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Restrição do foro privilegiado: Tentando reparar erros
Posted by Cottidianos
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00:48
Segunda-feira,
07 de maio
Acho
que todos alguma vez já ouviram a expressão popular, “cegos em meio a um
tiroteio”. É assim que estão os políticos e os partidos nesse ensaio de início
de campanha eleitoral.
É
evidente que há um grande desencontro entre os políticos e a sociedade. Ambos
caminham em direções opostas. Sonham sonhos diferentes. Vislumbram possíveis
caminhos diametralmente opostos.
Eles,
os políticos, que não se metam a aparecer em manifestações populares, quaisquer
que sejam elas: pacíficas, políticas, de solidariedade, e outras.
Que
o diga presidente Michel Temer quando resolveu visitar o edifício Wilton Paes
de Almeida, no centro de São Paulo. Com 24 andares, o prédio tornou-se uma
ocupação irregular e veio abaixo, após um incêndio, na madrugada do dia 1 de
maio.
O
presidente resolveu ser solidário e foi até o local visitar os desabrigados.
Chegando lá, foi recebido pelos que estavam no local com vaias e xingamentos.
Temer não pode se demorar nessa breve visita, tendo sido, praticamente, expulso
do local pela multidão. Na saída,
algumas pessoas deram tapas no vidro e na lataria do veículo que transportava o
presidente.
Nesse
tiroteio popular Temer, é atingido por todos os lados. De um lado estão os
partidários do PT, que o acusam de golpista. De outro lado, estão os demais
setores da sociedade que não encontram nele credibilidade. Apesar de uma
melhora quase imperceptível na economia, não se pode dizer que Michel Temer faz
um governo tranquilo. Ao contrário, o que se vê nesse governo são turbulências
em cima de turbulências.
O
presidente já tem duas denúncias por corrupção e pode ainda ser alvo de uma
terceira. De parte do governo, não há um foco no desenvolvimento econômico,
político, e social. Ele até tenta fazer isso. Porém, percebe-se, claramente,
que a preocupação de Temer tem sido se defender das acusações e crimes dos
quais é acusado, bem como, traçar estratégias para seus ministeriáveis, muitos
deles, que estão, ou que já estiveram no governo, também enredadados nas tramas
da corrupção.
Até
mesmo o próprio Lula, que poderia ser um candidato em potencial, e trabalhava
para isso antes da prisão, foi hostilizado em diversas cidades por onde passou.
O
PT vive hoje uma situação de desespero. Não formou lideranças que ocupasse o
lugar do ex-presidente, talvez achando que ele seria o eterno líder popular e
sempre inatingível pela justiça. Hoje a situação do partido é a mesma dos cegos
perdidos em tiroteio: correm ao mesmo tempo para todos os lados e acabam em lugar
nenhum.
Neste
sábado, 5 de maio, no Brazil Forum UK, um seminário organizado por estudantes
brasileiros, em Londres, a ex-presidente Dilma Rousseff, disse que, mesmo Lula
estando condenado, e preso, desde 07 de abril, em Curitiba, Paraná, o partido não
tem um plano B para as eleições deste ano.
Dilma
afirmou no evento, que o ex-presidente é inocente, que foi condenado sem que
tivesse cometido crime, que a posição do PT é lutar pela liberdade dele, que o
partido não pretende lançar outro candidato que não seja ele, Lula.
A
posição do PT em relação a esse assunto é de uma fragilidade tremenda, pois, ao
invés de apostar todas as suas fichas na inocência do ex-presidente, o partido
revelou sua incompetência na formação de líderes durante todos esses anos que
esteve no poder. Por outro lado, joga o Supremo Tribunal Federal numa grande
fogueira, pois o ex-presidente Lula não foi condenado em um processo qualquer
montado às pressas, em qualquer esquina da vida.
Ao
contrário houve todo um rito processual sério no qual foram ouvidas testemunhas
de acusação, de defesa, apresentação e contestação de provas, após a condenação
ainda foram apresentados recursos aos tribunais superiores, recursos esses que
foram negados. Soltar o ex-presidente depois de tudo isso seria, por parte do
judiciário, uma insensatez.
