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Perigoso extremismo

Posted by Cottidianos on 00:21

Terça-feira, 19 de julho


Muito recentemente o mundo se viu assustado e espantado por um vírus chamado SARs-Cov2, mais popularmente conhecido por coronavírus. E não é para menos. No mundo todo a doença já matou mais de 6 milhões de pessoas desde o seu início em fins de dezembro de 2019.

Os cientistas, numa corrida desesperada contra o tempo, em tempo recorde, produziram uma vacina que ajudou a conter o vírus. Os cientistas produziam a vacina de um lado, e de outro, havia muita gente mal-intencionada, produzindo fake news contra a vacina. Enfim venceu o bem, venceu a ciência.

Porém, é sempre bom ressaltar, ainda não nos livramos do vírus. Muita gente ainda continua morrendo de covid-19, mundo afora. No Brasil, a média móvel de mortes para os últimos sete dias é de 248. É muito pouco diante da situação crítica que já enfrentamos, mas ainda é uma tragédia se considerarmos que são 248 vidas humanas que se vão a cada dia por causa do coronavírus.

É como se um avião, lotado de passageiros, caísse todos os dias no Brasil. Isso não seria normal, assim como não devemos normalizar a média móvel de mortes da covid. Mas, enfim, deu uma melhorada. No pico da pandemia era como se cinco aviões caíssem por dia. Melhoramos muito nesse sentido, mais ainda não vencemos a guerra.

Quando o vírus vem da natureza, por mais ameaçador que ele seja, os cientistas dão uma de super-herói, e conseguem dar um jeito, inventar um remédio, uma vacina, como é o caso da doença que falamos, e de tantas outras que já vitimaram a raça humana em diferentes períodos da história.

Mas, e quando a doença não vem da natureza, quando a doença está na sociedade, ou melhor, quando a doença está na cabeça de alguns indivíduos que compõem a sociedade. O que fazer quando a própria sociedade se torna o próprio vírus.

O fato caros leitores e leitoras é que vivemos numa sociedade doente, mentalmente doente, com alguns de seus indivíduos atuando como vírus a espalhar ódio, violência, preconceito, intolerância, seja de cunho religioso, racial, sexual, enfim, o próprio fato de ser ou pensar diferente já é suficiente para se tornar alvos implacáveis desses “vírus”.

Recentemente os brasileiros se depararam com episódios de violência e brutalidade que deixou a todos atordoados, perplexos.

Falo do caso de médico anestesista que estuprava as pacientes, durante o parto, e do petista assassinado por um bolsonarista quando celebrava seu aniversário de cinquenta anos. Os fatos já foram amplamente noticiados pela mídia, mas não poderia deixar de abordar esse assunto aqui.

Já era madrugada de domingo, 10, quando a delegada Bárbara Lomba, e outros policiais que com ela estavam, entraram em uma das salas do Hospital da Mulher Heloneida Studart, em Vilar dos Teles, São João do Meriti, munícipio da Baixada Fluminense, Rio de Janeiro.

Cumpriam mais uma missão: prender em flagrante o médico anestesista, Giovanni Quintela Bezerra, 32 anos. A delegada não demonstra, mas, interiormente está muito abalada — como ficariam abalados os brasileiros após o fato se tornar público — com o crime cometido pelo acusado. Este, se mostra surpreso com a prisão, e também por ouvir a delegada dizer que há um vídeo provando as acusações. Ele põe as mãos para trás. Uma algema é colocada em seus pulsos. Um policial o conduz à viatura que o levaria à prisão.

O fato deve ter sido ainda mais impactante, por ser ela, Barbara Lomba, filha de um casal de médicos.

Terminava ali uma carreira de sucesso de um jovem médico anestesista, de classe média alta, filho de médico obstetra, morador da Barra da Tijuca, frequentador assíduo de academia, e que gostava de se exibir nas redes sociais.

