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O feudo Brasil e seu louco senhor feudal

Posted by Cottidianos on 00:14

Sábado, 16 de maio

Ontem, 15, o Nelson Teich surpreendeu ao presidente e ao Brasil ao anunciar sua saída do ministério da Saúde. O ministro já estava na frigideira pronto para ser frito pelo chef sádico. Mas como boa sardinha que é pulou fora da panela antes que o óleo começasse a esquentar. Lá se foi mais um ministro da Saúde que não quis manchar sua biografia, nem rasgar seu currículo para sustentar os delírios e os arroubos autoritários de um presidente que não tem a menor ideia da liturgia e da seriedade que é a missão de conduzir uma nação.
Se para o ex-ministro, Sérgio Moro a gota d’água foi a exoneração de Valeixo do comando geral da PF, para Teich a gota da d’água foi a imposição da mudança de protocolo no uso da cloroquina: um medicamento sem nenhuma comprovação cientifica no combate ao coronavírus.
O orientação para o uso da cloroquina, segundo o ministério da Saúde, é para que o medicamento seja usado apenas para pacientes graves. O presidente quer mudar essa orientação, e defende que o remédio seja usado desde que o paciente apresente os primeiros sinais da doença.
Ora usar dessa forma um medicamento que não tem embasamento em nenhum estudo cientifico é embarcar numa aventura, ato ao qual Nelson Teich não estava disposto.
Porém, a saída de Teich do comando do ministério da Saúde revela algo bem preocupante: o Brasil está sem nenhuma coordenação, sem nenhuma política, sem nenhum método no combate ao coronavírus. Estamos num barco à deriva, sem comandante, no momento em que a tripulação da embarcação mais precisa de um líder, no momento em que as ondas avançam de encontro ao barco tal qual um monstro furioso.
O Brasil até tem um capitão no leme do barco, mas ele é estúpido e ignorante demais para leva-lo a algum porto seguro. Em vez de exercer bem a função de capitão que é guiar o barco com segurança, ele fica a olhar-se nos espelhos de sua cabine e a admirar-se a si próprio e a dizer: como sou grande, como sou nobre, como sou poderoso. Assim agem os capitães narcisistas: embevecidos e envaidecidos pela própria imagem nem percebem que o barco se aproxima dos arrecifes e que estes podem furar o casco do navio e traga-lo para o fundo do mar.
O problema com Jair Bolsonaro é que ele não se espelha nos grandes líderes democráticos. Não se inspira naqueles que fizeram de suas nações grandes e potentes. Ao contrário, ele vai buscar suas inspirações nas fétidas sombras da ditadura e naqueles “heróis” que mataram, torturaram, humilharam milhares de vidas nos porões da ditadura.
Talvez a imagem que ele tenha de si seja a de um daqueles senhores feudais que viveram na Idade Média mandando e desmandando em seus feudos. Na cabeça dele o Brasil é o seu feudo. As frases que mais temos ouvido da boca do presidente são expressões autoritárias tais como: “Sou eu que mando”, “Eu tenho o poder da caneta” “Eu sou a Constituição”, “Quero alguém afinado comigo”, e por aí vai.
E assim, ele vai pisando, humilhando, e contrariando aqueles que o apoiaram, que lhe deram a mão em algum momento na caminhada para a presidência. Foi assim com Gustavo Bebiano, Luiz Henrique Mandetta, Nelson Teich, Sérgio Moro, e tantos outros. A presidência — quem sabe a vida — é para Jair Bolsonaro como um jogo no qual ele deve estar sempre perseguindo alguém. Se não tiver inimigos o jogo não tem graça. Ele então trata de arranjar logo um sobre o qual possa exercer o seu sadismo. Assim agem os déspotas.
Os tiranos não deixam seus auxiliares mais fiéis fazerem seu trabalho com tranquilidade e obedecendo critérios técnicos. Não. Um subordinado não pode ter ideias próprias e racionais, mesmo quando essas ideias representam a salvação de milhares de vidas. Tudo tem que ser do jeito que o soberano quer, mesmo que isso represente empurrar a nação precipício abaixo. Por isso, ele, Jair Bolsonaro, quer interferir na Polícia Federal. Lá para proteger os filhos. Na saúde, para desafiar os governadores e agradar o empresariado ávido de lucros a qualquer preço, mesmo que o preço sejam a vida de milhares de brasileiros. Não importa.
Recentemente o presidente, preocupado com a crise econômica que já se faz presente ao lado da crise da saúde, e que pode lhe tirar votos para 2022, acusou os governadores pela crise econômica, justamente, por eles estarem tomando medidas como o isolamento social, para evitar que o coronavirus tire a vida de muito mais brasileiros.
Em reposta a essa atitude, vários governadores criticaram a atitude do presidente. Um deles, deu uma resposta bem sensata e à altura do que o presidente merecia ouvir. “Se a crise econômica fosse causada pelos governadores, por que ela existe em outros países? Quem está causando a grave crise econômica é o coronavírus. Incrível que Bolsonaro finja ignorar isso. E a responsabilidade da gestão econômica é dele. Se não sabe o que fazer, renuncie”. Essas foram palavras de Flávio Dino (PCdoB-MA). E Flávio Dino tem absoluta razão. Perdido, o presidente não sabe o que fazer, nem com relação à saúde, e muito menos em relação à Economia.
Em meio a essas crises causadas pelo presidente, dentro da crise grave na saúde, o Brasil já tem quase 15 mil mortos pela Covid-19, e mais de 218 mil casos confirmados. E esses números crescem em uma escala vertiginosa. Não demoraremos mais muito tempo para atingir a casa dos 20.000 mortos e nos estabelecermos nas primeiras posições entre os países com maior número de mortos e contaminados pelo coronavírus. É triste, mas é uma realidade.
Segundo matéria publicada pelo jornal o Estado de São Paulo, o presidente pretende fazer neste sábado, 16, um novo pronunciamento em rede nacional de rádio e TV contra o isolamento social. O presidente defende uma abertura geral, adotando o método controverso do chamado isolamento vertical, no qual apenas os idosos e doentes. O argumento do presidente é o de que o fechamento do comércio trará o caos e a fome.
Se o Brasil tivesse feito, desde os primeiros casos detectados da doença, a lição de casa que é seguir a recomendação das autoridades que é a de ficar em casa, não estaríamos na situação desastrosa na qual estamos hoje. Estaríamos bem perto já de uma abertura gradual da economia. Então, a culpa pela economia está destroçada, certamente não é dos governadores, mas sim do Covid-19, que veio sobre o mundo como um tsunami arrasador, e também do presidente, que é um dos principais opositores do principal remédio contra o coronavírus: o isolamento social. Agora o presidente corre atrás da quimera da cloroquina. O mundo todo sabe que não há remédio comprovado contra o Covi-19, apenas ele não sabe.
Mas, a divulgação do remédio mágico também atende aos seus interesses egoístas ao dar a sensação aos seus apoiadores que a solução para o problema foi encontrada e referendada pelo Dr. Jair, que nem médico é.
“Oremos. Força, SUS. Ciência. Paciência. Fé!”, escreveu em sua conta no Twitter, o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, após a saída de Nelson Teich do ministério da Saúde.
É isso que nos resta fazer: orar para que o a Inteligência Suprema, o Supremo Criador, consiga fazer o milagre de colocar um pouco de sensatez na cabeça daquele que nenhuma tem.

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