0

Fanatismos perigosos

Posted by Cottidianos on 00:22
Quarta-feira, 03 de outubro

Jair Bolsonaro e Fernando Haddad


Sectário, o que é um sectário?
Ele é alguém que, segundo os dicionários, “faz parte de uma seita, doutrina, religião, política ou filosofia”.
Ora, todos nós, de um modo ou de outro, fazemos parte de algum grupo cujo combustível são as ideias, sejam elas de cunho político, religioso, doutrinário ou filosófico. Enquanto participantes desses grupos não abandonamos nossos princípios, nossas convicções pessoais. Em outras palavras, mesmo ouvindo os discursos e ordens do dirigente, ainda nos sobra muito de senso crítico para diferenciar aquilo que é certo do que é errado. Somos capazes de discernir entre aquilo que é normal e o que é absurdo.
O sectário, não. Ele segue as ideias do grupo em que está inserido até as últimas consequências. Os homens e mulheres bombas das seitas mais radicais estão aí para provar isso. É como se alguém lhe tirasse o cérebro, as emoções, e lhe colocasse no lugar chips eletrônicos. Assim, o homem não é mais homem, mas sim, uma espécie de robô, que não dirige a si próprio, não age de acordo com a própria consciência. O homem-robô é guiado pelo regime. E se o regime lhes manda se jogar montanha abaixo é isso que farão.
Temos inúmeros exemplos da implantação desses regimes mundo afora. Por exemplo, a Coréia do Norte: um dos países mais fechados do planeta. Um povo que obedece, cegamente, o líder Kim Jong-um. A Coréia do Norte é um bom exemplo de que a dominação das mentes não á apenas uma obra de ficção, mas uma realidade presente em nosso tempo, assim, como o foi em outras eras. A Alemanha de Hitler é outro bom exemplo. Ou seria mau exemplo? A febre global que é a Internet, não existe para os coreanos. Se eles querem navegar nas ondas eletromagnéticas, que usem uma espécie de Intranet, muito bem controlada pelo governo, igual a tudo naquele país. Coisas de Facebook, e outras redes mundiais, nem pensar. Contudo, os coreanos idolatram o líder como quem idolatra a um Deus. É uma lavagem cerebral muito bem-feita.
Enfim, aqui no Brasil, chegamos à fase final do primeiro turno da campanha eleitoral... E é inusitada a cena política que se desenrola diante de nossos olhos.
Depois de uma campanha eleitoral absolutamente atípica, talvez a mais pitoresca dos últimos tempos. Tivemos até um ex-presidente condenado em segunda instância e cumprindo pena de prisão querendo concorrer a presidência, e seu partido fazendo e tentando todas as manobras possíveis e imagináveis para que este fato se concretizasse, para isso, tentando driblar de todas as formas a lei vigente, recorrendo e usando como argumento um parecer do Comitê de Direitos Humanos da ONU que recomendava que Lula participasse das eleições. Os petistas queriam que essa recomendação da ONU tivesse força de lei.
Enfim, depois desses vendavais de paixões, chegamos aos últimos dias de campanha eleitoral entre dois radicais: Fernando Haddad (PT), e Jair Bolsonaro (PSL), que lidera as intenções de voto para a presidência, enquanto o candidato petista, após a oficialização de sua candidatura, e tendo herdado os votos que seriam destinados ao ex-presidente, vem atrás, em segundo lugar nas pesquisas eleitorais.
Fernando Haddad, por si só, não chega a ser aquilo que conhecemos por radical, porém, o candidato encarna, dizendo de outra forma, herda, o radicalismo de seu partido. Jair Bolsonaro, sim, é o radicalismo em pessoa. Ex-militar, racista e preconceituoso, e que, por ocasião do seu voto no impeachment da ex-presidente, Dilma Rousseff, dedicou seu voto ao coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, que torturou muita gente durante a ditadura militar no Brasil.
Na verdade, Jair Bolsonaro, soube canalizar bem o ódio e a insatisfação que grande parte dos brasileiros tem sentido pela classe política. Foi em sua direção que correram aqueles que durante as manifestações populares em nosso país, gritavam por ordem e contra a corrupção.
Em 2013, essas manifestações tomaram o país, e, sem bandeiras, e sem partidos, levaram o povo a unir em um só pacote, digamos assim, várias reivindicações: por uma melhor educação, por mais segurança, e pelo fim da corrupção, dentre outras.