A
situação do PSDB de Aécio Neves não é diferente quando se trata de
credibilidade em relação aos eleitores. Em relação aos pequenos partidos nem se
fala. Além destes estarem de rabo preso e de mãos dadas com a corrupção ainda
funcionam como balcão de negócios, não encontrando respaldo nem credibilidade
na população para seus anseios políticos.
Apesar
de todo esse cenário que se apresenta nefasto na política brasileira, as consequências
desses atos desonestos, ainda que vagarosamente, começam a ganhar contornos de
punição perante a justiça brasileira, e isto, por si só, já é um grande avanço.
Mesmo que, vez ou outra, e quase sempre, algum dos ministros do STF tenha um
entendimento diferente do que anseia a sociedade brasileira como um todo, as
decisões nessa área parecem avançar.
Uma
questão importante foi tomada na semana passada pelo STF e refere-se à
restrição do tal do foro privilegiado, que nada mais é que uma opção para que
bandidos se escondam sob o manto da lei, e do peso dela consigam escapar
ilesos.
Com
a decisão tomada na quinta-feira (03), haverá restrição para o foro
privilegiado de deputados federais e senadores. Atualmente as ações criminais
contra esses parlamentares a serem julgadas pelo STF, referem-se a qualquer
tipo de crime, tenham sido eles praticados antes, ou durante o mandato.
A
partir da decisão do STF na quinta-feira passada, essas ações criminais apenas
se restringirão aos crimes praticados durante o exercício do mandato e precisam
estar relacionadas às funções parlamentares. Os ministros foram unânimes na
decisão de restringir o foro.
A
decisão já começou a surtir efeitos práticos. Já na sexta-feira, 04, Dias
Toffoli, ministro do STF, enviou a instâncias superiores seis ações penais e
uma investigação que tramitavam na Suprema Corte. Outros ministros também
deverão agir da mesma forma, de modo que, parte dos 540 inquéritos e ações
penais que envolvem parlamentares federais deverá sair da competência do STF.
Surgiu
desse caldeirão um questionamento da Câmara e do Senado que pode acabar
trazendo mais luz para a questão. É a tal da história: por apenas nós e eles
não?
Ao
tomar conhecimento da decisão do Supremo, a Câmara dos Deputados e o Senado
Federal, estão se articulando para tirar o foro privilegiado também de outras
autoridades que foram preservadas na decisão da Corte, inclusos nisso, o
próprios membros do Poder Judiciário.
No
Brasil, segundo dados mostrados em reportagem da Folha de São Paulo, a
legislação brasileira garante o foro privilegiado a cerca de 58.660 pessoas.
Ainda segundo a Folha essas autoridades estão distribuídas em mais de 40 tipos
de cargos, nas mais diversas áreas.
É
muita gente a praticar o errado escondida debaixo das asas da justiça. Essa é
uma questão que também pode ser adicionada como causa da impunidade gritante
que reina em nosso país.
Entretanto,
sempre é tempo de começar a corrigir o que, na lei, está em desacordo para que
caminhemos na direção do que seja um país sério. Ainda há muito que se fazer
nesse sentido, mas, como diz um velho ditado popular: Antes tarde do que nunca.
Dizem
que a justiça é cega, mas bem que ela podia enxergar um pouco e punir de fato e
de direitos àqueles que usam a nação como trampolim para suas ambições
pessoais.
Na
próxima postagem, esse blog compartilhará um texto do escritor brasileiro, Lima
Barreto, escrito no ano de 1918, que ilustra bem como esse comportamento
antiético na política, já preocupava a sociedade desde aqueles primeiros vinte
e nove anos do Brasil como nação republicana. Comportamento este que precisa
ser mudado com urgência antes que nossa nação sucumba de vez no vazio e na
ignorância provocados por um sistema corrupto e injusto.
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