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O Brasil que não queremos
Posted by Cottidianos
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00:27
Terça-feira, 23 de janeiro
“A frustração, a apatia e a desesperança
são alimentos que nutrem o fascismo, em
todas as épocas”
(Luiz Ruffato)
Um
dos momentos mais importantes, senão o mais importante, na constituição de um
país democrático é, sem dúvida, o voto, o ato de escolher os representantes do
povo através do voto consciente. Nas ditaduras não há essa escolha livre. Tudo é
imposto goela abaixo da população, gostando ela da bebida amarga ou não.
Aqui
nessa pátria verde e amarela já experimentamos as duas coisas: o vinho amargo
da ditadura e a suavidade do mel da democracia. Do primeiro não queremos mais
nem saber, nem ouvir falar. Pelo menos é o que esperamos. Há quem, pequenos
grupos é verdade, defenda a volta dos anos de ferro, esquecidos talvez, ou quem
sabe insensíveis, aos gritos de dor e ao pranto que rolou nas salas
maquiavélicas de torturas regime ditatorial. Pessoas que apanharam, foram
humilhados de todas as formas, simplesmente por querer um país mais livre e
que, em cujas veias, corresse o sangue da liberdade.
Aí
veio a democracia e a capacidade de escolher... E ficamos frustrados. Frustrados,
pois aquilo que deveria ser remédio, acabou sendo mal. A liberdade de escolher,
através do voto os nossos representantes nos trouxe a decepção que ver que
aqueles e aquelas que deveriam trabalhar em prol da população, aliaram-se aos
grandes grupos empresariais e ruralistas e a eles se venderam, como se vendem e
se oferecem as prostitutas de luxo a clientes endinheirados.
O
eleitor brasileiro frustrou-se, ao descobrir que o dinheiro que poderia ser
empregado na construção e melhoramento de escolas e hospitais, e no
aparelhamento dos que fazem a segurança pública tinha como destino os paraísos fiscais, ou os cofres
de gente ambiciosa, disposta a enganá-lo. Até se tinha alguma
esperança quando se pensavam que o grupo de criminosos envolvidos na política
eram um ou outro, mas depois que se descobriu que a coisa era generalizada. Aí sim,
o eleitor entrou em parafusos.
Como
um amado traído por aquela que, ardentemente desejou e esperou, se perde ele,
eleitor, em dores de cotovelo, e entrega-se aos bares e copos da cidade e passa
da sobriedade para um estado ébrio. Coisa perigosa, pois os ébrios se deixam
enganar ainda mais facilmente. Não conseguem se equilibrar em seus débeis
passos, e, como os incapazes, são
ainda massa de manobra mais fácil, sendo carregados para aqui e para acolá, por
gente que pode ser de boa intenção, quanto o contrário. Um amado traído é coisa
perigosa pois pode se jogar nos braços da primeira que aparece, mesmo que essa
outra que aparece seja uma loba vestida de cordeiro.
Esse
estado ébrio, geralmente carregado e pesado pelas nuvens da desilusão, da
apatia e da revolta, pode, com facilidade ser um caminho, uma porta aberta para
os ditadores, fascistas, e aproveitadores...
O
cenário eleitoral que se desenha para as próximas eleições não é nada animador.
Não há, definitivamente não há, pelo menos não até agora, opções dignas de
receber o voto dos brasileiros, salvo raríssimas exceções.
Lula
apesar dos pesares, e para espanto e pavor de muitos, aparece em primeiro lugar
nas pesquisas. Ainda há muita gente iludida e de olhos fechados, infelizmente. Por
falar nele, o julgamento do ex-presidente foi marcado para esta quarta-feira
(24), e os olhos do Brasil estarão voltados para Porto Alegre. A ansiosidade e
curiosidade são grandes por parte de partidários de Lula e mais ainda pelos que não são partidários dele
por saber como se desenrolará a questão.
Outra
ameaça é o candidato Jair Bolsonaro, cujo governo, se eleito, e pelas ideias
defende, possa se desenhar pior que os governos do PT e do PMDB. Bolsonaro
desponta em segundo lugar nas pesquisas, depois do petista.
O
que seria um voto em Bolsonaro? Um voto de protesto? Eu vos pergunto: alguém,
além dos terroristas, protestaria ateando fogo em seu próprio corpo? Isso
seria insano. Seria por acaso um voto de esperança de restaurar a moralidade? Mas
seria restaurar moralidade abrir a boca e sair disparando asneiras a torto e a
direito? Não fazem isso os tolos?