Depois vieram, protestos mais específicos em 2015 e 2016, que eram mais direcionados aos desmandos feitos pelo PT, em relação à administração da coisa pública, e pela onda de corrupção que se instalou na máquina estatal, tendo esse partido grande responsabilidade pelo esquema criminoso que se instalou no país.
Todo esse ódio, a palavra é forte, mas é assim que sentem os brasileiros em relação à classe política, foram canalizados em votos a favor do candidato Jair Bolsonaro.
Alie-se à toda essa insatisfação com a corrupção que move as engrenagens das empresas e instituições públicas, às quais possuem forte elo com as empresas privadas — especialmente as do ramo empreiteiro — à questão da segurança pública e da violência urbana que tem chegado a níveis insuportáveis e alarmantes em todo o país, principalmente, no Rio de Janeiro.
Os governos, ano após ano, foram deixando que o crime organizado se fortalecesse ainda mais, e, hoje ele se tornou uma pedra no sapato das autoridades do setor de segurança pública, uma vez que seus vermes contaminaram servidores de instituições como a própria polícia. O crime organizado só existe e é tão forte porque o lado podre da polícia acoberta, protege àqueles a quem deveria combater.
Aproveitando-se de todos esses fatores, Jair Bolsonaro se apresentou como o novo messias, aquele que viria a libertar o povo de todas as suas angústias, livrá-los da corrupção, e armá-los, para que, dessa forma, a escalada do crime fosse contida. Também nessa área, prometeu agir com rigor contra os bandidos.
Mas os sinais são claros.... Como diz o ditado, pelo fruto se conhece a arvore.
Em janeiro deste ano, a Folha de São Paulo publicou reportagem em que denunciava que o candidato a presidente, Jair Bolsonaro, estava usando verbas de gabinete para pagar uma conhecida dele, em um distrito a cerca de 50 km de Angra dos Reis (RJ). A mulher de nome Walderice Santos da Conceição, 49 — chamada pelos amigos, e pelo próprio deputado, de Wal — vendia açaí, em pequena loja, de nome, Wal Açaí, por coincidência (?) na mesma rua onde fica a casa de veraneio do deputado, em uma pequena vila, chamada de Vila Histórica de Manbucaba. Ainda segundo a Folha, moradores da região afirmaram que ela também prestava serviços na casa de Bolsonaro.
O que chama atenção em tudo isso é que Wal figurava como um dos 14 funcionários do gabinete do deputado, em Brasília, e recebia um salário bruto de R$ 1.351,00.
Em abril deste ano, em uma palestra no Clube Hebraica, no Rio de Janeiro, Bolsonaro fez afirmações de cunho racista e preconceituoso contra negros e quilombolas. Ele prometeu que, caso seja eleito, vai acabar com as demarcações de terras para essas populações.
Em relação aos indígenas ele afirmou: “Pode ter certeza de que, se eu chegar lá, não vai ter dinheiro pra ONG. Esses inúteis vão ter que trabalhar. Se eu chegar lá, no que depender de mim, todo cidadão vai ter uma arma de fogo dentro de casa. Não vai ter um centímetro demarcado para reserva indígena ou para quilombola. Onde tem uma terra indígena, tem uma riqueza embaixo dela. Temos que mudar isso daí”.
Quanto aos quilombolas, o comentário também foi preconceituoso: “Eu fui num quilombo. O afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas (arroba é uma medida usada para pesar gado; cada uma equivale a 15 kg). Não fazem nada. Eu acho que nem para procriador ele serve mais. Mais de R$ 1 bilhão por ano é gasto com eles”, disse o deputado.
Por diversas vezes, também as mulheres e a classe LGBT foi alvo dos comentários ferinos de Bolsonaro. Em uma delas, no ano de 2011, a cantora Preta Gil, filha de Gilberto Gil, participava do programa CQC, quando enviou uma pergunta em vídeos ao deputado perguntando o que ele faria se o filho dele se apaixonasse por uma negra, ao que Bolsonaro respondeu: “Preta, eu não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Eu não corro esse risco. Meus filhos foram muito bem-educados e não viveram em ambiente como lamentavelmente é o teu”.
