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Jogo de xadrez

Posted by Cottidianos on 17:22

Domingo, 02 de fevereiro

Disparo contra o sol
Sou forte, sou por acaso
Minha metralhadora cheia de mágoas
Eu sou o cara
Cansado de correr
Na direção contrária
Sem pódio de chegada ou beijo de namorada
Eu sou mais um cara
Mas se você achar
Que eu tô derrotado
Saiba que ainda estão rolando os dados
Porque o tempo, o tempo não para
(O tempo não para – Cazuza)



Caros leitor e leitora, da última vez em que nos encontramos foi por ocasião da trapalhada do Secretário de Cultura, Roberto Alvim, que, talvez, quem sabe, na tentativa de agradar o chefe presidente, vestiu a fantasia de nazista e plagiou um discurso do homem forte da propaganda do nazismo, Joseph Goebbels. A última postagem tratou desse assunto.
De lá pra cá muita coisa aconteceu.  Roberto Alvim saiu do governo em condições nem um pouco dignas. Na Secretária de Cultura, Alvim em vez de fortalecer sua biografia, sujou-a. Vai ser difícil a ele retornar a solidez de sua carreira. Ele conseguiu atrair a antipatia de diversos setores da sociedade incluindo setores da esquerda e da comunidade judaica. Deveria ter sido mais comedido. Faltou prudência ao ex-secretário de cultura.
O governo então passou a cortejar Regina Duarte para ocupar o lugar de Alvim. Ela aceitou. O namoro virou casamento. Depois de muitas especulações, a atriz aceitou o convite para ocupar o cargo de Secretária de Cultura. Sua nomeação ainda não foi publicada no Diário Oficial da União pois Regina ainda está resolvendo questões contratuais com a Rede Globo, com a qual possui vínculo empregatício.
Para o governo foi uma boa aquisição, afinal, Regina Duarte é uma atriz bastante popular, carismática, e conhece bastante o meio artístico. Se essa passagem vai ser boa para Regina Duarte, isso só o tempo dirá. Ou também o que ela vai fazer com um orçamento tão baixo para a área de cultura, isso os próximos meses nos dirão.
Na verdade, Regina Duarte, ou outro nome qualquer que ocupasse o cargo, pouco ou nada poderia fazer, pois, como se tem visto até aqui, quem dá as cartas no governo é o próprio presidente e seus três filhos. Se agrada Bolsonaro e seus meninos então está tudo bem, caso contrário, danem-se os aliados. Isso não são invencionices deste blog. Os fatos recentes estão aí para nos dizer da realidade como ela é.
O vice-presidente, Amilton Mourão, no início do governo, começou a emitir opiniões próprias, a dar entrevistas, se o governo cometia uma asneira, lá estava Mourão tentando explicar. Não demorou muito para que a “metralhadora cheia de mágoas” dos filhos de Bolsonaro, Carlos e Eduardo, disparassem sobre o vice-presidente uma rajada de críticas. Mourão, obviamente, calou-se. Se continuasse a falar, certamente, os meninos do presidente usariam armamento mais pesado.   
O próprio Sérgio Moro, ministro da Justiça e da Segurança Pública, ainda não foi “fritado” pelo governo, porque os índices de popularidade dele são mais altos que os do próprio Bolsonaro. O interessante é que no início do namoro, e mesmo depois do casamento entre os dois, Bolsonaro disse que Moro tinha carta branca em seu governo.
Porém, em diversos momentos, o presidente tentou “fritar” o ex-juiz. Também em diversos momentos, momentos importantes para os projetos de Moro dentro do próprio governo, Bolsonaro desautorizou Moro. A última tentativa de diminuir o papel de Moro no governo foi quando ele cogitou separar o ministério da Segurança Pública do ministério da Justiça. Se assim fosse feito, o papel de Moro no governo ficaria bastante reduzido.
Para Regina Duarte, Bolsonaro também disse que ela tinha carta branca, mas em se tratando do presidente, é melhor ficar com as “barbas de molho” pois a tal “carta branca” que o presidente dá a alguém, é a mesma que ele tira, assim que alguma das suas ideias ou interesse é contrariado, aí o aliado vira inimigo.
Mas, deixemos Regina Duarte quieta... por enquanto, e continuemos falando de Sérgio Moro. O Moro que está no governo é diferente do juiz combativo que atuava na Lava Jato. Em vez de autoridade é submisso. O presidente desautoriza, puxa o tapete dele, lhe dá tapas na cara, suaves, mas não são carinhos, são tapas, e Moro ouve, vê, e sente tudo isso com a maior paciência.
A política é um tabuleiro de xadrez, e Moro está jogando. Há para ele muitos interesses em jogo. Para Bolsonaro também. É como dois amigos que sentam para jogar. Reescrevendo o famoso dito popular: “Amigos, amigos, jogo à parte”. Ninguém que sair perdendo, nem que o jogo termine empate. Ao final da partida, um deles quer ostentar a vitória.
