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Quem matou Marielle Franco?

Posted by Cottidianos on 00:23
Sexta-feira, 16 de março

O mundo todo marcado
A ferro, fogo e desprezo
A vida é o fio do tempo
A morte é o fim do novelo.
O olhar que assusta
Anda morto
O olhar que avisa
Anda aceso
(Desenredo – Dori Caymmi)


 Se o Brasil não a conhecia hoje passou a conhecer. Tarde demais? Não de forma alguma! Seu nome ficará marcado nas causas que defendeu, nas pessoas que ajudou, e no futuro no qual acreditou.

Marielle Franco é o nome dela. Em um país que discrimina negros, pobres e mulheres, ela conseguiu formar-se na universidade e entrar na política — um território ainda dominado pelos homens — e dela fez seu microfone para gritar bem alto: Não a injustiça, não a violência, basta de desigualdade.
Vereadora na cidade do Rio de Janeiro, na noite de quarta-feira (14), ela tinha acabado de participar de um encontro com mulheres negras, na Lapa, Centro do Rio. Aliás, essa era a vida de Marielle: em um mundo em que as pessoas parecem ter se esquecido de promover a vida, e saem por aí se agredindo, humilhando, diminuindo e maltratando o outro, se não com atos, mas com palavras, as quais, muitas vezes, ferem e machucam tanto quanto uma ferida no corpo, ela ajudava a resgatar a autoestima nas pessoas nas quais ela já começava a faltar, ou mesmo já tinha acabado de vez.
O encontro terminou por volta das nove da noite, e Marielle, o motorista dela, Anderson Pedro Gomes, e uma assessora da vereadora, entraram no carro, e rumaram para casa, certamente, com a sensação de missão cumprida para aquela noite. Já haviam percorrido três quilômetros quando chegaram ao bairro do Estácio, ainda na região central da cidade. Aí encontraram o terror, a fatalidade e a morte.
Um carro emparelhou com o carro em que eles viajavam, e, em uma ação rápida, deram nove tiros, e fugiram. Todos os tiros foram disparados do lado direito, que era onde viajava Marielle. Quatro tiros atingiram a vereadora na cabeça. O motorista foi baleado três vezes nas costas. Os dois morreram na hora. A assessora que viajava ao lado da vereadora, teve apenas ferimentos leves provocados pelos estilhaços dos vidros do carro.
Calaram uma voz que se levantava contra as injustiças cometidas contra as mulheres e homens negros, contra a discriminação contra os gays e lésbicas, contra os praticantes das religiões afro-brasileiras, e contra a violência praticada pelos policiais contra o povo das favelas.

Marielle perdeu a vida em ato de violência praticado contra ela, e coincidentemente, entrou para a luta em defesa dos oprimidos quando perdeu uma amiga, vítima de uma bala perdida, na favela onde nasceu. Apesar dos recursos e das muitas dificuldades, foi estudante bolsista na PUC-Rio, e formou-se em Sociologia naquela universidade. Depois, fez mestrado em Administração Pública na Universidade Federal Fluminense. Nas eleições de 2016, candidatou-se a vereadora pela cidade do Rio de Janeiro. Esperava ter cerca de 6.000 votos, 7.000, no máximo. Teve 46.502, tornando-se a quinta candidata mais votada na cidade.
Apesar do pouco tempo de mandato, tinha uma participação ativa naquela casa legislativa. Presidia a Comissão de Defesa da Mulher, além disso, juntamente com mais três vereadores, participava como relatora em uma comissão criada em fevereiro para acompanhar os trabalhos da intervenção federal na área de segurança pública do Rio de Janeiro.
Ultimamente, questionava as ações violentas da polícia contra os moradores da favela. “O que está acontecendo agora em Acari é um absurdo! E acontece desde sempre! O 41° batalhão da PM é conhecido como Batalhão da morte. CHEGA de esculachar a população! CHEGA de matarem nossos jovens!”, escreveu ela nas redes sociais, no último dia 10.
Mariele se foi, mas deixou as sementes de suas aspirações e anseios de um Brasil mais justo plantadas, e elas, queira Deus, haverão de florescer.

Sob o manto de um Rio de Janeiro em lágrimas, e um Brasil em choque, milhares de pessoas acompanharam, nesta quinta-feira (15), o velório e enterro da vereadora, e do motoristas dela. Os corpos foram velados na Câmara Municipal do Rio de Janeiro. O corpo de Marielle foi sepultado no Cemitério São Francisco Xavier, no Caju, Zona Portuária, enquanto o corpo de Anderson foi levado para o Cemitério de Inhaúma, na Zona Norte.
Todos os indícios do crime apontam para uma execução. Um ato muito bem planejado. A vereadora não costumava viajar no banco de trás como aconteceu na noite do crime. Além disso, os vidros do carro tinha película escura, e não havia como, em uma ação rápida, identificar quem estava sentado e onde. O provável é que os assassinos já estivessem vendo toda a movimentação do grupo desde que eles saíram da Lapa.
A morte da vereadora, Marielle Franco, do motorista, Anderson Gomes, e tantas outras mortes de inocentes que tem acontecido no Rio de Janeiro, apenas mostram que o Rio se tornou um território sem lei, terra de ninguém, sob a qual o poder público perdeu o controle.
A imensa corrupção que tomou conta do estado atingiu a base de todas as instituições, desde a polícia até o governo, há muita gente conivente com o crime e com a roubalheira. Vai ser muito difícil a cidade e o estado do Rio de Janeiro arrumar a casa. Difícil, mas não impossível. Para isso é preciso que, a cada Marielle que morre, dez abracem a causa.
Com o crime praticado contra a vereadora na noite de quarta-feira (14), e que vitimou também o motorista Anderson Gomes, os criminosos, claramente, desfiaram o poder público, em um momento em que o Rio está sob intervenção federal. E se o poder público quiser ainda erguer a cabeça, e mostrar um pouco de respeito, ordem, e dignidade, vai ter que dar respostas, e rápido, a duas pergunta que todos se tem feito: quem matou Marielle, e por quê?

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