Giovanini havia se formado em 2017 e, desde então, dava plantões em diversos hospitais públicos e privados do Rio. O motivo da prisão em flagrante de Giovanni: Funcionários do hospital deixaram o celular escondido dentro de um armário, e conseguiram gravar imagens dele colocando o pênis na boca de uma paciente durante o parto que a equipe médica estava realizando nela. Para facilitar o crime, o anestesista dopou a paciente, muito mais do que o normal.

O médico já havia atuado em outros dois partos no domingo, 10. A equipe de enfermagem já vinha desconfiando do comportamento dele durante as cirurgias, como a quantidade de sedativos que ele usava, e outros comportamentos fora do padrão para um anestesista durante o parto.

A equipe conseguiu, de última hora, trocar a sala de cirurgia, para que fosse possível a gravação. Encontraram uma sala com um pequeno armário com vidro fosco, no qual colocaram o celular, em ângulo que pegasse a atuação de Giovanni. E conseguiram fazer o flagrante.

Ainda na tarde da segunda-feira, 11, o médico foi transferido para o presídio de Benfica, Zona Norte do Rio, onde permanece preso por tempo indeterminado, enquanto se desenvolve a investigação. Quando chegou ao presídio, houve protestos contra o médico pelos presos daquela unidade prisional. Na chegada do novo morador, os presos começaram a bater nas grades das celas.

A delegada quer investigar todos os partos feitos por Giovanni. Ela acredita que ele é criminoso em série. Além das três pacientes nos quais Giovanni atuou no parto no domingo, apareceram outras três que o acusam de estupro nas mesmas circunstâncias, e é possível que novos casos apareçam com o decorrer das investigações.

Pelos depoimentos que foram dados à imprensa por pessoas que conheciam o médico, seja do local onde ele morava, da academia que frequentava, ou colegas que estudaram com ele na faculdade, todos são unânimes em afirmar que ele era uma pessoa reservada, não era de muita conversa, mas que, em nenhum momento demonstrava atitudes suspeitas, e comportamento criminoso.

Outro caso que chocou o país foi o assassinato do Guarda Municipal Marcelo de Arruda, na cidade de Foz do Iguaçu, Rio de Janeiro. Marcelo era petista, tesoureiro do PT na cidade.

Há algum tempo ele vinha planejando a desta de seu aniversário de cinquenta anos. Enfim, chegou o aguardado sábado, dia 09 de julho, o dia tão esperado por ele. Aquele dia foi planejado para ser um dia muito especial.

Como tema para sua festa de aniversário, o Guarda Municipal escolheu o PT e o presidente Lula. Para o local da festa foi alugado as dependências da Aresf, uma associação de funcionários de Itaipu. Também foi encomendada uma decoração toda em vermelho e branco. O bolo de aniversário foi decorado com as mesmas cores, tendo ao centro a estrela do PT.

O dia em que completava seus cinquenta anos já começou com festa logo no café da manhã. Ele ganhou de presente de um amigo, um café da manhã especial em um camping. Mesa farta e muita alegria. Foi esse clima no qual Marcelo, a esposa, e o filhinho de apenas 40 dias de nascido começaram o sábado especial.

A festa estava programada para começar à noite, porém, por volta das 15hs, Marcelo já estava no clube, atarefado, cuidando das coisas na cozinha. Depois chegou Leonardo, 26 anos, o mais velho dos quatro filhos de Marcelo. E lá se foi Leonardo também para a cozinha, preparar o vinagrete o os molhos.

Mas aquele dia que começara e se desenvolvia em perfeita alegria para Marcelo, acabaria em sangue, dor, e tristeza para aquela família.

Em outro ponto da cidade, também em uma festa, estava Jorge Guaranhos, policial penal. Jorge estava em churrasco e os amigos pediram para ele acender a churrasqueira e assar a carne para o pessoal. Com ele, estava mulher e filho recém-nascido. O tempero do churrasco em que o policial estava também era a alegria. Enredos semelhantes que se cruzariam nas trevas daquela noite.

Veio à noite, e com ela os convidados. Pouco a pouco, um a um, eles começaram a chegar. “Será que vai vir todo mundo? ” “Poxa, já passou da hora e os convidados ainda não chegaram”. Esses são pensamentos que se passam na cabeça de todo aniversariante ansioso pela chegada dos convidados. Com Marcelo não era diferente.

