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A marcha dos idiotas uteis

Posted by Cottidianos on 01:04

Segunda-feira, 20 maio


Quando queremos construir uma casa sólida, dessas que resistem bem às tempestades, vendavais e outras formas de fúria em que a natureza se manifesta, de que devemos cuidar com mais atenção. Do alicerce? Do telhado? Das paredes?
É verdade que tudo esse conjunto de coisas e outros mais são importantes para que se mantenha de pé uma casa.
Mas de nada adianta todo o cuidado com os itens citados, se não tivermos cuidado bem de um deles em especial: o alicerce. Ele é base de toda e qualquer construção. Afinal de contas, é ele que vai sustentar todo o peso da estrutura. A função dele e fazer com que todos os esforços e todo o peso colocado no imóvel sejam transferidos para uma área maior no solo. Um bom alicerce geralmente é feito de aço ou de concreto.
Depois vem o telhado, as colunas e vigas e assim por diante.
Nesse sentido — não querendo ser pessimistas — mas partindo da observação da realidade, podemos perceber que o Brasil não avançará tanto quanto gostaríamos nos próximos anos.
Baseado em que esse blog afirma estas coisas? Ora basta ver o tratamento que o governo vem dando a área educacional. Não parece haver uma preocupação nessa área. Ou melhor, há sim, mas ela está centrada na questão das ideologias.
O governo vem tratando as escolas, em especial, as universidades, como se elas fossem centro de formação de líderes esquerdistas, e os professores como se fossem os formadores desses líderes.
Nas escolas é proibido questionar, discordar, como se tudo isso não fizesse parte do pensamento democrático.
Pro exemplo, na manhã do último dia 28 de abril, o presidente Jair Bolsorano, utilizou sua conta em uma rede social para divulgar o vídeo, enviado por uma aluna, no qual uma professora fazia críticas ao guru do presidente, Olavo de Carvalho. Segundo a aluna, ela estava pagando por aulas de gramática, mas a professora havia ficado 25 minutos da aula falando de política. Ao que a professora retrucou dizendo que estava apenas utilizando-se de recursos de mídia impressa para embasar sua aula, em uma espécie de interdisciplinaridade.
Para qualquer outro presidente, isso seria uma coisa de somenos importância, uma discussão que, facilmente, poderia ser resolvida no âmbito escolar. Mas, não, para o ele tratava-se de uma questão e doutrinação. “Professor tem que ensinar e não doutrinar”, disse o presidente ao compartilhar o vídeo.
Já naquela semana, nuvens negras e ameaçadoras começavam a se formar nos céus da educação. Dois antes da divulgação do vídeo da professora, o governo já havia anunciado,  também através do Twiter — o presidente adora essa rede social. Ela é o seu principal meio de comunicação, ganhando até mesmo dos canais oficiais — que o MEC (Ministério da Educação) estudava “descentralizar investimentos nas áreas de filosofia e sociologia” e passar recursos dessas áreas para outras que “gerem retorno imediato ao contribuinte”, como por exemplo Medicina, Veterinária e Engenharia.
Segundo o raciocínio do presidente, postado em outro Twiter, a “função do governo é respeitar o dinheiro do contribuinte, ensinando os jovens a leitura, escrita, e a fazer conta e depois um ofício que gere renda para a pessoa e bem-estar para a família, que melhore a sociedade à sua volta”.
O anúncio foi feito em meio ao lançamento de uma campanha dos partidos de esquerda cujo lema era a “Valorização das Universidades Federais”, formada pelas deputadas Margarida Salomão (PT-MG), e Alice Portugal (PC do B-BA), e pelos deputados Danilo Cabra (PSB-PE), e Edmilson Rodrigues (PSOL-PA).
Ora, conhecendo a aversão de Bolsonaro pelos partidos de esquerda — tudo o que essa ala é a favor, ele se posiciona imediatamente contra — é possível que tenha tomado conhecimento dessa campanha e, se estava pensando em retirar verbas da área de humanas, apenas apressou o passo.
A Associação Nacional de Pós-Graduação em Filosofia (ANPOF), emitiu nota de repúdio contra os cortes de verbas para a área de humanas. A nota foi assinada por mais de 50 entidades e outras associações ligadas a questão. A nota dizia que o presidente Jair Bolsonaro demonstrava “ignorância” em relação a importância das matérias para a sociedade.
