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Rock in Rio, o maior festival de música do planeta: Uma história de superação – Parte II

Posted by Cottidianos on 00:46
Terça-feira, 24 de setembro

Todos numa só direção, uma só voz, uma canção
Todos num só coração, um céu de estrelas
Se a vida começasse agora, e o mundo fosse nosso outra vez,
E a gente não parasse mais de cantar, de sonhar
Que a vida começasse agora e o mundo fosse nosso de vez
E a gente não parasse mais de se amar, de se dar, de viver
Uou uou uou uou uou
Rock in Rio
(Música tema do Rock in Rio)


                                                         Cidade do Rock, 2013/Rio de Janeiro

Era noite de 21 de junho de 1990. Um Roberto Medina debilitado apareceu na porta de sua mansão na Barra da Tijuca, Zona Sul do Rio. Acenou aos vizinhos e jornalistas que por ali estavam e, em seguida, recolheu-se a intimidade de seu lar. Ali, em segurança, tomou uma deliciosa sopa, conversou com os amigos e, por volta da meia noite, foi dormir em paz. Era o fim de quinze dias de um sequestro violento, no qual ficara sob tortura e ameaça de perigosos bandidos. Na noite de 06 de junho de 1990, por volta das oito e vinte, Roberto Medina terminava mais uma jornada de trabalho na Artplan, no bairro da Lagoa. De repente, a confusão: sob intenso tiroteio Medina foi cercado e rendido por vinte bandidos armados que anunciaram o sequestro.

No cativeiro, os bandidos pediram 5 milhões de dólares como resgate. O empresário disse que a família só conseguiria 1 milhão. Inconformados, os bandidos deram-lhe um soco na face e amarraram suas mãos com arame farpado. Não contentes com isso, um dos bandidos ainda ameaçou esquartejá-lo com um machado. Medina não conseguia ver nada, pois, além do pequeno quarto ser muito escuro, os bandidos haviam-no obrigado a usar um óculos com a parte interna das lentes cobertas com esparadrapo. A única alimentação era sanduiches e refrigerantes. Algumas vezes, os marginais o dopavam com tranquilizantes.

A polícia começou a fazer blitz nas favelas do Rio em busca dos sequestradores. Os bandidos não gostaram disso e, como ameaça, deixaram uma fita de vídeo na Igreja do Cristo Redentor, no bairro de Laranjeiras. Nessa fita, segundo foi comentado pela polícia, o empresário aparecia apenas de bermuda e com dois revolveres apontados para sua cabeça. Diante dessa forte ameaça a polícia cessou as blitz.

Após dezesseis dias de sequestro, a família Medina, finalmente conseguiu pagar o resgate de 2,5 milhões de dólares. Na época, alguns veículos de comunicação anunciaram que o valor teria sido de 4 milhões. A respeito desse caso, assim se expressou Medina, em entrevista a revista Quem: “Sonho é como se fosse comida. Aprendi no sequestro que você vive sem comida, mas não vive sem sonho. Fiquei quase dezesseis dias sem comer. É incrível como o corpo humano é capar de produzir energia. Você supera”.

“Ali onde eu chorei qualquer um chorava. Dar a volta por cima que eu dei, quero ver quem dava... Um homem de moral não fica no chão... Levanta sacode a poeira e dá a volta por cima”. Assim diz o grande compositor Paulo Vanzolini, na música Volta por Cima. A filosofia de vida contida nesses versos foi seguida à risca por Roberto Medina.

Passado o susto, era hora de retomar a produção do Rock in Rio II, a ser realizado no ano seguinte. O empresário viajou novamente aos Estados Unidos para fechar contrato com grandes nomes do show bizz. Dessa vez, as portas já estavam abertas e os negócios foram mais fáceis.

Em 1991, não foi possível construir a cidade do rock em Jacarepaguá. A solução encontrada foi realizar o evento no famoso Estádio do Maracanã. Uma iluminação cara e luxuosa transformou o templo sagrado do futebol em uma bela nave espacial.

Tudo corria bem e as obras para tornar o evento mais seguro e adequado ao estádio, avançavam rapidamente. No dia 8 janeiro, faltando apenas 3 dias para o início do festival, uma notícia caiu como uma bomba no colo dos organizadores do evento: uma liminar suspendia a realização do Rock in Rio. A liminar era consequência de uma ação popular ajuizada em novembro contra a SUDERJ (Superintendência de Desportos do Estado do Rio de Janeiro) e a Artplan. A ação responsabilizava as duas por ato lesivo ao patrimônio artístico, estético, histórico ou turístico. Os advogados trabalharam rápido e conseguiram reverter a decisão na Justiça.

