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Aberrações de um presidente

Posted by Cottidianos on 00:23

 Terça-feira, 26 de outubro

Vamos celebrar a estupidez humana

A estupidez de todas as nações

O meu país e sua corja de assassinos covardes

Estupradores e ladrões

(Perfeição – Legião Urbana)


                                                     Bolsonaro durante live em 21 de outubro


Ela chegou devastadora no alvorecer da década de 80. Desconhecida, ganhou inicialmente o nome de doença de doença dos 5H, pois suas vítimas eram, predominantemente, hemofílicos, homossexuais, haitianos, heroínômanos (usuários de heroína injetável), e hookers (nome em inglês para as profissionais do sexo). Depois recebeu o nome de HIV (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida).

Um vírus poderoso que pode levar ao desenvolvimento da aids, uma doença que ataca células do sistema imunológico chamadas de os linfócitos T-CD4+, destruindo-as e deixando o organismo vulnerável a qualquer outra doença. O vírus e a doença ceifaram a vida de muita gente de grande talento, como por exemplo, Cazuza, Renato Russo, e Fred Mercury, pois, por ser uma doença nova e com a qual os médicos ainda estavam aprendendo a lidar, e o tratamento ainda era muito incipiente.

Passados 40 anos, apesar de a ciência não ter ainda descoberto a cura para o HIV, o tratamento para os pacientes que contraem o vírus evoluiu bastante. Uma das teorias sobre o surgimento do HIV é a de que ele surgiu de um macaco nas selvas africanas, tendo sido depois transmitido por esses animais para a raça humana.

Ainda mais devastador que o HIV ele chegou ao mundo dos humanos no final de 2019, na província de Wuhan, na China, e igualmente deixou a comunidade científica desnorteada. Os leigos ainda mais. Batizado de coronavírus, o novo vírus, que causa a doença chamada de Covid-19, rapidamente se alastrou pelo mundo todo, ceifando milhões de vidas em todo o planeta.

Dessa vez, porém, os cientistas tiveram que correr contra o tempo para produzir, senão a cura, mas pelo menos uma vacina que fizesse os números de casos e mortes por Covid-19 despencarem. E conseguiram. De um morcego das cavernas de Wuhan veio o vírus que sacudiu o mundo feito um grande terremoto.

Que relação há entre o HIV e o coronavírus além de terem surgido em animais, tendo sido posteriormente transmitidos aos humanos, deixado a comunidade científica louca, e o mundo amedrontado? Nada mais além disso.

Porém, as mentes perversas sempre encontrarão um jeito de estabelecer algum tipo de relação entre os dois vírus mesmo que ela seja fantasiosa, e, nesse caso, além de fantasiosa, criminosa.

Foi o que fez o presidente Jair Bolsonaro, não se sabe o porquê. Se foi para jogar uma nuvem de fumaça sobre o relatório da CPI que o acusa de vários crimes na condução da pandemia, não se sabe se foi para encobrir o preço de botijão de gás, da energia elétrica, dos combustíveis, e dos alimentos que estão nas alturas, enfim, o fato é que na live o presidente, mais uma vez, abriu a boca para proferir aberrações: “Só vou dar notícia, não vou comentar. Já falei sobre isso no passado, apanhei muito…vamos lá: relatórios oficiais do governo do Reino Unido sugerem que os totalmente vacinados… quem são os totalmente vacinados? Aqueles que depois da segunda dose né… 15 dias depois, 15 dias após a segunda dose.. totalmente vacinados…estão desenvolvendo Síndrome da Imunodeficiência Adquirida muito mais rápido do que o previsto. Portanto, leiam a matéria, não vou ler aqui porque posso ter problema com a minha live”, disse ele.

A estapafúrdia declaração foi dada na live de quinta-feira, 21. Mais uma vez usando dados de estudos sem a menor credibilidade, publicados por um site inglês bem ao estilo bolsonarista, desses que são especialistas em publicar fake news e em elaborar teorias da conspiração. O site também já publicou outras notas, notícias fake sobre a vacina.  

