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Jogo de trapaças
Posted by Cottidianos
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01:33
Quinta-feira,
29 de novembro
O
presidente eleito Jair Bolsonaro se elegeu graças a um forte discurso
antipetista e anticorrupção. Esse discurso colou — e muito bem, por sinal. O
candidato do PSL também se apresentou como uma nova cara na política e como
candidato antisistema.
Estratégias,
estratégias, estratégias. Elas funcionam bem em qualquer situação. Para fazer
justiça ou injustiça, para o bem ou para mal. A estratégia não deixa de ser uma
arma de guerra. Ganha quem melhor sabe fazer uso dela.
Á
título de exemplo, este blog cita o caso do ex-jogador de futebol e ator
americano O. J. Simpson. Ele foi acusado, em 1994, de assassinar a facadas a
ex-mulher, Nicole Brown, e o amigo dela, Ronald Goldman. Todas as provas
materiais colocavam O. J. Na cena do crime. Para a acusação era daqueles casos
em que se poderia afirmar: É um caso ganho.Em 1994, após um longo julgamento
que dividiu a opinião publica norte-americana, e em um polêmico veredicto, o
ex-atleta foi absolvido do crime de duplo assassinato, graças ao trabalho
meticuloso e brilhante da defesa.
Essa
ilustração, extraídas das páginas policiais da vida real , entra nesse artigo
para destacar a estratégia usada pela defesa que conseguiu desviar a atenção
dos jurados, e da opinião pública, do caso da acusação de duplo homicídio, para
um caso relacionado à questão racial. Como já foi dito acima, estratégia é
arma. Quem sabe melhor manejá-la ganha o jogo.
Bolsonaro
ganhou, é verdade, graças ao bom uso da estratégia. Mas logo, logo, verá que e
preciso muito jogo de cintura para governar. Na verdade, de cara nova na
política Bolsonaro não tem nada. E de
antisistêmico menos ainda. É tão velho na política, quanto às velhas raposas. É
tão sistema quanto qualquer dos outros mais antigos na cena política. Afinal,
foram 27 anos percorrendo os corredores do Congresso, sendo testemunha de
acordos espúrios na calada da noite, negociatas, compra de votos, e toda essa
lama que rola em Brasília.
Isso
pode ser bom e pode ruim para ele. Ele pode usar esses rascunhos e estratégias
contra ou a seu favor. Isso somente saberemos quando o jogo começar pra valer.
Por
enquanto, digamos assim, ele está apenas escalando o time. Vai encontrar
resistência de todos os lados. Já está encontrando, na verdade. A bancada
evangélica promete ser dura na queda de braço do jogo do poder. E ela já começou a fazer isto quando se opôs a
indicação de Mozart Neves Ramos, diretor do Instituto Ayrton Senna, para o
ministério da Educação.
Seria
uma escolha técnica, devido ao conhecimento de Mozart nessa área, porém a
bancada evangélica queria alguém com um perfil mais ideológico. Bolsonaro
então, cedendo à pressão, e fugindo um pouco de sua promessa de formar um
ministério mais pendente para o lado técnico, resolveu então prescindir do nome
de Mozart, para indicar Ricardo Vélez Rodríguez, com perfil mais ideológico que
técnico para o cargo de ministro da Educação.
Há
também os bandidos que usam o Congresso Nacional e o cargo que lhes foi
outorgado pela população, através do voto, para tentarem legislar em causa
própria e facilitarem a própria vida, caso as denúncias que pesam contra eles e
seus comparsas, sejam levadas às vias de fato, e eles vão parar no lugar que
lhes é de direito: atrás das grades.
Alguns
desses parlamentares, e que estão sendo investigados na Lava Jato, pretendem
colocar em votação um projeto que atenua a pena de vários crimes, inclusive,
aquele no qual estão enredados, ou seja, a corrupção.
Aprovado
em outubro do ano passado no Senado, o projeto elaborado por uma comissão de
juristas teve autoria de Renan Calheiros, também ele envolvido em casos de
corrupção. São 14 inquéritos aos quais o senador responde no STF ligados a
crimes de corrupção.
Aprovado
no Senado, o projeto chegou à Câmara dos Deputados em novembro, e logo,
deputados com a cabeça na guilhotina da justiça, propuseram que ele deveria ser
votada de imediato. Aliás, é sempre assim: Quando se trata de legislar em causa
própria, os deputados e senadores têm a máxima urgência. Já quando se trata de
assuntos de interesse do país e da população, aí os projetos, quando tramitam,
o fazem no mesmo passo e ritmo que o das tartarugas. Isso quando não vão
amarelar suas páginas, esquecidos na gaveta de algum relator.
