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A passos de caranguejo

Posted by Cottidianos on 15:54

 Domingo, 23 de maio



Caranguejos. Eles podem ser encontrados em qualquer região litorânea do planeta. São crustáceos que proporcionam pratos exóticos. Esses pequenos animais andam de modo peculiar. Eles andam para trás ou de lado. Até conseguem andar para frente, mas quando conseguem essa proeza a fazem com grande dificuldade, e meio desajeitados. O caranguejo é, portanto, o mascote perfeito para o Brasil sob o governo Bolsonaro. É assim que o país tem caminhado: para trás, de lado. Até consegue dar um passinho para frente, mas é de modo desastrado.

Isso nos remete a uma matéria publicada no jornal Folha de São Paulo deste domingo, 23. Diz o título da matéria: “Mais miserável, Brasil sob Bolsonaro prepara 'herança maldita”. A matéria destaca três fatores que estão travando o crescimento de nosso país: subemprego, baixa produtividade, e rombos.

Desde a última década o país vinha mostrando de crescimento da informalidade entre os trabalhadores de baixa renda, e para os especialistas essa será um dos principais impedimentos à aceleração do crescimento e ao resgate daqueles brasileiros que, com a pandemia, foram empurrados para a miserabilidade. Isso se deve ao fato de que a economia informal paga, produz, e cresce menos.

A matéria da Folha continua ainda chamando a atenção para o fato de que, até mesmo o trabalho informal ficou prejudicado pela paralisia do setor de serviços, que é responsável por 70% do PIB, e dos empregos, “metade deles, fora da informalidade”.

De acordo com consultoria Tendências, citada na matéria, a crise provocada pela pandemia, empurrou mais gente para as classes D e E, o que travará a recuperação econômica via consumo das famílias, que, até o início da pandemia, vinha desempenhando papel preponderante.

Haveria ainda uma saída para a situação se houvesse movimentação das taxas de investimento e poupança, mas essas, diz a Folha “estão nos menores patamares desde os anos de 1980”.

Nos anos de 1980 e 1990, o Brasil também passou por momentos difíceis, nos quais muitas pessoas foram empurradas para a pobreza extrema, mas naquela época a carga tributária e a dívida pública não estavam tão altas em relação a hoje. Isso impede que se o resgate dos pobres através de programas sociais de transferência de renda como os criados no governo FHC e no governo Lula.

Ouvido pela Folha, Marcelo Neri, diretor da FGV Social, diz que vivemos por aqui uma espécie de “Esgana”, ou seja, o Brasil tem uma carga tributária da Espanha, mas serviços públicos com padrões de Gana. Ele diz que é um paradoxo que o país tenha taxas de pobreza tão elevadas, e serviços públicos de má qualidade, tendo, ao mesmo tempo, carga tributária e dívida pública tão elevadas. Neri, diz ainda que Bolsonaro conseguiu aliar o baixo crescimento e alta desigualdade a um enorme grau de instabilidade socioeconômica. E como a corda sempre arrebenta do lado mais fraco, que sai perdendo nessa história são os mais pobres.

O economista mais otimista ouvido pela Folha, Samuel Pessôa, diz que o Brasil pode reagir positivamente através de um boom nos preços das comodities exportadas pelo Brasil.  Ele diz que no começo dos anos 2.000 foi isso que salvou o país e o ajudou a consertar as contas externas, em um momento em que o real estava bastante desvalorizado.

Mas, nem mesmo as palavras do otimista Samuel Pessôa, economista da FGV-Ibre e colunista da Folha, são tão animadoras assim. “No final, as coisas devem ir se arrumando, mas dentro de nossa mediocridade. O sonho de que o Brasil poderia se tornar algo grande, porém, parece ter desaparecido”. Diz ele, fechando a reportagem.

Diante de tudo isso vemos cair por terra, por completo, o discurso e os argumentos do presidente, Jair Bolsonaro, de que o fundamental em meio à crise do coronavírus é salvar a economia. Se ele tivesse invertido a ordem de prioridades a situação poderia ser outra hoje em dia.

Não há economia saudável que se sustente e se fortaleça quando há uma ameaça real de um vírus mortal, que até agora, nem mesmo os cientistas sabem bem como lidar com ele. Não existe economia que se sustente com uma doença para qual, quase um ano e meio depois do surgimento dela, tudo ainda parece ser novidade, e que já matou quase meio milhão de brasileiros. Vacinas já estão circulando por aí, nos braços das pessoas, em alguns países mais, em outros menos, porém, até mesmo as vacinas são experimentos.

