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O Rio, os jogos, e o medo do terror

Posted by Cottidianos on 00:09
Terça-feira, 19 de julho

Rio 40 graus
Cidade maravilha
Purgatório da beleza
E do caos
(Rio 40 graus – Fernanda Abreu)


Ah, caros leitores, e leitoras... Faço-vos uma pergunta para a qual eu tenho a resposta, mas não as darei neste texto, não diretamente, nas entrelinhas, talvez, quem sabe?  Mas vos faço a pergunta assim mesmo com o intuito de provocar-vos a uma reflexão.

Será que se pudéssemos voltar no tempo, nós brasileiros, escolheríamos o Brasil como sede de tão importantes eventos como a Copa do Mundo e as Olimpíadas?

Já falei aqui do zika vírus, e do medo que ele trouxe a nós brasileiros e aos estrangeiros, mas, para surpresa do todos, às vésperas da Rio 2016, o verdadeiro aparato de guerra foi montado, não contra o mosquito, mas contra o terror.

Começando por um registro cronológico de fatos. Nesta segunda (18), os aeroportos brasileiros começaram a adotar medidas de segurança contra o terrorismo, que seguem os padrões adotados em outros países que já foram vítimas de atentados terroristas. Essa intensificação da segurança é nova por aqui e, como tudo o que novo, gerou certa confusão devido à falta de informação, ou informações desencontradas. Por causa dessa confusão, muitos passageiros, que já se encontravam nas dependências dos aeroportos, acabaram perdendo seus voos.

Essas medidas já vinham sendo programadas pelas forças militares, mas acabaram sendo adotadas com maior urgência, depois dos atentados em Nice, que vitimou uma brasileira e sua filha de apenas seis anos. Vejam só, às vésperas dos Jogos Olímpicos, o Rio virou alvo do Estado Islâmico. Por essa, acho, ninguém esperava. A situação está sendo levada tão a sério pelas autoridades  brasileiras, que o presidente interino, Michel Temer, realizou uma reunião secreta de emergência com as forças armadas.

Dentre as medidas adotadas na segurança dos aeroportos está a que determina uma apurada verificação física, inclusive, em crianças, e os passageiros que recusarem ter suas bagagens revistadas, poderão nem embarcar.

No inicio deste mês, mais precisamente no dia 05, manchetes de jornais anunciavam que os fuzileiros navais estavam fazendo treinamentos para prevenção de ataques terroristas. No treinamento foram usadas 60 embarcações, 6 helicópteros, e 1 avião da Força Aérea Brasileira. Agentes dos fuzileiros navais se misturarão à multidão durante os jogos, e por isso, tiveram suas identidades preservadas. Na ocasião, André Freitas, capitão de fragata e superintendente de educação física do Centro de Educação Física Almirante Adalberto Nunes (Cefan), garantiu que, se houver algo errado, os fuzileiros estarão preparados para agir com eficiência.

Ainda passeando pelas manchetes de jornais, no dia 6 desse mês, elas anunciavam que o efetivo militar do Rio durante os Jogos Olímpicos aumentaria de 18 para 21 mil. O governo do Estado do Rio de Janeiro também pediu às forças armadas um policiamento mais ostensivo durante os Olímpicos e Paraolímpicos.


Os militares estarão em áreas estratégicas da cidade, como por exemplo, o Complexo Esportivo de Deodoro, o Maracanã, a Avenida Brasil, a Linha Vermelha e a Transolímpica. Os militares também se concentrarão no entorno dos aeroportos. Isso sem falar que eles também terão atenção redobrada na segurança de autoridades e atletas.

De novo às manchetes dos jornais, no sábado (5), elas anunciavam que as forças militares faziam a maior simulação contra atentados terroristas já realizada na preparação de uma Olimpíada.

E realmente, os números impressionam. Eram cerca de mil homens das forças de segurança, fortemente armados.

Uma bomba explodiu em um vagão de trem, e cerca de mil pessoas, desesperadas, agiam como se estivessem vivenciando um ataque terrorista. Eram dois os terroristas e eles, assim como os policiais, estavam fortemente armados, e disparavam rajadas de bala, impiedosamente, contra os passageiros do trem. Muitas pessoas mortas, outras feridas. Os militares pela terra, nos trilhos do trem, e pelo ar, nos helicópteros barulhentos que sobrevoavam a região. O pânico durou cerca de uma hora, quando, então, os policiais conseguiram entrar no trem, matar os terroristas, e salvar os passageiros. Para alívio de todos, apesar de ter parecido real o ataque terrorista e a ação dos militares, era tudo uma encenação. Ufa! Ainda bem.

