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Entre a cruz e a espada

Posted by Cottidianos on 01:47
Quinta-feira, 18 de outubro

Fernando Haddad e Jair Bolsonaro

Peça decorativa. Ela está ali para que mesmo? Para decorar o ambiente, é verdade. Não possui em si mesma uma função essencial. Apenas serve como adereço. Caso seja despida de beleza, ou sem valor, se retirada do lugar ninguém nem ao menos perceberá.
É esse o papel que teve o presidente Michel Temer nessas eleições. Simplesmente foi ignorado. Ninguém se lembrou dele. Ninguém o quis nos palanques, muito menos sair ao lado dele na foto. Nem mesmo os do próprio partido. Final mais melancólico, impossível. Eleições? Antes que o eleitor pense que este blog silencia sobre elas, falemos sobre isso mais abaixo. Antes vamos dar mais uma olhada nessa peça decorativa sem beleza e sem valor que é o governo deste senhor, que, por ora, comanda nosso país, estando com os dias contados para sair do comando do barco.
No dia de ontem, quarta-feira, 17, a polícia colocou mais uma nota triste na trilha sonora desse melodrama de baixo valor que foi o governo de Temer. Foram 13 meses de investigação minuciosa e de pedidos de prazo de prorrogação para averiguações. A PF concluiu o inquérito que apurava se o presidente Michel Temer, e seus capachos, digo, grupo político, que o circundava, haviam recebido propina de empresas do setor portuário em troca de oferecer a elas vantagens indevidas.
A investigação foi fundamentada em um decreto assinado pelo presidente, no ano passado, no qual prorrogava o prazo de concessões de áreas públicas a empresas do setor portuário. Como em todo o inquérito sério, foram tomadas todas as medidas incisivas a fim de instruir o inquérito, inclusive a quebra de sigilo telefônico, bancário, e fiscal dos envolvidos.
O coronel Lima, amigo de Temer, era peça fundamental nesse esquema. Eram as empresas dele que serviam para captar recursos advindos de propinas da Rodimar. Como sempre, a engenharia do crime arranjava modos de inventar complexas operações financeiras para disfarçar o dinheiro ilegal que entrava na conta do presidente. Essas operações ilegais passavam pelas empresas de fachadas ligadas ao coronel. O inquérito da PF aponta ainda pagamentos feitos pelo grupo Libra.
Grande parte dessa propina chegou a Temer disfarçada de reformas imobiliárias, por exemplo, a reforma feita na casa de Maristela Temer, filha do presidente. A reforma feita na casa de Maristela começou em 2013 e foi até 2015. De acordo com as investigações, pelo menos R$ 1 milhão usados na reforma foram oriundos de propina.
Além de Michel Temer, e da filha dele Maristela Temer, foram indiciados pelo crime de corrupção passiva, o coronel João Batista Lima, e sua esposa, Maria Rita Fratezi, Carlos Alberto Costa, sócio do coronel, Carlos Alberto Costa Filho, filho de Carlos Alberto. Foram indiciados por corrupção ativa o empresário Antonio Celso Grecco, e Ricardo Mesquita, ambos da Rodrimar, e Gonçalo Torrealba, do grupo Libra. O contador Martins Ferreira também foi indiciado. No pacote de indiciados por corrupção, lavagem de dinheiro, organização criminosa, e lavagem de dinheiro, não podia ficar de fora, o ex-assessor de Temer, e ex-deputado, Rodrigo Rocha Loures, aquele que aparece em filmagens recebendo uma mala de dinheiro da JBS.
A PF pediu a prisão preventiva do coronel Lima, de Carlos Alberto Costa, da esposa do coronel Maria Rita, e de Almir Martins. O ministro do STF, Carlos Alberto Barroso, em despacho, proibiu que os quatro saíssem do país.
No mês de maio do ano passado, o presidente Michel Temer assinou o decreto que prorrogou de 25 para 35 anos, os contratos de concessões de empresas da área portuária, podendo chegar até 70 anos. Segundo as conclusões do inquérito da PF, entre os anos de 2000 e 2014, cerca de R$ 6 milhões em propinas foram repassadas pelas empresas do setor portuário ao presidente Michel Temer, e outros 17 milhões, também oriundos de propina foram parar nos cofres do MDB.
A conclusão óbvia desse indiciamento, cujas investigações estiveram sob o comando do delegado Cleyber de Malta Lopes, é de que o presidente Michel Temer assinou o decreto dos portos com a finalidade de beneficiar as empresas do setor, e, com isso, arrecadar propina para si mesmo e para seu partido.
Lembremos ainda que no decurso desse caso, ainda houve a conivência do O diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segovia, que, em fevereiro deste ano, disse em entrevista à Reuters, que não via indícios de crime na investigação contra Michel Temer no caso do decreto dos portos. Segovia sugeriu ainda que o inquérito fosse arquivado, foi mais além, e ameaçou de sanções o delegado responsável pelo caso. Diante de tantas polêmicas e declarações desastrosas, Fernando Segovia foi demitido do cargo no final de fevereiro, encerrando sua breve e tumultuada passagem como comandante da Polícia Federal. Ele ficou apenas três meses no cargo. Se estivesse ainda no comando, certamente, essa seria mais uma sujeira a ser jogada para debaixo do tapete.
E assim, em período recente, temos uma presidente que sofreu impeachment devido a crimes fiscais, um ex-presidente preso, e o atual presidente indiciado. Uma lástima para a democracia brasileira, e um sinal de que as instituições jurídicas brasileiras funcionam, ainda que alguns magistrados insistam em remar contra a correnteza do estabelecimento da moral e da ética.
E foi sob o pano de fundo desse nefasto e vergonhoso enredo que foi se armando o cenário político atual.
O primeiro turno das eleições presidenciais chegou e passou como passam as águas de uma chuva tão inesperada e forte que é capaz de pegar a todos desprevenidos, arrastando tudo o que encontra pela frente, casas, móveis, carros, telhados. Caminhamos para o segundo turno, para a decisão final, no meio das mesmas águas turbulentas e lamacentas que inundaram o turno anterior destas inusitadas eleições.
O resultado, como vocês já sabem, foi a ida para o segundo turno dos candidatos, Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT), dois extremos, duas polarizações... E os petistas encontraram um adversário à altura, capaz de trapacear e jogar com as mesmas cartas sujas. As fake news que invadiram as redes sociais estão aí para provar isso.
