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CPI da Petrobrás: Uma CPI que nadou, nadou... E morreu na praia.

Posted by Cottidianos on 00:27
Sexta-feira, 23 outubro



Quando se olha para o que acontece atualmente no panorama político brasiliense, a impressão que temos é a de que Congresso Nacional e Palácio do Planalto são como dois pés de árvores frondosas e vistosas, porém cheias de frutas podres. Nenhum dos ocupantes desses côncavos e convexos ousa balançar a árvore, pois pode lhe acontecer de duas uma: ou um fruto podre lhe cai na cabeça, ou ele mesmo é um desses frutos danosos e ele próprio cai da árvore.

Outra metáfora plausível é a de que estas instituições políticas sejam duas árvores carregadas de frutos valiosos, e os ocupantes dos cargos legislativos estejam colhendo todos esses áureos frutos e guardando-os todos em seus cofres e bolsos.

Tomando como parâmetro as imagens que se pode formar a partir dessas duas situações nocivas ao povo de uma nação, pode-se dizer que é por isso, no nosso Congresso Nacional, tudo acaba em pizza.

Foi o que aconteceu na madrugada de quarta para quinta-feira na Câmara.

Em fevereiro deste ano foi a Câmara dos deputados instalou a CPI mista da Petrobrás, com o objetivo de investigar denúncias de irregularidades na estatal. Na ocasião o indicado para presidir a CPI foi o deputado Hugo Motta, do PMDB da Paraíba. Hugo, todo cheio de autoridade dizia à revista Veja: “Da nossa parte, terá disputas se o PT não quiser investigar. Vamos cumprir o regimento e o papel que a CPI terá de ter”. Esperava-se que fosse acontecer um embate e um debate sério naquela casa legislativa.

Em março, o Supremo Tribunal Federal (STF), divulgou uma lista de cinquenta nomes de políticos citados na Operação Lava Jato. Alguém viu ou ouviu a CPI chamar um deles sequer para prestar depoimentos na CPI. Ninguém foi chamado a depor, ninguém foi indiciado. Como diz o dito popular: tudo “farinha do mesmo saco”.

Enfim, após meses de trabalho, chegou ao fim os trabalhos desta CPI. E o que ela apurou? Nada. O que ela acrescentou aos trabalhos do Ministério Público e da Polícia Federal? Nada. Com o que de relevante ela contribuiu para esclarecer o envolvimento de parlamentares no caso? Em nada. Para que ela serviu? Pra absolutamente nada. Dizer que ela não serviu para nada, é exagero meu. Ela serviu sim. Serviu para gastar em vão o dinheiro da nação.

Primeiro, pagou-se R$ 1,18 milhão para uma empresa de investigação que fez um relatório incompleto e inútil. Depois vieram as muitas viagens em território nacional, e até uma viagem internacional, que custaram aos cofres públicos algo em torno de R$ 322 mil.

A viagem internacional teve Londres por destino, e custou R$ 122 mil. Para colher o depoimento de Jonathan Taylor, ex-diretor da SBM Offshore. E para essa cumprir essa difícil missão foi necessário que oito deputados se dirigissem a Londres, ficassem por lá quatro dias, para colher um depoimento que durou algumas horas. a isso acrescentem-se a grana que os deputados tiveram direito para as despesas com alimentação.

O povo sempre diz que em Brasília tudo acaba em pizza. Desta vez não foi diferente. O parecer do relator, Luiz Sergio, do PT, foi aprovado por 17 votos favoráveis e 9 contrários. O relator até que pediu o indiciamento de 69 pessoas, porém, todas elas funcionários e operadores da estatal. O nome do ex-tesoureiro, João Vaccari Neto, só foi incluído de última hora, por causa das pressões de outros parlamentares.

Ficou muito claro, claríssimo de que lado estão os políticos e o governo. E eles não estão de povo, nem do lado do Brasil. Eles mostraram que estão do lado de si próprios e de seus próprios interesses. Nem as evidências do envolvimento de políticos como Eduardo Cunha e Fernando Collor, foi motivo de algum indiciamento. Na verdade, tudo não passa de um jogo de cartas marcadas. De que partido é vice-presidente do Brasil? PMDB. De que partido é o presidente da Câmara, Eduardo Cunha? Do PMDB. Quem foi escolhido para ser presidente da CPI da Petrobrás? Hugo Mota, do PMDB. O relator? Do PT.

Enquanto isso, pedidos e mais pedidos de impeachment chegam a Câmara, mas como Eduardo Cunha pode fazê-los andar, se ele mesmo está atolado na lama até o pescoço. As contas de campanha irregulares da presidente Dilma tiveram alguma consequência? As tais pedaladas fiscais tiveram alguma consequência? O governo apenas ganha tempo e aquilo que é crime óbvio e gritante é tido como natural, é poeira jogada embaixo do tapete.

