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A vitória comprada de Michel Temer
Posted by Cottidianos
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00:09
Sexta-feira,
04 de agosto
Quem
não se lembra do famoso apresentador de televisão, Silvio Santos, jogando
dinheiro para plateia, jogando aviões feitos com notas de dinheiro, e gritando:
“Quem quer dinheiro?” Era uma verdadeira farra a interação do apresentador com
a plateia, ávida por pegar algumas das desejadas notinhas. Os acontecimentos
dos últimos dias nos lembraram do famoso apresentador e do quadro de seu
programa que tinha por nome: Quem quer dinheiro.
Na
noite de quarta-feira (02), por 263 votos contra 227, a Câmara dos Deputados,
rejeitou a denúncia contra o presidente Michel Temer, por corrupção passiva,
apresentada pela Procuradoria Geral da República. E com isso tirou a cabeça de
Temer da forca. Pelo menos por enquanto, pois outras denúncias ainda podem ser apresentadas
contra o digníssimo mandatário da nação.
Dos
513 deputados, participaram da votação 492. A favor do relatório, que
recomendava a rejeição da denúncia, elaborado pelo deputado Paulo Abi-Ackel
(PSDB-MG), votaram 263 deputados a favor, e 227 contra. 19 deputados estiveram
ausentes, e dois se abstiveram. O resultado
livrou o presidente de ser afastado por 180 dias até que a denúncia fosse apurada.
Temer
não se livrou de todo desse imbróglio. A denúncia fica suspensa até 31 de
dezembro de 2018, quando da conclusão do mandato. Digamos que é um governo que
não governará tranquilo. Primeiro porque outra denúncia pode ser apresentada por
Rodrigo Janot, procurador-geral, por obstrução de justiça e organização
criminosa.
É
impressionante a força com que o governo partiu para cima dos deputados, usando
a máquina administrativa, para barrar uma denúncia. Não era nem uma condenação.
O que é isso senão uma confissão de culpa, não querer a todo custo, ser, sequer
investigado?
Qual
a melhor arma para quem não tem nada a temer? Ora, não é a verdade? Quem é
acusado de algum ilícito não abre o jogo e mostra que não tem nada a esconder?
Temer
saiu-se vitorioso. Não daquelas vitórias que dão orgulho ao vencedor, mas uma
vitória comprada. E vitória comprada é vitória, e ao mesmo tempo não é. Na verdade,
é mais vergonha que triunfo.
Desde
o momento em que a denúncia foi apresentada por Janot, perante o Supremo
Tribunal Federal, na segunda-feira, 26 de junho, o governo armou-se com unhas e
dentes para manter-se no cargo. Segundo Janot, Michel Temer se valeu do cargo
para receber vantagem indevida de R$ 500 mil, junto com seu assessor, o
ex-deputado Rocha Loures.
O
dinheiro fazia parte de um acerto de propina do presidente e de seu assessor,
com os donos da JBS, no valor de R$ 38 milhões, dos quais foi paga a primeira
parcela. Rocha Loures foi filmado recebendo o dinheiro, e transportando-o em
uma mala.
Da
apresentação da denúncia até quando ela foi rejeitada pela Câmara, foram
muitos os encontros abertos e secretos, conversas, conchavos, conluios,
promessas de cargos, e dinheiro, muito dinheiro distribuído entre os deputados
em emendas parlamentares. Só em julho, R$ 2 bilhões vazaram dos cofres
públicos. Isso em um momento em que as contas do governo vão de mal a pior, e
ele sacrifica a população com aumento de impostos e tributos.
No
plenário, da Câmara, momentos antes da votação, havia emissários do governo
comprando parlamentares. Dez ministros do governo foram exonerados,
momentaneamente, para retornarem aos seus cargos na Câmara e votarem a favor do
governo, em mais uma manobra. Após essa manobra, os deputados voltaram aos seus
cargos nos ministérios.
Também
em um momento em que se diz que a Previdência Social é deficitária e grande
vilã, o governo deu aos ruralistas um refinanciamento dos sonhos. Temer deu a
oportunidade aos produtores e empresários do setor do agronegócio, de quitarem
suas dívidas a preço de banana, mas daquelas bananas bem baratinhas mesmo.
Já
este ano, os que fazem esse setor acontecer, poderão pagar de entrada o equivalente
a 4% do total de suas dívidas. Essa entrada pode ser dividida em até quatro
vezes, entre os meses de setembro e dezembro. Cumprida essa primeira parte,
eles poderão, a partir do ano que vem, dividirem o restante da dívida em até
176 prestações mensais, o que equivale a 14 anos e sete meses.
Bom
negócio para os produtores e empresários? Excelente. Eles não vão pagar juro
nenhum, e ainda terão 25% de descontos nas multas, caso existam. Sendo a dívida
dos que movimentam o setor do agronegócio de R$ 17 bilhões, noves fora zero, o
governo deixa de arrecadar R$ 5, 4 bilhões em 3 anos.
Como
os participantes do Programa Silvio Santos caíam em cima das notas de dinheiro
feitas aviõezinhos e jogadas à plateia, os deputados caíram em cima de tanto
dinheiro distribuído pelo governo sem nenhuma cerimônia.
E
voltaram, mais uma vez, às costas para o povo brasileiro, ignorando complemente
a vontade deste. Antes da votação, o Ibope fez uma pesquisa na qual foi
revelado que 81% dos brasileiros eram a favor de que a denúncia contra Temer
por corrupção passiva fosse apurada. Os parlamentares tornaram-se cúmplices de
um esquema criminoso que tem sangrado os cofres públicos brasileiros, e tem feito
sofrer a população.
Era
precisar justificar a audácia de ignorar o desejo da imensa maioria do povo
brasileiro. E eles usaram como desculpas o fato de que era preciso manter o
presidente no governo para, com isso, manter a estabilidade econômica, e também
para aprovar as reformas propostas pelo governo. Outros disseram que o presidente
deveria ser investigado apenas após o termino do mandato. Os petistas também
deram sua palavra a favor do prosseguimento da denúncia. Ok. Coisa válida, mas
que moral tem os petistas para fazer discursos contra a corrupção, sendo que
foi sob o comando do partido que a corrupção se alastrou pelo Brasil de forma
mais veemente?
Como
temos visto, o governo Temer é frio, calculista, e não medirá esforços em impor
suas medidas, ainda que elas sejam muito impopulares, e caminhem na direção
contrário àquela da maioria dos brasileiros. Isso implica, inclusive, em
atrapalhar, colocar toda sorte de empecilhos e obstáculos para barrar a
Operação Lava Jato.
O
governo venceu mais uma batalha. Uma batalha que custou muito caro aos cofres
públicos, cofres públicos estes que operam no vermelho. Os deputados, de certo
modo, anistiaram o presidente, e até 2018, se nada for feito, darão um jeito de
votar alguma emenda constitucional que anistie crimes de corrupção, os dele e
os do presidente.
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