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Pai, mata nossa fome de títulos
Posted by Cottidianos
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13:41
Domingo,
08 de julho
As
grandes batalhas épicas, seja no cinema, na literatura, ou na literatura
adaptada ao cinema, sempre nos maravilharam, sempre grudaram nossos olhos nos
livros ou nas telas. Na grande maioria desses enredos estão explicitas ou
implícitas a guerra entre o bem e o mal. Ficamos sempre na expectativa de que,
ao final, o bem se sagre vencedor, derrotando o mal.
O
engraçado é que ao fazermos isso, ao mergulhamos nessa cartasse que a ficção
nos proporciona, nos esquecemos de que, dentro de cada um nós habita um guerreiro,
uma guerreira, e que, todos nós, habitantes do planeta terra, vivemos todos os
dias nossas pequenas batalhas, que, às vezes se tornam grandes batalhas, mas
todas elas exigindo de nós a força e a coragem que vemos projetadas nos heróis
da ficção.
Assim
foi e assim sempre será pois a terra é um plano de expiação, de provas, de
sacrifícios. E, como plano de expiação que é o nosso planeta, essas batalhas
diárias devem servir para nos aperfeiçoam, nos esmerar — como se esmeram as
joias — com a finalidade de que, ao atingirmos os planos superiores, tenhamos
nos livrado, se não de todas, mas de muitas das correntes que atrasam o nosso
caminhar, o nosso evoluir constante.
Em
todas as batalhas fictícias ou não, épicas ou não, sempre nos deparamos com a figura
dos guerreiros, estejam eles a serviço do bem ou do mal, não há conflito entre
rivais sem a figura desses bravos. Ainda dentre esses é possível notar que
sempre há os fortes, aqueles que encaram as dificuldades de frente, olho no
olho. Esses sabem que, mesmo, às vezes, perdendo uma batalha, contudo não
perderam a guerra, e, do intimo de seus corações, buscam forças para continuar
lutando, sem fraquejar, nem desanimar.
Por
outro lado, há aqueles que tem medo, que não arriscam, que se acovardam ante o
menor sinal de maré revolta. Perdem uma batalha e desistem achando que aquela
luta perdida era a guerra inteira.
Lembremos
também que a atitude contagia. Em uma cena de uma antiga minissérie, exibida no
Brasil pela Rede Globo de Televisão com o nome de V: A Batalha Final, a
comandante dos terráqueos que travavam batalha com extraterrestres que
invadiram a terra, confessava para alguém do seu staff que estava com medo de
perder essa luta. O seu interlocutor, porém, lhe advertiu que ela, pela posição
que ocupava, poderia até sentir medo, mas não deveria demonstrar esse medo, ao
contrário, deveria sempre, diante de seus comandados, demonstrar coragem e
altivez. Ela seguiu o conselho e os
terráqueos sagraram-se vencedores daquela contenda.
Isso
demonstra que a atitude de um bom comandante, de uma boa comandante um bom
capitão, ou boa capitã, seja em um exercito, seja nas profissões liberais, seja
no recesso do lar, pode não determinar a vitória, mas é fundamental para que
ela ocorra. Ninguém vence batalha com atitude derrotista, mas sim com o brio, a
coragem, e a determinação própria dos vencedores.
Falando
em guerras e batalhas, essas últimas continuam a todo vapor nos verdes gramados
dos estádios russos, país no qual ocorre os jogos da Copa do Mundo 2018. E elas
tem sido de tirar o folego.
No
atual planeta futebol, recheado de astros e constelações, favoritismo é uma
palavra que anda em escassez. Antigamente, em tempos remotos, essa palavra pode
até ter tido força para confirmar e consagrar campeões, mas com a nova
estrutura e o novo desenho do futebol mundial as coisas mudaram bastante.
Nessa
Copa de resultados imprevisíveis, os favoritos, um a um, foram fazendo as suas
malas e retornando para seus países ou clubes de origem.
As
grandes estrelas do mundo do futebol; o egípcio Mohamed Salah, o argentino
Leonel Messi, o português Cristiano Ronaldo, o brasileiro Neymar Junior não
conseguiram o objetivo principal a que se propuseram nesse torneio. Isso sem
falar da constelação alemã que, vitoriosa na última copa, dessa vez voltou para
casa bem mais cedo.
Sem
dúvida, esses craques tem o seu valor e o seu talento e nem que quiséssemos
poderíamos lhes tirar o mérito e muito menos a fama e a admiração que provocam
em milhões de seguidores. Apesar de terem sido derrotados nos campos na Rússia
e de não terem feito fulgurar seu brilho nos estádios daquele país, eles seguem
craques e soberanos. Apenas lembrando que cada rei tem o seu período para
sustentar cetro e coroa e que a sucessão é inevitável. Pode demorar alguns anos,
mas outros reis e novas estrelas surgirão em algum momento da história. Dizem
que o francês Kylian Mbappé é candidato à coroa, mas isso só os próximos jogos
e, principalmente, o tempo dirão.
Todo
esses resultados na Copa da Rússia e que nos deixam de queixo caído apenas
mostram que, no futebol, o que determina a vitória é o coletivo. Um jogador
apenas por ter nome e fama não é capaz de levar sua seleção a levantar, em um
campeonato tão importante como a Copa do Mundo, a taça de campeão, de melhor do
mundo.
