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Um brinde à demagogia

Posted by Cottidianos on 00:36
Quinta-feira, 07 de dezembro



Meus Amigos, minhas amigas começamos dezembro com boas notícias. Primeiro, para os prefeitos e prefeitas do nosso país. Graças à melhoria dos resultados econômicos, estamos transferindo R$ 2 bilhões a mais para os municípios. Os prefeitos pagarão o 13 salário e poderão fechar as contas de 2017 com mais tranquilidade. Comemoramos também, aqui a notícia é para todos, comemoramos também o PIB positivo, que acaba de ser divulgado. Como vocês sabem, o PIB é a soma de todas as riquezas produzidas pelo pais, que é fruto do trabalho de todos os brasileiros.
Os números mostram que recuperamos os investimentos. É o primeiro resultado positivo depois de mais de três anos. E porque isso é importante? Porque quando os empresários investem, a economia aquece e surgem os empregos.
Vamos fechar 2017 no positivo, deixando para trás a recessão. É uma grande vitória. Outra boa notícia é que o IBGE anunciou que o desemprego segue caindo pelo terceiro trimestre consecutivo temos bons resultados no mercado de trabalho. De agosto a outubro, mais de 868 mil pessoas conseguiram um emprego. E o valor dos salários está em média, 4,6% mais alto do que no ano passado. É mais renda mensal para todas as famílias.
A realidade é essa: nossa economia cresce, a inflação e os juros caem, incentivando a produção e o consumo. E tudo isso ocorre exatamente porque tivemos coragem de fazer as reformas necessárias. Produzimos mais mudanças do qualquer governo do passado recente. Estamos transformando o Brasil.
Falta gora, a Reforma da Previdência, fundamental para a garantir a continuidade desse crescimento que já está aí. É uma reforma para o povo, porque combate os privilégios e mantém os direitos de quem já se aposentou ou mesmo de quem já tem condição de aposentar-se. Não muda nada para o trabalhador rural, nem para os mais pobres, nem para os que dependem da assistência social. O que se busca é a igualdade de oportunidades, sem distinção entre servidores públicos e trabalhadores da iniciativa privada.
Tenho compromisso com o povo, trabalho para convencer os companheiros do Congresso nacional que muito tem auxiliado o governo a votar essa matéria pelo bem de todos. É hora dos brasileiros que acreditam no futuro entrarem em cena. Juntos construiremos uma nação melhor.
Eis, caros senhores e senhoras, um gritante exemplo de um discurso puramente demagógico.

E o que é um discurso demagógico? Vamos lá. Para bem compreender o significado desta palavra, vamos recorrer àquele a quem todos recorrem quando querem clarificar um vocábulo: o dicionário. Essa arma tão útil na guerra das palavras, antes ficava só papel, nos livros grossos e de folhas amareladas pelo tempo e castigadas pelo constante manuseio das mãos. Hoje, não. Eles também podem ser online de fácil consulta.
Vamos ao que nos interessa que é o vocábulo, demagogia. Vamos a uma definição bem sucinta. Lá no dicionário está escrito: “Excitação das paixões populares em proveito político”.

Se considerarmos que o ano que vem é ano de eleições, então o discurso de nosso presidente não eleito pelo voto popular passa e muito de demagógico. Nisso, ele se assemelha a sua antecessora, Dilma Rousseff, que, a bem compreender, a sala estava em chamas e ela, calmamente, dizia: é apenas uma faísca, logo cessará”.

O país ainda mergulhado numa crise sem precedentes, e ele pintando um quadro paradisíaco da situação. Mas sabem de um coisa, ele tem razão, não estamos crise. Vivemos o melhor momento de nossa economia. O dinheiro circula com facilidade pelos nossos bolsos, emprego está em alta, e as coisas no supermercado não nos parecem tão caras. Viagens? Ah, viagens! Podem planejar à vontade, que o ocorrer disto não dependerá ou não da alta do dólar.

Quando é usado o pronome, nós, nesse texto, na verdade, substituam-no pelo pronome eles. E como eles, quero referir-me aos nossos “respeitáveis” políticos. Para eles que usufruem de uma enxurrada de regalias e mordomias, a crise passa bem longe. Sentado em seus luxuosos gabinetes, podem dar-se ao luxo de muita coisa, inclusive o de não serem importunados pela polícia, nem de serem presos, e ainda, por cima, de atrapalhar investigações importantes na atual conjuntura do país, ou mesmo podem dar-se ao luxo de querer sufocá-las, asfixiá-las, empurrá-las para debaixo de tapete.

Onde já se viu tal coisa? Que país que deseja se colocar em primeiro plano no cenário nacional e internacional quer abolir de seus nortes de ação a ética, a moral, e a decência? Em que país do mundo que se queira proclamar desenvolvido, os parlamentares se fecham em uma concha, formulando e executando conchavos para proteger um presidente enterrado na lama da corrupção quase até o pescoço? Em que nação, cuja bandeira ostenta o belo lema: ordem e progresso, os parlamentares viram completamente às costas para o povo e se vendem por verbas, cargos, e salários.

