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Caso Bernardo: O julgamento

Posted by Cottidianos on 02:49
Domingo, 17 de março

Bernardo Boldrini

Na semana que passou foram julgados, na cidade de Três Passos, Rio Grande do Sul, os acusados do assassinato do menino Bernardo Boldrini. O crime chocou o Brasil pelos requintes de crueldade e pela forma como foi praticado. O garoto desapareceu dia 04 de abril de 2014, e seu corpo apenas foi encontrado dez dias depois.
As investigações revelaram que a madrasta de Bernardo matou o menino com superdosagem do medicamento Midazolan. Os irmãos Edevâlnia e Evandro Wirganovicz ajudaram na execução do crime. E o pai do menino, Leandro Boldrini, foi o mentor do crime.
Os réus foram levados a júri popular que começou na segunda-feira, 11, no Fórum da Comarca de Três Passos, Rio Grande do Sul, e terminou na sexta-feira, 15. Ao final das cerca de 50 horas de julgamento transmitidos ao vivo, pela internet, a juíza responsável pelo processo, Sucilene Engler Werle, fez a leitura condenatória.
Graciele Ugolini, recebeu a pena mais alta: 34 anos e sete meses de prisão, inicialmente em regime fechado, pelos crimes de homicídio quadruplamente qualificado e ocultação de cadáver.
Leandro Boldrine, foi condenado a 33 anos e oito meses de prisão, pelos crimes de homicídio doloso quadruplamente qualificado, ocultação de cadáver e falsidade ideológica.
Edelvânia Wirganovicz foi condenada a 22 anos e dez meses de prisão pelos crimes de homicídio triplamente qualificado e ocultação de cadáver.
Evandro Wirganovicz, foi condenado a nove anos e seis meses em regime semiaberto por homicídio simples e ocultação de cadáver.
Abaixo, este blog dedica um texto especial ao menino Bernardo, no qual, fala do caso, porém, tornando Bernardo o próprio personagem do texto, e deixando que ele próprio, faça suas considerações acerca do ocorrido.

***

Enfim, a justiça!

