0
A estrela que irradia fé e esperança
Posted by Cottidianos
on
00:09
Terça-feira,
12 de novembro
“Quando
chega o Natal eu também choro
É
que nunca um presente eu ganhei
Se
Papai Noel nâo sabe onde moro
Nem
também meu endereço eu mesmo sei”
(Menino de
Rua – Jorge de Altinho)
Eles
andam por aí, pelas ruas da cidade. Sujos, maltrapilhos, abandonados. Peças de
engrenagem de um sistema que os rejeitou. Se, pelo menos, houvesse, por parte
do público, políticas que, como uma mão redentora e salvadora, os tirasse da
miséria, ainda haveria para eles um pouco de luz em meio às trevas. Um novo
recomeço.
Não.
Não falo de utopias. Nem entenda o leitor assim. Não estou a dizer asneiras. Seria
possível sim, colocar um pouco de cor nas telas da vida de quem só enxergar na
tela da própria vida, uma pintura cinzenta, borrada, que nem dá pra dizer que é
surreal de tão feia e desarmônica que é.
Seria
perfeitamente possível se milhares, milhões, bilhões de dólares não saíssem,
sorrateiramente, dos cofres públicos e fossem parar em cuecas, meias,
apartamentos, paraísos suíços, e outros mais que há por aí. Seria perfeitamente
possível trazer harmonia e restituir a dignidade de muitos brasileiros e
brasileiras que vagam pelas ruas de nossas cidades, se, na lavanderia da
corrupção, o dinheiro não fosse lavado, esfregado, e disfarçado em vinhos, anéis
e outras joias preciosas, e guardados nos porões de políticos, empresários, e
funcionários públicos, e até mesmo cidadãos comuns que amam e veneram a
corrupção.
Esses
sem rumo andam por aí. Em qualquer lugar das grandes cidades. Nas marquises,
nas calçadas, pontes e viadutos. Não tem nome. Tornam-se perante a sociedade, anônimos.
Essa
situação não é privilégio apenas do Brasil, não. Em todos os lugares, nos
países mais desenvolvidos e nos menos desenvolvidos, há pessoas, seres humanos,
sendo cuspidos pelo sistema por não produzirem, por gerarem lucro e riqueza.
São coisas, peças, qualquer coisa, menos cidadãos.
Ilustro
o que acaba de ser dito com a canção de protesto americana, chamada Deportee
(Plane Wreck at Los Gatos). Bela e triste canção de autoria de Woody Guthrie,
cantor e compositor americano de folk music. A letra da música narra um
acidente aereo, ocorrido próximo a Los Gatos Canion, que segundo o Wikipédia
Brasil, fica situado próximo a Coalinga, Califórnia, no Condado de Fresno, EUA.
O drama
descrito na canção é de um grupo de 48 trabalhadores agrícolas que estavam
sendo deportados da Califórnia e enviados de volta ao México. Junto com o grupo
estavam também quatro americanos. O terrível acidente aconteceu em 29 janeiro
de 1948 vitimando a todos.
“Seiscentos
quilômetros até a fronteira mexicana. Eles perseguem-nos como ladrões, como
bandidos, como ladrões”. Quando a notícia passa a circular nas rádios, o grupo
de trabalhadores também não recebe nomes. Como se não fossem seres humanos. A rádio
apenas anuncia que um grupo de deportados foi vítima do acidente aéreo. Ao subir
no avião eles perderam a identidade e passaram a ser apenas “deportados”.
Voltando
às ruas do Brasil.
Foi
em um sábado. Mais precisamente no último dia 09. Era noite, e o lindo Parque
do Ibirapuera, em São Paulo, recebia visitantes que, além de desfrutar das
benesses que o parque oferece, também se divertiam com a bela árvore de Natal
montada no local.
Em
meio à multidão, também vagava uma sem nome e sem lar. Estava grávida e sentia
as dores do parto. O novo ser nasceria a qualquer minuto. Ela não tinha plano
de saúde, nem qualquer auxílio do estado. Tiremos da mulher a condição de estatística
e lhe coloquemos na condição de ser humano, e pensemos no abandono, que sentia
aquela mulher. Será que visualizaria algum futuro para sua criança?
Finalmente,
depois de percorrer tantas estribarias, e tantas grutas e manjedouras, a mulher
foi dar à luz ao recém-nascido perto da grande, colorida, e iluminada árvore de
Natal. O choro de um menino varou à noite. E encontro o choro do menino Jesus
deitado na manjedoura, velado por sua mãe Maria, e seu pai, José. Terna cena. Doce
drama.
Felizmente,
três soldados, e um cabo do Batalhão de Trânsito da PM, que faziam o
patrulhamento de segurança da árvore, foram avisados por pessoas que visitavam
o local, e vieram em socorro da mulher e da criança, realizando o parto. Uma
soldado feminina que fazia parte do grupo fez os trabalhos de parto e foi tudo
bem. Mãe e filho passam bem.
Esta
história faz lembrar a história de um mulher grávida e de um homem que, há mais
de 2000 anos, perambulavam pelos arredores da Judeia, em busca de um lugar para
que ela pudesse dar à luz. Chamavam-se José e Maria.
Tiremos
dos dois a condição divina que lhes é atribuída pelos livros sagrados, e lhes
vistamos com a roupa de humanidade, gente de carne e osso, que sonha, que
sofre, e que tem esperanças. Enfim, não encontrando lugares nas hospedarias,
foram parar em um manjedoura, e, em meio às palhas e aos animais, o choro de um
menino varou à noite.
Tiremos
também do menino a condição divina e sintamos o drama de um parto em meio à
noite, à escuridão, e ao abandono da sociedade. Não fosse a companhia dos
pastores que por lá estavam, a cena seria ainda mais melancólica. É certo que a
estrela iluminava àquela noite, como acompanhou os passos do menino pela vida
afora.
E quando
a estrela brilha sobre aqueles que acreditam, apesar das dificuldades, dos
cálices amargos, das chibatadas, cuspidas na cara, do calvário, dos pregos, e
da cruz, sempre haverá esperanças de vitória sobre as injustiças.
Postar um comentário