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Paulo Palma: Um professor universitário que vive no país da ignorância
Posted by Cottidianos
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11:54
Sábado,
17 de junho
“Em vez de corrigir o problema, dão
cotas para quem não tem condição de acompanhar. Não digo cursos como dança. Digo
cursos que exigem um pouco mais de QI.”
“Quando permite cota, ela está trocando cérebro
por nádegas ou por cor da pele e outros valores.”
“Não me referi à raça nenhuma, eu me
referi apenas a mérito.”
“Eles (negros e índios) têm condição de competir
em condição de igualdade. Tivemos o ministro do Supremo, Joaquim Barbosa, que é
poliglota, filho de pedreiro e chegou por mérito onde chegou."
Fortes
essas frases, não? Todas tem um conteúdo fortemente preconceituoso, ainda que
não expresso claramente em algumas delas. E de que boca saíram essas frases? Da
boca de algum iletrado, por acaso?
Infelizmente,
não. Essas frases foram ditas por um eminente professor de uma das maiores
universidades brasileiras. O autor delas é Paulo Palma, professor da Faculdade de
Ciências Médicas (FMC) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
O que
prova que um diploma na mão, e um alto conhecimento cientifico, e o domínio de
modernas técnicas da ciência e da tecnologia não significam, necessariamente, que
quem é detentor dessas qualidades seja um homem sábio. Às vezes, por trás de um
diploma e de uma elevada posição social, há um tolo quando se trata de
considerar as verdades escondidas nas questões subjetivas da vida.
Conhecimento
e sabedoria são coisas totalmente dispares. Uma rápida visita ao dicionário,
teremos que;
Conhecimento
s. m. 1. Ato ou efeito de conhecer. 2. Ideia,
noção; informação, notícia.
Sabedoria
s. f. 1. Grande soma de conhecimentos;
erudição, saber, ciência. 2. Qualidade de sábio. 3. Grande circunspeção e
prudência; juízo, bom senso, razão, retidão.
A partir
da formulação desses dois conceitos no dicionário, podemos deduzir que
conhecimento é o ato ou efeito de fazer consideração sobre ideias complexas,
implica a noção de saber alguma coisa.
Já
o conceito de sabedoria também implica a noção de grande conhecimento, não é
possível conceber a ideia de homem sábio que não saiba coisa alguma. Porém, a
sabedoria precede o conhecimento no sentido que usa qualidades importantes para
aquele que pretende caminhar pela vida com segurança e equilíbrio, quais sejam;
prudência, bom senso, retidão. Simplificando o conceito, pense numa cozinha
cheia de alimentos. Se você tem as melhores e mais afiadas facas do mundo, mas
não sabe como cortar os alimentos, nem o que fazer com eles, de que lhe adianta
ter tantas facas de qualidade?
Diz
uma pequena, porém, significativa parábola de autor desconhecido que:
Dois discípulos procuraram o mestre para
saber a diferença entre Conhecimento e Sabedoria.
O mestre disse-lhes:
- Amanhã, bem cedo, coloquem dentro dos
sapatos vinte grãos de feijão, dez em cada pé. Subam, em seguida, a montanha
que se encontra junto a esta aldeia, até o ponto mais elevado, com os grãos
dentro dos sapatos.
No
dia seguinte, os jovens discípulos começaram a subir o monte. Lá pela metade um
deles estava padecendo de grande sofrimento: seus pés estavam doloridos e ele
reclamava muito. O outro subia naturalmente a montanha.
Quando
chegaram ao topo, um estava com o semblante marcado pela dor; o outro,
sorridente. Então, o que mais sofreu durante a subida perguntou ao colega:
- Como você conseguiu realizar a tarefa
do mestre com alegria, enquanto para mim foi uma verdadeira tortura?
O companheiro respondeu:
- Meu caro colega, ontem à noite, cozinhei
os vinte grãos de feijão.
Quando
o homem não sabe utilizar de forma adequada todo o conhecimento que adquiriu,
se iguala aos ignorantes.