Quanto aos outros candidatos, tiveram um desempenho pífio. Marina Silva, candidata da Rede, derreteu. No início, ela aparecia bem colocada nas pesquisas de intenções de votos, com chances de chegar a um segundo turno, porém, o que se viu foi uma candidata caindo cada vez mais no abismo dos números dos institutos de pesquisas.
Mariana não obteve o mesmo êxito das duas campanhas anteriores em que disputou: 2010 e 2014. Na primeira, ela obteve 19,6 milhões de votos, e na segunda, 22,1 milhões. Apesar de não ter ido para um segundo turno nessas duas eleições, pode se dizer que ela obteve uma votação que pode se considerar expressiva.
Dessa vez, entretanto, finalizada a apuração dos votos, ela ficou atrás de candidatos que passaram a campanha inteira amargando os últimos lugares nas pesquisas, como por exemplo, Cabo Daciolo (Patriota) e Henrique Meirelles (MDB). Não conseguiu segurar os votos que tinha, nem formar coalizões fortes, além de enfrentar algumas divergências dentro do próprio partido, e obteve apenas 1,06 milhão, o que equivale a 1% dos votos válidos. E olhem que começou esta campanha com boas chances de ir para o segundo turno.
Perto do estreante em campanhas eleitorais, Henrique Meirelles, e da veterana Marina Silva, Daciolo foi vencedor. O candidato investiu apenas R$ 808 reais, enquanto Meirelles investiu 53 milhões, e Marina investiu 4,9 milhões, mesmo assim Daciolo terminou as eleições à frente dos dois.
E o PSDB? O partido pagou um preço bem caro por sua determinação em ficar no barco de Temer quando desabaram as denúncias de corrupção sobre o governo dele. As urnas deram o recado. Geraldo Alckmin, candidato tucano à presidência, mesmo tendo formado uma ampla coalização, o que lhe deu bons cinco minutos no horário eleitoral gratuito, mesmo assim, teve um resultado pífio. Aberta as urnas, Alckmin teve apenas 4,76% dos votos válidos (5.102.873). Para quem já esteve quatro vezes no comando do estado de São Paulo como governador, foi um resultado bem medíocre. Ainda com relação ao PSDB os eleitores vacilaram quando elegeram Aécio Neves (PSDB) para deputado federal, bem como quando elegeram Gleise Hoffman (PT) também para deputada federal. Erraram daqui, acertaram dali, é o jogo da democracia. Um dia a gente ainda aprende a fazer jogadas de mestre neste tabuleiro. Por enquanto ainda estamos na fase do fazer experiências para aprender a jogar de verdade.
Ciro Gomes (PDT) foi quem mais se aproximou de um segundo turno depois de Haddad. As pesquisas indicavam que ele era um candidato em potencial a derrotar Jair Bolsonaro no segundo turno. Porém, talvez por terem relacionado Ciro Gomes a envolvimentos anteriores com o PT, os eleitores acabaram não votando no candidato.
E assim o eleitor brasileiro colocou o país numa encruzilhada, uma situação de suicídio eleitoral. Só não sabe ainda que arma usar: se o revolver com balas de ouro ou de prata.
Chegamos ao segundo turno, com a polarização entre dois extremos radicais: um partido que representam os interesses da esquerda, o PT de Lula? Ou de Fernando Haddad? E outro que representa a direita radical, o PSL, de Jair Bolsonaro.
De um lado, um candidato que representa os interesses de um partido que jogou no lixo a moral e a ética em defesa dos próprios interesses. O líder desse partido está preso por crimes de corrupção, mesmo assim, é quem dá as cartas na campanha presidencial de seu partido de dentro da cadeia, fazendo com o que o candidato, Fernando Haddad, que encabeça a chapa petista, funcione mais como um preposto do ex-presidente.
Lula, certamente, é muito ardiloso, tanto é que demorou muito tempo para que a justiça chegasse nele, mas cometeu pelo menos uns quatro erros graves. Escolher Dilma Rousseff para ser sua sucessora, escolher Haddad para ser candidato nestas eleições, não ter feito um pedido de desculpas a nação, e não ter preparado lideranças para o partido.
Na esteira dos erros cometidos por Lula e pelo seu partido, sempre se fazendo de vítimas, desdenhando das instituições, e se colocando acima da lei, é que surgiu a figura controversa de Bolsonaro. Bolsonaro é cria do PT. Quando o Brasil forma a onda bolsonarista que não para de crescer, o eleitor, na verdade, não está votando em Jair Bolsonaro, mas sim, contra o PT, é a lógica às avessas do chamado voto de protesto. Estaríamos melhores se o voto fosse de consciência, em vez de protesto.
Nesse segundo turno, o PT mudou de roupa, da mesma forma que as serpentes mudam de pele. Primeiro, por ordem do próprio Lula, o seu preposto, Fernando Haddad não tem mais feito as costumeiras visitas à cadeia em busca de orientação. O partido abandonou o tradicional vermelho e passou a usar o verde e amarelo, cores usadas pelo adversário. Ora, todos sabem que não se muda a personalidade apenas mudando a roupa. Uma mudança para ser mudança de verdade precisa ser feita na essência, e não na superfície.
Do outro lado, está um candidato racista, homofóbico, e defensor de torturadores. O candidato a presidente tem alimentado os seus eleitores, basicamente, do ódio contra o PT, e isso tem funcionado. Suas propostas são bem gerais. Nada de especifico é dito sobre seu programa de governo.
Por exemplo, ele defende o combate ao crime através de uma atuação mais atuante das polícias contra os bandidos, e defende também a liberação do porte de armas. As classes médias e altas compram essas ideias, como compram batatas em promoção nas feiras livres. Ledo engano. Esse é um caminho, mas não o ideal.  Tais ações são apenas paliativas. As causas da violência no Brasil apenas serão combatidas na raiz quando for solucionada a grande desigualdade social que reina no país, quando formos um país com uma distribuição de renda mais justa e igualitária. O abismo entre pobres e ricos em nosso país é grande, é preciso construir pontes sobre esse abismo se quisermos classes sociais integradas e harmoniosas.
O outro caminho que nos levará a fazer morrer a criminalidade e o atraso moral é o investimento em educação de qualidade. Quer combater a violência, arme as escolas e os professores de melhores condições de salário e de trabalho e o que era trevas se fará luz.
Se essas atitudes não forem adotadas, apenas viveremos na ilusão de um país que vai bem andando com pés de barro num corpo de ferro.
A batalha nesse segundo turno é, como diz o editorial do estadão do dia 15 de outubro, entre dois planos de governo: um “que não vale o papel que em que está escrito” referindo-se ao PT, e outro que plano de governo que “nem existe” referindo-se ao PSL.

