0

Pesadelo

Posted by Cottidianos on 17:56
Domingo, 24 de maio


Certa noite, olhei para além da janelas em direção à Praça dos Três Poderes. O Congresso Nacional, formado pela Câmara e pelo Senado, juntamente com o Supremo Tribunal Federal, haviam sido fechados. Estavam agora ajoelhados diante do Executivo, em atitude de humilhante subserviência. Não mais serviam à nação brasileira. Serviam agora aos desmandos e caprichos de um tirano capitão.
De vez quando, uma lágrima lhes escorria pelas faces aos lembrar dos tempos recentes em que reinava e brilhava o sol da liberdade sob os céus da nação.
Havia uma bíblia nas mãos do capitão, mas dela não escorria os perfumados lírios do amor e da misericordia, mas, sim, o cheiro do sangue e do ódio. Ao redor dele havia, em vez e discípulos, capitães e soldados, que se portavam como se fossem verdadeiros e bravos cães fieis.
Ainda voavam pelo ar pedaços da Constituição que haviam sido rasgadas a alguns instantes. De pé, na rampa do Planalto, o capitão gritava a pleno pulmões: Agora a Constituição sou eu. Pediu para que os servidores fizessem uma pequena, porém significativa, mudança na grande faixa que havia sido colocada atrás dele. Em vez de Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”, pediu que escrevessem: “Brasil acima de tudo, Eu acima de todos”.
Nos porões de uma cela, estava a imprensa de mãos atadas e com uma mordaça na boca. Também lhe puseram uma venda nos olhos. Ela era guardada de um lado pela ignorância, e de outro pela hipocrisia. De agora em diante, a única informação que os brasileiros receberiam seria o do canal oficial do governo.
A corrupção continuaria a ocorrer nos submundos do poder, mortes continuariam a ocorrer durante pandemias, mas o brasileiros jamais ouviriam falar de uma coisa nem de outro, nem de qualquer outra notícia desagradável. O mundo poderia estar caindo, mas o eles apenas ouviriam falar de borboletas no jardim.
Na rampa do Planalto, ao lado do capitão, estavam Kim Jong Um, da Coreia do Norte, Nicolas Maduro, da Venezuela, Xi Jinping, da China, além de mais uns poucos ditadores que ainda impõem suas vontades em seus países. Afinal, para ser coerente era preciso colocar junto consigo no altar da autopromoção, pessoas que bebesse do mesmo cálice das ideias e comungassem da mesma hóstia dos ideais autoritários.
Enquanto era realizada essa macabra cerimonia, as estradas que levavam aos aeroportos estavam lotadas. Era difícil encontrar voos para fora do país. Eram grande o número de investidores que fugiam do país. Também já estavam de malas prontas os brasileiros endinheirados e que haviam sonhado com um país mais justo e cheio de progresso.
Ali, na Praça dos Três havia dois grupos de pessoas: o primeiro grupo deslumbrado olhava para o Brasil, agora transformado em ditadura, e achava tudo aquilo lindo, maravilhoso e patriótico. O segundo grupo chorava lágrimas amargas. Este último grupo olhava para a Venezuela, de onde milhares de pessoas fugiam da opressão e pensavam: logo o Brasil estará em situação semelhante, e chorava ainda mais.
Num sobressalto, acordei assustado, com o corpo molhado de suor. Olhei em volta: tudo continuava tal como antes. Tudo não havia passado de um pesadelo. Respirei aliviado. Foi então que olhei em direção à Praça dos Três Poderes... E notei que uma nuvem negra e ameaçadora se formava sobre ela.
Por longo tempo ainda fiquei a pensar no pesadelo que tivera, e nas nuvens ameaçadoras que pairavam no ar de Brasília. Se elas representavam prenuncio de algo desagradável, ainda dava tempo de afastá-las para bem longe. Mas era preciso agir rápido.


0 Comments

Postar um comentário

Copyright © 2009 Cottidianos All rights reserved. Theme by Laptop Geek. | Bloggerized by FalconHive. Distribuído por Templates