Na segunda-feira, dia 20 de janeiro, Sérgio Moro foi ao programa Roda Viva, da TV Cultura. No programa, Moro nem foi nem quente, nem frio. Ficou morno. Não criticou o presidente, nem tampouco fez uma defesa enfática dele. Por este último motivo sofreu críticas por parte de partidários do presidente.
Depois em uma entrevista à Rádio Jovem Pan, questionado se haviam restado farpas entre ele e o presidente pelo fato deste ter querido fatiar o ministério, Moro fez questão de deixar bem claro, que é fiel ao presidente. Questionado sobre a reeleição de Bolsonaro em 2022, ele disse: “Eu já falei um milhão de vezes. Toda hora me perguntam isso, daqui a pouco eu vou ter que tatuar na testa. Em 2022, o presidente já apontou que pretende ir para reeleição. É uma decisão dele. E, claro, eu sou ministro do Governo, eu vou apoiar o presidente”.
Mas é bem fácil entender o cenário dessa partida de xadrez da qual participam Moro e Bolsonaro. O ex-juiz já deixou bem claro que a sua aspiração é uma vaga no STF. Talvez tenha sido com essa promessa que Bolsonaro tenha conseguido o SIM de Sérgio Moro, conquistando-o para o governo.
Em julho de 2019, Bolsonaro disse que uma das vagas para o STF, das duas a que ele terá de indicar, uma delas seria ocupado por um ministro “terrivelmente” evangélico. “Reafirmo meu compromisso aqui: o estado é laico, mas nós somos cristãos. E entre as duas vagas que terei direito a indicar para o Supremo, um será terrivelmente evangélico”, disse Bolsonaro.
Pelo andar da carruagem, e pelo nível de tensão que se notou entre presidente e o ministro em algumas ocasiões, poderíamos supor que Bolsonaro não indicaria Moro para a primeira vaga no STF que surge no final deste ano, mais precisamente em novembro, ocasião em que o ministro Celso de Melo terá direito a aposentadoria compulsiva por fazer 75 anos de idade. A outra indicação ao STF que ainda caberá ao presidente Jair Bolsonaro é a do ministro Marco Aurélio de Mello, em 2021.
E a gente vai entendendo a lógica daquela partida jogada entre o ex-juiz e presidente. Moro age como a mulher no casamento que, aguenta tudo calada, até as esnobadas do marido, pois há o sonho dele em ocupar uma vaga no Supremo Tribunal Federal. No caso do Roda Viva, que é apenas um exemplo de uma situação maior e mais genérica, Moro não poderia fazer uma defesa mais enfática do Bolsonaro pois poderia ser criticado por estar agarrado demais ao presidente. E também não poderia criticá-lo demais pois poderia sofrer retaliações do próprio presidente. E correria o risco de ver a tal vaga lhe escapar por entre as mãos.
Uma pesquisa do Instituo Data Folha, divulgada em dezembro do ano passado, mostra que o ministro Sérgio Moro é conhecido por 93% dos brasileiros e tem 53% da aprovação destes. A mesma pesquisa mostrou que o índice de aprovação de Jair Bolsonaro é bem mais modesta: 30%.
Ou seja, para Jair Bolsonaro, que já declarou que pretende candidatar-se a reeleição em 2022, Sérgio Moro é um adversário em potencial. Então, se Bolsonaro queimar Moro, ele também se queima nas mesmas chamas.
Então, qual seria a saída ideal? O ideal é dar a Moro um lugar no Supremo, em novembro. Assim, ele mataria dois coelhos com uma cajadada só: realizaria o sonho do ex-juiz e se livraria de um eventual forte concorrente nas eleições de 2022. Seria uma forma de engaiolar Sérgio Moro. A esse respeito, diz o cientista político, Ricardo Caldas, em entrevista ao jornal El País Brasil, em 28 de janeiro: “Se você o nomeia na vaga que se abre neste ano, você prende o Moro numa gaiola dourada. É tudo o que o presidente precisa”.
Mas jogo é jogo e nele a gente só sabe quem ganha quando termina a partida. O fato é que até a possível nomeação de Sérgio Moro como ministro do Supremo ainda há um longo caminho. Bem como ainda há um caminho ainda mais longo até as eleições presidenciais de 2022... E até lá, meus amigos e amigas, muita água ainda vai rolar por baixo dessa ponte.
Mas, como todo passarinho um dia pode se libertar da gaiola, Moro também não aniquila uma possibilidade de ser presidente ao ser indicado ao STF. Ele poderia, perfeitamente, concorrer a eleição presidencial em 2026.
Vamos senhoras e senhoras, façam suas apostas. O jogo ainda está em aberto e as possibilidades são muitas.

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