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Encruzilhadas
Posted by Cottidianos
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23:46
Quarta-feira, 31 de maio
“Eu não posso mais ficar aqui a esperar
Que
um dia, de repente, você volte para mim
Vejo
caminhões e carros apressados a passar por mim
Estou
sentado à beira de um caminho que não tem mais fim
Meu
olhar se perde na poeira dessa estrada triste
Onde
a tristeza e a saudade de você ainda existem
Esse
sol que queima no meu rosto um resto de esperança
De
ao menos ver de perto o seu olhar
que
eu trago na lembrança
Preciso
acabar logo com isso
Preciso
lembrar que eu existo
Que
eu existo, que eu existo”
(Sentado à Beira do Caminho - Roberto
Carlos - Erasmo Carlos)
Os sinais de trânsito ajudam a colocar
um pouco de ordem no caos do trânsito nas cidades, principalmente, nas cidades
grandes. Vermelho. Amarelo. Verde. Pare.
Espere. Avance. Regras óbvias. Mas quem disse que todo mundo conhece. E se
conhecem, quem disse que respeitam. Engraçado que até as crianças que
experimentam os primeiros doces anos nos bancos escolares sabem a diferença...
Enquanto muitos adultos já esqueceram... E daí vem os altos números de
acidentes de trânsito nas ruas e rodovias do Brasil. Acidentes esses que tem
mais de impudência dos próprios motoristas, do que defeitos de fabricação dos automóveis,
ou de qualquer outra coisa.
Na tarde de domingo (28), rodava de
bike, este blogueiro, pelas ruas da cidade onde mora, Campinas, São Paulo. Cheguei
ao cruzamento de uma importante avenida — que corta o coração do centro da
cidade — com uma rua paralela. Quando sai da paralela para entrar na avenida
principal, eis que o sinal de trânsito fechou para o motorista, e abriu para o
pedestre. Vermelho para eles. Verde para os pedestres, é por aqui que eu vou,
pensei eu. Mas sendo nossa vez, pedestre ou ciclista, é bom conferir antes,
pois nem sempre tem motorista disposto a respeitar nem as regras de trânsito,
nem os pedestres, nem muito menos os ciclistas.
Nesse olhar mais atento antes de entrar
na avenida pela faixa de pedestre, observei que um veículo por ela deslizava em
alta velocidade. Raciocínio rápido: se eu entrar na avenida, serei atropelado. Parei
um tanto quanto incrédulo, enquanto o carro atravessou a toda velocidade o
sinal vermelho, e seguiu em frente. Seguindo meu caminho com mais tranquilidade
e segurança, murmurei para mim mesmo: um idiota guiando um carro bonito acabou
de passar por essa avenida.
Em meu pensamento vieram diversas
situações. Uma criança, em sua peraltice e inocência, avançando pela faixa; Um casal
de idosos, passeando tranquilamente; um ciclista menos atento. Em nenhuma
dessas situações haveria tempo de parar. Um motorista irresponsável teria
ferido, gravemente, ou até mesmo tirado a vida de inocentes.
Caro leitor, leitora, não se trata esta
postagem de acidentes de trânsito, nem nela vou falar desse assunto, mas a
linha de raciocínio pode servir ao presente escrito.
Se compararmos o nosso Brasil a um
veículo automotor, e nossos políticos a motoristas guiando esse veículo, cruzando
as ruas das grandes cidades, ou mesmo as rodovias que ligam a cidade ao campo,
então podemos dizer que, há tempos, temos tido um trânsito caótico, e maus
motoristas a guiar a máquina.
Nas aulas de trânsito, e nas regras de
trânsito da democracia todos tiram zero. Parecem ter se esquecido das lições
iniciais daqueles doces primeiros anos nos bancos escolares.
Ah, prezados, e prezadas, e quantos
acidentes esses maus motoristas que são nossos políticos já causaram! Inúmeros.
Milhares. Milhões. Vítimas que morreram nos leitos dos hospitais a espera de remédios;
crianças que viram sua educação andar para trás como caranguejo no mangue por
falta de professores, por falta de material escolar, ou até pela falta do
básico: uma escola; quantos médicos em plena capacidade e exercício da função
já não abandonaram seus postos por falta de equipamentos nos hospitais, outros
por atuarem em áreas sem a menor segurança.