Enfim, chegaram todos os amigos que ele convidara. E a coisa foi acontecendo. Muita música, especialmente, os pagodes do grupo Revelação, do qual Marcelo era fã, cerveja, risadas, brincadeiras. Nem todos na festa eram petistas, havia bolsonaristas também. Inclusive irmãos de Marcelo. Umas brincadeiras favoritas era flagrar amigos bolsonaristas junto à símbolos petistas.

A noite também chegou no churrasco onde estava Jorge Guaranhos, policial penal. Um dos convidados que fazia parte da segurança do clube onde Marcelo celebrava, junto à familiares e amigos, seus 50 anos de existência, tinha acesso às câmeras de segurança, e viu que no local estava sendo realizada uma festa com temática do PT. Logo a notícia se espalhou entre os convidados.

Segundo testemunhas, Jorge também viu as imagens, mas segundo testemunhas, não esboçou, nenhuma reação. Ele ficou ali, no churrasco, por mais cerca de uma hora, após isso, saiu, de carro, com a mulher o e filho recém-nascido. Entretanto, em vez de ir para casa, rumou para o clube onde era realizada a festa com tema petista.

O aniversário de Marcelo decorria nesse clima de descontração e alegria quando os que estavam dentro do salão ouviram alguém gritar: “Aqui é Bolsonaro”. Algum dos convidados gritou: “Santo Deus! Mais um bolsonarista chegando atrasado! Vai ver quem é, Marcelo”. Pensando tratar-se de algum dos seus amigos chegando tarde na festa o aniversariante saiu para ver quem era.

Quando Marcelo saiu para fora do salão, viu um estranho passando ao volante, em frente ao clube. No carro do desconhecido tocava a música a qual um dos versos diz: “O Mito chegou, e o Brasil, acordou, a esperança de verdade, olhar de criança. Agora podemos ver um futuro melhor. ” Uma clara referência ao presidente Jair Bolsonaro.

O carro passou, depois voltou e Jorge Guaranhos ficou xingando. Marcelo, diz para ele: “Cara, vai embora. Isso aqui é uma festa particular”. Em seguida, pega um punhado de terra de um vaso de planta que estava próximo e a joga no carro de Jorge.

O policial penal então saca a arma e aponta para Marcelo. A mulher de Marcelo, que também é policial, aparece e tenta acalmar Jorge. Este vai embora, mas, antes de sair promete retornar e fazer uma chacina no local.

Diante, disso, Marcelo, desconfiado, foi até o carro, e pegou a arma dele. E a festa continuou. Pouco tempo depois, Jorge Guaranhos decide voltar à festa. A mulher dele implora para que não faça isso, mas não obtém sucesso. Às 23h40min, ele estaciona o carro, em frente ao clube. Convidados avisam a Marcelo que Guaranhos voltou. O aniversariante carrega a arma e a coloca na cintura.

Pamela, mulher de Marcelo sai para fora e tentar contornar a situação, mostrando sua identidade policial, tentando acalmar o homem irado. Mas os esforços de Pamela são em vão, e começa o tiroteio. Ainda do lado de fora, Gauranhos atira em direção à Marcelo. O tiro atinge o aniversariante, e ele caí.  Em seguida, Guaranhos corre para dentro do clube a atira outras vezes em Marcelo, este mesmo ferido, consegue atirar em Guaranhos, que também cai.

E assim, aquele dia que havia começado como um conto de fadas, termina numa noite como num filme de faroeste: dois homens caídos num salão após um tiroteio.

Marcelo ainda chegou a ser levado ao hospital, mas já chegou sem vida. Jorge Guaranhos está em estado grave, na UTI. Ele teve prisão preventiva decretada na segunda-feira, 11.

A delegada, Camila Cecconello, que conduz o inquérito, conclui o inquérito de forma relâmpago, sem ao menos periciar o celular do assassino, e disse que o crime não havia sido de natureza política. A conclusão do inquérito foi muito criticada tanto pelos advogados de defesa de Marcelo de Arruda, quanto por juristas que analisaram o caso.

