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O Brasil sob o governo de mafiosos
Posted by Cottidianos
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01:35
Segunda-feira,
19 de junho
Joesley Batista, empresario e delator |
Propina era a
regra do jogo... Quem precisou do Estado em algum momento teve de pagar propina
a um político... A gente disputa nos Estados Unidos. Sem propina. Disputamos com
sucesso na economia mais competitiva que existe. Competimos sem propina nos Estados
Unidos, na Austrália, na Inglaterra, no mundo inteiro. No Brasil, infelizmente,
a propina era o custo de operar. Era precificado. Acredito, se Deus quiser, que
não é só o J&F e os outros colaboradores que vão virar essa página. Será o
Brasil.
(Joesley
Batista, empresário, em entrevista à revista Época, edição 991, de 19 de junho
de 2017)
Falando na edição da revista Época deste
fim de semana, olha que está difícil encontrar a revista nas bancas. Ela logo
chegou e já foi devorada pelos leitores ávidos de informação. E ambas, revista
e informação vieram quentes, muito quentes. No sábado à noite já não era mais
possível encontrar a Época nas bancas. Com muito custo, muita peregrinação de
banca em banca, ainda foi possível comprar uma revista na região central, porém
um pouco mais afastada da área de maior movimento. A entrevista do delator foi
concedida ainda na semana passada, e depois de intensas negociações, ao editor-chefe
de Época, Diego
Escotesguy.
Joesley, que já havia incendiado o país
quando gravou a conversa secreta que teve com Temer, e na qual revelou que o
presidente o aconselhou a continuar pagando propina a Eduardo Cunha para, com
esta iniciativa, comprar o silêncio do ex-deputado, foi ainda mais longe, e
afirmou que “Essa é a maior e mais
perigosa organização criminosa deste país. Liderada pelo presidente. O Temer é
o chefe da Orcrim (Organização Criminosa) da Câmara. Temer, Eduardo, Geddel,
Henrique, Padilha, e Moreira. É o grupo deles. Quem não está preso, está no Planalto.
Essa turma é perigosa, não se pode brincar com eles”.
É interessante como os pontos relatados
por diferentes delatores se amarram no mesmo feixe. Por exemplo, ao falar da
diferença entre a concorrência no Brasil e em outros países, a fala de Joesley
se aproxima da fala do delator Emílio Odebrecht. Em depoimento ao Ministério
Público Federal, como parte do acordo de delação premiada, o empresário disse
que, quando queria que os executivos da empresa tivessem noção do que era uma
concorrência de fato e de direito, enviava-os ao exterior. “Todos os companheiros da organização já
passaram pelo exterior para ter uma visão de mundo. Conviver com concorrência
efetiva, real. Disputa baseada em produtividade.”, disse Emilio.
Nós, brasileiros e brasileiros, estamos
anestesiados com tantas notícias sobre corrupção, e tanta falta de
responsabilidade com a coisa pública. Os fatos revelados pelos delatores e pelas
investigações policiais, amarradas a farta quantidade de provas, são graves. Muito
graves. São gravíssimos.
Estamos sendo governados por
organizações criminosas. Os fatos estão gritando em nossa cara. Estão escancarados
à nossa frente. São tão óbvios, mas
estamos tão anestesiados que acabamos não indo a fundo na verdade desses fatos,
na verdade que eles representam. Às vezes precisamos que alguém dê nome aos
bois. E Joesley dá nome aos bois e nos deixa ainda mais preocupados. Estamos sendo
governados por organizações criminosas, é o que ele afirma.
O dono da JBS diz que a corrupção no
Brasil não começou agora, mas que ela teve início há cerca de dez, quinze anos
— Emílio Odebrecht havia dito ao MP que esse quadro de corrupção começou há trinta
anos —, quando as coisas se estruturaram em divisão de tarefas. “São organizações criminosas. Existem para
ganhar dinheiro cometendo crimes. Em cada Estado — não todos — se criou um núcleo,
nas estatais, se criaram núcleos, nos fundos de pensão se criaram núcleos. “Esses
grupos foram se proliferando.”
O empresário diz na entrevista que teve
de se relacionar ao longo dos anos com essas organizações criminosas, e que não
tinha consciência de que estava lidando com organizações criminosas. Isso também
segue o mesmo raciocínio de Emílio Odebrecht quando diz que a corrupção é algo
institucionalizado. Algo “normal”, segundo ele, em função do número de
partidos. Para os dois empresários, a corrupção era a regra do jogo, e acabava
sendo considerada coisa “normal”.
O pior é que a corrupção mais
assustadora vem do lado de quem deveria combatê-la, que são as instancias
superiores do poder. É doído quando a corrupção
vem daqueles a quem estamos subordinados.