Afora essas polêmicas questões, Jair Bolsonaro também é a favor da redução dos direitos dos trabalhadores, segundo ele, com o objetivo de gerar mais empregos: “Aos poucos, a população vai entendendo que é melhor menos direitos e [mais] emprego do que todos os direitos e desemprego”, disse ele em uma palestra para empresários, em São Paulo. 
Durante uma entrevista para diversos veículos de comunicação, no ano de 2016, o deputado afirmou o seguinte em relação às maiorias e minorias: “Maioria é uma coisa, minoria é outra. Minoria tem que se calar, se curvar à maioria, acabou. Eu quero respeitar é a maioria, e não a minoria”.
Em fevereiro deste ano, em um discurso, uma espécie de comício de pré-campanha, —não se sabe ao certo o local, mas o vídeo está no Youtube — ele voltou a reafirmar sua posição em relação a esse assunto: “Como somos um país cristão, Deus acima de tudo! Não existe essa historinha de estado laico, não! É um estado cristão. Vamos fazer o Brasil para as maiorias. As minorias têm que se curvar às maiorias. A lei deve existir para defender as maiorias. As minorias se adequam ou simplesmente desapareçam”.
Ora, um estado deve ser laico no sentido de que deve acolher a todos, cristãos e não cristãos. Afinal, todos, indistintamente, pagam os mesmos impostos, e, como cidadãos, pertencente à mesma pátria, à mesma nação, tem os mesmos direitos e os mesmo deveres a cumprir. Sem contar que o discurso religioso, em muitas épocas, e em muitos lugares, serviu, e ainda serve atualmente, como poderosa ferramenta de dominação. É preciso fazer uma leitura criteriosa do uso do nome de Deus, pois que, pode ocorrer, querendo, em nome de Deus, agir justamente, o cidadão, o cristão, pode acabar se distanciando em muito dos ensinamentos do mestre Jesus, e praticar a injustiça em vez de justiça, exclusão, em vez de inclusão.
Recentemente, o presidenciável teve que correr para botar panos quentes em uma declaração de seu vice, o general Hamilton Mourão. Durante uma palestra para os empresários do setor do comércio em Uruguaiana, Rio Grande do Sul, Mourão disse que o pagamento do 13º salário era uma “jabuticaba nas costas dos empresários”. “Temos umas jabuticabas que a gente sabe que são uma mochila nas costas de todo empresário. Jabuticabas brasileiras: 13º salário. Como a gente arrecada 12 (meses) e pagamos 13? O Brasil é o único lugar onde a pessoa entra em férias e ganha mais. São coisas nossas, a legislação que está aí. A visão dita social com o chapéu dos outros e não do governo”, disse o general. Os empresários, claro, gostam de ouvir esses discursos... e apoiam Bolsonaro.
Não há como não fazer comparações entre Bolsonaro e Trump. Entretanto, Nina Schneider, historiadora da Universidade de Colônia, Alemanha, considera Bolsonaro um pouco mais perigoso. “Bolsonaro é muito mais radical que o presidente americano. Ele faz comentários racistas, homofóbicos e sexistas. Mas o pior é elogiar em público os torturadores, isso o torna muito mais perigoso do que o Trump”, diz ela em reportagem da revista Fórum.
Outro fato a destacar é que Bolsonaro em 26 de anos de Congresso Nacional, em sua vida como deputado, só conseguiu aprovar dois projetos dos 171 que apresentou. Dos dois projetos do deputado que viraram lei um era o que estendia o benefício da isenção de Impostos sobre Produtos Industrializados para bens de informática, e outro o que autorizava o uso da “pílula do câncer”, a fosfoetanolamina sinética. O deputado até que se mostrou bastante atuante, mas o número de projetos apresentados por ele revela que suas ideias não estavam em consonância com a instituição.
No outro extremo, temos Fernando Haddad, o candidato do Lula. Para início de conversa, Haddad assumiu a prefeitura de São Paulo em 2012 após uma disputada eleição com José Serra (PSDB). O PT deu todo apoio ao Haddad, mas sua administração à frente da capital paulista se revelou medíocre. Tanto é que tentou a reeleição em 2016 e perdeu para o candidato João Dória (PSDB). Dória venceu a eleição por 3.085.187 (53,29% dos votos válidos), enquanto Haddad teve apenas 967.190 (16,70% dos votos válidos). O candidato do PT teve menos votos do que o número de votos brancos e nulos que somaram 1,1 milhão de votos.
