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Um olhar sobre nossa história brasileira

Posted by Cottidianos on 13:55
Quinta-feira, 07 de setembro

Se Zumbi
Guerreiro-guardião
Da Senzala Brasil
Pedisse a coroação
E por direito o cetro do quilombo
Que deixou por aqui
Nossa bandeira era
Ordem, progresso e perdão
(300 Anos - César Feital/ Altay Veloso)



07 de setembro. Dia da independência do Brasil. Desde aquele dia 07 de setembro de 1822  já lá se vão 195 anos. Para a história de uma pessoa é bastante tempo para se contar e também muita história para se dizer. Mas quando se trata de um país, de uma nação não é tempo assim. É quase uma infância. A infância de uma pátria chamada Brasil. E toda infância que se faz adulta e responsável, se fez através de muitos erros e acertos, de muitas experiências, encontros e desencontros.

Para uma pessoa chegar à maturidade é preciso um longo e natural caminho. Algumas aprendem logo cedo. Outras não. Ficam batendo a cabeça no muro. Apanhando da vida por não perceberem os sinais ao longo do caminho. Essas últimas não percebem quando é hora de acelerar, nem quando é hora de frear. Elas fazem tudo ao contrário: aceleram quando é hora de frear e freiam quando é hora de acelerar, ficando dessa forma, perante a vida, em constante desacerto, em eterno descompasso.

É assim na vida: os indivíduos são crianças em seus corpos e suas matérias, e crescem o corpo, os órgãos, e, em processo natural, se tornam adultos, envelhecem, até que tornam a nascer novamente. A imensa maioria diz: “Ele ou ela morreu”. Mas o que é o morrem senão um nascer de novo?

Seria natural também que, à medida que passassem por esse processo natural de nascimento e crescimento em seus corpos, também os seres experimentassem esses processos em suas mentes. Mas não é bem isso que ocorre.

Muitas pessoas fazem todo esse caminho que a natureza impõe para seus físicos, mas permanecem em atraso com seus processos mentais. Crianças adultas são o que são. Isto preocupa, pois sabemos que a birra de criança passará na medida em que crescerem, já os adultos crianças... Ah, para esses não podemos ter tanta esperança... O tempo cuida disso, talvez...

Aquele 07 de setembro de 1822 — no qual conforme reza a lenda, Dom Pedro, às margens de um riacho, o riacho do Ipiranga, sacou de sua espada e gritou: “Independência ou morte!”, simples assim — de qualquer modo, simples assim, ou não, marcou uma fase importante na história de nossa nação. Naquele ano, nos livramos da dominação portuguesa, e, começando a nos livrar da pesada condição de colônia, começamos a dar os primeiros passos na conquista de nossa autonomia política.

De lá pra cá, quanto nossa pátria criança tem sofrido, ou melhor, de lá pra cá quanto se tem feito sofrer nossa pátria criança. Pensando bem, a história de nossa nação já começou errada. Errada porque se alicerçou no sofrimento, e no sangue do povo negro e do povo índio. Estes últimos que eram os verdadeiros e originais donos da terra brasilis foram pouco a pouco sendo dizimados. Hoje — daquelas nações indígenas iniciais, farta de guerreiros e guerreiras que corriam livres por nossas matas a caçar e a pescar, com seus belos corpos nus a se fartar do sol tropical, e com seus olhos estreitos a fitar os luzeiros do céu riquíssimos de estrelas e constelações — restam bem poucas aldeias e reservas indígenas, que como antes também são a cobiça dos homens brancos que tantas terras já possuem.

Com a nação negra, deu-se processo semelhante. Foram eles arrancados de sua terra natal, o Continente Africano. Tiveram suas nações por lá dizimadas, e foram trazidos para o Brasil em condições subumanas. Milhares deles morriam nas viagens degradantes dentro de navios negreiros, e tinham seus corpos sepultados em um mar bravio que os engolia como se fosse aquele mar bravio fosse o seu passaporte para Aruanda, cidade de luz, e o fim do sofrimento humano.

Por mais de trezentos anos nossa pátria criança viveu sob o domínio da escravidão... Ah, quanto sofrimento não se deu naquelas lúgubres senzalas escondidas nos engenhos pé-de-serra?

Quanto atraso viveu em nosso país em todo esse tempo? Atraso econômico, social, cultural, educacional, enfim decadência em diversos níveis. Uma situação de injustiça, sem dúvida. E quando o caminho do desenvolvimento é feito à custa do suor, do sangue e do sofrimento alheio, pensa-se que se avança, quando na verdade está-se retrocedendo. Dá-se um passo para frente e dois para trás. Quem progride ás custas do sofrimento de outrem faz como os caranguejos que andam para trás. Pobres senhores de escravos, que ao agarrar-se com unhas e dentes ao sistema escravista, naquele passado distante... Se eles pudessem ver como estão hoje às nações que se livraram das correntes, das chibatas, e dos açoites bem antes que nós eles é que chorariam lágrimas de tristeza e decepção...

E assim, vai o Brasil pela sua via-crúcis: já passou pelos domínios das trevas da escravidão, já passou pelos domínios das trevas da exploração e da dominação da coroa portuguesa, também já passou, em passado bem recente pelas trevas da cortina de ferro da ditadura militar. É bem que a pátria verde, amarela, azul e branca se libertou de todas essas trevas. Mas todas elas marcas deixaram marcas muito fortes das quais a nação não conseguiu se livrar até os dias atuais.

