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Gilmar Mendes e o questionável voto de minerva
Posted by Cottidianos
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14:03
Domingo,
11 de junho
“Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz
Onde
houver ódio, que eu leve o amor
Onde
houver ofensa, que eu leve o perdão
Onde
houver discórdia, que eu leve união
Onde
houver dúvida, que eu leve a fé
Onde
houver erro, que eu leve a verdade
Onde
houver desespero, que eu leve a esperança
Onde
houver tristeza, que eu leve alegria
Onde
houver trevas, que eu leve a luz”
...
(Oração de São Francisco)
Ministro presidente do TSE, Gilmar Mendes |
O
mundo passa rápido como as balas de uma metralhadora, soltando farpas para todo
o lado, e eu me recuso a passar com mundo. Roubalheira, corrupção, atentados
terroristas, mentiras, desfaçatez, são o combustível que fazem rodar o
automóvel mundo. Mundo estranho que usa combustíveis nocivos que destroem a
camada de amor que envolve a humanidade.
Os
efeitos de todo esse jeito suicida de viver já se fazem sentir por todo o
planeta. Homens se explodem e explodem uns aos outros em nome de uma religião
(?), outros líderes religiosos enchem seus cofres à custa da inocência da fé de
seus fieis seguidores que acreditam assim estar garantido seu lugar no céu.
Governantes não governam, roubam. Outros não governam, matam.
Seja
na África, América, Ásia, Europa, ou Oceania, sempre há um homem parado em uma esquina, esperando que alguém lhe dê um pouco de esperança, que abasteça
o seu cantil da gostosa bebida do amor e da paz.
E
até agora, ninguém fez nenhuma conferência em Paris, ninguém fez nenhum acordo
para deter essa emissão de poluentes na camada de amor. Talvez por que amor e
ódio sejam coisas tão subjetivas, que apenas mostram: o primeiro, efeitos
construtores, vivificadores, enquanto o segundo espalha morte e destruição.
Há
também um mundo que passa nas asas da paz, e é nesse mundo que queremos passar,
é nesse mundo que queremos viver.
Há
também o fato que as coisas parecem não falar a nossa língua. Língua, esse algo
que os homens inventaram para que se pudessem entender uns aos outros com mais
profundidade que a profundidade dos gestos. Sofisticação ou atraso o fato é,
que de repente, as instituições e os homens que as formam parecem não falar
mais a linguagem comum.
O
cantor e compositor brasileiro, Zeca Baleiro, diz, em critica a televisão, na
canção Xanéu Nº 5, que “ela não fala a minha língua”.
Ah, Baleiro, fosse apenas a TV que não fala a nossa língua era fácil de lidar
com isso, mas também a indústria fonográfica parece também não falar a nossa
língua. Hoje, tudo parece estar revestido com o glamouroso tecido da
superficialidade.
E
assim, entre programas que não dizem nada, canções que nada acrescenta, vamos
navegando nesse mar produzido pela indústria cultural que produz lixo,
envolve-o numa embalagem atraente, joga no mercado, e obriga os consumidores a
engoli-lo goela abaixo como produtos culturais.
É
possível escapar disso, é só ter o cuidado de revirar o lixo com cuidado que
ainda se pode encontrar algo de bom. Pode-se também voltar às fontes do passado
e beber água da boa, ou buscar outros platôs e buscar coisa nova e de
excelência que essa tal de indústria cultural insiste em deixar em segundo
plano.
A
superficialidade e a inconsistência também navegam nos níveis governamentais.
Ali, se não existe indústria cultural, existe uma indústria política que também
produz muito lixo.
Falando
especificamente da terra descoberta acidentalmente (?) por Cabral em idos de
1.500, a superficialidade reina solta em nossas casas legislativas, e ela está
sempre acompanhada da hipocrisia. É uma coisa de dar vergonha, e de arrepiar os
cabelos. Às vezes pensamos que estamos vivendo um pesadelo... Mas, enfim,
acordamos, e o bicho papão permanece lá, a nos desafiar, a desafiar a nossa
inteligência.
Talvez
seja o medo desse bicho papão que tem feito com que os brasileiros que estão no
Brasil, queiram sair dele, e os que estão fora dele, não quererem voltar. É
duro ter que dizer isso, é duro ter que admitir isso, mas é assim.