É
preciso muito cuidado, mais do que nunca é preciso cuidado, pois no desespero
de querer fugir das raposas, pode acabar indo para na toca dos lobos... Depois,
não adianta chorar lágrimas de crocodilo. Aí vai ser tarde demais...
Abaixo,
este blog compartilha, texto escrito por Luiz Ruffato, colunista do jornal El
Pais Brasil, e publicado naquele jornal no último dia 17 de janeiro, sob o
título, Bolsonaro: é isso que queremos?
***
Bolsonaro:
é isso que queremos?
Uma
seleção de declarações do deputado para que ele mesmo mostre alguns tostões do
seu pensamento
LUIZ
RUFFATO
17
JAN 2018
Jair
Bolsonaro, eleito com 464 mil votos pelo Rio de Janeiro, terceiro deputado
federal mais votado do Brasil, aparece, na última pesquisa Datafolha, como o
segundo candidato mais lembrado para a Presidência da República, com 18% das
intenções de voto, logo atrás de Luiz Inácio Lula da Silva, que se mantém com
36%. Na hipótese do impedimento da candidatura do petista, o que será resolvido
no próximo dia 24, por meio de julgamento do Tribunal Regional Federal do Rio
Grande do Sul, Bolsonaro cresce para 21%. Ou seja, em ambos os cenários, o
ex-capitão do Exército disputaria o segundo turno.
Em
seu sétimo mandato na Câmara dos Deputados, Bolsonaro vem se beneficiando com o
discurso da galopante deterioração do país, provocada pela pior recessão da
história; pela dissolução completa dos sistemas de saúde e educação; pelo caos
na segurança pública; e, principalmente, pela desmoralização da classe política
e do Poder Judiciário, mergulhados ambos na corrupção e nos desmandos, e pela
desmobilização dos movimentos populares. A frustração, a apatia e a
desesperança são alimentos que nutrem o fascismo, em todas as épocas.
De
olho no eleitorado evangélico, Bolsonaro, que se diz católico fervoroso, foi
batizado nas águas do rio Jordão, em Israel, no dia 12 de maio de 2016, pelo
pastor Everaldo Dias Pereira, um dos líderes da Assembleia de Deus e presidente
do PSC (Partido Social Cristão), ao qual o deputado pertencia até agosto do ano
passado – agora mudou-se para o PSL (Partido Social Liberal), décimo partido ao
qual se filia. Tendo como principal bandeira de sua campanha a lisura
parlamentar e a honestidade pessoal, o patrimônio de Bolsonaro e de seus três
filhos, todos políticos, multiplicou-se e hoje alcança R$ 15 milhões,
distribuídos em treze imóveis em áreas valorizadas do Rio de Janeiro e
Brasília, segundo levantamento da Folha de S. Paulo.
Mas,
quem é e quais são as opiniões de Jair Bolsonaro, esse homem que pode vir a
governar o Brasil a partir de 1° de janeiro de 2019? Deixemos que ele mesmo
exponha alguns tostões do seu pensamento.
Democracia
-
“Se fosse eleito, não há a menor dúvida, daria golpe no mesmo dia. Já que é o
presidente que manda, faz logo uma ditadura”. (23-05-1999 – Programa Câmera
Aberta, TV Bandeirantes)
-
“Através do voto, não vai se mudar nada neste país. Só vai mudar, infelizmente,
quando nós partirmos para uma guerra civil. E fazendo um trabalho que o regime
militar não fez: matando uns 30 mil marginais”. (23-05-1999 – Programa Câmera
Aberta, TV Bandeirantes)
Impostos
-
“Bobos somos nós, que estamos pagando impostos. Inclusive, conselho meu, e eu
faço: Eu sonego tudo o que for possível. Se eu puder não pagar imposto, eu não
pago”. (23-05-1999 – Programa Câmera Aberta, TV Bandeirantes)
-
“Quem hoje em dia e no passado nunca se indignou com a sua carga tributária?