Assim como há os pedestres que se
esquecem de ter um pouco mais de prudência do que deveriam — ainda que se
saibam certos — também nas regras de trânsito da democracia há os eleitores
desavisados que vão votando no primeiro político que aparece, ou que votam nos
mais conhecidos, mas com uma ficha enorme de acidentes de trânsito — alguns com
vítimas fatais — nas ruas e rodovias da cidade da democracia brasileira.
E como esses motoristas sem educação e
sem noção debocham dos pedestres! E como esses políticos sem educação política,
e sem noção de democracia debocham dos eleitores!
No Brasil, os crimes de trânsito ainda
são punidos muito brandamente, talvez, por esse motivo sejam tantos e tão cruéis.
Assim como ainda são punidos muito brandamente os crimes contra a democracia,
os crimes contra o povo, e contra o país. Talvez por isso, eles sejam cometidos
com tanta sistematicidade.
Como peregrino em meio a uma
encruzilhada. Perdido no meio do caminho. Sem saber que rumo tomar. Com a mão
no queixo a olhar fixo, ora para o horizonte infinito, ora para a encruzilhada
na qual se encontra, é assim que se sente o brasileiro nos dias atuais.
Se revisitarmos nossa recente história
política, veremos que nossa democracia anda muito mal das pernas. E olhem que
não se fala aqui de processo político. Este até que é bem eficiente. Funciona bem.
O erro está nas más escolhas que fazemos. Tudo bem que muitos de nós fomos
enganados. Durante anos, fomos enganados, pelos partidos e candidatos da
direita, da esquerda, e do centro. Todos nós sabíamos que nenhum deles
prestava, mas pensávamos haver uns melhores que outros, uns mais dignos que
outros. Mas, ao fim do ato, ao fim do espetáculo, ao cair das máscaras, é que
vimos que não há um melhor e outro pior, mas que são todos farinha do mesmo
saco.
Começou no ano de 1992 quando Collor
sofreu processo de impeachment, e antes que o processo chegasse a sua
completude, o “caçador de marajás” renunciou. Talvez tenha começado antes de
Collor, hoje em dia tudo é tão incerto... Em 2016, outro impeachment: o de
Dilma Rousseff. Dilma não renunciou. Foi derrotada. E teve de deixar a cadeira
presidencial. E agora? O presidente que a subsistiu, Michel Temer, está
enrolado até o pescoço em denúncias de corrupção. Estrebuchando feito bicho
brado que quer fugir da rede de na qual foi apanhado.
O STF parte para cima dele com ímpeto. O
presidente diz que a fita com as gravações de Joesley são fraudulentas, mas o
que fica evidente é que a conversa entre os dois nos porões grotescos do
palácio presidencial não foi forjada, bem como não foram forjadas todas as
confissões que o presidente ouviu de um empresário corrupto, e ainda o
incentivou, bem como não foi forjada a mala com os R$ 500 mil que o deputado,
Rocha Loures (PMDB), recebeu. Rocha Loures era, ou é, homem de confiança de
Temer.
Ah, antes que esqueça, ainda tem um
ex-presidente muito popular, Luís Inácio Lula da Silva, que está envolvido até
o pescoço no mar de lama da corrupção, enfrentando processos judiciais por
acusação, dentre outras, de lavagem de dinheiro e corrupção, e que ainda se
afirma o mais honesto dos brasileiros. Ah, deixem os brasileiros honestos
saberem disso...
E ainda tem o julgamento da Chapa Dilma
Temer no Supremo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Dilma já era. O máximo que
pode perder agora são os direitos políticos dados de presente pelo Senado por ocasião
do julgamento do processo de impeachment. Temer tem duas vias quase certas: ou
perde o mandato via Supremo Tribunal Federal, ou via Tribunal Superior
Eleitoral.
Caso Temer deixe o mandato, há as opções
de eleições diretas ou indiretas. Em ambos os casos corremos o risco de cair,
mais uma vez, nas mãos de um oportunista. A diferença é que se cairmos nas mãos
de um oportunista pela via indireta, podermos nos livrar dele já nas eleições
do próximo ano. Ao contrario, se optarem pela via das eleições diretas teremos
que amargar mais quatro anos nas mãos de um político detestável.
Então caro leitor, leitora, o brasileiro
encontra-se ou não como um peregrino sentado e perdido à beira de um caminho?
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