 “Eu também gostaria de cumprimentar uma pessoa muito importante e que está aqui nesse plenário. E, quando eu digo que ele está aqui nesse plenário eu não consigo vê-lo, mas eu o sinto. É o Bê. O Bê está hoje aqui. O Bê nunca deixou de estar aqui. Todos os promotores que atuaram nesse caso até hoje, o sentiram, e o sentem. Esse processo tem energia. Esse processo, ele fala. O Bê se manifesta. E ele está aqui hoje, e ele espera por justiça. E é em nome dele que nós estamos aqui. Que o Ministério Público está aqui. Espero sinceramente representa-lo à altura, Bê. E dizer que faremos de tudo para trazer justiça a ti
Assim disse, dirigindo-se ao conselho de sentença, o promotor Bruno Bonamente, titular do processo contra os quatro réus, Leandro Boldrini, meu pai, Graciele Ugulini, minha madrasta, e os irmãos Edelvânia e Evandro Wirganovicz, todos acusados de planejar e executar a minha morte.
Eu quero te dizer, Dr. Bruno, que eu estava ali sim. Estive o tempo todo. Todo o tempo acompanhei o processo em cada fase. Gostaria de parabenizar também aos promotores que o auxiliaram nesse trabalho tão difícil: Dra.  Silvia Jappe, e Dr. Ederson Vieira.
Vi, ainda na noite de sexta-feira, 15, quando o julgamento chegou ao final, o momento em que vocês vieram até a porta do Fórum da Comarca de Três Passos, para conceder uma entrevista coletiva de imprensa. Mais de uma centena de pessoas estava em frente ao local e os aplaudiram com merecido entusiasmo. Sim, Dr. Bruno, o Ministério Público me representou à altura, e conseguiu fazer com que justiça fosse feita.
Gostaria de parabenizá-los, e aplaudi-los com o mesmo entusiasmo com que foram aplaudidos pela população de minha querida Três Passos, cidade que foi o meu chão, a minha raiz, quando eu ainda estava aí entre vocês.
Aproveito ainda para agradecer a minha querida Vô, Jussara Uglione, e a todos os meus familiares. Vai meu agradecimento aos meus amigos e a toda a comunidade de Três Passos que me acolheram, me apoiaram, e me deram o pão que sempre me faltou em casa: amor e carinho. Quero dizer que vocês muito me ajudaram e tornaram a minha cruz mais leve, mais suave. Agradeço também aos milhões de brasileiros que se entristeceram, que se revoltaram com o modo frio e calculista com que fui assassinado, e rezaram por mim. A todos, meu muito obrigado.
Após o julgamento, chorei o choro mas forte que se pode chorar. As lágrimas mais fortes são aquelas derramadas pela alma. Chorei por saber que não teria oportunidade — como terão os meus conterrâneos, que tinha a mesma idade que eu, 11 anos, na época em desencarnei — de crescer de ver o meu corpo mudando durantes as várias fases da vida.
Pensei nos brinquedos que estavam à minha espera e que ficarão perdidos em algum recanto do tempo… Nos amores que estavam à minha espera nas esquinas da vida e que por lá ficarão… Em pequenos prazeres que, de tanto a gente praticar, nem se dá conta de que são tão importantes, como é o belo e gostoso costume gaúcho de segurar entre as mãos uma cuia de chimarrão e sorver o mate… O curso universitário que faria em alguma das faculdades gaúchas, ou em até mesmo, em alguma universidade em outro estado brasileiro… Na carreira profissional que seguiria e a qual procuraria dar o meu melhor… Enfim, tantas outras coisas me vieram à consciência naquele momento...
Ainda naquela sala de julgamento fiquei triste e decepcionado por ver que os meus algozes não mudaram muito depois daqueles tristes dias em que tudo mudou, para mim e para eles. Cinco anos já se passaram depois daqueles trágicos e revoltantes acontecimentos, entretanto, os assassinos continuam tão frios e dissimulados quanto antes. A única diferença é que agora estão atrás das grades.
Entendo também que todo o teatro que armaram naquela sala tinha a intenção de convencer o júri. O meu pai, de convencer o júri de que não sabia de nada, a Graciele, o de que tudo não passou de um acidente. A Edevâlnia, de que foi coagida a me levar até a beira daquele riacho, na cidade de Frederico Westphalen, e junto, com minha madrasta, me enterrar naquela cova rasa. E ao Evandro, coube a afirmação de que estava de férias naqueles dias e que tinha ido para aqueles lados da cidade Frederico — onde cavou o buraco no qual me colocaram — apenas para o simples prazer da pesca.
Entendo que todos tentavam apenas aliviar suas penas, e passar menos tempo na cadeia. Mas teria sido bem mais vantajoso para suas almas se tivessem confessado os crimes de que eram acusados e que fartamente foi provado nos autos do processo.
A justiça humana foi feita. Quem fez o mal deve pagar por ele. Quanto a justiça divina, essa é mais rigorosa que a justiça humana. Dessa ele também já começaram a experimentar. O que eles não entendem agora é que ela se faz com o decorrer da caminhada, e, que, quando vierem para o outro lado do caminho, no qual eu já estou, lhes serão pedidas contas de seus atos e atitudes praticadas no plano terrestre.  
Eu fui uma criança feliz na época em que vivia com minha mãe. Meu pai — apesar de, naquela época, já ter a personalidade deturpada pela ambição — me tratava bem. O amor? Esse, infelizmente, minha mãe, Odilaine Uglione, não o conheceu em sua plenitude enquanto esteve aqui na terra.
Para o jovem Leandro Boldrini, meu pai, o que importava eram os bens materiais que minha mãe possuía. Era um estar junto por interesse. E onde predomina esse sentimento a felicidade não chega perto. Ela fica de longe, apenas observando. Quando há um encontro de almas, aí, sim ela chega e faz a festa.
Quantos dramas e sofrimentos deve ter ela passado? Quantas feridas e chagas na alma não lhe foram abertas enquanto esteve casada com meu pai? Isso, somente ela poderá vos relatar. Foram dramas muito íntimos, que para ela já passaram e não adianta mais falar dessas coisas tristes, até porque ela já passou pelos tratamentos pelos quais era necessário nas clínicas do mundo espiritual, e já está liberta das dores e dos sofrimentos que trouxe daí da Terra.
