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Lasanha de propina

Posted by Cottidianos on 00:08
Quinta-feira, 10 de agosto

Engenheiro Adir Assad

Que tal uma gostosa lasanha para saborear, sozinho ou junto com a família?

Delícia, não?!

Talvez você tenha sua própria receita, mas não custa nada dar uma pincelada nela aqui nesse escrito. Lá vai:

Depois de preaquecer o forno:

Esquente o azeite e refogue a cebola por 5 minutos. Junte a carne e refogue até a carne cozinhar por igual. Se tiver muita gordura na panela, é bom escorrer um pouco. Depois, junte o molho de tomate e deixe apurar no fogo baixo por uns 10 minutos. Tempere a gosto.

Monte a lasanha fazendo camadas de molho, massa, presunto e mussarela, Termine com uma de molho. Cubra com o queijo ralado e cubra com papel alumínio.

Depois é só levar ao forno novamente por meia hora, após, retirar do papel alumínio e levar ao fogo por mais 10 minutos.

Bom demais!!! Uma lasanha assim dá água na boca e é bom para o estomago.

Já os empresários do ramo empreiteiro, junto com os políticos, fizeram uma receita diferente. Vamos a ela:

Depois de preaquecer, superaquecer, superfaturar notas fiscais, pega-se uma mala.

Colocar em cada mala a quantia de R$ 150 a 170 mil reais, basta assim para a lasanha fique em equilíbrio, bem distribuída, e não muito estufada.

Pegar algumas peças de roupa, algum papelão, e plástico. Depois de tudo pronto, colocar uma camada roupa, outra de dinheiro, outra plástico, outra camada de dinheiro, mais uma camada de papelão, mais dinheiro, e, por último, a camada de roupa.

Após todo esse preparo, enviar a mala para algum aeroporto, fazê-la embarcar em algum avião para que chegue com segurança ao destinatário final.

Essa lasanha não é boa, nem para comer sozinho, muito menos com a família. Pode causar indigestão, e até cadeia.

Essa receita de lasanha do mal foi repassada à Justiça Federal pelo engenheiro Adir Assad. Diante do magistrado, ele contou, em delação premiada, que apesar de ser engenheiro, a maior obra que produziu foi uma indústria de pagar propina a políticos ávidos por ela. Esse esquema ajudou as empreiteiras a prosperarem, e, aos políticos, enriquecerem ilicitamente.

E nesse mercado negro quanto custava um deputado? Sim, porque se é mercado, tudo tem seu preço. Se na própria vida tudo tem seu preço, imaginem então quando se trata de mercado, cujo campo semântico são sempre as palavras lucro, dinheiro, compra, e venda.

Segundo Assad, o custo total para se eleger um deputado estadual é de R$ 20 milhões. Já em se tratando de deputado federal, o preço aumenta um pouco: R$ 30 milhões. Também pudera: a influência e poder deste último é maior, mais abrangente. Aqui o crime acaba compensando, pois até a lei botar a mão no deputado corrupto, leva tempo. E o tal do foro privilegiado, então? É um complicador maior ainda. Para cada deputado apanhado com a boca na botija, e outros tantos que escapam ilesos, faça o leitor, ou leitora, as contas tire os nove foras, e veja se não o crime de corrupção no Brasil não compensa.

E nesses esquemas ilegais, e injustos, quanto dinheiro não sai dos cofres públicos? Milhões, bilhões de reais. E depois os governos não sabem por que o rombo nas contas públicas é abismal, ou porque a Previdência Social anda mal das pernas.

Mas como funcionava esse esquema das empreiteiras com Adir Assad?

Uma empreiteira X contratava os serviços do engenheiro para fazer obras de terraplanagem, por exemplo. A contratação desse serviço ficava apenas no papel. Na verdade, não era feito serviço nenhum. Mesmo assim, eram emitidas notas fiscais em valores estratosféricos.

Nenhum grão de areia era movido pelas máquinas de Adir, mas o custo era cobrado. A comissão do engenheiro era de 14%, e a maior parte da dinheirama era devolvida a empreiteira que contratou o serviço. Para evitar que pistas fossem rastreadas, os pagamentos eram feitos sempre em dinheiro. Assim facilitava-se o preparo da lasanha.

Adir Assad era um prato cheio para os políticos pela facilidade que tinha em conseguir dinheiro em espécie. É que, além de engenheiro, ele também era empresário do ramo do entretenimento. Promovia shows e eventos culturais e usava isso para seduzir gerentes de bancos com o oferecimento de ingressos — como se diz no popular — “a preço de banana”. E os gerentes seduziam-se facilmente. Afinal de contas, mesmo sendo gerente de banco, não é todo dia que se pode assistir ao show de astro, ou uma estrela da música nacional ou internacional, em posição privilegiada, e ainda por cima, ir ao camarim desse astro ou estrela.

O pode de Assad e o envolvimento dos deputados com ele era tão grande que, em 2012, ele conseguiu calar os deputados de uma CPI inteira. Naquele ano, o engenheiro foi chamado para prestar depoimento em uma Comissão Parlamentar de Inquérito que tinha por alvo as relações promiscuas do empresário Carlinhos Cachoeira, com o poder público. Cachoeira foi condenado em março deste ano a 3 anos e 6 meses de prisão em regime semiaberto por envolvimento com bingos e jogos de azar, em Goiás, em operação policial chamada de Operação Monte Carlo.

Voltando ao depoimento de Adir Assad na CPI. Quando ele chegou lá para dar depoimento, encontrou “maré mansa”. Um deputado falava ao telefone, outro olhava para o teto, algum pensava na mãe, outro no cachorro, e outro ainda rezava para que terminasse tudo aquilo. Os “nobres” deputados já estava devidamente pagos para não incomodar o engenheiro. Haviam recebido uma gorda de R$ 30 milhões de propina, patrocinada pela empreiteira Andrade Gutierrez para que a CPI “morresse na praia”. 

Ora, caros leitores e leitoras, se estavam todos com “rabo preso” com Assad, quem se atreveria a fazer alguma pergunta comprometedora? Que nada! Era melhor ficar de bico calado e levar a coisa em “banho Maria”.

Ao juiz, Adir Assad disse que se sentia o todo poderoso, e que jamais imaginava que seria preso algum dia por seu envolvimento naquele esquema criminoso. Afinal, junto com ele estavam grandes nomes influentes da nação no campo político. Ele diz ainda que, sozinho, foi o responsável por gerar R$ 1 bilhão e 700 milhões em propina. É tanto dinheiro que a gente quase não acredita.

O que aconteceu naquela CPI para a qual Adir Assad foi convocado para prestar esclarecimentos em 2012, não é o mesmo que acontece hoje, com os políticos querendo a todo custo deter a avalanche chamada Lava Jato?

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