Apenas quatro dias após o anuncio de cortes na área de humanas, o MEC anunciou o corte de verbas de custeio em três Universidades Federais. Eram elas: A Universidade Federal Fluminense (UFF), a Federal da Bahia (UFBA) e a Universidade de Brasília (UNB). As três universidades tiveram os recursos cortados em 30%.
Em entrevista ao Estado de São Paulo, o Ministro da Educação, Abraham Weintraub, afirmou: “Universidades que, em vez de procurar melhorar o desempenho acadêmico, estiverem fazendo balbúrdia, terão verbas reduzidas. A lição de casa precisa estar feita: publicação científica, avaliações em dia, estar bem no ranking”, porém não esclareceu quais rankings nem que balburdia as universidades estavam promovendo.
Deputados da bancada da educação, outros parlamentares, reitores das universidades atingidas, e outros setores da educação criticaram duramente a medida.
Diante da repercussão negativa, as coisas, em vez de melhorarem, tornaram-se ainda pior. O Ministério da Educação recuou da decisão de punir as três universidades que promoveram “balburdia”, e estendeu o corte de verbas a todas as Universidades Federais.
Em nota o MEC afirmou: “o critério utilizado para o bloqueio de dotação orçamentária foi operacional, técnico e isonômico para todas as universidades e institutos em decorrência do contingenciamento de recursos decretados pelo governo, que definiu bloqueio de 5,8 bilhões de reais do orçamento da pasta”.
Dessa vez, as críticas aos cortes nas Federais vieram ainda mais pesadas por parte de educadores, estudantes, parlamentares, e diversos outros setores da sociedade. A PFDC (Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão), órgão ligado ao Ministério Público, disse que a decisão era inconstitucional.
Indignados, alunos e professores de todo o país foram às ruas em protesto contra os cortes de verbas na educação. Universidades e escolas fecharam as portas naquele dia. Foi a primeira grande manifestação contra o governo de Bolsonaro. Somente se passaram pouco mais de quatro meses de sua posse.  
De Dallas, nos Estados Unidos, o presidente minimizou os protestos e classificou os manifestantes como “idiotas uteis”. “É natural, é natural. Agora... a maioria ali é militante. É militante. Não tem nada na cabeça. Se perguntar 7 x 8 não sabe. Se perguntar a fórmula da água, não sabe. Não sabe nada. São uns idiotas úteis, uns imbecis que estão sendo utilizados como massa de manobra de uma minoria espertalhona que compõe o núcleo de muitas universidades federais do Brasil”.
As repercussões no Brasil foram imediatas no Congresso, nas Universidades, nos centros de educação, e nas ruas.
O presidente, mais uma vez, ao invés de apaziguar os ânimos, botou mais lenha na fogueira. Aliás, o presidente e seus filhos são especialistas em armar confusão. Dentre essas duas opções: resolver as coisas na base da negociação e conversa, que gerem paz e entendimento e arrumar confusão, eles parecem sempre escolher a segunda.
Se há uma coisa que Bolsonaro não deve ter prestado atenção é que quando surgiram as primeiras grandes manifestações contra a ex-presidente, Dilma Rousseff, ela e o pessoal do PT também minimizaram a força dos protestos, e dos manifestantes, e deu no que deu.
O presidente alega a situação econômica que o país atravessa para os cortes nas verbas das Universidades Federais. E se esquece ele que, parando as pesquisas e os estudos, um país retrocede e anda a passos de tartaruga. Ou talvez ele saiba muito bem disso, e esteja pensando em fabricar idiotas uteis e massas de manobra que o sirvam, ou sirvam a sua ideologia.
Enquanto isso, o barco da governança segue meio desgovernado, sem articulação política, sem projetos para recuperar a economia, e para resolver o problema do desemprego, até mesmo, a importante Reforma da Previdência corre o risco de caducar, devido a sua incapacidade de dialogo com o Congresso.
Outra coisa que talvez Bolsonaro não se lembre é a de que a raiz dos insucessos de Dilma foi, justamente, a falta de dialogo com o Congresso.

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