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500 mil mortes pela Covid... E uma tristeza enorme

Posted by Cottidianos on 23:28

 Domingo, 20 de junho

 



E por falar em saudade 

Onde anda você?

Onde anda os seus olhos

Que a gente não vê

Onde anda esse corpo?

Que me deixou morto

De tanto prazer

E por falar em beleza

Onde anda a canção?

Que se ouvia na noite

Dos bares de então

Onde a gente ficava

Onde a gente se amava

Em total solidão

(Onde Anda Você – Vinícius de Moraes /Toquinho)





 500.000.

Infelizmente não apenas chegamos, como também ultrapassamos a triste marca de 500 mil mortes por Covid-19.

E assim caminhamos para a liderança no número de mortes pela doença no mundo que, atualmente é exercida pelos Estados Unidos. Naquele país já são 601 mil vítimas.

Ocorre que os Estados Unidos estão muito bem na campanha de vacinação de seus concidadãos. Tão bem que até estão doando vacinas para outros países do globo que não dispõem de tanto dinheiro assim para a aquisição das vacinas para imunizar toda a sua população em período desejável.

No Brasil, ao contrário, além de não termos entrado na guerra contra o vírus com a arma certa, a vacina, temos até agora, apenas 11,45% da população vacinada com as duas doses exigidas dos imunizantes que circulam por aqui.

Tivemos também o azar de ter no comando de um dos piores momentos da história do país um homem sádico e egoísta que, ao invés de se unir à ciência para combater o vírus, desdenhou tanto da pandemia quanto da ciência.

De tudo ele já falou um pouco. Disse que o vírus era apenas uma “gripezinha”, que a imprensa estava superdimensionando a doença, que a sociedade estava fazendo uma “histeria” em relação ao assunto. Ele também disse: “E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre”.

O presidente também desdenhou daqueles que procuravam seguir os conselhos da OMS, dizendo que vivíamos em um país de “maricas” por causa das pessoas ficavam em casa durante o lockdown. Deu risada e fez festa, enquanto o país chorava seus mortos. Agora, no momento presente, enquanto vários políticos, entidades sociais, e outros diversos setores da sociedade divulgaram nota de pesar por essa quantidade imensa de brasileiros mortos, o presidente preferiu silenciar.

No dia em que o Brasil atingiu a triste marca, ao invés de uma nota de pesar e de solidariedade ao povo brasileiro, o presidente divulgou um vídeo em que elogia o trabalho dos policiais que trabalham na captura do maníaco Lázaro Barbosa, que há mais de 10 dias está sendo intensamente procurado.

O bandido movimenta em grande efetivo de força policial na sua captura. Quase 300 policiais estão envolvidos na busca dele. Eles também usam helicópteros e cães farejadores. Como Lázaro está numa área de fazendas e chácaras, em Cocalzinho, distante cerca de 131 km de Goiânia, Goiás, é fácil para ele se disfarçar entre as árvores, como um camaleão. Enfim, no dia em que o Brasil atinge a marca de meio milhão de mortos pela Covid, o presidente faz elogios aos policiais que atuam nessa operação, e silencia sobre os números da pandemia no Brasil.

Se fosse apenas esse sentimento glacial do presidente, ainda assim seria assustador. Mas os depoimentos da CPI têm mostrado — ainda que as testemunhas ligadas ao governo que já prestaram depoimento tenham mentido mais que Pinóquio — que houve uma intenção de deixar que as pessoas se contaminassem com o vírus.

O plano macabro consistia em pôr em prática no país a tal da imunidade de rebanho, também conhecida como imunidade coletiva. A prática consiste em em fazer com que a população adquira imunidade ao vírus, seja pela vacinação, ou por infecção natural, ou seja, deixar que a população se contamine propositalmente.

Entre as duas opções: a vacinação e a imunidade de rebanho, Bolsonaro resolveu seguir o caminho obscuro e perigoso da imunidade de rebanho. O resultado? Uma tragédia brasileira. O coronavírus, como se sabe, é um vírus totalmente desconhecido. E que consegue rapidamente se reinventar, originado várias mutações.

Dessa raiz equivocada brotaram outras decisões também equivocadas. Os caminhos apontados pela CPI mostram que foi criado, dentro do governo e com aprovação deste, um gabinete paralelo ao ministério da Saúde, que orientava o governo a defender o uso do  kit covid, conjunto de medicamentos sem eficácia comprovada contra a Covid.

Era preciso tudo parecer natural, então o presidente estimulava as aglomerações, causando, ele próprio, essas aglomerações, e criticar as medidas de isolamento social, e o uso de máscaras. Era preciso deixar a população brasileira à mercê do vírus. É como se um líder guiasse seu povo para o precipício.

O governo conseguiu ser ainda mais cruel. Enquanto o mundo corria atrás de vacinas, o governo do presidente, Jair Bolsonaro, as esnobava. Foram dezenas de vezes que as farmacêuticas procuraram o governo para oferecer as vacinas. Praticamente imploraram para que o governo as adquirisse, e muitas vezes, até baixaram os preços. Mas nem assim o governo se convenceu da importância dos imunizantes.

Só foi adquiri-las quando o governo de São Paulo, João Dória, arregaçou as mangas e foi buscar, na China, a Coronovac. E quando as críticas pela falta de vacinas no Brasil ficaram mais fortes.

