0
Partidos políticos ou organizações criminosas?
Posted by Cottidianos
on
00:13
Terça-feira, 01 de maio
Há
muito que os partidos políticos brasileiros deixaram de ser um espaço para a
discussão ideias, e para a elaboração de planos e ações a ser desenvolvidas no
sentido de provocar o bem estar da nação e o desenvolvimento humano, social,
cultural e econômico dos que nela habitam.
Seguindo
esse raciocínio, também há tempos voou para bem longe aqueles que ingressavam
nesses mesmos partidos com intuito de investir-se de responsabilidades
governamentais ou tomar assento em casas legislativas com a finalidade de
estabelecer nexos partidários para formar governos comprometidos com os ideais
democráticos, discutir acordos legislativos, promover leis que visem o bem
estar comum.
No
redemoinho de informações nos quais somos envolvidos todos os dias pelos mais
diversos tipos de mídias, podemos concluir que, no atual cenário político
brasileiro, entre partidos políticos e organizações criminosas, a diferença
entre partidos políticos e organizações criminosas é muito tênue. Quase inexistem
diferenças entre os dois conceitos. Ainda nesse rastro conceitual é bem próximo
o universo de ideias que circulam em torno do mar nebuloso de pensamentos entre
os que formam uma e outra coisa.
Fica
evidente ainda ao olharmos para a cena política o fato de que quando não pecam
pelo crime de corrupção, os integrantes das agremiações políticas pecam por
omissão. Qual pecado e maior ou menor, deixemos para as esferas do julgamento
moral latente no íntimo de cada um de nós.
À
exceção de uns dois três partidos de esquerdas não afinados com o PT, todos os
outros estão fortemente comprometidos com ideais nada republicanos,
principalmente os grandes partidos políticos, dos quais pensávamos que pudesse
sair algum, se não salvador da pátria, pelo menos algum lider que fizesse o
país voltar aos trilhos do desenvolvimento econômico, moral e ético.
Aproximam-se
as eleições e as agremiações políticas são vítimas das armadilhas que elas
próprias armaram para si mesmas.
Um
desses caciques da politica nacional, o PSDB, por exemplo, tem no caso de Aécio
Neves um exemplo de omissão. O senador tucano namorava a candidatura à
presidência desde 2002, mas sempre foi preterido por José Serra, que disputou a
cadeira presidencial nas eleições de 2002 e 2010. Finalmente, em 2014, o
herdeiro político do avô, Tancredo Neves, alcançou o seu desejo de disputar a
vaga para o posto máximo no Palácio do Planalto.
Naquela
campanha política o senador levantou a bandeira da luta contra a corrupção
acusando a sua opositora, Dilma Rousseff e o partido ao qual pertence, o PT, de
tal prática. O eleitor, àquela época já sabia que alguma coisa não andava bem
das pernas em nosso sistema político, e votou em Aécio, apenas na tentativa de,
por assim dizer, escolher o menos pior.
Dilma
acabou sendo eleita com votos na casa dos 54 milhões de votos, e Aécio com
votos na casa do 51 milhões. Sem dúvida uma votação expressiva do senador.
Também chamou a atenção os cerca de 10 milhões entre eleitores que votaram em
branco ou nulo, e os 27 milhões que deixaram de comparecer as urnas.
Enfim,
passaram as eleições, e as peças ocuparam lugar nos seus tabuleiros. Dilma foi
para o Palácio do Planalto e Aécio voltou ao senado. Tudo seguiu seu curso de
aparente normalidade, pois de normalidade não tinha nada, ao contrário, no
submundo da política transações escusas eram realizadas e os ratos se fartavam de
queijo de boa qualidade.
