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Brasileiros: um povo governado por quadrilhas

Posted by Cottidianos on 23:54
Domingo, 17 de setembro


O acordo de delação premiada assinada por Joesley e Wesley Batista, donos da JBS dava um prazo de 120 dias, a partir de sua homologação, para que os colaboradores apresentassem provas referentes aos depoimentos prestados por eles no mês de abril, junto à Procuradora-Geral da República. 
O prazo para entrega desses elementos de prova venceu no dia 31 de agosto, e os advogados da JBS foram obrigados a apresentar os anexos complementares. Nesses anexos, além de indicação de como deve ser feita a leitura da planilha entregue pelo diretor da empresa, Ricardo Saud, contendo a doação de dinheiro da JBS a mais de 1.800 políticos, também consta a indicação de quais dessas doações foram frutos de corrupção e caixa 2. Constam também das provas entregues pela JBS contratos desta empresa com o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), por haver nesse material, indicação de gestão fraudulenta nas operações do banco.
Os donos da empresa entregaram essas provas relativas ao BNDES para tentar evitar que a mesma fosse processada na Justiça Federal de Brasília. Há também no material, horas e horas de gravações. Sabe-se lá por que a JBS queria mais 60 dias para apresentar as provas prometidas. Os advogados da empresa até chegaram a fazer um pedido a Edson Fachin, ministro do STF. Não houve tempo hábil para Fachin responder à petição, e não restou alternativa aos advogados senão entregar os anexos complementares dentro do prazo estabelecido no acordo com os procuradores.
Ok. Prazo cumprido. É hora de analisar tanto material apresentado. Apenas os dias corridos da semana não bastaram e lá se foram os procuradores do Ministério Público Federal se debruçarem sobre o material também no fim de semana.
E eis que, em meio a tantos anexos, no domingo, 03 de setembro, uma Procuradora encontrou uma bomba — aliás, bombas tem sido a coisa mais comum nesse zum-zum-zum das delações premiadas que atingem em cheio gente do alto escalão do governo atual, ou que fizeram parte de governos passados, ou ainda de empresários desonestos que se acham muito espertos e acima da lei. Era uma conversa entre Joesley Batista e o diretor da J&F, Ricardo Saud, gravada acidentalmente.
Em um trecho da gravação, os dois conversam sobre a atuação do então procurador da República, Marcelo Miller. Do que se depreende das gravações, Miller estaria auxiliando os empresários no acordo de colaboração premiada — que, diga-se de passagem, não foi um acordo, mas um presente para os colaboradores. Por ainda estar atuando na procuradoria na época, Miller incorre no crime de ato de improbidade administrativa, além de trair seus companheiros de equipe no MPF. O áudio foi gravado em 17 de março. Nessa data, Miller já havia pedido demissão do cargo de procurador, mas apenas foi exonerado do cargo em 05 de abril.
Na conversa, os delatores dão a entender ainda que a intenção era usar Miller para chegar até Rodrigo Janot. Certamente, os caros leitores e leitoras já devem ter conhecimento do áudio dessa conversa, mas não custa nada reproduz-lo aqui:
Joesley: Por isso é que eu quero que nós dois temos que estar 100% alinhado. Nós dois e o Marcelo, entendeu? É, mas nós dois temos que operar o Marcelo direitinho pra chegar no Janot e pá. Porque nós temos que... Eu acho, é o que eu falei pra Fernanda, é o que eu falei pro... Nós nunca podemos ser o primeiro. Nós temos que ser o último. Nós não podemos ser...
Saud: A tampa do caixão.
Joesley: Nós temos que ser a tampa do caixão. Falei pra Fernanda: “Fernanda, nós não vamos ser nunca quem vai dar o primeiro tiro. Nós vai ser quem vai dar o último tiro. Vai ser quem vai bater o prego da tampa”.
Saud: O Marcelo tá ajeitando.
Joesley: Isso. E é o seguinte. Nós vamos conhecer o Janot, nós vamos conhecer não sei quem e quem é que precisa do quê?
A conversa continua com os dois buscando jeitos e alternativas de atingir o procurador Rodrigo Janot, buscando elementos para atingir os integrantes do STF, e se colocando acima da lei, ao dizerem que não seriam presos. “Que no final a realidade é essa, nós não vai ser preso, nós sabemos que não vai, vão fazer tudo, menos ser preso”, afirma Joesley. Acrescentando em outro trecho: “É porque ele (Janot) não sabe com que ele está lidando”.
Na segunda-feira (4), Janot anunciou esse conteúdo que ele imputou como “conteúdo gravíssimo”, e que se os fatos ficassem comprovados, o acordo de delação premiada seria rescindido.
Uma semana após a descoberta da gravação bombástica e incidental, Joesely e Ricardo Saud foram presos. A prisão foi decretada pelo ministro do STF, Edson Fachin. No dia 14, Fachin converteu a prisão do dono do grupo J&F de prisão temporária para prisão preventiva. Desmontando a tese do próprio Joesley de que eles não seriam presos, fizessem o que fizessem.