Em um cenário desses não tem jeito: a prioridade é a vida. A prioridade são as pessoas. Entretanto, depois de um ano e meio, o presidente, Jair Bolsonaro, ainda não entendeu a dinâmica da coisa, e continua alardeando o uso da cloroquina como tratamento contra a Covid, e também continua a chamar de ditadores os governadores que adotam as medidas de distanciamento social como forma de conter o vírus. Entretanto, querer que surja algum pensamento evoluído da cabeça do presidente é como querer fazer surgir leite de pedras.

Por aqui, seguimos com os depoimentos na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI)  da Covid, que investiga se houve omissão por parte do governo federal no combate à Covid, e possíveis desvios de recursos federais enviados aos governos estaduais. E o que se tem visto naquela CPI, por parte dos depoentes, é um tremendo festival de mentiras. Acho que nem o famoso filho de Gepeto, o Pinóquio conseguiu tal façanha.

Eu, particularmente, quando vejo aqueles depoimentos, fico pensando: se eles mentem tanto assim, abertamente, em público, para todo o Brasil, imagina então o que esses homens públicos não fazem às escondidas. 



Na terça-feira, foi a vez do ex-ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. O ex-ministro protagonizou vários incidentes diplomáticos que causaram constrangimento com a China, um dos principais parceiros comerciais do Brasil. Ernesto chegou a afirmar, em artigo publicado no blog dele, e de autoria própria, intitulado, “Chegou o Comunavírus” insinuações de que o coronavírus teria sido fabricado pelos chineses.  

Outro episódio constrangedor aconteceu no ano passado. O filho do presidente, Eduardo Bolsonaro, escreveu em redes que a China era culpada pelo coronavírus. “Quem assistiu Chernobyl vai entender o que ocorreu. Substitua a usina nuclear pelo coronavírus e a ditadura soviética pela chinesa. [...] +1 vez uma ditadura preferiu esconder algo grave a expor tendo desgaste, mas que salvaria inúmeras vidas. [...] A culpa é da China e liberdade seria a solução”.

O episódio causou uma crise diplomática entre os dois países. Para a postagem de Eduardo Bolsonaro, a resposta chinesa veio na mesma velocidade com que o filho do presidente fez as acusações irresponsáveis. “A parte chinesa repudia veementemente as palavras do deputado, e exige que as retire imediatamente e peça uma desculpa ao povo chinês”, escreveu Yang Wanming. Ele marcou os nomes de Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados à época, e Ernesto Araújo, ministro das Relações Exteriores, para que eles também lessem a mensagem. Além disso, ele compartilhou com seguidores, postagens de pessoas que criticavam a família Bolsonaro.

Por aquela época, Eduardo Bolsonaro havia feito parte de uma comitiva que foi aos Estados Unidos em viagem diplomática. Então, não contente com a resposta que deu ao governo brasileiro, o embaixador chinês ainda respondeu diretamente ao deputado, na própria postagem ofensiva contra os chineses. “As suas palavras são extremamente irresponsáveis e nos soam familiares. Não deixam de ser uma imitação dos seus queridos amigos. Ao voltar de Miami, contraiu, infelizmente, vírus mental, que está infectando as amizades entre os nossos povos”.

O ministro das Relações Exteriores, na época Ernesto Araújo, em vez de agir de uma forma pacificadora, tentando amenizar a burrada que o filho do presidente havia feito, agiu no sentido de colocar ainda mais lenha na fogueira. “É inaceitável que o embaixador da China endosse ou compartilhe postagem ofensiva ao chefe de Estado do Brasil e aos seus eleitores. As críticas do deputado Eduardo Bolsonaro à China, feitas em postagens ontem à noite, não refletem a posição do governo brasileiro. Temos expectativa de uma retratação por sua reportagem ofensiva ao chefe de Estado. O Brasil quer manter as melhores relações com o governo e o povo chinês, promover negócios e cooperação em benefício recíproco, sem jamais deixar de lado o respeito mútuo”. Escreveu ele em resposta ao embaixador da China.

Entretanto, em seu depoimento à CPI, Ernesto negou todos esses episódios, e disse que não causou nenhum constrangimento com a China, nem antes, nem depois da pandemia. Essas burradas atrapalharam muito na questão das vacinas, pois a China é nosso parceiro também nos insumos para a fabricação dela. Dependemos deles para isso.




O depoimento mais aguardado da CPI, o do general Eduardo Pazuello foi outro show de mentiras. Como pode um general do Exército mentir tanto e tão descaradamente? Pazuello dispunha de um habeas corpus que o permitia ficar calado para não produzir contra si mesmo, entretanto, o general resolveu usar o instrumento judicial para mentir e mentir.

