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A menina dos olhos de Oyá

Posted by Cottidianos on 22:36
Quinta-feira, 11 de fevereiro


Quando programei o despertador do celular para que tocasse às 4h30min da madrugada dia 08 de fevereiro para ver o desfile da Mangueira, Escola de Samba do Grupo Especial do Rio, algo me disse que estava assistindo ao desfile da escola campeã do carnava do Rio deste ano de 2016. Essa desconfiança se baseava em três fatores: primeiro, havia que ser um bom motivo para me tirar do melhor do sono em plena madrugada; segundo, a Mangueira estava fazendo um belíssimo desfile na Marques de Sapucaí; e, em terceiro, a homenageada é uma rainha: rainha dos palcos, deusa da música, filha de Yansá. Bethânia. Maria Bethânia é o seu nome.

A escola trouxe como enredo título: Maria Bethânia: a Menina dos Olhos de Oyá. Oyá, na Mitologia Yourubá, Oyá significa Iansã, deusa dos trovões, raios e tempestades. No sincretismo religioso, Iansã é Santa Bárbara.

Os integrantes da escola cantavam o hino com garra. A bateria começou num andamento e segurou esse andamento até o final, não deixando a peteca cair em nenhum momento. Em um carro alegórico estavam vários famosos, inclusive Caetano, irmão de Bethânia. A homenageada pela Mangueira veio no último carro.

Estreante no Grupo Especial, o carnavalesco, Leandro Vieira, tinha a responsabilidade de matar a fome de títulos da Mangueira, que havia conquistado seu último título em 2002.

Na abertura do desfile a escola trouxe mulheres africanas que reverenciavam Oyá (Iansã), mostrando com isso, a contribuição dada pela religião do candomblé para a formação de Maria Bethânia. A cantora foi batizada no candomblé, na Bahia, por Mãe Menininha do Gantois (1894 – 1986), uma das mais famosas mães de santo do Brasil. A religiosa era filha de Oxum, e o carro abre alas trouxe essas duas representações do candomblé: Na parte frontal, dedicada a Iansã, e a parte traseira dedicada a Oxum, orixá de Mãe Menininha.

A homenageada, Maria Bethânia, veio no último carro da escola, e foi ovacionada durante e após o desfile.

Extasiado com tanta beleza, após o desfile chamei de volta o sono que havia sido interrompido pelo toque do despertador, e dormi mais um pouco.

Havia uma outra beleza passando naquela avenida além do toque empolgante da bateria da Mangueira, da beleza das fantasias, da empolgação dos integrantes da escola, e da luz de Maria Bethânia.

Além de carnaval havia a luz da fé brilhando sobre a Sapucaí, havia diversidade, ecumenismo.

Bethânia veio ao mundo em uma terça-feira, do ano de 1946, filha de Dona Claudionor Vianna Telles Velloso (Dona Canô) e Senhor José Telles Velloso (Sr. Zezinho ou Zeca). Bethânia é seguidora fiel do candomblé e sua mãe, Dona Canô, uma simpática senhora, era uma devota fiel dos santos católicos, falecida em 25 de dezembro de 2012. Talvez por isso Bethânia tenha uma relação bonita, tanto com o orixás quanto com os santos católicos, num gostoso e prático exemplo de sincretismo religioso. Da mesma forma dona Canô aceitava com alegria a religião que a filha havia abraçado, num doce demonstração de que o amor não faz distinção nem de raça, nem de cor, nem de religião, pois o amor está de todas essas questões.

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