Ora, senhoras e senhores, esse país existe e se chama Brasil, nosso amado torrão natal, ao qual tanto amamos.

Temer se gaba, logo no início do seu discurso, de que vai transferir R$ 2 bilhões de reais para os municípios. Ora, iniciativa louvável! Louvável que nada. Lembre-se de o presidente gastou dez vezes mais para comprar deputados para livrá-lo do prosseguimento das duas denuncias oferecidas contra ele pela Procuradoria Geral da República, que, por duas vezes, chegaram à Câmara dos Deputados. Isso sem contar os R$ 200 milhões liberados pelo governo em emendas orçamentárias, com o intuito de mobilizar os deputados para devolver ao senador tucano, Aécio Neves, o mandato que estava em jogo.

Depois, e ainda no mesmo parágrafo, o presidente comemora com estardalhaço um ínfimo crescimento no PIB de 0,1%. Ora, se os economistas, os comentaristas de economia, e o presidente querem comemorar um crescimento tão medíocre, que comemorem, abram seus champagnes caros e franceses, comprados com o dinheiro do contribuinte.

O povo não. Esse vive o drama do fantasma da inflação e da recessão, que vorazmente lhes devoram os salários, as economias. O povo deve ficar atento também para não se deixar enganar por esses discursos tolos e vazios. Afinal, ano que vem é ano de eleição, e eles, os políticos, voltam à cena com suas mãos estendidas e sorrisos amáveis nos rostos. Sorrisos esses que escondem suas maquiavélicas intenções.

No último parágrafo do seu texto, o presidente diz: “Tenho um compromisso com o povo”. Sim, ele tem compromisso com povo. Com o povo dele. E com os políticos que lhe lambem os pés e se fazem para ele de tapetes, em troca de verbas orçamentárias e de cargos no governo. Porque, com o povo mesmo, entendido no seu sentido pleno da palavra, o presidente, até agora, não mostrou compromisso nenhum. Ao contrário, seu governo é para a cozinha do planalto e seus convidados ilustres e corruptos.

Abaixo, este blog compartilha artigo do jornalista, Xico Sá, publicada no jornal El País Brasil, no último 01 de dezembro. O artigo é intitulado:   Guia paracomemorar o pibinho.

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Guia para comemorar o pibinho

Eis que tamanho não é mais documento na economia
Intermitentes do mundo, uni-vos no brinde da festa da firma

XICO SÁ

“Setembro passou, Outubro e Novembro, já tamo em Dezembro, meu Deus, que é de nós?”. Desperto no derradeiro mês deste 2017 com o canto semi-árido e existencialista de Patativa do Assaré, o poeta andarilho, no juízo. Calma, não vou estragar o seu final de ano, afinal de contas a mídia está repleta de boas notícias. Repare no caso do micropibinho, quantas manchetes alvissareiras, quanto foguetório, euforia é mato nos periódicos e portais.

Bimbalham os sinos. Antecipemos nossos espumantes, seja uma Sidra Cereser ou a ostentação de uma garrafa de Veuve Clicquot. Comece a gastar por conta. Não economize na farofa, na uva passa, viaje mesmo no salpicão. Por favor, não sejam “partidários da fracassomania” – a expressão tem grife, é de um FHC II, safra da virada do século XXI, encorpado na Sorbonne, uvas europeias (Cabernet Franc?), mesmo com o aroma de jurubeba do mais antigo ex-PFL baiano.

Tamanho agora não é mais documento na economia brasileira: o pibinho do Temer está com tudo. Pense numa potência!

Intermitentes do Oiapoque ao Chuí, uni-vos. Boa festa de firma. Temos é que agradecer ao chefe por este bico, beijar a boca do senhor casmurro do departamento pessoal, investir alto no presente do amigo secreto caso ele seja um superior no organograma. E nada de exagerar na jurupinga. Cuidado com o vexame, aquele vídeo no WhatsApp pode destruir uma carreira promissora. Tempos modernos e corretos.

O micropibinho é tudo. Não vale lembrar, colega memorioso, a frase exemplar do presidente Emílio Garrastazu Médici, safra 1970, com aroma de ditadura amadeirada – e põe cassetete nisso! – e notas de chumbo. “A economia vai bem e o povo vai mal,” bradou o general. Não vem ao caso, em nenhum sentido, a não ser no otimismo oficial, a boutade de farda verde-oliva.

Por viajar nos 70, temos uma seleção canarinha pai d´égua e o Tite nos conduzirá rumo à estação Finlândia. O pagode russo está só começando. Boa festa da firma e até a próxima.


Xico Sá, jornalista e escritor, é autor de “A pátria em sandálias da humildade” (editora Realejo, 2017), entre outros livros. Comentarista nos programas “Papo de Segunda” (GNT) e “Redação Sportv”.

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