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Quem fala demais, dá bom dia a cavalo

Posted by Cottidianos on 01:00
Sexta-feira, 27 de outubro


E ele se vai. Vai para bem longe. Cerca de 1.460 km de onde se encontra atualmente. Vai para residir com gente da qualidade dele, dizendo em linguagem vulgar, de gente da laia dele. Por quanto tempo não se sabe ao certo, mas que ele recebeu uma grande lição, ah isso recebeu. Não sei se aprendeu alguma coisa com isso.

Por “ele”, entenda-se o ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral. O ex-governador vai ser transferido para a penitenciária de segurança máxima de Campo Grande, no estado do Mato Grosso do Sul.

No Brasil existem quatro penitenciárias de segurança máxima: Penitenciária Federal de Catanduvas (Paraná), Penitenciária Federal de Porto Velho (Rondônia), Penitenciária Federal de Mossoró (Rio Grande do Norte), e a de Campo Grande, para onde vai Sérgio Cabral. Todas elas foram construídas usando equipamentos e modernos sistemas de vigilância, com a finalidade de isolar presos perigosos de todo o país.

A população carcerária de Campo Grande é formada, principalmente, por perigosos traficantes e chefes de facções criminosas.

Apesar de ser vizinho de toda essa gente perigosa, Cabral não vai dividir a mesma cela com eles. Ele vai ficar em uma área do presídio separada desses bandidos. As celas da penitenciária de Campo Grande são individuais, mas não tem lá muito luxo não: uma cela simples, com 7 metros quadrados, banheiro, cama, e escrivaninha.

Onde está atualmente, em Benfica, no Rio, Cabral divide a cela com outros 04 detentos, e tem o direito de poder assistir TV. Em Campo Grande, perde as companhias e o direito a ver televisão.

O ex-governador será levado de avião até sua nova “residência”, entretanto, por segurança, o Departamento Penitenciário Nacional não vai divulgar a data da transferência do preso. A transferência de Sérgio Cabral do Rio para Campo Grande foi um pedido do Ministério Público Federal.

E porque o MP tomou essa decisão dura em relação ao ex-governador? Porque ele falou demais, deu com a língua nos dentes. Já dizia o velho ditado popular: “Quem fala demais, dá bom dia a cavalo”.

Foi durante uma audiência com o juiz Marcelo Bretas, da 7a Vara Federal do Rio, na segunda-feira (23). Talvez o ex-governador estivesse meio descontrolado, a fim de falar mal de alguém... E falou mal do cara errado.

Já no inicio da audiência, Cabral reclamou de duas sentenças dadas por Bretas. Uma na qual o juiz sentencia o preso a 45 anos, e outra em 13 anos de prisão.      O preso disse verificar que o juiz não acreditava nele.  O juiz disse que não queria falar de fatos já julgados. Já foi um alerta para Cabral, mas ele não entendeu a deixa do juiz.

A audiência do último dia 23 versava sobre a acusação de que o ex-governador havia comprado R$ 4,5 milhões em joias para lavar dinheiro. Ao invés de Sérgio Cabral se limitar as perguntas feitas pelo juiz, ele contra argumentou dizendo que o juiz Marcelo Bretas, devia conhecer em o assunto pelo fato de a família do juiz trabalhar com bijuterias. O juiz não gostou nenhum pouco desse comentário.

Entre os dois se deu o seguinte dialogo:

Sergio Cabral: Não se lava dinheiro comprando joias. Vossa excelência tem um relativo conhecimento sobre o assunto, porque sua família mexe com bijuterias. Se não me engano, é a maior empresa de bijuterias do estado. Então, a vossa excelência conhece...
Marcelo Bretas: Eu discordo...
Sergio Cabral: São as informações que me chegaram...
Marcelo Bretas: Eu acho melhor fazer perguntas, porque eu não quero que o senhor conte histórico da minha família, não estou interessado em saber o que o senhor conseguiu a respeito. O senhor comprou essas joias? O senhor comprou?
Sergio Cabral: Vossa excelência sabe que joias, quando são compradas, e saem da loja, elas já saem sem o valor da vitrine.
Marcelo Bretas: Eu não sei nada, senhor Sérgio. Eu quero que o senhor me diga: o senhor comprou essas joias todas que estão com o estado?
Sergio Cabral: Então, sobre a denúncia, o que eu estou lhe dizendo que eu comprei as joias, fruto de caixa dois de campanha, o que vossa excelência não acredita.
Marcelo Bretas: Não acreditei.
Sergio Cabral: Eu fui o maior arrecadador, não foi fruto de propina.
Depois o juiz quis saber de Cabral se ele havia feito uso de joias para pagar outras joias. Cabral foi bastante irônico chamando o caso de “teatro das joias”, montado pelo Ministério Público, acrescentando que era “um teatro mal feito, um teatro de corta e cola”.

A audiência foi tensa do início ao fim. Cabral a tornou tensa. A esse momento tenso do “teatro das joias”, seguiu-se outro, que foi quando o juiz questionou a forma como Cabral pagou as joias.

Cabral dizia que o pagamento era fruto de caixa dois de campanha eleitoral. O juiz chamou a atenção para o fato de que os pagamentos eram feitos em períodos constantes e não apenas em época de eleição.

