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Irresponsável

Posted by Cottidianos on 00:28
Quarta-feira, 25 de março


O presidente, Jair Bolsonaro fez, na noite de ontem (24), um pronunciamento à nação, falando, novamente sobre o coronavírus. Me sentei em frente à TV para assistir ao Jornal Nacional quando fui surpreendido pelo anúncio da fala do presidente à nação em cadeia nacional de rádio e TV.
Fiquei esperando alguma nova medida ou que ele fosse dizer algo de grande importância para o povo brasileiro. Mas, à medida que o mandatário da nação foi desenvolvendo o discurso, minha expectativa foi murchando igual a uma bola de futebol que, quando furada, vai soltando o ar aos poucos e se encolhendo. Achei as coisas que o presidente estava dizendo tão surreais que passei o jornal inteiro me perguntando se tinha ouvido direito. Foi preciso terminar o televisivo e buscar o pronunciamento no canal do Palácio do Planalto no Youtube para ter realmente a certeza de que não havia entendido errado o que fora dito ao país.
Abaixo, apresento na integra o referido pronunciamento:
Boa noite!
Desde quando resgatamos nossos irmãos em Wuhan, na China, numa operação coordenada pelos ministérios da Defesa e Relações Exteriores, surgiu para nós um sinal amarelo. Começamos a nos preparar para enfrentar o coronavírus, pois sabíamos que mais cedo ou mais tarde ele chegaria ao Brasil.
Nosso ministro da Saúde reuniu-se com quase todos os Secretários de Saúde dos Estados para que o planejamento estratégico de enfrentamento ao vírus fosse construído.  E, desde então o Dr. Henrique Mandetta vem desempenhando um excelente trabalho de esclarecimento e preparação do SUS para atendimento de possíveis vítimas. Mas, o que tínhamos que conter naquele momento era o pânico, a histeria, e ao mesmo tempo traçar estratégias para salvar vidas e evitar o desemprego em massa. Assim fizemos, quase contra tudo e contra todos.
Grande parte dos meios de comunicação foram na contramão.  Espalharam exatamente a sensação de pavor, tendo como carro-chefe o anuncio do grande número de vítimas na Itália. Um país com um grande número de idosos e com um clima totalmente diferente do nosso. O cenário perfeito, potencializado pela mídia, para que uma verdadeira histeria se espalhasse pelo nosso país.
Contudo percebe-se que de ontem para hoje parte da imprensa mudou seu editorial: pede calma e tranquilidade. Isso é muito bom, parabéns imprensa brasileira. É essencial que o equilíbrio e a verdade prevaleçam entre nós. O vírus chegou, está sendo enfrentado por nós e brevemente passará.  Nossa vida tem que continuar. Os empregos devem ser mantidos. O sustento das famílias deve ser preservado. 
Devemos sim voltar à normalidade. Algumas poucas autoridades estaduais e municipais devem abandonar o conceito de terra arrasada, a proibição de transportes, o fechamento do comércio e o confinamento em massa. O que se passa no mundo tem mostrado que o grupo de risco é das pessoas acima de 60 anos. Então porque fechar escolas? Raros são os casos fatais de pessoas sãs com menos de 40 anos de idade. Noventa por cento de nós não teremos qualquer manifestação, caso se contamine.
Devemos sim é ter extrema preocupação em não transmitir o vírus para os outros, em especial aos nossos queridos pais e avós, respeitando as orientações do Ministério da Saúde. No meu caso particular, pelo meu histórico de atleta, caso fosse contaminado pelo vírus não precisaria me preocupar, nada sentiria ou seria, quando muito, acometido de uma gripezinha ou resfriadinho como bem disse aquele conhecido médico daquela conhecida televisão.  Enquanto estou falando, o mundo busca um tratamento para a doença.
O FDA americano e o Hospital Albert Einstein, em São Paulo, buscam a comprovação da eficácia da Cloroquina no tratamento do COVID-19. Nosso governo tem recebido notícias positivas sobre esse remédio fabricado no Brasil, largamente utilizado no combate à malária, ao lúpus e a artrite.
Acredito em Deus, que capacitará cientistas e pesquisadores do Brasil e do mundo na cura dessa doença. Aproveito para render minha homenagem a todos os profissionais de saúde: médicos, enfermeiros, técnicos e colaboradores, que na linha de frente nos recebem nos hospitais, nos tratam e nos confortam.
Sem pânico ou histeria, como venho falando desde o princípio, venceremos o vírus e nos orgulharemos de estar vivendo esse novo Brasil, que tem tudo, sim, tudo para ser uma grande nação. Estamos juntos, cada vez mais unidos. 
Deus abençoe nossa pátria querida.