Em uma palestra proferida durante o 12o Congresso da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) em São Paulo, Janot disse: “Enquanto houver bambu lá vai flecha”. E houve bambu a atingir e houve flecha para Janot disparar até os últimos de seu trabalho no comando da PGR.
Na segunda-feira (14), o agora ex-procurador, apresentou a segunda denúncia contra o presidente Michel Temer. “Organização criminosa” e “obstrução à justiça”. Palavras fortes, mas foram essas duas palavras para os crimes dos quais Janot acusa o presidente. Foi com uma citação de uma frase de um discurso histórico de Ulisses Guimarães que Janot abriu a denúncia: “O poder não corrompe o homem; é o homem que corrompe o poder. O homem é o grande poluidor da natureza, do próprio homem, do poder. Se o poder fosse corruptor, seria maldito e proscrito, o que acarretaria a anarquia”.
Na fogueira dessa denúncia, Janot jogou também os ministros Eliseu Padilha, Moreira Franco, e os ex-ministros, Geddel Vieira Lima e Henrique Eduardo Alves, o ex-deputado Eduardo Cunha, o ex-assessor da presidência, Rodrigo Rocha Loures, e os executivos da J&F, Joesley Batista e Ricardo Saud.
Segundo Janot, o grupo utilizou das funções públicas as quais ocupavam para cometer infrações. Ainda segundo o ex-procurador, o grupo, como qualquer organização criminosa, possuía estrutura ordenada e divisão de tarefas cuja finalidade era obter vantagens indevidas na administração pública direta e indireta, e também na Câmara dos Deputados.
Dessa vez, a denúncia não se baseou apenas na gravação de uma conversa — como foi o caso da primeira denúncia quando Janot baseou a denúncia na gravação da conversa de Joesley com Michel Temer — mas, desta vez, a embasou em investigações da Polícia Federal e depoimentos de delatores.
Os Ministérios da Agricultura e da Integração Nacional, a Secretaria de Aviação Civil, a Petrobrás, Furnas, e Caixa Econômica Federal, eram usados, segundo Janot, para arrecadar propina. Cerca de R$ 587 milhões de reais em propinas foi arrecadado pelo grupo, segundo a denúncia.
Como nenhuma organização criminosa opera sozinha, o chamado “núcleo do PMDB, operou com a ajuda de outros partidos como o Partido dos Trabalhadores e o Partido Progressista. Esses grupos e seus braços maléficos abarcaram para si o máximo de vantagens econômicas que lhes foi possível arrecadar. Vantagens econômicas que eram arrecadas para si mesmo, para seus partidos, e para outros. Com certeza, a chegada de Temer ao poder, facilitou em muito o trabalho da organização criminosa, que ganhou ainda mais poder.
Entra quadrilha e sai quadrilha, e assim tinhamos vivido na inocência até explodirem com força fenomenal todos esses escândalos.
Antes de apresentar a segunda denúncia contra Temer e seus braços direitos, na segunda-feira (05), Janot também denunciou ao Supremo Tribunal Federal, os ex-presidentes Luís Inácio Lula da Silva, e Dilma Rousseff, ambos do Partido dos Trabalhadores, por formação de quadrilha.
Segundo Janot, a quadrilha petista desviava recursos da Petrobrás, do BNDES, e do Ministério do Planejamento. Ainda segundo a denúncia não foi pouca a quantia desviada pelos petistas dos cofres públicos: R$ 1,48 bilhões. Nesse núcleo petista, Janot acusa Lula de ser o chefe e líder da quadrilha, e diz que Dilma foi peça importante no início do esquema, e depois de assumir a presidência, deu continuidade à roubalheira. Todo chefe precisa de subordinados, e o ex-procurador aponta como integrantes do esquema os ex-ministros da Fazenda Antonio Palocci e Guido Mantega; a presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR), e seu marido, o ex-ministro das Comunicações e do Planejamento Paulo Bernardo; e os ex-tesoureiros do partido João Vaccari e Edinho Silva, atual prefeito de Araraquara (SP).
Ainda nesse verdadeiro furacão que sacode o cenário político brasileiro, ainda teve o depoimento de Antonio Palocci, que achou melhor falar o que sabia do que levar toda a carga de culpa nas costas atrás das grades de uma prisão. O petista citou o repasse de R$ 300 milhões da Odebrecht para os cofres do Partido dos Trabalhadores.
Na ação na qual Palocci foi ouvido pelo juiz Sérgio Moro em Curitiba, Lula é acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.  Dessa vez, foi um companheiro falando. Quando Palocci estava ao lado de Lula era um homem esperto e inteligente, depois que abriu a boca e contou o que sabia passou a ser um mentiroso e desqualificado que falou apenas para receber os benefícios da delação premiada.
Se Janot voltasse a cabeça por sobre os ombros e voltasse ao passado, veria que a maior parte do grupo que ele acusou está em ação faz tempo. Na verdade, desde os tempos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. O que nos leva a refletir sobre o quanto o povo brasileiro tem sido enganado e roubado e sobre quanto mal essas quadrilhas fizeram ao país.

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