E sem
que percebessemos, essa hipocrisia e superficialidade também chegou ao judiciário.
O judiciário é soberano, pode tomar suas próprias decisões e, depois de
ratificadas pela maioria, tornarem-se verdades. Mas, caros leitores, e
leitoras, quantos soberanos já não foram hipócritas e corruptos na história
brasileira, e na história da humanidade? Quantas decisões tomadas sob os
auspícios da lei já não desceram como fel pela garganta dos habitantes das
nações?
Enfim,
o julgamento da chapa Dilma-Temer chegou e passou, e deixou um gosto amargo. O
que vimos foi mais um espetáculo, não da democracia, mas da desfaçatez. Pelo aspecto
legal, processual, foi tudo uma maravilha. Processo democrático concluído com êxito. Ritos
e formas foram cumpridos a risca em um julgamento justo. Mas pelo lado moral e
ético o que vimos foi mais uma bofetada na cara de parte da sociedade
brasileira que aspira a um Brasil mais justo.
O
jornalista Arnaldo Jabor, em seu comentário ao Jornal da Globo, exibido no
último dia 07, diz: “Houve um julgamento
seriíssimo que mostra que apesar de trancos e barrancos, as instituições
brasileiras estão funcionando. Nunca houve uma crise tão grave, mas não se
instalou o caos público. A estrutura do país é mais forte do que pensávamos.
Estamos mais cultos politicamente, estamos vendo a verdadeira face do Brasil.
Isso é bom, mesmo que doloroso... Não há parto sem dor”.
Já
o ex-presidente do TSE e do STF, Carlos Velloso, disse em relação à decisão do
ministro Gilmar Mendes: “Uma boa decisão
jurídica sempre surge através de debates, debates nos quais prevalece o
entendimento da maioria. Foi que aconteceu nesta decisão do Tribunal Superior
Eleitoral. Gilmar Mendes é um notável juiz, é um juiz muito preparado. Teve uma
postura forte como é do feitio dele. Teve uma postura correta, adequada para um
presidente de um Tribunal Superior”.
Amarrando
em só feixe estas duas falas, poderíamos dizer que a instituições brasileiras
estão funcionando, sim. Mas a que preço? E a que sobressaltos aguardamos suas
decisões? As instituições brasileiras estão funcionando sim, mas algumas ainda
caminham na direção de velhas práticas corruptas que, como temos visto, levaram
o país à beira do precipício.
O
juiz Gilmar Mendes certamente é um juiz muito preparado, mas também amarrado a
velhos conceitos de se fazer política, no qual vale tudo e qualquer coisa. Tal
qual nos ringues das lutas de Vale Tudo, inferimos da decisão do TSE que nos
ringues da luta política, vale qualquer coisa; caixa um, caixa dois, mentiras,
trapaças, e coisas semelhantes.
Carlos
Velloso também diz que prevaleceu o entendimento da maioria, nesse caso, da
maioria dos ministros do Supremo Tribunal Eleitoral. Mas e o entendimento da
maioria de milhões de brasileiros não deve ser levado em conta? Somo todos uma
massa sem voz e sem vez?
É
justo também que sejam excluídos dessas considerações os ministros, Herman
Benjamin (relator), Luiz Fux, e Rosa Weber que votaram a favor da cassação da
chapa. Esses sim, verdadeiros representantes da maioria dos brasileiros que
quer ver o Brasil no primeiro mundo da ética e da moralidade. Elogios também ao
minucioso e preciso relatório que o ministro Herman Benjamim, fez do caso, e
seus argumentos bem fundamentados.
Inverti
a ordem nesse texto, ao expor as considerações antes e o fato ao final, pois,
presumo que os caros leitores e leitoras tenham acompanhado, durante a semana, os
fatos relativos ao julgamento da chapa Dilma-Temer, e a consequente absolvição
dela pelo Supremo Tribunal Eleitoral, na última sexta-feira (9).
Votaram
a favor da cassação, como já citado acima: Herman Benjamin (relator), Luiz Fux,
e Rosa Weber. Votaram contra: Napoleão Nunes Maia, Admar Gonzaga, Tarcísio
Vieira, e Gilmar Mendes.