Com tanta facilidade de ação e nenhuma
punição, essas organizações criminosas foram se proliferando, passando de
dezenas para centenas. Nelas, a função do polític, que é a de fazer um governo
para o povo, passava bem longe, o que importava era arrecadar, cada vez, mais e
mais, dinheiro ilícito. “Com o tempo você
perde a referência do que é certo e do que é errado, do que é legal, e do que é
ilegal. O que aconteceu no Brasil foi a proliferação de organizações criminosas”,
diz Joesley.
Ainda de acordo com o que disse o
empresário — e nisso ele não disse nada diferente do que já disseram outros
delatores de outras empresas — tudo isso começou de forma mais intensa durante
os governos petista de Lula e Dilma. Corrupção já existia, mas com o PT ela foi
“aperfeiçoada”, institucionalizada.
A relação entre os empresários e os
políticos eram altamente perniciosa. Funcionavam na base do toma lá dá cá. No mundo
inteiro funciona assim: Quando uma empresa resolve se estabelecer em um Estado,
ela recebe do governo benefícios fiscais. É normal. É gratuito. Os governos não
exigem contrapartidas, nem favores, por esses benefícios concedidos às empresas.
No Brasil, não. Os políticos daqui exigiam contrapartida em troca da concessão
desses benefícios. Chegavam as eleições e o político vinha cobrar do empresário
os benefícios recebido. Muitas vezes o processo era travado ao máximo pelos
políticos, e próximo as eleições, eles deixavam
bem claro: ou paga a propina, ou não liberamos os benefícios fiscais.
O empresários incorriam em erro, é
verdade, ao ceder essas pressões, mas também eles ficavam entre a cruz e a
espada: fechar fábricas, demitir funcionários, ou ceder à pressão? Na maioria
das vezes, acabavam cedendo.
Segundo Joesley, a influência do PMDB
sobre assuntos referentes a Caixa Econômica Federal era grande. Quando a JBS
tentava fechar negócios com a Caixa, e essas negociações chegavam aos ouvidos
de Eduardo Cunha e Lúcio Funaro, era certo o pedido de propina para que as
negociações avançassem. O editor-chefe
da revista Época pergunta então: “A
influencia do PMBD era tão grande assim?” Ao que o entrevistado responde: “Não era só influência. Eram pessoas
colocadas em cargos estratégicos por uma organização criminosa. Elas tinham capacidade
de barrar ou aprovar um negócio. É por isso que políticos lutam tanto por
cargos, como a gente vê na TV. O que está por trás dessas negociações políticas
por cargos é ver qual Orcrim vai ficar com qual parte do governo. É para fazer
dinheiro. Eu não achei que estava lidando com organizações criminosas. Hoje é
que percebo isso”.
A entrevista é longa e nela o empresário
também fala da tentativa dos políticos do PMDB em buscar alternativas para
abafar a Lava Jato, como por exemplo, a anistia ao caixa dois, e a Lei de Abuso
de Autoridade. E também reafirmar que pagou propina para comprar o silêncio de
Eduardo Cunha quando ele já estava preso, e que o presidente Temer sabia disso.
Quanto ao fato de ter gravado o
presidente, Joesley afirma: “Porque eu sabia
que estava aumentando a chance de eu trocar de lado e partir para a colaboração
com o MP. Era a única saída que eu estava enxergando. Eu precisava de uma
colaboração efetiva. Qual a maneira mais efetiva que eu tinha de colaborar no
combate à corrupção no Brasil? Pensava comigo: é só mostrar para os
procuradores que, apesar de três anos de esforços, nada mudou. Tudo continua
igual. Os políticos, no topo, não mudaram nada. Isso começa com o número 1, com
o presidente da República.”
Como já dito nesta postagem, a
entrevista de Joesley à revista Época é bastante extensa, e não dá para tratar
de todos os aspectos dela no presente texto. Este blog procurou destacar dela
os principais pontos.
O fato é que a maioria dos políticos
ainda não compreendeu o momento importante pelo qual o país atravessa, e na
qual as velhas e detestáveis práticas corruptas não são mais aceitas pela
população, e, mesmo contra a corrente, continuam a praticá-las, mesmo estando
em curso a Lava Jato.
Assim como também não compreenderam que
é preciso passar o Brasil à limpo, os juízes do Supremo Tribunal Eleitoral,
liderados pelo presidente, Gilmar Mendes, que votaram não à cassação da chapa
Dilma-Temer, em julgamento recente.
Não podemos mais nos deixar governar por
máfias e organizações criminosas cujos interesses são apenas e tão somente o
enriquecimento ilícito de si próprios e de suas organizações sujas.
A entrevista dada por Joesley a revista
Época é mais uma batata quente que Temer tem que descascar, e é mais uma bomba
que nos envergonha a todos nós que queremos ver fora da liderança da nação,
todos esses criminosos que vestem a camisa de políticos.
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