Diante dos fatos apresentados, fica fácil, até para um leigo, afirmar que o crime foi, sim, um crime de ódio, um crime político. Se a festa do Marcelo fosse decorada com qualquer outro tema não teria sido motivo de disse-me-disse no churrasco do qual Jorge Guaranhos participava, nem muito menos teria feito com que ele, ao sair de lá, em vez de ir para sua casa, fosse para o clube onde era realizada a festa de Marcelo. Nem teria chegado lá, gritando “Aqui é Bolsonaro”, nem tocando música alusiva ao presidente, Jair Bolsonaro.

 Outro fato nos mostra também sinais da violência na política. Neste sábado, 16, o deputado federal Marcelo Freixo, PSB, pré-candidato ao governo estadual no Rio de Janeiro, fazia uma caminhada, junto com apoiadores. Eles estavam reunidos na Praça Saens Pena, Tijuca, Zona Norte do Rio. Era o ponto de encontro do deputado, naquela manhã.

Estava tudo tranquilo até aparecer por lá o deputado estadual Rodrigo Amorim, PTB. Amorim é bolsonarista. Junto com ele estavam alguns apoiadores. Nesse grupo havia pessoas armadas. Eles partiram para cima do grupo que acompanhava Marcelo Freixo, e os agrediram, empurraram pessoas, e quebraram bandeiras.

Creiam, caros leitores e leitoras, este é para nós, brasileiros, o ano mais difícil e desafiador desde a abertura democrática. Vivemos um clima de violência, e insegurança. Já não há mais partidos e ideologias, há ódio sendo destilado todos os dias, todas as horas, já estamos cansados disso, e de repetir isso.

Em grande parte, a culpa de tudo isso, é do presidente Jair Bolsonaro. Ele é como aqueles seres trevosos que se alimentam de ódio, de vingança, de confusão, e de todas as coisas semelhantes a estas. Não faz outra coisa desde que foi eleito. Antes de ser eleito presidente também já trazia consigo essa essência.

Notem que ele está sempre procurando alguém para agredir. Ele precisa disso. Não vive sem isso. Uma hora é Lula, outra hora o PT, os comunistas, que só existem na cabeça dele e de sua tosca militância, ora é Alexandre de Moraes, outra hora é Fachin.

A bola da vez são as urnas eletrônicas. Todo dia, toda hora, lançando dúvidas sobre o sistema de votação brasileiro, sistema esse que foi quem o elegeu por anos e anos, e que também elegeu seus filhos. Porém, só agora, é que ele percebeu que as urnas não são confiáveis.

A obsessão do presidente beira o ridículo. Por exemplo, nesta segunda, 18, o presidente tem encontro marcado com embaixadores de vários países no Palácio da Alvorada.

Bolsonaro fez para eles uma apresentação sobre as eleições brasileiras. O tom do encontro já havia sido anunciado na live do dia 07 deste mês. “Será um PowerPoint mostrando tudo o que aconteceu nas eleições de 2014, 2018, documentado, bem como essas participações dos nossos ministros do TSE, que são do Supremo, sobre o sistema eleitoral”.

Obviamente, o assunto sendo apresentado do ponto de vista do presidente, é mais uma aberração, uma apresentação de asneiras e tolices aos quais os embaixadores terão de ser submetidos. Faz tempo que o presidente diz que as urnas não são confiáveis, que as eleições de 2018, que o elegeram presidente, foram fraudadas. De acordo com ele, era para ele ter vencido ainda no primeiro turno naquelas eleições.

Entretanto, Bolsonaro nunca apresentou provas do que diz. Para o gado que o segue e que o serve é exatamente isso que importa: que o presidente diga que é as urnas não são confiáveis. Apresentar provas não é importante.

Ora o que é tudo isso senão uma incitação à violência? A que os apoiadores dele façam aqui o que os apoiadores de Trump fizeram nos Estados Unidos ao invadir o Capitólio?


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