos deputados, nem o governo tem essa compreensão, pois, além do gordo aumento dado ao funcionalismo público, naquele mesmo pacote de medidas, aprovado, sem alarde, na calada da noite, também foi aprovada a criação de mais 14.419 cargos na administração pública federal. Quando assumiu, Michel Temer, disse que iria cortar gastos, enxugar a máquina estatal, e faz exatamente o oposto, ao criar quase 4 vezes mais os 4 mil postos que havia prometido cortar ao assumir o governo interinamente.

É bom pensar no ditado popular que diz: “Esmola demais, o santo desconfia”.

O Ministério do Planejamento afirmou que a criação dos novos cargos não afetará as contas públicas, e que o aumento do funcionalismo já era previsto em orçamento. Eles sempre apresentam esses argumentos esfarrapados, e desculpas estudadas, nas quais só eles mesmos acreditam.

 O caso segue para o Senado, que pode aprovar ou vetar as medidas. Ainda restará uma chance de Temer se redimir, vetando as medidas.

Ao fazer os acordos na Câmara afim de garantir maioria para aprovar o prosseguimento do impeachment de Dilma, duas coisas aconteceram: Temer vendeu a alma ao diabo, e as lideranças na Câmara o colocaram numa camisa de força, o que o coloca numa bifurcação perigosa: Temer pode perder apoio da opinião pública brasileira, e a confiança dos mercados. Ainda navegando em águas perigosas, os vacilos de Temer podem fazer com que ele perca aliados no Senado, o que resultaria numa volta de Dilma ao poder.

A política brasileira atual é um cenário no qual tudo pode acontecer. Os capítulos dessa instigante novela estão sendo escritos a cada dia, e tudo pode mudar de uma hora para outra. Portanto, senhores passageiros do voo Brasil, segurem-se nas cadeiras, pois as turbulências podem ser enormes, podendo até haver pouso forçado.

Alie-se a tudo isso o bendito fantasma da Lava Jato que tem assustado a elite empresarial — principalmente no ramo das empreiteiras — e a elite política, desde velhas raposas, até as mais novas.

Ao analisar as atitudes do governo, não sentimos segurança, confiança e credibilidade, que é o que todos esperam de um governo. Ora, se Temer ora diz uma coisa, ora faz outra, Será que podemos confiar quando ele afirma, de forma categórica, que não interferirá na Operação Lava Jato? Outra desconfiança que insiste em nos rondar é o fato de que um governo que quer cortar a zero os gastos com saúde e educação, queira privilegiar parcela da população que poderia esperar um pouco mais para ter suas reivindicações atendidas. Ou você acha que uma pessoa que ganha R$ 33 mil, no Brasil atual, precisaria de aumento? Há um simbolismo nas entrelinhas destes dois gestos do governo que nos diz que o nosso país continuará sofrendo as mesmas mazelas nas áreas da saúde e da educação. E um país sem educação só anda para trás tal qual um caranguejo na beira do mangue.

Ainda falando do novo governo interino, vamos recordar as vaciladas que Temer tem cometido?

Ele disse que nomearia um ministério de notáveis, porém não deve ter encontrado notáveis ao redor dele, pois nomeou para sua equipe ministerial políticos investigados na Operação Lava Jato. Um dos poucos que se salvam foi a nomeação de Henrique Meireles para a pasta da Fazenda e Previdência. Meirelles é uma unanimidade entre a classe política. O líder do governo na Câmara, André Moura (PSC-SE), é acusado até de tentativa de assassinato. Alexandre de Moraes disse logo nos primeiros dias como Ministro da Justiça que era contrário à escolha do Procurador-Geral da República pela lista tríplice. Temer logo correu a desmentir o ministro. Romero Jucá, amigo pessoal de Temer, e ex-ministro do Planejamento, caiu logo após ter gravações telefônicas divulgadas, nas quais revelava seu desejo de ver a Lava Jato morta. Uma semana depois, por motivos semelhantes, caiu o Ministro da Transparência, Fábio Pereira, em situação análoga a de Jucá.

Ao anunciar seu ministério formado exclusivamente, por homens, e brancos, Temer foi criticado por não privilegiar a diversidade. Sofrei muitas críticas por não nomear nenhum negro e nenhuma mulher para o posto de ministro. Para disfarçar e amenizar as criticas, chamou mulheres para chefiar secretárias, mas, sem o status de ministras. Extinguiu o Ministério da Cultura, anexando ao da Educação. O meio artístico protestou e ele recriou o ministério.

Na esteira dessa violência sofrida por uma jovem carioca, vítima de um estupro coletivo no Rio, Temer aproveitou a onda, e resolveu fazer algo pelas mulheres. Criou a Secretaria de Políticas para as Mulheres. E veio outra polêmica. A escolhida para a chefiar a secretaria, a deputada Fátima Pelaes (PMDB-AP), é alvo de uma investigação por parte do Ministério Público, na qual é acusada de participar de uma organização criminosa que desviou R$ 4 milhões de emendas parlamentares. O inquérito contra Fátima Pelaes corre na Justiça Federal do Amapá. O esquema foi desarticulado pela Operação Voucher, em 2011.

Segundo as investigações, Fátima Pelaes é acusada de repassar R$ 4 milhões a Ibrasi, uma ONG fantasma que havia firmado convênio com o Ministério de Turismo. A Ibrasi servia apenas para receber o dinheiro desviado por Fátima, e nada tinha a ver com turismo. O jornal Folha de São Paulo questionou Fátima Pelaes acerca das acusações. Por meio de sua assessoria de imprensa, ela disse o que todos eles dizem “sou inocente”. Em palavras literais ela afirmou “Eu confio no trabalho da polícia e da Justiça e estou tranquila de que tudo será esclarecido”. O inquérito que apura a conduta de Fátima pode ser arquivado ou se transformar em denúncia.

Sr. Temer será que ao redor não haja nenhuma pessoa que não esteja às voltas com investigações por corrupção? Será que estamos tão mal assim de pessoas decentes?
Por essas e outras, alguns senadores estão avaliando suas posições sobre o impeachment. Isso é preocupante para Temer... E para todos nós brasileiros, que sem céu de brigadeiro, ficamos sem ver para onde estamos indo.

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