Este foi o posicionamento do presidente desde que começou a crise provocada pelo novo vírus: minimizar a situação, tratar o coronavírus como se fosse apenas uma gripe. Como pode deduzir o leitor e a leitora, o presidente continua minimizando a crise, ou melhor, a pandemia.
Agora que, segundo dizem os especialistas em saúde, estamos prestes a entrar no pico da crise, o presidente vem a público dizer que devemos voltar à normalidade, como se nada de grave estivesse acontecendo. Critica o fechamento das escolas, ataca governadores — que por falar nisso, tem feito um excelente trabalho em meio a toda essa tensão que o país atravessa — e ainda critica a imprensa por ter criado um clima de histeria no país.
Em relação aos que estão em casa de quarentena, querendo trabalhar, é verdade, é como se o presidente dissesse: vão trabalhar vagabundos, deixem de moleza. Vão encher as escolas, as fábricas, as ruas, os comércios, porque esse vírus não é de nada. É coisa de fracos. E além do mais, se ele atacar você, não vai passar de uma “gripezinha”.
Por favor, alguém diga ao presidente que as coisas não bem assim, fáceis. Que a situação é grave. Que milhares de pessoas estão morrendo na Itália, na Espanha, assim como milhares morreram na China. São vidas humanas, presidente.
Mas não adianta dizer coisa alguma. E, se disser alguma coisa ao presidente, vai entrar por um ouvido e sair pelo outro. Pois ele não está preocupado com a saúde da nação, não está preocupado com o avanço do coronavírus, nem com toda essa balela com a qual o mundo todo está preocupado.
A única coisa que importa para o presidente é continuar acreditando em suas teorias conspiratórias, e, mais importante, em sua reeleição. Após a fala do presidente, é claro, houve panelaços em todas as capitais do país. Não só nas capitais, pois, enquanto o presidente falava, foi possível também ouvir panelaços aqui na cidade de Campinas, SP, cidade onde mora esse blogueiro.
E o barulho das panelas só aumenta, desde que o presidente começou a minimizar a crise da pandemia do coronavirus.
Claro, o pronunciamento do presidente gerou uma onda de reações contrárias em diversos setores da sociedade. Os parlamentares se dividiram entre perplexos e irritados com o pronunciamento.
O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), assim se expressou: “Neste momento grave, o país precisa de uma liderança séria, responsável e comprometida com a vida e a saúde da sua população. Consideramos grave a posição externada pelo presidente da República hoje, em cadeia nacional, de ataque”.
Rodrigo Maia foi mais contido em seu pronunciamento: “O momento exige que o governo federal reconheça o esforço de todos – governadores, prefeitos e profissionais de saúde – e adote medidas objetivas de apoio emergencial para conter o vírus e aos empresários e empregados prejudicados pelo isolamento social”, disse ele.
Na noite de ontem, Bolsanaro, já havia escrito uma postagem no Twiter que também inverter a lógica da situação atual, para ele o mais importante agora é preservar a economia, que leia-se nas entrelinhas, é preciso sacrificar a população em favor dos empresários. Assim escreveu ele na rede social. “A epidemia afeta diretamente a todos, mas medidas extremas sem planejamento e racionalidade podem ser ainda mais nocivas do que             a própria doença no longo prazo. Quando falamos em proteger empregos, também estamos falando em preservar a vida das pessoas. É isso que faremos”.
Como sempre tem aqueles puxa-sacos que endossam qualquer bobagem que o chefe fala, nesse caso também não poderia faltar. O presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, endossando a postagem de Bolsonaro, escreveu no Twiter dele que o isolamento social é a maior imbecilidade da história da humanidade. “Confinaram 99% da população brasileira em casa para vencer um vírus que mata em torno de 1% dos infectados. O isolamento, exceto para os que são do grupo de risco, precisa ser imediatamente suspenso. É a maior imbecilidade da história da humanidade! Ao trabalho brasileiros!
O que passa pela cabeça de uma pessoa quando fala uma coisa dessas. Devaneio? Interesse eleitoreiro? Egoísmo, essa é a palavra certa.
Enfim, caminhamos para o pico da crise da pandemia provocada pelo coronavírus e o país não conta com uma liderança firme e forte à nível nacional. As lideranças estão despontando, sim mas nos Estados. Alguns governadores tem feito um excelente trabalho. Na falta de liderança de quem devia realmente liderar, que os governadores continuem assim, transmitindo calma e segurança à população brasileira.

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