Eles
podem até jogar bem em suas equipes de base, pois estão juntos e rodeados de
atletas do mesmo nível e com os quais tem um trabalho e uma interação,
entretanto, em suas seleções de origem não possuem o mesmo rendimento, pois nem
todos tem o mesmo talento, e, com esse novo desenho do futebol moderno em que
cada jogador desenvolve seu trabalho em clubes diferentes, com filosofias de
trabalho e metodologias diferentes, o tempo que lhes resta para fazerem um
trabalho bem coordenado junto com seus patrícios acabam sendo muito pouco.
Tudo
isso que temos visto nesta Copa, pode ser muito bem resumido pelas palavras do
jornalista e escritor, Nirlando Ribeiro. Ainda por ocasião da Copa de 2014, ele
escreveu o artigo, Jogar mal e vencer: a síndrome do campeão. Nesse artigo —
falando do jogo de estreia em que o Brasil, seleção anfitriã jogou contra a
Croácia, e venceu pelo placar de 3x1 — ele escreve: “O futebol não combina com
a justiça dos homens. Derrotas e vitórias resultam de fatores aleatórios como
os lances de dados de um jogo de azar. Já que esporte coletivo, alguma lógica
se impõe na soma dos talentos individuais e no esmero da preparação do
conjunto. Tudo bem: a solidez de certas equipes, a tradição vencedora, a força
intimidatória da torcida presumem a existência de favoritos e azarões. Mas a
surpresa espreita, a cada passe, a cada chute, a cada cabeçada, a cada
escanteio e, é o que se vê, a cada apito. Esta é a graça da coisa. No futebol,
o erro determina mais do que o acerto”.
Talvez
essa tenha sido a Copa no qual as surpresas estiveram mais serelepes, mais
ativas, tão mais à espreita. Estamos a uma semana da grande final e elas ainda
podem nos surpreender ainda mais. É como diz Galvão Bueno, narrador esportivo:
Haja coração!
E
assim chegamos ao Brasil.
Ah,
Brasil!
Estás
atualmente em teu Calvário, à semelhança do homem de Nazaré. Os escribas e
fariseus da política e alguns do empresariado te chicoteiam, te cospem na face,
te humilham. Colocam uma coroa de espinho na tua cabeça, e te pregam na cruz. Agonizas,
como agonizava o nazareno. Porém, como ele, ressuscitarás glorioso, algum dia.
Não precisa nem ser ao terceiro dia, à exemplo dele, mas basta que ressuscites.
Isso
é tudo o que esperam os teus amados filhos e diletos discípulos.
Talvez
por que nos campeonatos mais sérios, desses que tratam de vida humanas e da
qualidade delas, como por exemplo, educação e segurança, amargamos os últimos
lugares, e faz tempo que nesses torneios não levantamos a taça de melhor do
mundo é isso que talvez explique a nossa fome de títulos em um campeonato de
futebol.
E
mais uma Copa do Mundo e o hexa não veio. As praças do Brasil, cheias de
milhares de pessoas de todas as idades, raças, e cores, silenciaram ante o
segundo gol que garantiu a classificação da Bélgica para as semifinais. É
futebol. É jogo de resultado. Ganha quem faz mais gols, quem está mais
preparado e quem sabe melhor fazer da sorte sua parceira na disputa. E os
belgas foram melhores nessa partida... E seguem na briga pelo título.
À
seleção brasileira, restou arrumar as malas... E voltar para casa. Os jogadores
de nossa seleção desembarcaram no Aeroporto Internacional do Rio, juntamente
com o técnico Tite, sete jogadores, e a comissão técnica. Apenas pouco mais de
meia dúzia de torcedores os esperavam no aeroporto. Uma chegada melancólica,
como melancólicos ficaram os fãs do futebol após a derrota para equipe belga. O
hexa não veio para nós dos gramados russos. Virá para alguém, com certeza. Pois
no futebol, como nas grandes ou pequenas batalhas, quando um perde o outro
ganha.
De
qualquer modo, o Tite merece os parabéns, pois sem ele no comando talvez a
seleção brasileira nem tivesse ido ao mundial na Rússia de tão ruim que estava
a coisa. Os jogadores também merecem os parabéns. Jogaram um pouquinho melhor
do na Copa de 2014, jogando em casa, quando pareciam estar mais era jogando
pelada em um campo qualquer.
Creio
que eles agora eles tenham entendido que um campeonato no qual se decide o
melhor do mundo, é preciso mais garra, mais empenho, mais dedicação. Que alguns
jogadores amadureçam e parem de cair a cada encostada do jogador do time rival,
ou seria melhor que caíssem de vez? Caíssem de vez na realidade de que são
atletas excelentes e que podem muito mais do que o futebol que apresentam.
É
isso. O que resta agora é aguardar a próxima Copa, daqui a quatro anos.
Provavelmente, o vencedor deste campeonato seja alguém já vencedor nas áreas de
economia, educação, saúde, segurança, arte, e cultura. O título no futebol será
apenas a cereja do bolo. Quisera Deus que o título no esporte fosse também para
nós apenas a cereja do bolo, porém, mesmo que ganhássemos esse campeonato e
fossemos hexa campeões tudo continuaria igual por aqui, com o país descendo
ladeira abaixo.
Mas,
como os discípulos do mestre Jesus, não desanimemos. E que, com todas as
dificuldades que se nos apresentam enquanto nação possamos dizer como o
apóstolo Paulo, falando de suas dificuldades pessoais na pregação do evangelho:
“Quando eu me sinto fraco aí é que sou forte”. E que possamos, ainda a exemplo
do homem de Nazaré, olhar para aqueles que chicoteiam, esbofeteiam, e humilham
nossa pátria, e dizer: “Pai, perdoa-lhes porque eles não sabem o que fazem”.
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