Uma coisa não se pode negar: Pazuello defendeu Bolsonaro como um cão fiel.

Todos sabemos pelos fatos amplamente demonstrados através da reportagens de imprensa e da própria atitude de Pazuello à frente do ministério da Saúde, que ele entrou lá, para obedecer ordens diretas de Bolsonaro para fazer aquilo que os outros ministros da Saúde, médicos, não quiseram fazer: liberar o uso indiscriminado da cloroquina, que, como todos sabem, não tem nenhuma eficácia comprovada contra a Covid-19.

Mas em seu depoimento, o ex-ministro disse que tudo isso era mentira. Quando questionado a respeito desse assunto, Pazuello, simplesmente, respondeu: “Em hipótese alguma. O presidente nunca me deu ordens diretas”.

Também sabemos que o general não tem nenhum conhecimento sobre a doença, e que, portanto, era a pessoa menos indicada para comandar a pasta. Quando inquirido sobre isso, Pazuello lembrou sua trajetória durante a carreira militar, destacando o comando dos hospitais de campanha na operação Acolhida, na fronteira com a Venezuela. “Sobre gestão e liderança, acho que nem preciso responder. É como responder se a chuva molha. Todo militar tem isso”.

A questão, general, não é só sobre gestão e liderança. É sobre salvar vidas. É sobre como lidar com uma doença que até os médicos não conhecem por completo.

O relator da CPI, Renan Calheiros, elaborou 15 mentiras de Pazuello na CPI que podem ser lidas pelo leitor no site do Poder 360.

O ministério da Saúde criou, muito tardiamente, uma Secretaria Extraordinária de Enfrentamento à Covid-19. O órgão foi criado no 10 de maio deste ano. Um ano e cinco meses depois do início da pandemia. Para o cargo de secretária foi convidada a médica infectologista Luana Araújo.

Mesmo sem ter sido nomeada oficialmente, a médica ainda chegou a trabalhar por 10 dias na função. Porém, neste sábado, 22, ela anunciou que não assumirá a função. O motivo da saída da médica não foi revelado. Mas na nota em que anuncia sua saída do cargo, ela nos dá pistas: “Fiz questão de evidenciar minha postura técnica, baseada em evidências, pautada pelo juramento médico que fiz e que norteia todas as minhas atitudes. Vejo a ciência como ferramenta de produção de conhecimento e de educação para a priorização da vida, sempre, como objetivo maior. Saio desta experiência como entrei: pela porta da frente, com a consciência e o coração tranquilos, ciente de que neste curto período entreguei o melhor da minha capacidade de acordo com os princípios que tenho como profissional especialista na área: ética, cientificidade, agilidade, eficiência, empatia e assistência. Protejam-se, vacinem-se e sigamos em frente”, escreveu ela.

Provavelmente, mais uma profissional séria que não quis jogar seu diploma e sua carreira no lixo para servir a um governo negacionista. 




Em outro cenário, enquanto e variante indiana já foi detectada no Maranhão,  em seis tripulantes de um navio com bandeira chinesa, e os demais tripulantes do navio colocados em quarentena, depois de a nossa vizinha, Argentina, também detectar a variante indiana e africana em três viajantes que entraram no país, mesmo com o perigo rondando nossas cabeças, o irresponsável, e quando digo irresponsável refiro-me ao excelentíssimo senhor presidente da República, Jair Bolsonaro, voltou a provocar aglomeração nas ruas do Rio, em um passeio moto ciclístico.

Segundo a prefeitura da cidade, o número de pessoas que participaram do evento foi de 10 a 15 mil pessoas. Entre eles estava o ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello. Não apenas ele, mas o presidente e todos que estão em cima do carro de som aparecem sem máscaras. Os participantes também, a grande maioria, dispensou o acessório fundamental no combate à transmissão do vírus.

Obviamente, o presidente voltou a atacar os governadores por eles decretarem lookdowns, que, segundo Bolsonaro, não tem comprovação cientifica de que são eficazes contra o espalhamento do vírus, sendo que o assunto foi amplamente estudado pelos comitês científicos e estudos.

Ele faz política, faz campanha, enquanto no Brasil milhares são empurrados para a pobreza extrema, e em um país no qual o controle do vírus está bem longe de acabar, e que ainda sofre com as terríveis consequências de uma segunda onda que também está longe de acabar.

O Brasil tem, desde o início da pandemia até agora, 16.046.501 casos confirmados da doença, e 448.291 óbitos.

Ignorar toda essa situação para quem é líder da nação é um ato de extrema irresponsabilidade e egoísmo.



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