Fica fácil deduzir que o tal do gabinete das sombras era mais forte que o órgão máximo da saúde no país, o ministério da Saúde, quando percebemos que nenhum dos quatro ministros da Saúde durante a pandemia número absurdo de ocupantes do cargo, visto que estamos em meio a uma situação sanitária gravíssima no Brasil e no mundo — teve autonomia para realizar o trabalho.

Como sabemos o primeiro-ministro a ocupar o cargo, Luiz Henrique Mandetta, deixou o cargo por discordâncias com o governo. O seguinte, Nelson Teich, também fez a mesma coisa. Pazuello, como sabemos, dizendo de um modo bem popularesco, era um “pau mandado” de Bolsonaro. Fazia todas as vontades do chefe. Tanto é que a primeira coisa que fez foi algo que Mandetta e Teich haviam se recusado a fazer: mudar o protocolo de cloroquina e autorizar o medicamento para casos leves de Covid-19.

Pazuello saiu por pressão, principalmente, depois na crise de oxigênio em Manaus, Amazonas. Entrou, Marcelo Queiroga. Queiroga também não tem autonomia para desenvolver seu trabalho. Uma prova de que o gabinete paralelo ainda é muito forte, e que, num assunto tão sério que é a questão da saúde da população brasileira, e principalmente em meio a pandemia, o mais importante para o governo, não é a especialidade do profissional que ocupa um cargo no ministério da Saúde — digo ministério da Saúde, porque estamos falando aqui de saúde, mas isso parece ser uma regra geral em todos os ministérios e níveis de governo — é seu posicionamento político, e não o quão preparado ele seja. Precisa apenas concordar com o que o governo quer. Ao contrário, se o profissional for totalmente despreparado para assumir a função, mas se ele for afinado com as ideias tortas do Bolsonaro, então ele já se capacitou para o cargo.

E aí chegamos a um ponto interessante. A CPI foi formada para investigar os atos e responsabilidades do governo federal na pandemia. E está ficando claro que o governo não teve responsabilidade nenhuma na pandemia. Ao contrário, o governo agiu com enorme irresponsabilidade.

Então, depois que tiveram início os trabalhos da pandemia, parece que Bolsonaro resolveu cometer os crimes de forma explicita. Foram várias as vezes nos últimos dias que ele voltou a carga na defesa de cloroquina, contra o distanciamento social, o uso de máscaras, e até a favor da imunidade de rebanho. E fez isso em lives, discursos em palanques, igrejas evangélicas, entrevistas.

Incrivelmente, depois de todos os relatos da ciência, depois de todas as mortes e sofrimento que a doença provocou no país, na quinta-feira passada, 17, em um live, Bolsonaro produziu prova contra si mesmo. Ele disse: “Todos que já contraíram o vírus estão vacinados. Até de forma mais eficaz que a própria vacina, porque você pegou o vírus para valer. Então, quem pegou o vírus, não se discute, está imunizado”.

Aproveitou a ocasião também para zombar da Coronavac, vacina que foi a nossa tábua de salvação, sem ela o Brasil não teria começado a vacinar em meados de janeiro, e olhem que já começamos atrasados em relação a outros países que saíram na frente. Consequentemente, se não fosse o esforço do governo de São Paulo, em trazer o imunizante para o Brasil, o número de brasileiros mortos pela doença poderia ser bem maior.

Por tudo isso, mesmo estando em uma situação ainda grave em relação à pandemia, o povo voltou às ruas do Brasil neste sábado, 21. E, porque sentiram a responsabilidade na questão das medidas sanitárias, como uso de máscara, com que foi realizado o protesto contra o governo no dia 29 de maio, os protestos deste sábado tiveram maior adesão que o anterior.

O bom disso tudo, é que desta vez, não houve incidentes graves em nenhum lugar do país. Ao contrário do protesto anterior no qual a polícia de Pernambuco agiu com truculência contra manifestantes que protestavam pacificamente.

Se considerarmos que muita gente não vai às ruas por medo do coronavírus, então nos aproximaremos do tamanho do número de brasileiros insatisfeitos com o governo de Jair Bolsonaro.

Semana que passou, Nova York realizou uma queima de fogos de artifícios. Foi lindo ver, ainda que de longe, pelas ondas da TV ou da Internet, os fogos coloridos explodindo, brilhando e fazendo desenhos nos céus nova iorquinos. Explodindo de alegria também estava mesmo era o coração dos nova iorquinos. Não. Não era uma antecipação do Ano Novo. Era, sim, a comemoração de uma vida nova, de uma vitória. Era o anúncio do fim das restrições contra a Covid-19. A medida foi anunciada pelo governador Andrew Cuomo depois que o estado atingiu a marca de 70% de vacinados.

E assim, veremos, gradativamente, essas cenas ocorrerem em outros países mais adiantados na vacinação de seus concidadãos.

Enquanto no Brasil, isso ainda vai demorar a acontecer. Talvez, no final do ano, consigamos atingir um total de 70% de brasileiras e brasileiros vacinados.

A diferença entre os países que comemorarão a vitória sobre o vírus antes de nós, é que eles não navegaram no mar da mediocridade em busca de cloroquina, ivermectina, e semelhantes. Eles correram atrás de vacinas. Outra diferença é que eles não têm líderes sádicos, frios e insensíveis. Os Estados Unidos até tiveram, mas se livraram dele, e a luz voltou a brilhar por lá.


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