Onde sobram ataques, faltam propostas
Terça-feira,
18 de outubro
“Corria e viajava era sensacional
A
vida em duas rodas
Era
tudo que ele sempre quis
Vital
passou a se sentir total
Com
seu sonho de metal
Prezados
leitores e leitoras”
(Vital e sua Moto – Paralamas do Sucesso)
Prezados
leitores e leitoras,
Aqui
estamos nós para mais um texto sobre política, em pleno andamento de uma
campanha eleitoral acirradíssima.
Falemos,
em primeiro lugar do debate que ocorreu no domingo, 16, e foi transmitido pela
rede Bandeirantes, em parceria com a TV Cultura, Uol, jornal Folha de São
Paulo, Google e o Youtube. O evento teve lugar no estúdio principal da Band, em
São Paulo.
Para
o debate deste segundo turno a Bandeirantes, junto com o pool de emissoras que
o transmitiram testaram um novo formato, que agradou a todos: candidatos e
público. Finalmente, Lula e Bolsonaro se enfrentaram em um duelo histórico em
frente às câmaras de TV, pois nos debates do primeiro turno, não houve esse
embate direto por causa do número de participantes, e pelo próprio formato dos
debates. Depois de tantos ataques e golpes baixos de ambos os lados nas redes
sociais, esperava-se que os estúdios da Band fossem pegar fogo quando os dois
estivessem frente à frente.
Ataques
e acusações ocorreram de ambos, é verdade, mas os candidatos se mantiveram
dentro de um certo nível de civilidade, mesmo tendo ficado lado a lado, ou face
a face, em diversos momentos.
Como
sempre, as propostas para o futuro da nação, passaram pela exposição dos
candidatos, de uma forma bem tímida, quase sem serem notadas. Os dois candidatos
se ativeram mais a exaltar feitos de seus governos do que apresentar projetos
futuros.
Houve
vencedor? Digamos que houve empate. Um empate que favorece o Lula uma vez que
ele precisa manter votos e Bolsonaro precisa conquista-los. Lula se saiu bem no
primeiro bloco, no qual o tema predominante foi a pandemia, e sabemos bem como
Bolsonaro conduziu pandemia. Também foram puxados para a conversa temas como
educação e inclusão das classes menos favorecidas nos meios digitais.
No
bloco em que os jornalistas fizeram perguntas, os candidatos fugiram das
perguntas como peixe mussum — um peixe de água doce que precisa muita
habilidade para pegar pois ele escorrega das mãos feito sabão. Os candidatos
pegaram carona nas perguntas dos profissionais de impressa para se atacarem
mutuamente.
Veio
o terceiro bloco, e, com o tema corrupção, Bolsonaro dominou esse round. Lula
não administrou bem o tempo, deixando cinco minutos de sobra para Bolsonaro
falar o que ele quisesse. No bloco final, destinado as considerações finais,
Lula e Bolsonaro falaram para os seus públicos. Bolsonaro falando de ideologia
de gênero, armas, combate ao comunismo – Como se estivéssemos ainda na década
de 60, e Lula falando de inclusão e programas sociais.
Um
assunto que o público estava esperando que fosse abordado por Lula no debate
foi um vídeo que surgiu, nos dias que antecederam o evento. Na sexta-feira, 14,
o presidente, Jair Bolsonaro, deu uma entrevista para um podcast no qual falava
do encontro com umas adolescentes venezuelanas. Diz que pintou um clima e que,
ao entrar na casa, delas viu que tinham mais algumas meninas se arrumando. Na
conversa ele insinua que elas estavam se preparando para fazer programas.
“Eu estava em Brasília, na comunidade de São
Sebastião, se eu não me engano, em um sábado de moto [...] Parei a moto em uma
esquina, tirei o capacete, e olhei umas menininhas. Três, quatro, bonitas, de
14, 15 anos, arrumadinhas, num sábado, em uma comunidade, e vi que eram meio
parecidas. Pintou um clima, voltei. 'Posso entrar na sua casa?' Entrei. Tinha
umas 15, 20 meninas, sábado de manhã, se arrumando, todas venezuelanas. E eu
pergunto: meninas bonitinhas de 14, 15 anos, se arrumando no sábado para quê? Ganhar
a vida”, disse o presidente.
O
vídeo viralizou nas redes, recebeu críticas de adversários por Bolsonaro dizer
que pintou um clima entre ele e as meninas. A equipe do candidato Lula chegou a
usar esse vídeo na propaganda eleitoral, mas o ministro Alexandre de Moraes
pediu que a peça fosse retirada do horário eleitoral gratuito.