Agora,
ao apagar das luzes, conforme denúncia da Folha de São Paulo, em reportagem
publicada nesta segunda-feira (26), esse grupo de parlamentares, dentre eles, Arthur
Lira (PP, Avante), Jovair Arantes (PTB, PROS, PSL, PRP), Marcos Montes (PSD),
Carlos Zarattni (PT), Baleia Rossi (PMDB) e José Rocha (PR), voltaram a
pressionar o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Dentre
as alterações que os deputados pretendem fazer estão; a progressão de
antecipada de regime quando o presídio em que o réu estiver confinado se
encontrar superlotado e a conversão da pena privativa de liberdade, não
superior a quatro anos, em restritiva de direitos, dentre outras.
O
futuro ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, vê com preocupação
essa alterações e defende que essas flexibilizações não podem ser aplicadas aos
crimes de corrupção, e pediu ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia que não
coloque o projeto em pauta da votação, como queriam alguns deputados, e que a
análise do caso fique apenas para o ano que vem. “Eu não penso que resolve-se o problema da criminalidade simplesmente
soltando os criminosos. Claro que a superlotação é um problema, isso tem que
ser trabalhado, mas simplesmente abrir as portas das cadeias não é a melhor
solução, na minha opinião, isso tem que ser enfrentado de uma outra maneira”,
disse Sérgio Moro.
Em
mais uma prova de que os políticos usam o Congresso para legislar em causa
própria, ao invés de proteger os interesses da nação, é que, por falta de
votação na Câmara, seguiu direto para o Senado, um projeto que volta a permitir
que quem ocupou cargo político ou atuou em campanha eleitoral nos últimos três
anos, seja indicado para a direção de estatais, e que também caia a proibição
de que parentes de até terceiro grau de dirigentes de partidos, senadores,
vereadores, ministros, e outras autoridades, ocupem cargo em empresas públicas.
O
projeto que os deputados têm tanta pressa em ver aprovado ainda no mandato
vigente, fere a lei de responsabilidade das estatais, e, de certo modo,
enfraquece a luta contra a corrupção.
Tanto
alvoroço em torno da questão é o fato de que tramita na Câmara um recurso que
obriga o debate do projeto no plenário.
O
projeto havia sido aprovado, simbolicamente, por uma comissão de 35 deputados,
mas a idéia era envolver todos os 513 deputados na discussão, porém, se isso
acontecesse não daria tempo do projeto ser votado ainda durante esse mandato. Porém,
alguns partidos orientaram os deputados a votar contra o recurso, o que
permitiu o envio do texto ao Senado.
Ainda
na questão de legislar em causa própria, o deputado, Giovani Querini (PR),
pediu para os deputados pensarem neles mesmos e derrubar o recurso. “É muito importante votar não porque parece,
aqui nesta casa, que deputado dá tiro no pé. Porque imagina se uma pessoa que
ocupou um cargo político não pode ocupar outro cargo, porque automaticamente
passou a ser suspeita. Isso é confissão, isso é um erro que esta casa comete
permanentemente”, disse o deputado.
Em
meio a tudo isso, mais um problema se apresenta ao futuro governo, Jair
Bolsonaro, as contas públicas, e ao bolso de cada cidadão: o presidente Michel
Temer sancionou o reajuste de 16% para os ministros do Supremo Tribunal Federal.
Os Salários subiram de R$ 33.763 para R$ 39.293. Esse aumento foi proposto
pelos próprios ministros do STF.
A
questão é que os soldos dos ministros do STF servem também de base para os
soldos dos funcionários públicos em todas as esferas: federal, estadual, e
municipal. É um verdadeiro efeito em cascata. O impacto nas contas públicas com
esse reajuste é de R$ 4 bilhões. E de onde vai sair o dinheiro para pagar a
conta, em uma nação com as contas públicas pra lá de vermelhas?
O
ministro Luiz Fux usou o aumento como moeda de troca. Se o aumento fosse
concedido aos magistrados ele revogaria o auxilio moradia concedido aos juízes.
Ora, esse é um benefício a que os magistrados tem direito, mas se formos botar
na balança, com os salários estratosféricos que eles recebem, nem precisariam. Assim
como também de outros penduricalhos que ajudam a engordar os salários de
magistrados e também da classe política.
É
assim caros leitores: no Brasil discute-se a violência urbana, diz-se que é
preciso armar os cidadãos, mas não se discute, nem muito menos se fala, em
acabar com essa violenta desigualdade social que é, na verdade, a matriz
geradora de todas as demais formas de violência e atraso na educação, na cultura,
na economia, na segurança, na saúde, e em todas as demais áreas do estrato da
sociedade brasileira.
E
assim, ignorando fatores que poderiam impulsionar o Brasil pra frente, vai-se
transformando a democracia num jogo de trapaças, e num jogo de faz de conta, no
qual a sociedade brasileira como um todo acaba saindo perdendo feio.
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