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Fogueira das vaidades

Posted by Cottidianos on 00:20
Terça-feira, 02 de agosto


O momento da grande festa olímpica está chegando, e a festa é em nossa casa. É um momento que deveria estar enchendo a todos nós brasileiros de orgulho pátrio e de alegria. Porém, neste mês, estranhamente, os brasileiros têm dois assuntos bem mais importantes que a realização dos Jogos Olímpicos de 2016, na bela cidade do Rio de Janeiro, com que se preocupar. Particularmente, acho que nossos olhares deveriam estar mais voltados para os plenários da Câmara e do Senado, do que, propriamente, para as raias, quadras, e campos olímpicos.

E penso isso, pois, querendo ou não, a vitória de um atleta nas olimpíadas, acaba sendo uma vitória individual, extensiva a sua equipe, ou treinador, mas ainda assim, uma vitória individual.

O jogo político o qual, nós, na condição de cidadãos e cidadãs brasileiras estamos, a duras penas, sendo participes, ao contrário, representa a vitória de uma nação e de sua gente. E a nossa grande vitória olímpica seria vencer a corrupção. Vencendo esse inimigo perigoso porque silencioso, estaríamos a vencer os campeonatos da educação, da saúde, da segurança e do bem estar de nossa gente. Se conseguíssemos isso, quão grande vitória e quão grande maravilha teríamos conseguido!

Nas raias olímpicas de nossa política teremos duas grandes provas a vencer neste mês de agosto — pelo menos deveria ser assim, mas como no cenário político atual é tudo muito improvável, e tudo depende mais de interesses pessoais, do que de interesses públicos, fica a dúvida: será ou não?

Falo do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, que está em vias de chegar ao seu epílogo, e do processo de cassação de Eduardo Cunha, que é, para nós, uma incógnita.

Como em nosso Brasil, política passou a ser sinônimo de balcão de negócios, e não de bem conduzir os interesses do povo da nação, temos que o impeachment de Dilma pode ser adiado, e a cassação do mandato de Eduardo Cunha pode nem chegar a ocorrer.

O processo de impeachment pelo cronograma elaborado pelos senadores deveria acontecer em fins de agosto, provavelmente, dia 25, mas pode ser que esse prazo seja estendido. Renan Calheiros é o presidente do Senado, portanto é ele quem dá as cartas. E o presidente do Senado, está, mais uma vez, tentando usar podre moeda de troca com o presidente interino, Michel Temer. Renan quer que seja nomeado para a pasta do turismo, um deputado federal que responde a processo no Supremo por falsidade ideológica. O deputado corrupto que Renan quer ver nomeado ministro é Marx Beltrão, companheiro de partido, e conterrâneo de Renan, do PMDB de Alagoas.

Na política brasileira tudo parece ser contrassenso. A pasta de Turismo está vaga desde vaga desde junho, quando o deputado que a ocupava, Henrique Eduardo Alves, renunciou ao cargo, após ser citado na delação premiada do ex-presidente da Trasnpetro, Sérgio Machado, como beneficiário de propina no esquema de desvio de dinheiro da Petrobrás. Segundo Machado, ele próprio teria repassado R$ 1,55 milhão a Alves em propina, no período de 2008 a 2014. Após o incidente, ficou acordado entre o governo interino, Michel Temer, e o presidente do Senado, Renan Calheiros, que o novo ministro do Turismo viria da Câmara dos deputados. Ficando a cargo de Renan a indicação.

Nesse jogo, surgiu então nome de Marx Beltrão como indicação de Renan. O deputado responde a processo por falsidade ideológica e, segundo denúncia do Ministério Público, é acusado de fraudar informações referentes a dívida do município de Coruripe — do qual foi prefeito — com a Previdência, com o objetivo de impedir o bloqueio de transferência de verbas da União.

Renan, publicamente, não assume essa indicação, mas nos bastidores da política, diz-se que ele está pressionando, fortemente, Michel Temer para que ele indique Beltrão para a pasta de Turismo. Temer tem resistido, talvez por estar recente em sua memória a vergonha que passou com a saída de Alves do governo. Até agora, já são três os ministros de Temer que caíram por envolvimento em escândalos de corrupção; Romero Jucá, do Planejamento, Fabiano Silveira, da Transparência, e Henrique Alves, do Turismo. Dizem que “gato escaldado tem medo de água fria”, então Temer deve ter seus motivos para estar receoso.  Prefere aguardar o desfecho do caso de Marx Beltrão no STF, o que deverá ocorrer ainda neste mês de agosto. Enquanto isso, Renan pressiona Temer usando a frágil moeda de atrasar a votação do impeachment de Dilma.

Isso no Senado Federal. 

Na Câmara dos Deputados, os aliados de Cunha, continuam com sua vergonhosa intenção de salvar a pele de um bandido. Assustou-se? Isso mesmo. Um bandido em pele de cordeiro, que deve ter muita munição escondida na manga contra políticos da mesma laia que ele, caso seja cassado, haja vista o medo que os senhores deputados têm de tomar essa atitude.

A mais nova dessas manobras é querer deixar a votação da cassação de Cunha para depois do impeachment de Dilma. Isso daria a Cunha uma chance de salvar-se.

O líder do governo na Câmara, Rodrigo Maia, disse nesta segunda-feira (1o) que na próxima semana pretende ler em plenário o relatório que pede a cassação de Cunha. Burocracia das burocracias, só após a leitura desse relatório, e após duas sessões, é que será possível realizar a votação que decidirá se o deputado será cassado ou não. O medo dos opositores de Temer e de Cunha é de que, ficando para a semana vem, a leitura do relatório, haja a possibilidade de o processo de cassação de Cunha ser adiado para setembro, ocorrendo apenas após a votação do processo de impeachment de Dilma. Isso daria a Cunha uma sobrevida e também uma chance de reverter a situação.

Considerando que, a partir da semana que vem, os deputados começam a ir para suas bases eleitorais, em seus estados de origem, devido a campanha eleitoral que começa na segunda metade do mês agosto, a hipótese da cassação de Eduardo Cunha passar para setembro fica mais perto da realidade de fato do que da hipótese.

As pautas que Rodrigo Maia quer colocar em votação, como por exemplo, a negociação da dívida dos Estados com a União, e a proposta que desobriga a Petrobrás de participar de todos os campos do pré-sal são importantes? Sem dúvida que sim. Entretanto, essas pautas poderiam esperar um pouco mais. Em minha opinião, o mais urgente seria acabar logo de vez com essa palhaçada que é a demora, traduzida em dezenas de manobras espúrias, na tentativa de salvar o mandato de um corrupto de grande vulto.

Pelo medo que o governo e os aliados têm de Eduardo Cunha — a ponto de se fazerem de tapete no chão por onde ele passar — eu não tenho receio de afirmar: o homem é nitroglicerina pura.

E cada vez mais se afirma a definição de política como sinônimo de balcão de negócios, pois o motivo que se discute não são os motivos pelos quais Dilma Rousseff e Eduardo Cunha estão sendo julgados, mas sim os favores e benefícios que a classe política pode auferir de uma ou de outra situação. Acaso tudo isso não são fogueiras das vaidades?

Enquanto isso os planos, discussões, leis, e projetos de interesse do povo brasileiro ficam em segundo plano. Então eu pergunto: Isso é política? Isso é ser político?

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