Se tivesse sido um bom gestor, os paulistanos, certamente, o reelegeriam. É bem verdade que a situação para os petistas, de modo especial nas regiões Sul e Sudeste já estava bem desgastada.
Essa campanha eleitoral foi, de longe para os petistas, a mais tumultuada, por eles próprios, diga-se de passagem. O pesadelo para os petistas começou com a condenação em segunda instância do messias deles, o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva. A legislação brasileira, através da Lei da Ficha Limpa diz que candidatos condenados em segunda instância não podem concorrer à cargos públicos.
Mesmo sabendo de tudo isso, os petistas armaram um verdadeiro circo, tentando de todas as formas driblar a lei. Apregoaram aos quatros cantos do mundo que a prisão de Lula se dera por motivos políticos, que ele era uma vítima, e blá, blá, blá. Até o último momento insistiram em que Lula era o candidato do PT, até que a candidatura dele foi indeferida, e, na reta final, entrou o candidato Haddad, que antes figurava como vice de Lula.  
A verdade é que o Partido dos Trabalhadores é responsável por toda essa confusão em que se encontra o país atualmente. O partido sob o comando de seu “chefe” institucionalizou a corrupção no país como prática comum. E para esse festim diabólico chamou todos os demais partidos, e todos comeram e se fartaram às custas da nação.
Às vésperas da eleição, a divulgação da delação premiada do ex-ministro petista, Antonio Palocci, vem confirmar aquilo que todos, à exceção dos petistas, já sabiam: que Lula sempre teve conhecimento de todos esse esquema criminoso que tomou conta da Petrobras, sendo ele mesmo, o próprio Lula, quem indicava os diretores para os cargos chaves, aqueles que era possível arrecadar grande parte do dinheiro para o PT e para os partidos “aliados”.
Durante todo esse tempo, do escândalo do mensalão até agora, o PT não fez nenhuma meia culpa, nem pedido de desculpa à nação, nem aos seus seguidores. Ao contrário, sempre se fez de vítima, de coitadinho, de perseguido pelas elites.
Deu no que deu: está se formando no país um outro tipo de radicalismo, talvez até mais perigoso do que o radicalismo petista.
Quem sabe o voto útil, que é aquele no qual o eleitor vota para não ver nenhuma das opções principais ganhar, quem sabe o voto desses eleitores consiga virar o jogo. E aí estaria a chance de presidenciáveis como Ciro Gomes, Marina Silva, Geraldo Alckmin, João Amoedo, ou Álvaro Dias.
Domingo (07), o Brasil vai novamente às urnas. À exceção de Jair Bolsonaro e Fernando Haddad, os demais candidatos estão bem abaixo nas pesquisas. Não conseguiram convencer o eleitor e fazer frente aos líderes nas intenções de votos.
O cenário eleitoral nesta reta final de eleições é um livro aberto. Tudo pode acontecer, mas, a julgar pelas manifestações de apoio ao candidato do PSC, Jair Bolsonaro, é muito provável que as eleições sejam definidas já neste domingo. Vamos esperar até lá para ver o que acontece.
Seja para que lado penda a balança no domingo, o negócio é respirar fundo, prender a respiração... E apelar para os céus.
O ideal seria que o eleitor brasileiro, pelo menos dessa vez, agisse baseado na razão e não entregues às paixões. Isso já aconteceu em passado bem recente da história de nosso país, e mais de uma vez. Em todas as vezes que a ação se deu baseada e tendo como argumento os arroubos da paixão, o resultado foram apenas lágrimas e decepções. Isso porque, diante do mar revoltoso da vida, a paixão é como um frágil barquinho que se agita pra lá e pra cá, correndo, muitas vezes, o risco de naufragar. A paixão cega, impede que vejamos as imperfeições do outro, e nos faz ver somente um futuro de ilusões e promessas, escondendo as imperfeições que saltam aos olhos, e estão frente à frente conosco e fingimos não ver.
Mas o que temos visto é, justamente, o contrário, o vento das paixões está soprando forte novamente, cegando os brasileiros como o canto das sereias cega os marinheiros... E os marinheiros encantados com tão bonito canto se vão docemente afogar nas ondas do mar profundo.


0 Comments

Postar um comentário

Copyright © 2009 Cottidianos All rights reserved. Theme by Laptop Geek. | Bloggerized by FalconHive. Distribuído por Templates