Quanto aos negros, depois da tão famosa Lei Áurea, que os libertou, foram eles jogados nos arredores das cidades, e nos cortiços, situação que originou o processo de favelização que hoje campeia pelas principais cidades brasileiras. Foram os escravizados esquecidos pelo estado brasileiro, que não lhes restituiu um centavo, seja em níquel, ou em bens e serviços, pelos enormes esforços e sacrifícios no desenvolvimento da economia colonial.

Já pensaram se o poder público daqueles tempos, tivesse dados condições às populações negras e indígenas de terem trabalho e vida dignas para se manterem após o período escravocrata? Certamente, hoje seríamos uma nação cujo brilho resplandeceria nos céus do globo terrestre, e não uma nação trôpega, que dá um passo aqui e cai dois logo adiante.

Das trevas do domínio da coroa portuguesa restou a herança de termos ficado ainda por muito tempo escravos dos mercados internacionais e do Fundo Monetário Internacional, coisas que atravancaram nosso desenvolvimento econômico.

Das trevas da ditadura restou um espécie de carência cultural. O país vinha nas décadas de 50 e 60 numa crescente efervescência cultural, com grandes e criativos nomes despontando em todas as áreas, seja na economia, na política, nas artes, na música, e na educação. Era como um jardim que está florescendo cheio de belas rosas de extravagantes perfumes. Veio então o facão da ditadura e ceifou as rosas do jardim. Matou a umas e torturou outras. As que sobreviveram ficaram com tantas sequelas e traumas, que mesmo em atividade, já não conseguiam ter a mesma força criativa de antes. Ainda hoje sofremos os efeitos devastadores daqueles anos sob a cortina de ferro.

Depois disso, tivemos uma abertura democrática. Era como se o sol tivesse nascido após a tempestade. O povo foi ás ruas e cantou e vibrou e sorriu e comemorou o fim da ditadura.

Porém, em período recente, descobrimos-nos enquanto brasileiros atravessando, em nossa via-crúcis, outro período de trevas: as trevas da corrupção e da roubalheira. Já não é mais um tapa que se dá na cara do povo brasileiro. São fortes e violentos socos. Desses tão fortes de fazer escorrer sangue pela boca e pelo nariz. Basta fazermos um parâmetro de apenas uma situação, por exemplo, as malas de dinheiro encontrada pela Polícia Federal, em um “banker”, localizado no bairro da Graça, em Salvador, e que, supostamente, seria de Geddel Vieira Lima, e no qual foram encontradas malas e caixas de dinheiro que somam R$ 51 milhões. A maior apreensão de dinheiro já feita pela Polícia Federal no Brasil. O ex Secretario de Governo de Michel Temer cumpre prisão domiciliar a menos de 1 km de onde foi encontrado o dinheiro.

É tanto dinheiro que a PF levou 14 horas para contar a dinheirama toda. R$ 51 milhões!!!!! O que daria pra fazer com todo esse dinheiro? Com certeza daria para cobrir as despesas de milhares de alunos, pagar o salário de milhares de professores, dar uma boa melhorada nos hospitais públicos, e por aí afora.

Isso falando das malas encontradas recentemente pela PF. E outros bilhões de reais embolsados pelos grandes caciques do PT, PSDB, PMDB, e por outros partidos menores? Reflitam sobre o quanto essas quadrilhas causaram danos ao Brasil. O mal do Brasil não é a Previdência Social. O mal do Brasil é essa gente ambiciosa e gananciosa que jogou fora a moral, a ética e decência.

É por essas e outras que muitos brasileiros têm andando tristes e cabisbaixos. Estão como diz a famosa canção, composta por Vinicius De Moraes e Carlos Lyra, chamada, Marcha da Quarta-Feira de Cinzas, que diz: “Acabou nosso carnaval, ninguém ouve cantar canções, ninguém passa mais brincando feliz, e nos corações, saudades e cinzas foi o que restou. Pelas ruas o que se vê, é uma gente que nem se vê, que nem se sorri, se beija e se abraça, e sai caminhando, dançando e cantando cantigas de amor”.

É hora de erguer a cabeça, e caminhar com dignidade por mais esta fase da história brasileira. Afinal, não é o povo que deve sentir-se diminuído e com vergonha. São os grandes caciques da política e do empresariado brasileiro desonestos. São eles que devem enfiar a cabeça em algum buraco como fazem as avestruzes.

Tudo isso é dolorido, mas não existe cura de males graves sem dor. A mudança está ocorrendo. As trevas atuais passarão, como passaram as outras. O sol brilhará novamente. Alguma marca deverá ficar, mas ela deverá servir para nos mostrar apenas que avançamos, progredimos, e que queremos um país cada vez mais e melhor.


Nenhuma situação injusta perdura para sempre. Mais dia, menos dia a verdade triunfará. E será como diz outro verso da Marcha da Quarta-Feira de Cinzas: “A tristeza que a gente tem, qualquer dia vai se acabar, todos vão sorrir, voltou a esperança.”

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