Aos questionamentos do juiz, Cabral deu uma resposta extremamente arrogante, nem parecia que estava em audiência, perante um juiz. Disse o ex-governador: “O senhor não entendeu ainda que o processo eleitoral se dá antes, durante e depois de campanhas, e que eu chefiei, eu fui, queira o senhor ou não, eu fui o líder desse estado. Queira o senhor ou não”. Bretas, bastante surpreso, talvez mais irritado que surpreso, disse: “Como assim queira? Não estou entendendo”.

Acham que o caldeirão está quente? Ferver ele iria ainda mais.

Em certo momento da audiência, o ex-governador se disse injustiçado, e que o juiz estava querendo se projetar, através dele, Cabral. Entre os dois se deu o seguinte diálogo:

Marcelo Bretas: O senhor está querendo criar, mais uma vez, aquele discurso de injustiçado...
Sergio Cabral: Eu não estou querendo criar discurso nenhum, eu já fiz muito discurso na vida. Eu estou sendo injustiçado. Eu estou sendo injustiçado. Mas é o meu direito de dizer que eu estou sendo injustiçado. O senhor está encontrando em mim uma possibilidade de gerar uma projeção pessoal, projeção pessoal, e me fazendo um calvário, me fazendo um calvário, claramente...
Marcelo Bretas: Eu espero que o advogado não esteja orientando essa linha de defesa.
Advogado de Cabral: É ofensivo o senhor dizer isso para mim. Mas eu vou lhe pedir a suspensão do ato, um pouquinho.
O juiz resolveu então suspender a audiência por cinco minutos, porém, antes deu um aviso a defesa de Cabral, dizendo que não recebera com bons olhos a citação de que a família dele trabalha com bijuteria. Dizendo que era o tipo de coisa que poderia ser entendida como uma ameaça.

Os advogados de defesa de Cabral devem ter puxado a orelha dele durante os cincos minutos em que a audiência ficou suspensa, pois, no retorno aos trabalhos, a audiência correu mais tranquila.

Ao final da audiência o Ministério Público pediu a transferência de Cabral para um presídio federal por causa das ameaças que o preso havia feito à família do juiz. Pedido prontamente aceito pelo juiz Marcelo Bretas. “Será possível que isso aqui representou algum tipo de ameaça velada? Eu não sei. É inusual. De fato, é. Bom, o fato é que como seja, ainda que levemente, sutilmente, existir a possibilidade de que se esteja tentando de alguma forma obstaculizar ou impedir que prossigam os trabalhos, seja por demonstração de que a segurança ou o controle na custódia não é tão efetivo assim, não está funcionando, eu concordo com a preocupação do Ministério Público. Portanto, eu determino que ele seja transferido para um estabelecimento federal”, disse o magistrado.

Quando os cariocas elegeram, em 2006, o governador Sérgio Cabral, em segundo turno, e depois o reelegeram em 2010, qual deles imaginaria que estavam colocando no principal posto de comando do estado, um bandido? Qual dos cariocas imaginaria que estavam entregando o governo nas mãos de um aproveitador que levaria o estado a falência? Qual dos brasileiros imaginaria que, por trás daquela cara de bom moço, homem do PMDB, se escondia uma raposa pronta a rapinar o galinheiro?

Sérgio Cabral é do PMDB. Eduardo Cunha é do PMDB. Gedel Vieira Lima é do PMDB. Henrique Alves é do PMDB. Michel Temer é do PMDB. Prestem atenção no tipo de político que vem desse partido. É gente perigosa. Assim como existe gente perigosa também no PT, no PSDB, no PPS, e em outros partidos políticos, que usam o nome de partidos para desenvolverem suas atividades criminosas.

Os questionamentos feitos acima acerca dos cariocas servem também para todo o eleitorado brasileiro. Será que nas próximas eleições ele, o eleitorado brasileiro, não estará elegendo como chefe da nação um homem que fará o Brasil retroceder ainda mais? Será que o povo brasileiro não estará escolhendo um chefe que jogará o país na lama?

É preciso pensar bem antes de sair votando no primeiro que aparece prometendo fazer milagres.

Por falar em presídios, aproveitadores, e coisa e tal, Temer se livrou da segunda denúncia apresentada contra ele pela Procuradoria Geral da República. Surpresa? Nenhuma. Aliás, este blog já os havia prevenido a respeito desse resultado. Ora, pois se os atores eram os mesmos, o cenário era o mesmo, e os métodos usados pelo presidente para comprar deputados eram os mesmos, o resultado não poderia ser diferente. Eles, definitivamente, perderam todo o pudor, se é que ainda existia algum, naquela casa legislativa.

Temer obteve 251 votos a favor, 233 contra, e 25 ausências. Foi quase uma reprise de novela entediante. Só não foi reprise porque o presidente teve 12 votos a menos em relação a primeira denúncia. Porém os métodos de compra de deputados, isso sim, foi reprise, com mais dinheiro saindo dos cofres públicos, em um mar de corrupção a céu aberto.

E ainda por cima temos de ouvir o presidente fazer demagogia e dizer que o Brasil avançou mesmo nesses tempos tempestuosos que rondaram as denuncias contra ele. Engana-se quem pensa que o presidente Michel Temer faz um governo para os brasileiros. Ele governa sim, para aqueles políticos e empresários que lhe são subservientes, e que podem mantê-lo na cadeira presidencial até o fim do mandato.

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