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Ele continua entre nós

Posted by Cottidianos on 02:07
Segunda-feira, 10 de agosto


A 1a rodada do campeonato brasileiro estreou neste fim de semana. De forma atabalhoada, diga-se de passagem, como tem sido tudo por aqui desde o início da pandemia.
No estádio da Serrinha, em Goiânia, a equipe do São Paulo já estava à postos pronta para o início da partida.  Os jogadores faziam aquecimento em campo. O time do Goiás ainda estava no vestiário. As equipes de jornalismo esportivo estavam a postos para a transmissão do jogo.  Tudo pronto para começar a transmissão. Já haviam até anunciado a escalação das equipes. Faltavam cerca de cinco minutos para o início da partida.
Apenas um detalhe precisava ser esclarecido: Haveria jogo ou não.
O caso foi o seguinte.
Na quinta-feira, 06, a equipe do Goiás recebeu funcionários do laboratório do hospital Albert Einstein, para a realização de testes para detecção do Covid-19 em seus jogadores. O laboratório foi indicado pela CBF. Os testes foram feitos, porém a CBF pediu que os testes fossem invalidados devido a ter ocorrido uma falha, por parte do laboratório, no acondicionamento das amostradas coletadas.
Os vinte e seis testes realizados naquele dia foram então invalidados. No dia seguinte, sexta-feira, 07, os testes foram refeitos, porém os resultados dos exames, que deveriam ter sido entregues no sábado, apenas foram entregues neste domingo, 09, na parte da manhã.
E os resultados não foram nada bons para a equipe do Goiás: 10 jogadores testaram positivo para a Covid-19. Oitos desses dez jogadores estavam escalados como titulares. O Goiás resolveu correr contra o tempo e realizar uma contraprova antes do jogo. Dessa vez o resultado deu positivo para 9 jogadores.
Porém, os jogadores já estavam concentrados no Centro de Treinamento do Goiás e, obviamente, ouve contato entre jogadores contaminados e não contaminados, tornando a situação ainda mais perigosa para a equipe.
Diante desse dilema, o Goiás recorreu a Confederação Brasileira de Futebol para que o jogo fosse adiado. A resposta da CBF não vinha. E o tempo passava. O nervosismo da equipe goianiense aumentava. O São Paulo, equipe adversária, não se posicionava sobre o assunto. E a CBF silenciava. Nem dizia sim, nem não ao pedido do Goiás.
Foi então que, cerca de uma hora antes do início da partida, a equipe resolveu recorrer ao Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), pedindo o adiamento da partida.
E assim, voltamos ao segundo parágrafo deste texto para o desfecho final, quando o São Paulo, já em campo, aguardava a equipe rival. Ao invés de aparecer os rivais, quem apareceu em campo foi o presidente da equipe goiana, Marcelo Almeida, tendo em mãos uma decisão do STJD, na pessoa do seu presidente, Otávio Noronha, na qual estava autorizada o cancelamento do jogo.
A decisão do STJD foi apresentada ao trio de arbitragem que por sua vez a comunicou à equipe São Paulina, que se retirou de campo. Um banho de água fria para o time do São Paulo, chamada de fria pelos dirigentes do Goiás por não ter se posicionado antes pelo cancelamento da partida, e um banho de água fria também para as equipes de rádio e TV que transmitiriam a partida. Entretanto, uma decisão acertada e necessária para o momento.
Outra partida que teve de ser adiada foi a que seria realizada entre as equipes Treze, da Paraíba, e Imperatriz, do Maranhão. Aqui, 12 dos 19 jogadores que atuariam pelo Imperatriz, testaram positivo para Covid-19. Essas duas equipes disputam a série C.
Na série B, também houve problemas. Na partida disputada entre CSA, de Alagoas x Guarani, de Campinas-SP, no sábado, 8, o jogo aconteceu, mesmo que 8 dos atletas do CSA tivessem testado positivo para a doença. Os jogadores testados positivos não jogaram, é verdade, mas tiveram contatos com os não contaminados. E em se tratando de coronavírus, prudência é sempre necessária.
Enfim, os tumultuados fatos deste início de campeonato brasileiro são um retrato fiel de como a sociedade brasileira e as autoridades estão se comportando em relação a pandemia do Covid-19: um tremenda irresponsabilidade.
Os cartolas do futebol resolveram realizar o campeonato, mesmo com um cenário de pandemia fora de controle no país. Era hora de voltar. Não, não era. Situação como as de hoje são possíveis de ocorrer em outros jogos? São. Mas enfim, os interesses pessoais acabam sendo colocados em pedestal mais alto.  
Falando em pandemia, o país atingiu neste fim de semana a triste marca de 100.000 mil mortes por causa do coronavírus. No dia 19 de maio, o Brasil ultrapassou pela primeira vez a marca dos 1.000 mortes em 24 horas. Desde então, raros são os dias em que temos um número de mortes abaixo dessa soma. Estamos nesse maldito platô e dele ainda não conseguimos sair.
É como se estivesse caindo de 3 a 4 aviões de voo comercial por dia em nosso país.
