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Heróis e vilões

Posted by Cottidianos on 15:27
Sábado, 30 de dezembro



Comecemos com Zumbi dos Palmares.

Zumbi foi um forte líder do maior quilombo existente no período colonial, que era situado na Capitania de Pernambuco, na Serra da Barriga, em uma região que atualmente pertence ao município de União de Palmares, no estado de Alagoas.

Mais que um quilombo, o lugar era um espaço de liberdade criado em meio à opressão das chibatas, troncos, correntes, e senzalas, e, mais que isso, uma negação total do ser negro por uma comunidade escravista e exploradora.

Era ao Quilombo dos Palmares que se dirigiam os negros fugidos das fazendas. Palmares chegou a ter por volta de trinta mil habitantes, população considerável se considerarmos que se fala dos anos 1600.

Os negros não se conformavam com um sistema social injusto e buscaram alternativas de liberdade.

Demos também uma passada em Minas Gerais, ainda no período colonial, nos idos de 1700. Naqueles longínquos anos, a coroa portuguesa, cobrava altíssimos impostos sobre as riquezas retiradas da região, principalmente sobre o ouro, produto sobre o qual era cobrado o chamado quinto, que equivalia a 20% do total extraído. Mesmo quando o ouro extraído na região começou a rarear, o imposto não foi reduzido, permanecendo na casa dos 20%. Tudo isso começou a incomodar um grupo de intelectuais mineiros que se uniram num movimento chamado Inconfidência Mineira para lutar contra essas injustiças.  Sob a liderança desse movimento estava Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes.

Em São Paulo, entre os meses de julho e outubro de 1932, surgiu um movimento armado, denominado Revolução Constitucionalista de 1932, cujo objetivo era por fim ao governo provisório de Getúlio Vargas, e convocar uma Assembleia Nacional Constituinte. Os paulistas descontentes com o governo provisório de Getúlio Vargas empreenderam uma revolta armada que durou de julho a outubro de 1932.

Mais recentemente, tivemos o movimento Diretas Já, quando a população brasileira foi às ruas reivindicando eleições diretas para presidente da República. O movimento aconteceu nos anos de 1983-1984, e teve a participação de partidos políticos, intelectuais, artistas, e de toda a população brasileira. O povo foi às ruas, grandes comícios foram realizados. Era um tempo de esperança.

Exceto, este último que teve um final feliz, todos os outros movimentos citados não tiveram um desfecho feliz. O Quilombo dos Palmares, apesar de ter existido e resistido por mais de um século foi vencido pelas forças militares do estado. Os inconfidentes foram traídos, Tiradentes enforcado, e o movimento abafado. Os que fizeram a Revolução Paulista foram vencidos pelas tropas getulistas. Porém, vitoriosos ou não, esses personagens e movimentos se tornaram marcas registradas na história pelo seu caráter de contestação e luta contra alguma situação de opressão.

Eram tempos idealistas. Eram tempos de utopias. Eram tempos de sonhadores e realizadores. Eram tempos de heróis. Eram tempos de esperança.

E nos tempos atuais, onde estão todas essas coisas?

Os idealistas sumiram, as utopias morreram, os sonhadores se esconderam em algum lugar do passado. Os heróis? Desses há tempos não se ouve falar.

Desde que, em 2005, estourou o escândalo do mensalão, o Brasil tem visto um mar de lama invadir as brancas areias de suas praias de esperança, e tem assistido de braços cruzados a tudo isso.

Houve algumas parcas e esparsas reações, como, por exemplo, os protestos populares que tomaram as ruas em 2013, quando o povo foi às ruas, de forma desorganizada e sem liderança, para protestar contra diversos espinhos que atormentavam a vida do brasileiro.

Depois o povo retornou às ruas exigindo o impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Até aí, se pensava que o grande vilão era o PT e seus corruptos integrantes... Até que veio a Lava Jato e nos mostrou que não havia um partido inimigo, mas que em todos os partidos havia inimigos, políticos corruptos e desavergonhados, que não mediam esforços em ludibriar os eleitores e depenar os cofres públicos.

A partir daí houve um espécie de letargia no povo. Ninguém saí mais às ruas. Ninguém protesta. Ninguém faz nada para que essa situação mude. Estarão os brasileiros assustados? Estarão apáticos? Decepcionados, com certeza. Mas de que modo, e por quais meios expressarão suas inquietações e insatisfações? Isso parece, no momento, uma incógnita.

Saiu Dilma e entrou Temer, e descobrimos que Dilma estava com a razão quando se dizia vítima de um golpe. Com a frieza e capacidade de fazer manobras nada constitucionais demonstradas pelo atual presidente e seus ministros e correligionários, é possível perceber que a queda de Rousseff foi muito bem tramada, não pelo povo, mas por aqueles que, nos submundos de Brasília, desejavam assumir o poder, para poderem, dessa forma, diminuir a força e a atuação daquela operação cujo objetivo é atenuar a corrupção em nosso país: a Lava Jato.

As manobras do governo Temer, no sentido de fazer prosseguir a corrupção são notórias, e parece que os governistas não fazem questão de esconder de que lado estão. Haja visto o indulto de Natal, assinado pelo presidente Temer, no qual o presidente reduz o tempo mínimo de prisão para que o preso possa ter acesso ao indulto: de quatro para um quinto do total, nos casos de crime sem violência à pessoa ou grave ameaça, como é o caso dos crimes de lavagem de dinheiro e corrupção. A questão é que o decreto assinado pelo presidente atinge aos condenados por este tipo de crime.

 O decreto também estabelece a diminuição das multas que os condenados por corrupção tem que pagar. Em entrevista a Globo News, o procurador da República, Deltan Dallagnol afirmou: “É um feirão de Natal. Não podemos perder de vista o contexto em que isso está acontecendo. Nós precisamos ver que o presidente da República é acusado por crime de corrupção e as pessoas ao redor dele também estão sendo denunciadas ou presas por crime de corrupção. O que esse decreto de indulto faz é arranjar uma saída para todo esse povo. Esse decreto de indulto diz para esse povo: ‘olha, vocês vão ter que cumprir só 20% da pena, o resto vai ser perdoado. Isso passa uma mensagem péssima pra sociedade. Passa a mensagem de que a corrupção no Brasil compensa mais ainda do que já compensava. É um tapa na cara dos brasileiros. É uma vergonha nacional e isso precisa ser mudado”.

O decreto causou polêmica e indignação, tanto que a Procuradora-Geral da República (PGR), Raquel Dodge, entrou com ação no STF, pedindo a suspensão do indulto natalino concedido por Temer.

Atendendo ao pedido da PGR, a ministra do Supremo, Carmem Lúcia, suspendeu parte do decreto, e a decisão sobre o indulto vai ficar a cargo do Supremo Tribunal Federal.

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