Sabedoria:
É isso que falta, não apenas ao professor da Unicamp, mas também a muitos de
nossos gestores, de nossos políticos, e de grandes líderes mundiais. O mundo
hoje parece navegar num mar hipocrisia, e tende a nos arrastar para suas ondas,
cabe a nós resistir, ou se entregar.
Voltemos
ao caso da Unicamp e entendamos o porquê da indignação do professor contra os
alunos cotistas.
A Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp), aprovou no dia 30 de maio deste ano, o sistema
de cotas para alunos negros, pardos e indígenas, oriundos de escolas públicas. A
adoção da medida tomada durante o Conselho Universitário (Consul), passa a
valer já para o vestibular de 2019.
O plano,
a ser implantado progressivamente, prevê a meta de 50% dos estudantes oriundos
da rede pública de ensino, por curso e turno, e também buscar atingir a meta de
37,5% de autodeclarados pretos, pardos e índios, de acordo com o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Estado de São Paulo.
O processo
teve todo o apoio da reitoria, sob o comando do reitor Marcelo Knobel,
empossado no mês de abril deste ano.
O professor,
Paula Palma, que já é bastante conhecido no circuito universitário por suas
posições polêmicas, e ficou incomodado com a aprovação do sistema de cotas na
Unicamp, e, por isso, saiu por aí, destilando veneno. Como diria o mestre Jesus
“a boca fala do que o coração está cheio”. Ou como diz o ditado popular, “cada
um dá o que tem”. Se o home tem amor no coração, distribuiu amor para aqueles
que o cercam, se, ao contrário, possui ódio, distribui ódio. É fácil de
entender. Não nos esqueçamos, porém, de que, ao final, nos será pedido contas
de todos os nossos atos. E é segundo os nossos atos e ações que será definido
nosso destino na eternidade.
No
mesmo dia em que foi aprovada medida na Unicamp , 30 de maio, Paulo Palma
publicou na página do reitor Marcelo Knobel:
Caro Professor, Marcelo Knobel, com a
resolução publicada hoje, e com tantos cotistas ingressando na UNICAMP, sugiro
mudança de nome dessa universidade para Escola Estadual de Terceiro Grau
Zeferino Vaz.
Próximo passo será cotas para ingressar
na carreira de docente?
Let’s make UNICAMP great again!
Grupos
ligados à causa negra acusaram o professor de racismo. O Núcleo de Consciência
Negra, cobrou da reitoria, punição contra o professor Paulo Palma. A reitoria,
por sua vez, repudiou o comentário do professor.
Centenas
de alunos comentaram a postagem do professor no Facebook. Um deles escreveu:
“Todo o apoio à implementação das cotas
e o respeito dado pela reitoria a uma decisão democrática dos órgãos
responsáveis. As pesquisas feitas sobre o tema são enfáticas ao apontar que os
alunos que ingressam nas universidades através do sistema de cotas tem
desempenho igual ou superior, portanto, esse comentário infeliz a respeito da
mudança de nome demonstra ignorância a respeito do tema ou medo da inclusão de
alunos desfavorecidos e um reparo da herança de nossa história de escravidão”.
É isso.
O professor Paulo Palma não deve ter nascido no Brasil, nem neste planeta deve
ter nascido. Seguramente habita o país da ignorância. Desconhece toda uma
história preconceito contra o povo negro e a luta deste, primeiro por
liberdade, e depois por autoafirmação. Desconhece que, mesmo após o importante
momento que precedeu ao fim da escravidão, os negros não receberam do Estado
brasileiro a devida atenção, tendo sido, praticamente jogados em guetos que
deram início ao processo de favelização no Brasil. Desconhece o professor a
falta de oportunidades de ascensão social que sempre tiveram os afrosdescentes
no Brasil. Desconhece as estatísticas que mostram que os jovens negros e pobres
são as maiores vítimas das ações policiais. Afinal, são tantas coisas e tanta
história desconhecida por Paulo Palma que será mesmo que ele tem esse
conhecimento todo? Deve ter sim, mas precisa sair do planeta ignorância e vir
para a terra da consciência e da sabedoria.
Enfim,
não é hora aos negros e à sociedade consciente de chorar pitangas, mas de
celebrar vitórias.
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