Um dos grandes responsáveis por grandes partes dessas mortes é, principalmente do líder maior da nação, o presidente Jair Bolsonaro. Em segundo lugar, governadores e prefeitos que, cedendo a pressões de empresários, promoveram reaberturas antes da hora. E em terceiro lugar, parte da responsabilidade recai sobre a própria sociedade que negligenciou no combate à epidemia.
Muitos acreditaram em promessas vãs como o anunciado milagre da cloroquina anunciado pelo presidente, que de milagre não tem nada. Aliás, nem comprovação cientifica tem.
Mesmo com toda essa quantidade de mortos, o presidente continua negando a doença, rejeitando os métodos indicados pela ciência para combatê-la, desprezando o isolamento social, e agredindo a imprensa, que apenas diz a verdade dos fatos, sem aumentar nem diminuir.
Segundo dados divulgados pelo consórcio de imprensa formado por O GLOBO, Extra, G1, Folha de S. Paulo, UOL e O Estado de S. Paulo, neste domingo, 9, já são 101.136 vidas perdidas pela doença, e 3.035.582 os brasileiros infectados pelo novo coronavírus. Os dados são obtidos à partir das secretárias estaduais de Saúde.
No sábado, quando o país atingiu a marca dos 100.000 mil mortes o Jornal Nacional fez um resumo da escalada do coronavírus no Brasil, que a seguir este blog reproduz:
Do primeiro caso registrado no Brasil até atingirmos 1 milhão foram quase quatro meses. Em menos de um mês, chegamos a 2 milhões de casos. E depois levamos 23 dias para ultrapassarmos os 3 milhões.
Evolução de mortes: o primeiro caso foi registrado dia 26 de fevereiro. No dia 17 de março, 20 dias depois, o Brasil registrou a primeira morte; 71 dias depois, tínhamos 25 mil mortos. A partir daí, o número deu um salto em bem menos tempo. Foram apenas 24 dias para chegarmos a 50 mil vítimas. De 50 mil a 75 mil mortos, praticamente a mesma velocidade assustadora: 25 dias. Nos últimos 24 dias, mais 25 mil pessoas perderam a vida e chegamos à triste marca de 100 mil mortos por Covid-19.
E quando olhamos para trás, para o mês de fevereiro quando tivemos o registro do primeiro caso, pensamos que tudo poderia ter sido tão fácil.
Tivemos tempo de ver o que estava acontecendo na China, primeiramente, e depois na Europa. Tivemos tempo de ver os seus erros e acertos e fazer diferente. Tivemos tempo de nos preparar para o pior. Tínhamos um sistema de saúde, que com seus altos e baixos, poderia ter sido bem mais eficaz no combate à doença. Enfim, tivemos condições de vencer o jogo, e se não tínhamos condições de dominar completamente o inimigo, tínhamos condições de diminuir grandemente os seus estragos.
A única coisa que não tivemos de verdade foi um líder que coordenasse o processo todo, que soubesse concentrar forças e reunir esforços, e que dedicasse toda a sua força e empenho para que vidas fossem poupadas.
Faltou um líder que tivesse dado ao ministro Luiz Henrique Mandetta, carta branca para neutralizar o inimigo e que com ele tivesse somado forças para combater a doença.
Mas o líder que fez? Em vez de dar apoio ao médico-ministro, virou-lhe às costas e o demitiu. O mesmo fez com o sucesso de Mandetta, Nelson Teich. Ambos eram médicos e sabiam o que estavam falando e como deveriam agir no meio da tempestade. Mas como dizer de ciência a quem a nega?
E agora já vamos entrar para 3 meses que não temos um ministro efetivo da saúde que realmente entenda de saúde, pois o ministro interino que aí está, Eduardo Pazuello, é militar, entende de estratégias, é verdade, mas não entende de saúde. É a mesma coisa que entregar um avião nas mãos de quem não é piloto, ou seja, é tragédia anunciada.
No início de março deste ano, passava por uma das bancas de revista aqui do centro de Campinas, cidade onde moro e via estampada na capa da revista daquela semana a manchete de capa:
ELE ESTÁ ENTRE NÓS: A confirmação da chegada do coronavírus ao Brasil provoca alarme e exige atenção. Mas o sistema de saúde está bem preparado para evitar um mal maior.
Prossegui meu caminho e enquanto ia aquela capa de Veja meu incomodou. Achei muito prepotente para tratar de um vírus.
Hoje reconheço que a Veja estava certa e eu errado. O vírus chegou e se impôs. E se impôs porque a sociedade, de certo modo, lhe deu poder: o poder de matar.
Outra coisa em que Veja estava certa é sobre o sistema de saúde: ele estava preparado, mas as autoridades não ajudaram, e o problema ficou grande demais para que o SUS pudesse evitar o mal maior.
E o presidente que apenas pensava na economia, em detrimento da vida, hoje vê vidas e economias em descida. Se tivesse dado prioridade à primeira já teríamos vencido a pandemia ainda em junho ou julho.
E agora olhamos para a frente e nem temos previsão de quando isso ocorrerá, porque ao novo coronavírus vieram se somar outros vírus que podem ser igualmente letais: o vírus do descaso com a vida humana, o vírus da ignorância, e o das fake news.
Triste realidade.


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