Foi
em maio de 2017 que caiu a mascara de bom moço para o senador tucano. Ele foi
flagrado em uma conversa com o dono da JBS, Joesley Batista, pedindo a quantia
de dois milhões de reais, que supostamente seriam para pagar advogados em sua
defesa em acusações de corrupção na Lava Jato. Investigações posteriores
revelaram que esse dinheiro não passou pelas mãos do advogado. O primo do
senador, Frederico Pacheco de Medeiros, foi filmado recebendo parte do dinheiro
e foi preso. Ao todo foram feitas quatro entregas de 500 mil reais cada uma. Na
ocasião também foi presa a irmã do senador, Andreia Neves. Como nada nesse mundo cão da política é de
graça, Aécio trabalharia no senado para defender os interesses da JBS, quando
na verdade deveria defender os interesses do povo brasileiro, e não de uma
empresa, ou grupo econômico, em especial.
Quase
um ano depois do ocorrido, no último dia 17 de abril, a Procuradoria Geral da
República denunciou o senador por corrupção passiva e obstrução à justiça. A
denúncia, baseada em delações premiadas de executivos da J&F, foi aceita
pela Primeira Turma do STF, formada pelos ministros: Luís Roberto Barroso, Rosa
Weber, Luís Fux e Alexandre de Moraes.
Na
mesma semana em que virou réu no STF, surgiram novas denuncias contra o
senador. Sérgio Andrade, um dos donos da Andrade Guitierrez, revelou em
depoimento à Polícia Federal que fez pagamentos vultosos ao senador tucano.
Para essa transação foi feito um contrato fraudulento com uma empresa de um
amigo de Aécio. Esse outro inquérito apura se o senador recebeu dinheiro das
construtoras Odebrecht e Andrade Guitierrez.
Em
troca o político em questão beneficiaria as empresas na construção da hidrelétrica
Santo Antônio, localizada no Rio Madeira, em Rondônia. De acordo com o delator,
foi feito um pagamento de 35 milhões de reais através da empresa de Alexandre Accioly.
Alexandre recentemente prestou depoimento à PF. Quem também prestou recente
depoimento foi Joesley Batista. À PF o
empresário disse ter repassado a Aécio a quantia de R$ 110 milhões em 2014.
Segundo Joesley Aécio havia solicitado a soma para repartir entre os partidos
que o apoiavam na campanha presidencial daquele ano. O empresário apresentou à
PF documentos que comprovam o pagamento.
Ainda
segundo Joesley, novos pedidos de dinheiro foram feitos por Aécio, após os R$
110 milhões. Havia pagamento de campanha pendentes e Aécio queria saldá-las, e
para isso houve mais pedido de dinheiro ao dono da JBS. Em 2015, houve um
encontro entre Joesley e Aécio, em Belo Horizonte, no qual foi discutida a
compra de um apartamento, no valor de R$ 17 milhões, na capital mineira para
mascarar o acordo. Novos pedidos de dinheiro foram feitos por Aécio a Joesley,
mas como já estava sendo investigado, o empresário negou o pedido.
Joesley
também afirmou que Aécio recebeu pagamentos mensais, no valor de R$ 50 mil,
durante dois anos. Esses pagamentos foram feitos por meio de notas fiscais
emitidas à Radio Arco Iris, que é afiliada da Rádio Jovem Pan, em Belo
Horizonte. O senador detinha 40% dos direitos sobre a emissora.
Outra
acusação relacionada ao caso de obstrução à justiça foi feita pelo deputado
Osmar Serraglio que, à época em que o caso ocorreu, era ministro da Justiça. O
deputado disse que Aécio tentou alterar o curso das investigações da Lava Jato
através da interferência na escolha dos delegados da PF.
Desde
o momento em que ocorreram as fortes acusações contra Aécio no ano passado, o
PSDB não tomou nenhuma atitude punitiva em relação ao senador, praticamente,
cruzando os braços diante do ocorrido, mantendo inclusive, Aécio como
presidente do partido.
