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Fernando Segóvia: Um delegado a serviço do presidente
Posted by Cottidianos
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23:08
Segunda-feira,
12 de fevereiro
Fernando Segovia e Michel Temer |
Há
muito se sabe que a politicagem brasileira é um jogo de cartas marcadas. Desse
jogo fez parte a nomeação de Fernando Queiroz Segovia Oliveira para o posto de diretor-geral da Polícia Federal.
Segovia foi indicado pelo peemebista e ex-presidente do Brasil, José Sarney. Se
o PMBD fosse tribo, Sarney seria um cacique, influenciando inclusive nas
decisões do presidente Michel Temer. Fernando Segovia substituiu Leandro
Daielo, que estava no cargo desde 2011.
Fica
obvio que indicação de Fernando Segovia foi baseada em critérios políticos,
quando deveria ser baseada em critérios técnicos. Antes mesmo de ser nomeado, a
indicação do novo diretor causava desconfianças dentro da PF, justamente por
ser o nome que o PMDB queria para o posto de diretor-geral da instituição.
Temos
visto também que, o governo de Michel Temer, e, por consequência, o PMDB,
partido ao qual pertence o presidente, parecem agir sem o menor escrúpulo. Isso
não são apenas suspeitas, já tendo sido demonstrado em atos e fatos em várias
ocasiões pelo governo e por seus próprios assessores diretos.
Em
maio de 2016, ainda antes do impeachment da ex-presidente, Dilma Rousseff, o
jornal Folha de São Paulo, mostrou trechos do conteúdo de uma conversa entre o
senador Romero Jucá o ex-presidente da Transpetro, Sergio Machado. Na conversa
os dois dão a entender que uma mudança no governo seria uma solução para
“estancar a sangria” que a Lava Jato estava provocando no meio político. Para
os dois era preciso que houvesse um impeachment, o que resultaria num grande
acordo nacional para colocar o Temer na presidência, e parar a força da Lava
Jato.
De
fato, com a subida de Michel Temer à cadeira presidencial, várias ações foram
tomadas no sentido de enfraquecer a Lava Jato. Uma delas foi a nomeação de
Fernando Segovia.
É
bom lembrar também que a troca de comando na PF se deu em um momento
estratégico em que a cúpula do PMDB se tornou alvo de investigação na Lava
Jato. Dentre eles, os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco
(Secretaria-Geral) e os ex-deputados Eduardo Cunha (RJ), Geddel Vieira Lima
(BA) e Henrique Alves (AL), — os três últimos estão presos — e o próprio presidente Michel Temer. Este
último teve que rebolar para barrar, na Câmara dos Deputados, duas denúncias
que foram apresentadas contra ele pelo então Procurador-Geral da República,
Rodrigo Janot. A primeira, em agosto do ano passado, por corrupção passiva, e a
segunda por organização criminosa e obstrução à Justiça. O governo gastou uma
fortuna comprando deputados para livrá-lo dessas duas denúncias, e mais outra
para aprovar a Reforma Trabalhista, e ainda tenta aprovar a Reforma da
Previdência.
Mudando
de assunto, mas permanecendo no mesmo.
Rodrigo
Janot gastou quantas flechas tinham para disparar contra o presidente Temer.
Além das duas denúncias citadas, ele ainda pediu ao ministro do STF, Edson
Fachin, em junho de 2017, a abertura de um novo inquérito para investigar o
presidente, desta vez por questões relacionadas ao Decreto dos Portos (Decreto
9.048, de 10 de maio de 2017).
De
acordo com a Procuradoria-Geral da República, havia indícios de que o decreto
assinado pelo presidente, beneficiara a empresa Rodrimar, empresa que atua no
Porto de Santos, litoral paulista.
Para
apresentar essa denuncia, a PGR se baseou em documentos apreendidos na Operação
Patmos, e em interceptações telefônicas do ex-deputado, e ex-assessor do
presidente, Rodrigo Rocha Loures, aquele que foi flagrado saindo de um
restaurante com uma mala recheada com R$ 500 mil, e correndo para o carro.
Ainda segundo essa denúncia, a PGR acusa Temer de corrupção ativa, passiva, e
por lavagem de dinheiro por ter recebido vantagens indevidas da Rodrimar para
editar o Decreto dos Portos.
Logo
após a cerimonia de transferência de posse de Fernando Segovia, no dia 20 de
novembro de 2017, na sede do Ministério da Justiça, em Brasília, o novo
diretor-geral da PF, já confirmou as suspeitas de seus colegas de corporação de
que sua indicação era, justamente, o que o governo queria.
Em
entrevista coletiva à imprensa, imediatamente, após a cerimonia de posse, ele
se manifestou sobre essa denuncia da PGR contra o presidente, no caso do
Decreto dos Portos. “Talvez seria bom
para que o Brasil inteiro soubesse que houvesse uma transparência maior sobre
como foi conduzida aquela investigação. Porque a gente acredita que se fosse
sob a égide da Polícia Federal, essa investigação teria que durar mais tempo
porque uma única mala [de dinheiro] talvez não desse toda a materialidade
criminosa que a gente necessitária para resolver se havia ou não crime, quem
seriam os partícipes, e se haveria ou não corrupção”. Disse ele.