Vale destacar ainda que essa talvez seja uma das eleições mais violentas desde a redemocratização. Os ânimos dos eleitores estão exaltados faz tempo. A citar o próprio Jair Bolsonaro que recebeu uma facada durante visitas aos eleitores, em Belo Horizonte, que quase lhe tirou a vida, vinda de um homem que não concordava com suas posições políticas agressivas. Na Bahia ocorreu o inverso, o mestre de capoeira, Mestre Moa do Katendê, foi esfaqueado após uma discussão sobre política. Moa defendia Haddad enquanto seu agressor defendia Bolsonaro. 
Mestre Moa do Katendê, foi entrevistado por este blog em dezembro de 2014, sob o título Mestre Moa do Katendê: Uma luz que se irradia da Bahia para o mundo – Parte I e parte II. Ao mestre, as homenagens desse blog. Que ele seja bem recebido do outro lado do caminho.

O fato é que é bem pouco provável que Jair Bolsonaro não seja eleito presidente do Brasil no domingo, 28 de outubro. A verdade é que o Brasil está, desculpem a expressão, uma zona. Um país que perdeu a compostura, e está sem norte e sem rumo, resultado de décadas de práticas corruptas, aperfeiçoadas durante os governos petistas.
Os parabéns deste blog vai também para os maiores cabos eleitorais do candidato Jair Bolsonaro, aqueles que forneceram toda a munição para que um discurso de ódio invadisse o país: os petistas e seus líderes insanos. Diante da situação caótica em que se encontra o nosso pais, Bolsonaro com seu discurso de moralização, talvez seja um mal necessário.

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