Outro
erro do PSDB foi continuar apoiando o ex-governador de Minas Gerais, Eduardo
Azeredo, mesmo após o escândalo do mensalão tucano, em Minas. Segundo
denúncias, durante a campanha para a reeleição em 1998, empresas estatais
mineiras foram usadas para desviar dinheiro para a campanha de Azeredo. O
operador desse esquema ilegal era Marcos Valério, o mesmo que fazia as
operações no caso do PT.
As
investigações a respeito desse caso foram concluídas apenas em 2017. Baseados
nos relatórios da PF, a Procuradoria Geral da República denunciou Azeredo pelos
crimes de peculato e lavagem de dinheiro. A primeira condenação de Azeredo só
veio acontecer em 2015. Ele foi condenado a 20 anos e dez meses de prisão, e
recorreu da decisão. Apenas em 2017, vinte anos após o crime ter ocorrido é que
o processo chegou à segunda instancia, os desembargadores mantiveram a
condenação, mas ressaltaram que o político mineiro só poderia ir para cadeia depois
de esgotados todos os recursos na segunda instancia. A defesa apresentou então
novos recursos.
No
dia 21 deste mês, os desembargadores da Quinta Câmara do Tribunal de Justiça mineiro
mantiveram a condenação dada em 2017, mantendo também a decisão de somente
prender o acusado depois de esgotados todos os recursos.
Por
parte do PSDB houve omissão em ambos os casos. No caso de Aécio, aumenta a
pressão para que ele não seja candidato nas eleições de outubro. Integrantes do
partido alegam que se ele resolver se candidatar ao senado vai atrapalhar o
candidato ao governo do estado de Minas, Antônio Anastásia. A candidatura de
Aécio também poderia prejudicar a campanha à presidência de Geraldo Alckmin. Segundo
delatores, o nome de Alckim também constava da lista elaborada pelo setor de
propina da Odebrecht. Disseram eles que, nas campanhas de 2010 e 2014, foram
destinados, por meio de caixa dois, R$ 10 milhões para a campanha de Alckim.
Todo
esse quadro leva Aécio a um futuro político incerto em relação às eleições de
outubro.
Quanto
ao MDB, na última semana houve mais chumbo grosso lançado contra o presidente
Michel Temer. Apenas seis meses após aberto o inquérito dos portos, no qual o
presidente é suspeito de ter editado decreto para beneficiar empresas do setor portuário,
autoridades dizem haver indícios de que o presidente tenha lavado dinheiro na reforma
de imóveis em casa de familiares, além de dissimular transações imobiliárias em
nome de terceiros na tentativa de ocultar bens. Entre os proprietários desses
imóveis estão a mulher de Temer, Marcela, e o filho deles, Michel. Quanto às
reformas, estas teriam ocorrido na casa da filha do presidente, Maristela, e da
sogra dele, Norma Tedeschi. Reportagem da Folha de São Paulo revelou que um dos
fornecedores teria recebido pagamento em dinheiro vivo pelos serviços
diretamente da mulher do coronel Lima, Maria Rita Fratezi.
Investigações
da PF apontam que o presidente teria recebido ao menos R$ 2 milhões em propina
por meio do coronel João Baptista de Lima Filho. Ainda segundo os investigadores
esse dinheiro veio das empresas JBS e de uma empresa ligada à Engevix.
Assim
como o PT parece ter em Marcos Valério um operador atuante, o presidente parece
ter no coronel Lima um homem com empenho semelhante, uma vez que ele aparece
como elo em negócios que beneficiam diretamente o mandatário da nação.
A
Polícia Federal intimou a filha de Temer, Maristela Temer a depor no dia 03 de
maio. Os investigadores querem saber por que o coronel Lima pagou a reforma de
uma casa pertencente a ela, em São Paulo. Os pagamentos da reforma do imóvel
foram feitos em dinheiro vivo e de alto valor.
Logo
após a filha ser chamada a depor, o presidente Michel Temer fez um discurso
enfático e em tom raivoso.