É inimaginável que um presidente da República venha a público, dirigindo-se a seus seguidores, através das redes sociais para dizer que pessoas totalmente vacinadas estão desenvolvendo a aids. Reparem, caros leitores e leitoras, que ele, mais uma vez, joga o veneno no ar. Se pegar, pegou.

E do jeito que são os bolsonaristas, réplicas de zumbis ou de robôs, que acreditam em tudo o que o presidente fala, é de apostar que já tem muitos deles por aí, certos que quem toma vacina contra a Covid pode desenvolver a aids. Isso é de uma irresponsabilidade sem tamanho.

Por essas e outras, não tem como chamar o presidente de criminoso. Foi ele quem, no início da pandemia chamou o vírus letal de “gripezinha”. Foi ele quem incentivou o povo a desobedecer às regras de distanciamento social. Também foi ele que disse que grande parte da população brasileira não queria tomar vacina, e as comprou tardiamente depois de muita pressão. Foi esse mesmo irresponsável que criticou o uso de máscaras e todos os outros cuidados a serem tomados para barrar a transmissão do vírus.

Diante de tal aberração dita pelo presidente a comunidade científica logo se levantou para desmentí-lo. Políticos de vários partidos também usaram suas redes sociais para criticá-lo. “É gravíssimo o presidente da República, por qualquer forma, tentar atrapalhar o processo de vacinação dos brasileiros. Bolsonaro faz isso há muito tempo. A última delas é um absurdo, um atentado, tentar atribuir à vacinação a possibilidade de adquirir alguma doença como a Aids. É preciso que o Judiciário e o próprio Congresso se posicione, porque um presidente da República não pode ser tratado como uma criança irresponsável”, disse o senador Alessandro Vieira, do Cidadania.

As redes socias dessa vez não cruzaram os braços e agiram fortemente contra a fala do presidente. No domingo, o Facebook tirou do ar a nociva live. No fim da tarde desta segunda, o Youtube decidiu suspender por uma semana o canal do presidente. O Instagram também derrubou o vídeo.  

A atitude das redes sociais ainda foi muito tímida, pois Bolsonaro deveria ser banido das redes sociais, assim como foi banido delas o ex-presidente americano, Donald Trump. Afinal de contas, Bolsonaro e seus asseclas, usam as redes sociais como quem usa o campo para plantar joio em vez de trigo, e o joio que eles plantam é a desinformação e ódio.

Definitivamente, o Brasil não merece um presidente como Jair Bolsonaro. Chamo para encerrar este artigo o ator Wagner Moura, que depois de vários adiamentos, finalmente, se prepara para o lançamento de Marighella, primeiro filme dirigido por ele, e que tem o cantor e ator, Seu Jorge, no papel principal, vivendo o guerrilheiro e escritor Marighella.

Em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, publicada em 23  de outubro Moura fala do filme e do Brasil atual.  O jornalista, Leonardo Sanchez, pergunta como Wagner Moura analisa o governo Bolsonaro para além da cultura, ao que Moura responde: Eu costumo dizer que a vitória do Bolsonaro nas eleições foi trágica, mas pedagógica. Esse cortejo de mediocridade que vem atrás dele mostra que o Bolsonaro não é um alien, não veio de Marte. Ele é um personagem profundamente conectado ao esgoto da história brasileira, que nos mostra que o Brasil não é só um país de originalidade, de beleza, de potência, de diversidade, de biodiversidade.

O favor que o Bolsonaro nos fez foi revelar esse outro Brasil, que estava camuflado; foi nos mostrar que nós também somos um país autoritário, violento, racista, de uma elite escrota. O Brasil é um país que nem é mais uma piada internacional. Quando os estrangeiros vêm falar com a gente, eles falam com pena. Agora nós temos que enfrentar isso!”              


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