A ação de pedir a cassação da chapa foi feita
pelo PSDB, logo após a realização das eleições de 2014. Na petição inicial eram
apresentadas pelo partido 20 infrações cometidas pela coligação “Com a Força do
Povo”, liderada pelo PT e pelo PMDB. No cerne da denúncia estava a suspeita de
que doações oficiais foram feitas à chapa com dinheiro de propina oriundas da
Petrobrás, e também o pagamento de gráficas sem que estas tenham prestado serviço
algum.
O
PSDB pedia que a chapa fosse cassada e Dilma e Temer ficassem inelegíveis. O objetivo
era que os candidatos derrotados, Aécio Neves e seu vice, Aloísio Nunes,
assumissem o comando do país.
Nessa
questão vem o irônico destino e joga o senador Aécio Neves e o PSDB na mesma
fornalha em que eles haviam jogado o atual presidente, Michel Temer, e a ex-presidente,
Dilma Rousseff. O caprichoso destino tratou de tirar a máscara do Aécio e do
partido dele, e mostrou que aqueles que se levantavam contra o erro eram tão
errados e desonestos quanto.
O
PSDB agora tem outros interesses. Está no governo. Tem fortes ligações com
este. Está em dúvida se deixa ou não o governo. Se não deixar mostra mais ainda
sua face hipócrita e desonesta, pois compactua com as atitudes de um governo
corrupto, o qual, no início, moveu ação para derrubar.
O voto
do relator, o ministro Hermna Benjamim foi o de que, houve sim, abuso de poder econômico
pela chapa em questão. Um dos pontos cruciais do julgamento foi quanto à
inclusão de depoimentos de delatores da Odebrecht no processo. Ali há provas robustas
capazes de derrubar presidente de qualquer país que trate corrupção como coisa
a ser levada a sério e punida.
Quando
foram vetadas a inclusão de provas, ali já se desenhou o resultado final do
processo, uma vez que os mesmo ministros que votaram contra a inclusão das
provas, foram os mesmos que votaram contra a cassação.
A
inclusão dos depoimentos dos delatores são, nas palavras do relator, Herman
Benjamim, “provas oceânicas. São depoimentos, documentos, informações passadas
a autoridades estrangeiras em cooperação internacional”.
Porém,
os quatro ministros que votaram contrários à cassação preferiram dar às costas
a todo esse oceano de provas, e agiram muito mais como advogados de Temer e de
Dilma do que como advogados do eleitor brasileiro. O Tribunal Superior
Eleitoral brasileiro deu, na semana passada, uma prova de que não é uma
instituição alinhada ao Ministério Público, Polícia Federal, e à coragem de
juízes do naipe de Sérgio Moro (13a Vara Federal de Curitiba),
Marcelo Breta (7a Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro), Vallisney
de Souza Oliveira (10a Vara Federal de Brasília). Pessoas e
instituições, estas sim,comprometidas a restaurar a dignidade que ainda resta
em nosso país.
O juiz
Gilmar Mendes, a quem coube o voto de minerva, infelizmente, não foi daqueles a
querer ver brilhar no céu da justiça eleitoral brasileira a fulgurante estrela
justiça e contra velhas práticas viciosas praticadas em nosso país há tempos.
Batalha
perdida, guerra não. Ainda segue o inquérito aberto no Supremo Tribunal
Federal, a pedido da Procuradoria Geral da República por corrupção contra o
atual presidente. Temer vai jogar sujo contra Janot. Vai tentar desqualificar o
trabalho da PGR. Reportagem de Veja desta semana veio colocar ainda mais lenha
na fogueira. A revista diz que a Agência Brasileira de Inteligência, foi usada
pelo governo para bisbilhotar a vida do ministro do STF, Edson Fachin, relator
da Lava Jato. O Palácio do Planalto desmente a reportagem.
O fato
é o de que o governo Michel Temer é um governo dispostos a usar as armas mais
sujas para se manter no poder. É só analisar as atitudes tomadas por Temer,
desde o início de seu mandato. É só ver como se movimentam as peças no
tabuleiro para ver que esse é um governo disposto a tudo para preservar seus
vis interesses, e o de seus aliados
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