No
pronunciamento feito à nação no último dia 27, Temer, mais uma vez usa
argumentos frágeis para se defender. Para começar ele diz que as acusações são
mentiras lançadas contra a honra dele, e que atingem a família o e filho, hoje
com nove anos de idade.
Temer
faz ameaças veladas a divulgação das informações pela PF quando diz: “Eu até
solicitarei para que realmente as instituições possam funcionar regularmente,
vou sugerir ao ministro Jungmann que apure internamente como se dão esses
vazamentos irresponsáveis, porque, mais uma vez, eu digo: não é imprensa que vai
lá de forma, digamos, escondida para examinar os autos, os dados são fornecidos
por quem preside o inquérito, quem comanda o inquérito, seja onde for”.
Temer
deve ter lido na cartilha dos petistas, tanto na forma de fazer negócios no
submundo da política, quanto na fórmula que usa em sua defesa, dizendo que é
vítima de perseguição.
Tanto
os petistas como os emedebista atribuem à PF um papel que não faz parte de suas
funções: a de perseguir este ou aquele político, ou a quem quer que seja. O
trabalho da polícia é investigar e apresentar relatórios baseados em provas. E
isso a PF tem feito muito bem.
Por
tudo isso, e muito mais o presidente deseja ser candidato a presidência. Talvez
mais por querer se abrigar no foro privilegiado do que para trabalhar pelo
desenvolvimento do país.
Quanto
ao PT, para as próximas eleições, a situação do partido é delicada. Tendo em
Lula o seu baluarte, e estando este preso e impossibilitado de disputar as
eleições por causa da Lei da Ficha Limpa, o partido não cuidou de trabalhar
novas lideranças e, por isso, fica por aí, tentando de todas as formas e
maneiras que a prisão do ex-presidente seja revista e que ele venha a ser
libertado.
E
as denúncias por corrupção parecem um poço sem fundo.
No
fim da tarde de hoje, a Procuradoria-Geral da República apresentou mais uma
denúncia contra o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, o contra os
ex-ministros, Antonio Palocci, Paulo Bernardo, e a ex-ministra e atual
senadora, Gleisi Hoffman. Também foi denunciado o empresário Marcelo Odebrecht.
Os
atos criminosos, segundo a procuradora-geral da República, Raquel Dodge,
tiveram origem no ano de 2010. Naquele ano, a Odebrecht teria prometido ao então
presidente Lula, que doaria cerca de R$ 40 milhões caso o presidente produzisse
decisões políticas que viessem a favorecer a Odebrecht.
O
dinheiro foi colocado à disposição do Partido dos Trabalhadores e isso ficou
provado em depoimentos de delatores e também através da quebra de sigilo telefônico,
da apresentação de planilhas, mensagens trocadas entre os envolvidos, dentre
outras. Segundo Raquel Dodge, o esquema criminoso era composto por quatro
núcleos; o econômico, o administrativo, o financeiro, e o político.
A
denúncia foi encaminhada ao ministro, Luiz Edson Fachin, relator da Lava Jato
no STF.
Por
tudo isso e muito mais, as próximas eleições deverão ser uma das mais
imprevisíveis e perigosas para o futuro do país, pois na falta de lideranças e
de candidatos em quem se possa confiar, muitos estão tentando construir mitos,
e mitos não são a solução para os problemas do país, muito pelo contrário, eles
podem ser uma grande ameaça. Lembremo-nos de que Collor também foi alçado à
condição de mito e deu no que deu.
Também
não precisa o Brasil de salvadores da pátria. Salvadores ficam bem no ambiente
religioso e nas histórias em quadrinhos. Acho que não é o caso da política
brasileira, no momento.
E
de quem precisamos para liderar o país? Precisamos de pessoas que governem para
aqueles que o elegeram gratuitamente: o povo da nação. E não para aqueles que
compraram, à alto preço, fidelidade dos candidatos, e que exigirão deles também
alto preço, logo que seus nomes sejam confirmados como eleitos pelas urnas.
Postar um comentário