O
vídeo incomodou tanto que Bolsonaro fez uma live na madrugada de domingo para
explicar o que havia acontecido, contou a versão dele dele, mas não conseguiu
explicar a expressão “pintou um clima”.
A
dona da casa onde Bolsonaro encontrou as meninas, disse, posteriormente, que na
casa é desenvolvido um programa social que busca resgatar a autoestima de
refugiadas venezuelanas, através do cuidado com o corpo, maquiagem, e essas
coisas que fazem parte do universo da vaidade feminina.
Nesta
terça-feira, Bolsonaro gravou um vídeo ao lado da primeira dama Michelle
Bolsonaro para tentar explicar que não associou as venezuelanas à prostituição.
No vídeo, Bolsonaro se desculpa pelo episódio. Pensavema ter enterrado o
assunto com a proibição de Alexandre de Moraes e com esse pedido de perdão, mas
eis que surgem novos vídeos, com Bolsonaro falando das mesmas meninas, e sobre
o mesmo assunto.
Nesses
novos vídeos divulgados por Janja, mulher de Lula, Bolsonaro conta mesma
história, dando ao fato a mesma conotação: a de que as meninas venezuelanas
estariam se prostituindo. No dia 12 de setembro a um podcast ele declarava: “Eu desci da moto. 'Posso entrar?'. Entrei.
Tinha umas 15 meninas dessa faixa etária, 14, 15, 16 anos. Todas muito bem
arrumadas. Tinham tomado banho, estavam fazendo o cabelo. Venezuelanas. Estavam
se arrumando para quê? Alguém tem ideia? Quer que eu fale? Não vou falar...
Para fazer programa. Vocês acham que elas queriam fazer isso? Qual era a fonte
de sobrevivência delas? Essa. ”
Em
maio, em um evento da Associação Paulista de Supermercados, surge a mesma história:
“Eu estive no meio do povo desde quando
apareceu o covid. Sem máscara. A imprensa: ‘Oh, sem máscara’. É fácil ficar
dentro do Alvorada com toda a mordomia, um milhão de latas de leite condensado
lá dentro e vendo o povo se explodir lá fora. Se eu não fizesse isso, não
saberia como o povo tá vivendo. Fui para dentro da periferia de Brasília de
motocicleta. Entrei numa república de venezuelanas sábado à tarde, dá pra
imaginar, pessoal. Sábado à tarde, eu vejo, paro a moto, olho para trás e tem
umas meninas de 13, 14 anos, arrumadinhas. Me surpreendeu. Eu voltei. Falei
para o ajudante de ordem: ‘Abre uma live’. Tinha umas vinte venezuelanas se
arrumando lá dentro. Meninas bonitas de 14, 15 anos, se arrumando para quê? Se
arrumando sábado à tarde para quê? É isso que nós queremos para nossas filhas e
netas”, disse o presidente na ocasião.
Porém,
esse desprezo pelos pobres e pelas minorias é parte da personalidade de
Bolsonaro. Na quarta-feira, 12, Lula foi à favela do Complexo do Alemão, no Rio
de Janeiro. Usou um boné que trazia as iniciais CPX, abreviatura do nome da
favela. Imediatamente, as redes sociais bolsonaristas pipocaram com as
inscrições do boné usado por Lula, dizendo que se tratava de “Cupincha”, e que
era um termo usado pelo tráfico. Tudo mentira.
No
domingo, durante o debate, Bolsonaro disse para Lula que ele estava na favela
no meio de traficantes. “Seu Lula,
amizade com bandido. Eu conheço o Rio de Janeiro. O senhor teve atualmente no Complexo do Salgueiro, não teve um policial
ao seu lado, só traficante. Tanto é verdade a sua afinidade com traficantes e
com bandidos, que nos presídios do Brasil, a cada cinco votos, o senhor teve
quatro votos”, disse o presidente, desconsiderando que a visita de Lula à
comunidade foi organizada por entidades e movimentos sociais, e que nas favelas
do Rio há gente honesta e trabalhadora.
À
fala de Bolsonaro Lula respondeu: “Os
bandidos o senhor sabe onde estavam. Tinha um vizinho seu que tinha 100 armas
dentro de casa. Esse não era do Complexo do Alemão. Esse quem sabe morava num
apartamento na avenida Copacabana. É acha que bandido está só no lugar dos
pobres? Os grandes bandidos estão no lugar dos ricos, os pobres são
trabalhadores”.
Este blog gostaria de não ser tão repetitivo e falar de propostas para a fome, o desemprego, a educação, mas, como dito acima, os candidatos se esquecem deste ponto fundamental do programa de qualquer governo.
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