O sofrimento dela foi tanto que chegou a ponto de praticar o ato mais extremo que um ser humano pode ter: tirar a própria vida. Chegou-se a duvidar de meu pai à época. Ficou a dúvida se, realmente, fora suicídio. Foi aberto uma investigação para averiguar o fato, mas, ao final, não encontraram provas de que ele era o culpado. Mas há várias formas de se levar uma pessoa ao suicídio... tortura psicológica é uma delas. Mas essas coisas são tão sutis que não ficam provadas em laudos técnicos.
Tudo mudou quando apareceu em nossa vida a Graciele Ugolini. Ela encarna muito bem a madrasta má dos contos infantis. Por ela, meu pai fez minha mãe sofrer. Luto pela morte de minha mãe, meu pai não respeitou. Poucos dias depois da morte já havia assumido o relacionamento com a amante, e pouco tempo depois já levou ela para morar com ele.
No início, Graciele até fingiu ser uma boa pessoa, talvez para não assustar demais meu pai. Ela usou uma máscara, podemos dizer assim. Quando passamos a morar nós três na mesma casa, eu, meu pai, Leandro, e ela, eu já me sentia como uma peça fora de lugar, um peixe fora d’água. Quando Graciele deu à luz a minha irmã, Maria Valentina, então nem se fala. Fui colocado de escanteio. A verdade, é que juntou a ambição desmedida de meu pai com a vaidade sem limites da Graciele e o mal e o desamor passaram a reinar naquela casa. Entre os dois poderia haver qualquer sentimento, mas aquilo não se poderia chamar de amor. Amor não mata. Amor faz viver.
A partir daí vieram os maus tratos e o desprezo por parte tanto de meu pai, quanto de minha madrasta. As discussões entre mim e ela era constantes. Mas meu pai, em vez de me defender, ficava era me filmando, para depois juntar provas de que eu era um desequilibrado, uma criança má. Qualquer outro pai, botaria o filho no colo e o acalmaria. Mas como fizera com minha mãe, o que eu representava para ele não era o amor que ele podia me dedicar, mas a herança que minha mãe havia deixado, e que seria minha, por direito, depois que atingisse a maioridade.
Talvez fosse esse o medo de meu pai. Talvez tenha sido essa a causa pela qual ele, mesmo achando que eu era um estorvo para eles, não permitiu que eu fosse morar com minha Vô, por exemplo.
Até o dia em que armaram para mim a armadilha fatal. E eu, tal qual pássaro frágil e inocente, caí com facilidade. Meu pai e minha madrasta armaram aquele plano diabólico de me levar para a cidade de Frederico Westphalen para comprar uma televisão nova, e um aquário para mim. Graciele me levou até lá, e, chegando na cidade, onde Edelvânia morava, elas inventaram outra mentira para me levar para a área rural: disseram que estavam me levando para uma benzedeira.
Eu já estava meio dopado com o medicamento que Graciele havia me dado durante a viagem. Minha cabeça não raciocinava mais com clareza. Estava como ovelha que é levado para o matadouro. Chegado ao local escolhido por elas para consumarem o fato, Graciele aplicou a última dose letal do medicamento, Midazolam, na minha veia. A cova já havia sido aberta antes pelo Evandro, irmã da Edelvânia. Essa ajudou minha madrasta a despir o meu corpo, colocá-lo em um saco plástico, jogá-lo na cova, e jogar soda caustica por cima, para a que decomposição do corpo se desse de forma mais rápida.
Era dia 04 de abril de 2014, quando me levaram como ovelha para o abate. Meu corpo só foi encontrado dez dias depois, em 14 abril. Depois que descobriram meu corpo naquela cova rasa, fui enterrado na cidade de Santa Maria, no mesmo jazigo que minha mãe.
Agora, é hora de enxugar as lágrimas choradas pela alma, e seguir meu caminho na eternidade. Também eu, quando cheguei no mundo espiritual, precisei tratar a alma, pois eram muitas as feridas que trazia nela, e muitos os sofrimento causado pelo modo cruel com que fui obrigado a me despedir do plano terrestre. Mas encontrei conforto, paz, e amor em meu novo lar, e esses remédios são capazes de curar as feridas mais profundas. Agora estou bem. Estou em paz.
Quanto aos meus algozes, vai para eles o meu perdão. Pois quem entra no plano espiritual com a alma cheia de desejos de vingança e outros sentimentos semelhantes apenas torna a caminhada que era para ser iluminada, muito penosa e dolorida. E essas coisas não quero para mim, assim como não quero para nenhum de vocês. Tenho pena do meu pai Leandro Boldrini, que ao que parece ainda não se libertou da aura densa que o circunda, ainda conserva frieza e falta de amor. Tenha pena também dos comparsas dele.
E aqui eu trago à vossa mente as palavras do Mestre Jesus, em Marcos, capítulo 8l, versículo 36: “De que serve ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a própria alma?” De que adiantou a eles tanta ganancia? Tanta vaidade? Tanto egoísmo e desamor?
Todos esses sentimentos tenebrosos apenas contribuíram para que suas vidas se tornassem um inferno ainda aqui na terra. Com sua atitude apenas perderam o melhor de suas vidas. E o que era para ser jardim florido, se tornou denso matagal. O que era para ser alegria — se tivessem compreendido que a vida é dom divino — se tornou um rio de lágrimas e de tristeza.
É assim. Na vida somo responsáveis por nossos próprios atos e ações. Quando o ser humano se deixa cegar pela maldade, pela inveja, pela ambição sem limites o preço a pagar é alto e as lágrimas amargas a serem choradas são muitas.
Meu desejo é para que vocês vivam suas vidas com responsabilidade. Cuidem-se um dos outros. Afinal todos somos filhos do mesmo pai divino, de quem saímos e para quem um dia retornaremos.
Fiquem em paz.

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