Nós, brasileiros, temos vivido em nossa recente história de Nova República, esperanças e desesperanças. Primeiro tivemos o caçador de marajás que não cassou a ninguém, e revelou-se ele próprio um daqueles a quem pretendia cassar. Depois veio o operário salvador, que não salvou a ninguém, exceto seus aliados, familiares e amigos. Veio o escândalo do mensalão e promessa de dias mais justos. Passou o mensalão e tudo permaneceu tal e qual. Após esse que se pensava ser um enorme roubo aos cofres da nação, veio outro dez vezes pior, um verdadeiro tsunami, que são os recentes assaltos aos cofres da Petrobrás.

Chega, povo brasileiro! Chega de ficar em casa sentado no sofá, assistindo passivos, a toda essa violência que se comete contra nossa nação. Chega de mais uma promessa de um quase justiça. Não podemos deixar que tão grandes desmandos e descasos, continuem a se espalhar em nosso país como se fosse uma praga destruidora, aniquiladora.

Usemos nossa consciência, e nossa arma que é o voto para elegermos uma nova geração de políticos que nos represente a nós, povo brasileiro. Sim, porque esses maus políticos não caíram de paraquedas no Senado, no Congresso, ou Palácio do Planalto. Alguém votou neles. Se esses que os elegeram carregam um peso na consciência, com certeza, peso bem maior recaí sobre a toda a nação.

Abaixo, compartilho um texto, publicado na Folha de São Paulo, que continua nos chamando à reflexão sobre o momento político em que vivemos. O texto é do jornalista e consultor de comunicação, Sérgio Malbergier.
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Quanto mais piora, mais pode melhorar

Como era previsível, os políticos preferiram salvar a si mesmos que salvar o país. Não foi a primeira vez, mas podemos agir para que seja a última, pois isso nunca foi feito de forma tão explícita e consistente como agora. A custo tão alto.

A situação é insustentável fora da ilha de Brasília. Aqui, a crise dói, e os políticos já não ousam circular pelas ruas de São Paulo. Será isso um começo? Um sinal do basta? O início do fim do antigo regime que vigora desde sempre, opondo governados a governantes, independentemente de sua matriz partidária e ideológica?

A história dirá e já diz que não há motivo para otimismo. O impeachment de Collor parecia um ponto de virada, mas não foi. O povo de Alagoas levou o presidente impedido de novo ao Senado, e o governo do PT o levou de novo ao centro da República. O mensalão parecia um ponto de virada, mas o povo brasileiro reelegeu o governo que o perpetrou.

Dessa vez pode ser diferente. A Lava Jato aliada à crise econômica deixou a política nua numa era em que a informação circula como pólvora.

O atraso deliberado, interesseiro e cínico do Congresso em aprovar medidas que podem começar a tirar o país da crise econômica custa a nós incontáveis bilhões —em aumento do custo do crédito ao Brasil, na desvalorização da moeda, no clima de total insegurança que mata investimentos e empregos.

O relatório surrealista da CPI da Petrobras é outro marco desse alheamento infame, assim como a permanência do presidente da Câmara no cargo, a permanência do presidente do Senado no cargo, os conchavos em torno deles e tantas coisas mais expostas diariamente nas redes sociais, nas TVs, nas rádios, nos jornais, nos sites, nos blogs.

As negativas do governo em relação à evidente corrupção em suas entranhas, a distribuição indecente de cargos e ministérios para os suspeitos de sempre, a insistência em negar fatos e reconhecer erros alimentam e projetam a corrupção para frente, mas também revoltam a população de uma forma nunca vista neste país. E não há nação que funcione bem com esse grau de mentira e despudor, que atingiu seu pico com a adesão incondicional do PT às ancestrais práticas políticas brasileiras.

Mas até o Brasil pode mudar. É preciso aproveitar essa crise. A Lava Jato e seus desdobramentos são o grande vetor transformador. Atacam o sistema por cima, por baixo e pelos flancos. E quem a ataca, ataca o futuro do Brasil e principalmente o dos pobres do Brasil, os que mais dependem da ação eficiente do Estado.

Se o STF não abrir brechas, não haverá escapatória diante da imensidão de provas e colaboradores da Justiça. E, para além do seu efeito sanitário, há o efeito didático de esclarecer e explicitar ainda mais a podridão política cujo epicentro é Brasília.

A pauta contra a corrupção é a pauta principal do Brasil. A luta contra ela pode e deve unir todos os brasileiros. Transformar a luta contra a corrupção num embate entre o governo e a oposição é a melhor forma de enfraquecê-la. Não dá para ver e punir apenas a corrupção de um lado.

Ou destruímos essa forma de fazer política ou os políticos destruirão o país. Apesar deles, as instituições brasileiras ainda funcionam e comandam a revolução impelidas pelo crescente basta popular. Ano que vem tem eleição, a instituição mais importante da democracia. Vote contra a corrupção.

Sérgio Malbergier
É consultor de comunicação. Foi editor de 'Dinheiro' e 'Mundo' e correspondente da Folha. Escreve às quintas.

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