Hoje o povo, como um todo, só não sonega o que não pode. Eu, representando o
povo, desabafei naquele momento isso”. (11/01/2018 – Folha de S. Paulo)
Mulheres
-
“Tudo que as bichas têm a oferecer, as mulheres têm e é melhor”. (04-04-2011,
Programa CQC, TV Bandeirantes)
-
“Eu tenho pena do empresário no Brasil, porque é uma desgraça você ser patrão
no nosso país, com tantos direitos trabalhistas. Entre um homem e uma mulher
jovem, o que o empresário pensa? ‘Poxa, essa mulher tá com aliança no dedo,
daqui a pouco engravida, seis meses de licença-maternidade...’ Quem que vai
pagar a conta? O empregador. Quando ela voltar, vai ter mais um mês de férias,
ou seja, ela trabalhou cinco meses em um ano. Por isso que o cara paga menos
para a mulher!". (10-12-2014, Rádio Gaúcha / Zero Hora)
-
“Eu tenho cinco filhos. Foram quatro homens, aí no quinto eu dei uma fraquejada
e veio uma mulher”. (03-04-2017 – Clube Hebraica, Rio de Janeiro)
-
“O dinheiro do auxílio-moradia eu usava para comer gente”. (11-01-2018, Folha
de S. Paulo)
Afrodescendentes
-
“Eu fui num quilombo. O afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Não
fazem nada. Acho que nem pra procriar ele serve mais”. (03-04-2017 – Clube
Hebraica, Rio de Janeiro)
Cotas raciais
-
“Sou contra as cotas raciais, porque todos nós somos iguais perante à lei. A
Constituição diz que o acesso ao terceiro grau é pelo mérito. E não existe esse
negócio de política afirmativa não. Quem usa cota, no meu entender, está
assinando embaixo que é incompetente. Eu não entraria num avião pilotado por um
cotista. Nem aceitaria ser operado por um médico cotista”. (04-04-2012 –
Programa CQC, TV Bandeirantes)
Tortura
–
“Eu sou favorável à tortura”. (23-05-1999 – Programa Câmera Aberta, TV
Bandeirantes)
-
“Pela memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ulstra, o pavor de Dilma
Rousseff (...) o meu voto é sim pelo impeachment” (17-04-2016 – Votação do
impeachment da presidente Dilma Rousseff. O coronel em questão é conhecido por
ser um dos maiores torturadores da época da ditadura militar)
-
“O erro da ditadura foi torturar e não matar”. (08-07-2016 - Programa Pânico,
Rádio Jovem Pan FM)
Questão de
gênero
-
“P: Tem algum homossexual na família? R: Graças a Deus, não. Eu desconheço. Se
tivesse, nem quero pensar”. (14-02-2000 - Isto é Gente)
-
“P: O que pensa sobre a união civil entre pessoas do mesmo sexo? R: Eu sou
contra. Não posso admitir abrir a porta do meu apartamento e topar com um casal
gay se despedindo com beijo na boca, e meu filho assistindo a isso”.
(14-02-2000 - Isto é Gente)
-
“P: O que você faria se tivesse um filho gay? R: Isso nem passa pela minha
cabeça, porque eu dei uma boa educação. Fui um pai presente, então não corro
esse risco”. (04-04-2011 – Programa CQC, TV Bandeirantes)
Pena de morte
-
“Eu sou favorável à pena de morte”. (14-02-2000 - Isto é Gente)
-
“Acho que o fuzilamento é uma coisa até honrosa para certas pessoas”. (14-02-2000
- Isto é Gente)
Segurança
pública
-
“Eu acho que a polícia brasileira tinha que matar é mais. Violência se combate
com violência”. (05-10-2015 – Vídeo)
-
“Policial que não mata, não é policial”. (27-11-2017, O Globo)
Se
for presidente
-
“Se eu um dia tiver o mandato de presidente, o pessoal da Anistia Internacional
não vai mais interferir na vida interna do nosso país”. (05-10-2015 - Vídeo)
-
“Para ministro da Educação vai ser convidado um general que já tenha um comando
de colégio militar ou um civil que queira realmente botar ordem na casa. Botar
um ponto final na ideologia de gênero, na questão de doutrinação na escola”.
(20-03-2017 – Programa The Noite, SBT)
-
“Se eu chegar lá, não vai ter dinheiro pra ONG. Esses inúteis vão ter que
trabalhar. No que depender de mim, todo cidadão vai ter uma arma de fogo dentro
de casa. Não vai ter um centímetro demarcado para reserva indígena ou
quilombola”. (03-04-2017 – Clube Hebraica, Rio de Janeiro)
-
“Colocaria vários militares nos ministérios. O militar, até pela sua formação,
você dá uma ordem pra ele, ele cumpre ou retorna e diz porque não pode
cumpri-la. A gente precisa de hierarquia e disciplina para alcançarmos a ordem
e o progresso”. (10-06-2017 – Show Tube).
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