O treinamento mobilizou homens do Exército, Marinha e Aeronáutica, policiais Civis, Militar e Federal. As forças armadas se dizem preparadas contra atos terroristas, caso eles aconteçam. Oxalá queira Deus que sim! É o que todos nós esperamos.

Novamente, no domingo (17), os jornais estampavam em suas manchetes, nova megaoperação, desta, vez, para ensaiar a cerimônia de abertura da Rio 2016. A ação foi desenvolvida em vários pontos da cidade. 250 ônibus simularam o translado dos atletas de suas concentrações até o estádio do Maracanã, local em que será realizado o evento de abertura. Carros simularam o deslocamento das autoridades.

A segurança está sendo levada mesmo muito a sério pelas autoridades brasileiras, certamente, em conjunto com autoridades internacionais. O órgão responsável pelo monitoramento dos pedidos de credenciais para as Olimpíadas, O Centro Integrado Antiterrorismo (Ciant), cuja sede está situada em Brasília, suspeita que, dentre as pessoas que pediram credenciamento, 40 delas são suspeitas de cooperação com grupos terroristas, sendo que 4 delas, comprovadamente pertencem a organizações terroristas, e tiveram suas credenciais negadas pelo governo brasileiro. O governo brasileiro repassou essas informações aos grupos internacionais de inteligência, que estão monitorando essas pessoas. Dados como, nacionalidade, identidade, e motivos pelos quais essas pessoas estão sendo investigadas não foram divulgados à imprensa.

Claro, o Ciant investigou muito mais pedido de credenciais, e recomendou ao Comitê da Rio 2016, que negasse o pedido de credenciais a quase 11 mil pessoas. Nos bastidores da festa olímpica, há uma inteligência trabalhando, pensando em cada passo, monitorando, analisando cada detalhe para que nada dê errado... E se der, eles esperam estar preparados para solucionar, rapidamente, o problema.

Observando todo esse cenário, eu compreendo menos ainda o que acontece no Brasil. Se existe tanta força militar, serviços de inteligência atuando, porque então o tráfico tem tomado conta dos morros do Rio... Bandidos têm feito de suas celas — que deveriam ser de reclusão — escritórios do crime e, de dentro delas, comandado assaltos, e assassinatos?

Porque, com tanto dinheiro jorrando dos cofres públicos para construir isso e aquilo para os Jogos Olímpicos, a segurança, a saúde, e a educação no Rio estão em frangalhos?

Outro dia, não lembro ao certo quando, mas isso foi coisa bem recente, fiquei estarrecido com o que disse José Mariano Beltrame, secretário de Segurança Pública do Rio. O assunto era a explosão dos índices de violência em todo o Estado do Rio de Janeiro. Falava-se de balas perdidas, da morte de policiais, da crise financeira que sacode e Estado, e do atraso no pagamento do salário dos policias. Pasmem, diante de tudo isso, a autoridade em questão disse simplesmente: “Uma vida já causa preocupação. Mas, historicamente, o Rio de Janeiro é assim. Já tivemos incidências maiores. Mas é algo que na medida em que se colocar mais policiais nas ruas e mais operações de inteligência, podemos reduzir isso”.

O Rio é assim mesmo. Não, senhor secretário de Segurança Pública do Rio. O Rio não assim. O Brasil não assim. A cidade na qual moro não assim. A cidade na qual mora o leitor não assim. Assim, são os políticos e autoridades que, atualmente, comandam nosso país. Se tivéssemos realmente, autoridades e políticos dispostos a acabar com toda essa incerteza e insegurança na qual vive o nosso país, estaríamos em bem melhor situação.

Mas, não é isso o que acontece. Os nossos políticos estão apenas preocupados em maquiar uma realidade para que o mundo nos veja com outros olhos. Mas o mundo que não se engane. As autoridades montam apenas uma farsa. Nem também, nós brasileiros, não nos enganemos com todo esse aparato de segurança. Depois dos jogos Olímpicos e Paralímpicos, as delegações estrangeiras vão embora, bem como irão embora a imprensa e autoridades internacionais, as tropas sairão das ruas. E para nós?... Ah, para nós brasileiros, assim como foi na Copa do Mundo sobrará apenas o bagaço da laranja. Ah, e também contas para pagar, assim como estamos pagando os belos estádios construídos para a Copa, alguns deles, simplesmente inúteis, os assim chamados “elefantes brancos”.

E o mosquito? Continua rondando por aí.

Nossa, que zika, hein!


Queira Deus, que ao passearmos pelas manchetes dos jornais, durante ou depois dos jogos, não vejamos estampadas nelas, que o terror fez vítimas no Brasil, ou que o mosquito nos aterrorizou com seu zika vírus.

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