Dois dias antes do início da festa vieram mais problemas. O Sindicato dos Músicos e o Sindicato dos Artistas Técnicos do Rio, em união com o Escritório de Arrecadação de Direitos (ECAD), entraram com uma ação judicial na qual exigiam que os artistas estrangeiros pagassem 10% do valor de seus contratos à Ordem dos Músicos do Brasil. Era uma tentativa de ganhar um dinheiro fácil das bilheterias do Rock in Rio. Mais uma vez os advogados trabalharam rápido e mais uma liminar foi revogada.

Vencidas as tempestades, no dia 18 de janeiro de 1990, o Maracanã, templo do futebol, estendia tapete vermelho aos reis da música.

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Rock in Rio III – ano de 2001

Era o dia 12 de janeiro de 2001, noite de abertura do Rock In Rio III. O público lotava a Cidade do Rock, em Jacarepaguá. De repente, silencio total. Nos telões apareciam imagens do Planeta Terra. Ao fundo, ouvia-se o som das batidas do coração. Em seguida surgia na tela, em letras pretas e fundo branco, a mensagem

A partir de agora você tem 3 minutos para pensar um mundo melhor. Isso não quer dizer que você, nesses poucos minutos, vai descobrir a pólvora e resolver todos os problemas do planeta.

Era uma peça publicitária que o público silênciar por 3 minutos. A mensagem foi vista por quem estava presente à Cidade do Rock e também pelos telespectadores das 528 emissoras de televisão e pelos ouvintes das 2.232 emissoras de rádio que transmitiram a peça publicitária. Estima-se que a mensagem tenha alcançado 90 milhões de pessoas.

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                                                                 Show em homenagem a Cazuza
Imagem: http://www.radiojovemhits.com.br/noticia/1619/homenagem-a-cazuza-abriu-oficialmente-o-rock-in-rio-2013


Rock in Rio V – ano de 2013

A quinta edição do Rock in Rio realizou-se dentre os dias 13 a 22 de setembro. Na abertura do festival, uma chuva de fogos multicoloridos prenunciava o show em homenagem Cazuza, um dos maiores poetas da geração 80. Cazuza morreu em 7 de julho de 1990,  aos 32 anos, vítima de complicações devidas ao vírus da AIDS. Grandes nomes da música brasileira cantaram as músicas do poeta e a emoção foi geral. Outro momento bonito do show foi a apresentação do americano Bruce Springseteen. Aos 64 anos, Bruce esbanjava o talento e a vitalidade de um garoto. No palco, o cantor fez o que sabe fazer com maestria: cantar e tocar sua guitarra. Além disso, ainda dançou, pulou, correu e distribuiu simpatia para a plateia. O metal pesado do Iron Maden fechou o festival que, mais uma vez, foi coroado de êxito.

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Considerações finais

O nome, Rock in Rio, deixou de ser apenas um nome e tornou-se uma marca comercial. Desde sua origem, em 1985, já foram realizadas 13 edições do festival, incluindo a que aconteceu na última semana. Foram cinco edições no Brasil (1985, 1991, 2001, 2011 e 2013), cinco em Portugal (2004, 2006, 2008, 2010 e 2012) e três na Espanha (2008, 2010 e 2012). O festival faz tanto sucesso porque não vende apenas ingresso para o show das bandas, vende, junto com isso, toda uma infraestrutura.  O festival trouxe grande contribuição à música nacional. Em 1985, os técnicos de som nacionais tiveram bastante dificuldade em operar os modernos e sofisticados equipamentos de som e, com isso o som dos cantores brasileiros ficou bastante prejudicado. Após o evento, os técnicos da área tiveram que buscar especialização e aperfeiçoamento. As bandas de rock nacional também descobriram que era possível viver da arte da música e buscaram um melhoramento no seu repertório.


Roberto Medina, ao criar o Rock in Rio, deu vida a um projeto de grande magnitude, uma “maluquice” segundo ele mesmo fala, e com isso, nos mostrou que é possível transformar sonhos em realidade. Basta acreditar neles e trabalhar arduamente para que eles se tornem realidade. Um bom exemplo disso é o projeto que começou desacreditado em 1985 e, se transformou no maior festival do planeta... Ah, e o Rock in Rio ainda tem muito mundo para percorrer.

(No desenvolvimento desse texto consultei, como fonte principal, o livro  Rock in Rio, - A história do maior festival de música do mundo, do autor Luiz Felipe Carneiro. Editora Globo).

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