Ou
seja, para o recém-empossado diretor-geral da PF, as escutas telefônicas e uma
mala com R$ 500 mil não provam a materialidade de um crime. A título de
questionamento, e segundo a lógica dele, quantas malas cheias de dinheiro
provariam a materialidade de um crime? Dez? Vinte?
Semana
passada, Segovia, voltou a bater na mesma tecla. Em entrevista à agencia de
notícias Reuters, e publicada no site da Reuters Brasil, ele afirmou que o
inquérito contra o presidente Michel Temer, relacionado ao fato do Decreto dos
Portos, que ainda está em andamento, em tese, poderia ser arquivado. Dentre
outras medidas, o decreto aumenta o prazo dos contratos de concessão no porto
de 25 para 35 anos, com a possibilidade de ser estendido para até 70 anos.
O
delegado sugere na entrevista que a PF deverá arquivar a denúncia pois as
investigações ainda não provaram haver pagamento de propina. “O que a gente vê é que o próprio decreto em
tese não ajudou a empresa. Em tese se houve corrupção ou ato de corrupção não
se tem notícia do benefício. O benefício não existiu. Não se fala e não se tem
notícia ainda de dinheiro de corrupção, qual foi a ordem monetária, se é que
houve, até agora não apareceu absolutamente nada que desse base de ter uma
corrupção", disse ele à Reuters.
As
escutas telefônicas gravadas coma autorização da justiça mostram o ex-assessor
do presidente, e ex-deputado Rocha Loures, em conversa com o subchefe para
assuntos da Casa Civil, Gustavo Rocha, em conversa na qual defendem interesses
de empresas que atuam nos portos brasileiros.
No
dia 03 de janeiro deste ano, o Supremo Tribunal Federal, enviou uma lista com
50 perguntas para serem respondidas pelo presidente Temer. As perguntas foram
elaboradas pelo delegado responsável pelo inquérito, Cleber Malta Lopes, com a
finalidade de esclarecer possíveis suspeitas de propina por parte de Temer e
seus aliados.
Na
mesma entrevista à Reuters, Segovia fez ameaças veladas a Cleber Malta, dizendo
que se houver um pedido da Presidência, a Polícia Federal pode até abrir uma
investigação interna para apurar a conduta do delegado pelos questionamentos
apresentados ao presidente.
As
declarações de Segovia a agencia de notícias não caíram nada bem. Nem na
instituição, nem no meio jurídico. O único que saiu em defesa do entrevistado,
como era de se prever, foi o governo. A Federação Nacional dos Policiais
Federais e outras associações de delegados reagiram com veemência e disseram
esperar uma retratação pública do diretor-geral da PF.
As
declarações de Segovia não ficaram apenas nas críticas de integrantes da PF, de
partidos de oposição, e de outros setores sociais. O ministro do STF, e relator
do caso dos portos, Luís Roberto Barroso, no sábado, 10, intimou Fernando
Segovia, a prestar esclarecimentos sobre suas declarações à Reuters, afirmando
que o inquérito que investiga o presidente Michel Temer no caso dos portos, não
havia encontrado indícios de corrupção e que tenderia a ser arquivado. “Tendo em vista que tal conduta, se
confirmada, é manifestamente imprópria e pode, em tese, caracterizar infração
administrativa e até mesmo penal, determino a intimação do Senhor Diretor da
Polícia Federal, Delegado Fernando Segovia, para que confirme as declarações
que foram publicadas, preste os esclarecimentos que lhe pareçam próprios e se
abstenha de novas manifestações a respeito”, escreveu barroso na intimação.
Barroso pediu ainda no mesmo documento que fosse dado ciência ao Ministério
Público que fossem tomadas as providencias que o órgão entender cabíveis.
O
ministro criticou ainda o fato de Segovia ter ameaçado o delegado responsável
pelo inquérito, e de ter feito comentários públicos sobre inquérito ainda não
concluído.
A
entrevista de Segovia é mais um capitulo nesse já desgastado governo que, desde
seu início, o que tem feito é apenas se defender de acusações,
constrangimentos, e escândalos de corrupção. Um fato positivo é que os últimos
acontecimentos chamam a atenção da sociedade para um fato grave envolvendo o
governo que vinha se mantendo em banho-maria.
Refém
dos seus aliados, o governo de Michel Temer vê suas forças minadas e seu
desgaste confirmado. Haja visto o caso de deputada Cristiane Brasil, impedida
pela Justiça de tomar posse como ministra do Trabalho. Às primeiras denúncias
de que a deputada não havia assinado a carteira de trabalho de dois de seus
motoristas, se somam outras. O presidente apenas vê a questão como uma batalha
política. E assim segue a novela
Cristiane Brasil: aguardando uma decisão do Supremo sobre a questão.
Enquanto
o governo insiste em suas birras, o país está há quase um mês e meio sem
ministro do Trabalho. Mas talvez, para o governo, isso não seja o mais
importante. Talvez o mais importante, nesse momento, não seja o país, mas sim a
satisfação de aliados políticos que lhe garantam votos para a aprovação da
Reforma da Previdência.
É
bom que o Supremo Tribunal Federal e a Polícia Federal, digam ao presidente que
ele não pode agir como uma criança mimada que quer, a qualquer custo, que seus
desejos sejam satisfeitos, nem muito menos como um fora da lei, para quem a lei
existe apenas para ser ignorada.
E
que não nos ouça o ministro do STF, Gilmar Mendes...
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